Capítulo 16
O meu amor vem da terra e do mar
Uma musa estendida na areia
Anjo de um céu de estrelas do mar
Um balé de mulher e baleia
Sereia, deixa eu te contar
Eu me perdi no teu cantar
Confesso que eu não sei nadar
Mas é contigo que eu quero me casar
Irmão, você não vai acreditar
Ela não me deu trela então
Eu voltei pra casa só
Ela não me deu trela então
Desse jeito deve ser melhor
Trela - O Grilo
Quando Leonardo recebeu o convite para a festa de Augusto Giordano, filho do segundo homem mais rico de toda a Labramar, seu eu interior ficou em êxtase.
Em outros tempos, quando ele ainda flertava com a elite Labramariana, seu maior sonho era ser convidado pelo garoto mais popular do colégio: Augusto. Lembrava-se de estudar junto com o garoto desde que tinha onze anos de idade, mas os destinos de ambos jamais chegaram a se cruzar; Filho da infame Clara Cavalcanti, Leonardo nunca foi bom o suficiente para atrair as atenções da família Giordano. Sendo assim, mesmo sendo rico, o garoto era empurrado para as margens do colégio, o nicho das pessoas mais impopulares que existiam na escola toda: Ele e mais três desafortunados.
No entanto, aparentemente o tão conhecido Augusto (Ou Guto. Leonardo poderia chamá-lo assim? Eles eram quase próximos, já que ele estava na sua seleta lista de convidados para o aniversário de dezoito anos.) havia se lembrado daquele menino esquisito que sentava nos fundos da classe e lhe enviara um singelo convite. Ponto, pensou Leonardo. Era a sua chance de finalmente adentrar um mundo que havia sido negado a ele há muito tempo: O mundo dos populares.
Contudo, havia um aviso em letras garrafais no fim do convite: Cada garoto só poderia entrar se trouxesse um par do sexo oposto. Essa regra não se aplicava para mulheres, aparentemente, e não era necessário ser um gênio para saber o porquê.
Em outras épocas, Leonardo teria convidado Ângela para ir consigo. Ela era bonita, gentil, e uma boa companheira. No entanto, dado o papelão que ele havia prestado da outra vez, era melhor partir para sua segunda opção.
Laura não era exatamente uma boa opção, mas era uma opção. Ainda assim, o fato dela tê-lo usado de forma escrachadamente escrota pesava em suas ponderações. O medo de ser esmagado por Thiago feito uma gelatina também era um fator deveras relevante: Logo, Leonardo abortou essa ideia.
Só lhe restou uma opção, a única pessoa do sexo oposto que ainda falava com ele: Helena. Ela não gostou muito da especificação de que apenas homens deveriam trazer uma mulher de acompanhante:
— Se você colocar os seus dois neurônios para funcionar, vai entender o porquê isso é bem ridículo.
Ele se fez de sonso, porque não era todo dia que Augusto Giordano fazia dezoito anos e definitivamente não era todo dia que ele era convidado para a festa do século. No entanto, ele conseguia adivinhar o problema que estava implícito ali; Embora parecesse, ele não era tão burro assim.
No entanto, por considerar que a festa era um tanto quanto importante para Leonardo, Helena optou por aceitar ser seu par. E se havia algo que era importante para ele, esse algo era aquela festa. Todos os seus antigos conhecidos estariam lá e ele teria uma chance de recuperar sua moral, que fora estilhaçada ao longo de todos os anos em que ele esteve na escola antiga.
No fundo, era um pouco fútil. Mas, afinal, quem não tem os seus momentos de futilidade?
Em virtude disso, ele sentia sua ansiedade explodindo dentro do peito.
Já estava arrumado como nunca esteve às quinze para as seis. A festa era às oito e meia. Em frente ao seu portão, andava em círculos, esperando para que seu par aparecesse pontualmente. Júlia ficara de passar por ali antes das oito, mas já eram oito e um e nada do gol maltrapilho em seu portão. Será que Helena havia desistido?
Ela não era do tipo que desistia do chute na cara do gol. Mas, como Leonardo não era o rapaz mais sortudo do mundo, a chance de que o destino houvesse pregado uma peça em si era gigantesca. Sua mente fervilhava em pensamentos; O que ele faria? Ligaria para Dominick, em caráter de emergência, e pediria para ele vestir uma peruca? Levaria sua avó? Tantas possibilidades, e nenhuma delas parecia viável.
Enquanto ele se martirizava com os mais cruéis pensamentos, uma buzina invadiu sua mente. Para sua alegria, o gol prateado estava lá, e Júlia acenava para ele da janela.
— Chegamos, Leonardo! — Ela berrou. — Desculpe o atraso.
Leonardo, emburrado, dirigiu-se ao carro e estava preparando sua bronca para o terrível atraso de dois minutos que Júlia havia cometido, mas suas palavras pareceram escapar totalmente quando ele a viu.
Helena.
Leonardo já havia visto muitas mulheres bonitas em sua vida. Algumas um pouco bonitas, outras muito bonitas. Nenhuma delas, contudo, era tão linda quanto a ruiva de olhos castanhos que se punha à sua frente.
De início, ele se recusou a acreditar que aquela fosse Helena. Seus olhos se recusaram a associar a deusa que se prostrava a poucos centímetros dele com a garota que sentava do seu lado na escola. Bem, ele sempre soube que Helena era bonita, mas sempre a havia encarado como uma pessoa de beleza normal. Vê-la com uma maquiagem leve, calça e blusa sociais e uma sandália salmão havia mudado completamente a imagem que o rapaz tinha dela. Dentro das camisetas de banda e dos tênis surrados, se escondia a mulher mais bonita do planeta terra.
— Uh... É... Eu... Ah... — Sua mente era incapaz de formular qualquer palavra que contivesse mais do que duas letras.
— Eu sempre soube que você era meio esquisito... — Brincou. — Mas eu acho que piorou. Você está bem?
O que, afinal, ele poderia dizer?
— Você... — Gaguejou. "Você" era uma palavra com quatro letras, e sua mente não estava pronta para o esforço. — Você tá...
As palavras novamente morreram em sua garganta. Como terminar essa frase? Linda? Maravilhosa? Deslumbrante? Incrível? Nada parecia ser adequado e suficiente.
— Diferente. — Era o que sua massa cinzenta permitia no momento. E, a propósito, "Diferente" tem nove letras.
Helena soltou um sorriso travesso.
— Ah, que isso. — Ela puxou Leonardo para dentro do carro. — Só estou usando algumas roupas diferentes. Por incrível que pareça, meu armário não é feito só de camisetas de banda.
Leonardo fez que sim com a cabeça, mas definitivamente havia algo de diferente entre a Helena da escola e a Helena que estava prestes a entrar na festa de Giordano.
— Você está bastante bonita. — O que era mentira. Ela precisaria ficar umas sete vezes mais feia para chegar ao nível de "bastante bonita". — Bonita demais para ser meu par, eu diria.
Helena envolveu um de seus braços nos ombros do garoto e ele percebeu que o cabelo dela cheirava à chiclete.
— Bobagem. — Foi necessário muito autocontrole para não afundar o nariz naqueles lindos cachos arruivados. — Você também está um gatinho.
Ele ergueu seu olhar, sorriu sugestivamente e ofereceu o braço para Helena. A garota o encarou com um meio-sorriso.
— Vou aceitar seu cavalheirismo dessa vez. — Piscou, laçando seu braço no dele. — Só desta vez.
E, durante uma única vez em seus quase dezoito anos de vida, Leonardo finalmente entendeu o significado de "babar por alguém", porque ele estava quase babando por Helena.
***
A única coisa capaz de chamar mais a sua atenção que Helena era a majestosidade da festa de Augusto. Ao entregar o convite, o rapaz finalmente adentrou o imenso salão que os Giordano haviam alugado e percebeu que todas as festas que ele já estivera eram nada mais que puro lixo. Havia dezenas de empregados servindo suco, refrigerante e cerveja nas mesas ao redor da bela pista de dança, uma decoração brilhante, elegante e alegre que saltava aos olhos de quem quisesse ver e, ao centro, um enorme bolo — Que deveria ter mais ou menos o tamanho de Leonardo. —. Este era a segunda coisa mais bonita da festa, porque a primeira era Helena. O molde era o próprio Augusto, mas uma versão mais alta, forte e bela dele mesmo. Ele nem sabia que era possível fazer bolos tão realistas.
Como o garoto imaginou, o salão estava repleto de meninas bonitas, mas ele não conseguiu reparar em nenhuma delas; E não foi por falta de tentativas. Estando a própria deusa Afrodite do seu lado, como ele poderia reparar em qualquer outra pessoa?
E, por um segundo, ele se esqueceu de que a deusa Afrodite se tratava de Helena, até que um garoto desconhecido a analisou de cima a baixo e disse, num tom debochado:
— Ei, gostosa. — Ele parecia bastante arrogante. — Vem cá pra gente trocar umas palavrinhas, vem.
Ela revirou os olhos com desprezo e voltou-se a Leonardo:
— Espere um minuto.
Então pegou uma garrafa de cerveja da mesa mais próxima (pela qual ele teve que pedir desculpas) e virou de uma só vez no rapaz inconveniente. Seu terno finíssimo de mais de dois mil reais (Leonardo achava um desperdício pagar tão caro em uma roupa tão desconfortável), segundo os seus gritos, ficou encharcado e ele berrou algo sobre mandar a conta do alfaiate para a mãe dela.
O que era irônico, porque a mãe de Helena não estava mais viva.
Enquanto o rapaz desagradável berrava uns xingamentos extremamente feios, Helena voltou para o lado de Leonardo tão bela e triunfante quanto ele imaginou que ela voltaria:
— Pronto. — Ela não tomou o braço dele novamente, mas Leonardo optou por não insistir. — Podemos arranjar um lugar para sentar agora.
Ambos arranjaram uma mesa nos fundos do salão, longe da pista de dança, e se acomodaram por lá. À este ponto, Leonardo já havia perdido completamente o interesse na festa. Ponderava se não era melhor ter ficado em casa, trocando mensagens com Helena ou com Dominick. Era frustrante; E, agora que estava ali, seria um tanto quanto desagradável pedir para ir embora.
Enquanto ele pensava na sua própria desgraça, um garçom pôs dois copos e uma garrafa de cerveja na mesa. Era uma Heineken.
— Nossa, que luxo. Será que vou conseguir beber essa? — E despejou parte da garrafa em seu copo. — Estou acostumada a beber Itaipava e Kaiser...
E bebeu um gole. Pareceu apreciar a bebida.
— Amarga do jeito que eu gosto. — Sorriu. — Quer um pouco, Leo?
Ela agarrou o segundo copo e quase que automaticamente pôs a garrafa ao seu lado, certa de que a resposta seria sim.
— O que? Ah, não, obrigado. — Aquela resposta a deixou bastante surpresa. — Eu não bebo.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Não bebe? — Perguntou.
— Não. — Leonardo negou com a cabeça. — Nada que tenha álcool. Eu acho que já te di...
— Bebe sim. — Disse, e encheu o copo do garoto de cerveja antes que ele pudesse protestar.
— O que é isso? — Leonardo observava o líquido amarelo borbulhando dentro do copo. — Não posso ter opinião própria?
— Você é muito chato. E tem opiniões muito chatas. — Disse, separando o copo de seus lábios. — Então eu estou tendo opiniões para você.
— E desde quando você tem esse direito?
Ela riu. Embora Leonardo gostasse muito de Helena, às vezes a sua mania de se pôr na frente dele era um pouco irritante.
— Desde sempre. — Piscou. Não parecia estar levando aquilo muito a sério.
O rapaz estava se preparando para fazer um monólogo sobre o quanto aquilo era ofensivo, sobre como ele não era uma marionete dela e também sobre o álcool fazer mal para a saúde (por que não?), mas naquele mesmo segundo uma voz conhecida interrompeu seus pensamentos:
— Ei, aquele lá não é o Leo?
Leonardo se virou para trás, e lá eles estavam: Um grupo de garotos que pertenciam à sua sala dos seus anos de ensino fundamental e médio, talvez o mais próximo de "amigos" que ele já havia tido em sua vida anterior; Suas características em comum se resumiam a todos (incluindo Leonardo) não serem nada populares, mas até que eles se davam bem.
Na maior parte do tempo, ao menos.
Ele acenou. Arthur — Que era levemente mais popular que os outros três, mas achava que sua popularidade era gigantesca e vivia correndo atrás dos garotos verdadeiramente populares, recorrendo ao seu grupinho de nerds apenas quando era escrachado e usado pelos outros garotos (O que acontecia o tempo todo) — parecia insatisfeito em saber que Leonardo havia feito amigos na escola nova, principalmente estando uma garota bonita entre esses amigos. Fred e Chaves (O real nome do garoto era Martín, mas Arthur o apelidara dessa forma por ser argentino. Obviamente, Chaves não gostava do apelido, principalmente porque o Chaves é mexicano, mas infelizmente o apelido se popularizou e ninguém mais sabia como Martín se chamava), no entanto, pareciam felizes em vê-lo novamente.
— Vai lá. — Helena incentivou. — São seus amigos.
— Ah... Eu... — Em tanto tempo fora da escola, nenhum deles o havia procurado, então talvez chamá-los de "amigos" seria superestimar sua relação. — Eu não quero deixar você sozinha.
— Eles são seus amigos há mais tempo. Merecem mais a sua atenção. — Não era uma conclusão muito justa, afinal. — Eu sei me cuidar sozinha, Maria-mole. Não vou deixar você me culpar futuramente por não ter se divertido na festa da sua vida.
— Eu jamais faria isso. — Parte porque a companhia de Helena era a melhor que ele poderia ter, parte porque aquela não era mais a "festa de sua vida".
Mas ela não lhe deu ouvidos. Jogou um pouco de cerveja no seu olho, com uma pontaria excepcional, e disse:
— Vai logo, Leonardo. — Ele ainda estava tentando se recuperar do ataque de Heineken nos olhos. — Você não vai se tornar o super popular terror das gatinhas aqui comigo.
Apesar de não ter a menor intenção de se tornar o super-popular-terror-das-gatinhas do ano, o rapaz se deu conta de que se não tentasse socializar, teria arrastado Helena para uma festa esquisita sem propósito algum, então ele concordou e se levantou. Embora interagir com Arthur, Fred e Chaves não fosse exatamente o cartão de entrada para o mundo das estrelas, era um começo...
— Hola! Quer dizer olá em espanhol! — Literalmente qualquer pessoa no Brasil sabia disso, principalmente porque o espanhol não era assim tão diferente do português, mas Chaves gostava de tratar como se fosse uma grande informação inusitada. — Que tal?
— Olha se não é o grande Leo! — Fred fez um hangloose com as mãos. — Faz tempo que eu não te vejo, brother.
Leonardo sorriu, feliz por reencontrá-los. Arthur deu-lhe um tapinha nas costas.
— Não esperava te ver por aqui. — Os cumprimentos? Ele guardava para os garotos populares. — Também foi convidado?
A resposta era um pouco óbvia, já que Leonardo não apareceria de penetra numa festa dos Giordano, mas ainda assim ele optou por ser educado:
— Sim. — Talvez Arthur tivesse um pouco de vergonha deles, seus amigos anti-sociais e nada populares. — Augusto convidou bastante gente dessa vez.
— Eu não sei o que deu nele. Ele costumava ser mais seleto. — O veneno de Arthur escorria pelos seus lábios. — Mas, dessa vez, qualquer um foi convidado. Que lástima.
Por ser um exímio puxa-saco, Arthur era o único dos quatro que costumava ser convidado para as festas do Giordano — Mais por dó do que por consideração, na verdade. — o que fazia com que ele se sentisse levemente especial. Desta vez, contudo, a festa era muito maior, e o número de convidados havia quadruplicado; Leonardo, Fred e Chaves entenderam a indireta. No entanto, para evitar conflitos, nenhum dos dois se manifestou sobre isso.
— Então? Como vai na escola nova? — Disse Fred, tentando dissipar o clima ruim.
Leonardo olhou para trás e percebeu que Helena estava conversando com um menino desconhecido. Ele tentou ignorar o leve incômodo e voltar-se aos seus antigos amigos.
— Vai bem, eu acho. — A escola antiga de Leonardo era dividida entre populares e fracassados. Na nova escola, essa divisão não existia; Todo mundo era fracassado. — Conheci pessoas novas... Estou estudando...
"E não faço porra nenhuma", foi o que ele teve vontade de dizer. Sua vida não era interessante.
— Você é popular lá? — Arthur era mais obcecado por popularidade do que Leonardo era obcecado por super-heróis. E isso realmente significava muita coisa.
— Não. — Ele talvez tivesse uns pontinhos a mais por ser conhecido como o gay da classe ou como o amigo de Helena, mas nada disso significava "ser popular". — Não tenho jeito pra isso, Arthur. Nenhum de nós tem.
Chaves e Fred riram, mas Arthur se incomodou bastante com aqueles dizeres.
— Que bobagem. Não vemos o Leo há meses e estamos aqui discutindo popularidade? — Chaves tinha o mesmo sotaque forte de que ele se lembrava. Apesar de estar no Brasil há dez anos, suas marcas hispânicas eram acentuadas. — Então, Leo... Como vai sua mãe?
Leonardo quis sumir. Era a pior pergunta que poderia ser feita naquele momento. Para todo lugar que ele ia, alguém perguntava de sua mãe; Era tão difícil assim checar o obituário dos jornais? Pouparia algum estresse.
— Ela morreu. — Respondeu ele, seco.
O sorriso nos lábios de Chaves desapareceu e ele, que já era baixinho, quis se encolher de vergonha. Fred tomou partido ao seu lado e pigarreou, numa clara tentativa de consertar as coisas:
— Ele não sabia disso. Nós sentimos muito, Leo. — E pôs a mão nos ombros do garoto. — Quando foi isso?
— No começo de dezembro. — Não se passava pela cabeça de nenhum deles que essa era a razão pela qual a vida de Leonardo havia mudado?
— E como foi isso? — Chaves estava branco feito um fantasma. — Por que não ficamos sabendo?
— Foi um ataque cardíaco. — Falar daquele assunto sempre lhe dava um aperto no coração. — Eu deveria ter contado, mas... Vocês entendem, não é?
Fred e Chaves pareciam querer explodir de vergonha, então Leonardo resolveu mudar de assunto:
— E com vocês? Aconteceu algo novo?
Chaves abriu um enorme sorriso e Arthur revirou os olhos, que era sua atitude padrão sempre que algum deles demonstrava algum tipo de felicidade.
— Eu estou namorando! — Animou-se.
— Sério? — Aquilo de fato pegou Leonardo de surpresa. Chaves não tinha lá tanto jeito com as garotas, assim como todo o restante do grupo, mas apesar de tudo Leonardo estava feliz por ele. — Que bom, cara. Quem é ela?
— Ela é horrenda. — Arthur tinha o implacável talento de destruir todo e qualquer momento de felicidade que seus ditos amigos poderiam ter. — Não sei como ele conseguiu ficar tanto tempo com aquele dragão. Não que o Chaves aqui possa exigir alguma coisa, mas...
Chaves ficou vermelho de raiva.
— NÃO FALE ASSIM DA MARIA! — E berrou, furioso como nunca.
Arthur deu de ombros. Não pareceu se importar com o berro de Chaves, muito menos com o fato de que havia magoado seus sentimentos. No fundo, ele queria ser mais do que um garoto virgem que forçava popularidade, mas era babaca demais para que qualquer garota se interessasse por ele.
— Tanto faz. — E revirou os olhos. — Mas, Leo, me diga... Quem é aquela garota?
Ele se referia a Helena.
— Ah, ela é minha ami...
Quando Leonardo se virou para trás, a vontade de vomitar seu almoço veio; Mais uma vez, o homem desconhecido estava ali, mas ele não mais estava conversando com Helena.
Ele estava beijando-a.
O sangue do menino subiu à cabeça. Sem motivo, teve um acesso de fúria; Afinal, quem era aquele homem? De onde ele tinha surgido? Quem lhe dera permissão para agarrar Helena daquele jeito? Será que ele sabia o nome dela? Leonardo quase se transmutou em um dragão enquanto o desconhecido enchia Helena com seus beijos babados e... Apertava sua bunda?
— QUE MERDA É AQUELA? — Arthur, Fred e Chaves jamais o haviam visto tão furioso em toda a sua vida. — QUEM DEIXOU ISSO ACONTECER?
Apesar de não ser sua intenção assustar os garotos, Fred e Chaves o olharam espantados. Já Arthur, apenas devolveu a sua melhor expressão de desdém.
— Qual o problema? — Ele gostava de parecer superior. — Você está pegando?
— Hã... Não. — Engasgou. Arthur não havia escolhido as melhores palavras do mundo para tratar de sua relação com Helena, mas o rapaz preferiu deixar passar. — Mas ela é meu par na festa! Ela não deveria...
Arthur riu, e pela primeira vez, Leonardo não o culpou. Aquele seu ataque de fúria era provavelmente a coisa mais patética que já havia tomado conta de seu corpo.
— Isso não tem nada a ver. O Guto — Ele achava que os dois eram amigos. Coitado. — Inventou essa história porque a festa de 15 anos dele foi um fiasco. Só veio homem e nenhuma menina, ninguém se pegou, e ele ficou mal-falado. Essa exigência só serve para equilibrar o número de homens e mulheres mesmo, nada mais que isso. O Fred implorou para a vizinha dele vir junto, mas ela sequer olha direito para ele. Eu vim com a minha irmã, e eu não vou pegar ela, né? O Chaves veio com aquela coisa feia que ele chama de namorada mesmo, mas é uma exceção.
— É... Eu sei. — Leonardo estava envergonhado. Helena não era nenhuma garotinha inocente; Por que ele estava, então, tão incomodado? — Mas eu não me sinto muito bem...
— Cara, esquece essa mina. Tem tanta gente aqui, e eu garanto que tem outras meninas querendo você. — Por incrível que pareça, Arthur foi gentil. Claro que ele não podia deixar de emendar com uma alfinetada inconveniente: — Até porque, não me leve a mal... Mas ela é muito gostosa pra você.
Chaves e Fred sentiram o veneno, mas Leonardo sabia que Arthur tinha razão. Ele e Helena eram amigos, e jamais seriam mais do que isso (Não que ele quisesse, claro. A amizade entre os dois era nítida e sólida.), porque eles claramente não estavam no mesmo nível. Ela era linda, e ele se parecia com uma lombriga anêmica.
— Minha namorada tem umas amigas... — Os garotos se sentiram um pouco culpados pelas palavras duras de Arthur, mesmo que ele não estivesse errado. — Podemos nos juntar a elas.
Desolado, Leonardo fez que sim. Chaves sorriu, fez um sinal para que os outros três o acompanhassem e assim o garoto seguiu.
No meio do caminho, contudo, Arthur sussurrou em seu ouvido:
— Se forem tão bonitas quanto a namorada dele, você vai se arrepender amargamente.
E, como Leonardo era uma pessoa que evitava conflitos, ele fingiu que não tinha ouvido.
***
As meninas estavam pouco depois da mesa de doces. Eram cinco, contando com María; No meio do caminho, Leonardo descobriu que a garota também era argentina, e ela havia conhecido Chaves (ou Martín, como ele preferia ser chamado) num grupo do facebook de argentinos no Brasil. Arthur tentou apelidá-la de Mafalda, mas não deu muito certo, porque María não ligou muito. Ao menos, desta vez, ele havia acertado a nacionalidade. Ela não sabia falar português direito, estava há menos de quatro meses no Brasil, mas o galante Martín lhe ajudava em suas maiores dúvidas.
E, diferentemente do que Arthur havia comentado, ela era bonita. Pele bronzeada, olhos escuros e cabelo encaracolado castanho; Ela e Chaves formavam um casal bonito.
As outras quatro amigas de María eram suas conhecidas da igreja, e nenhuma delas havia trazido acompanhante. Seus nomes? Beatriz, Tamires, Leandra e Diana. Todas elas eram muito bonitas, mas eram bem falantes e extrovertidas também; Para um garoto tímido, como Leonardo, aquilo era um verdadeiro pesadelo.
— Maria, mi amor! — Chaves deu um beijo na bochecha da namorada. — Esses são meus amigos. Eles querem conhecer você.
Fred acenou, animado, e Leonardo lançou um sorriso amarelo. Arthur, como sempre, não fez questão de esconder seu descontentamento. Parecia estar lidando com as pessoas mais tediosas do universo.
— Encantada de conocerte. — Leonardo não falava espanhol, mas não era difícil entender o que a garota dizia. — Si son amigos de mi Martín, entonces son también amigos mios.
Leandra, Beatriz e Tamires se apresentaram, mas Diana parecia um pouco soturna. Olhava para o chão com certa frequência e quase não falava com os garotos, tampando o rosto com os cabelos negros.
Fred estava mais sociável que o normal naquele dia. As garotas logo deram atenção a ele; Leonardo, Arthur e Diana ficaram de lado, isolados da roda de conversa, presos em seu próprio mundinho. Arthur não fazia muita questão de interagir, parecendo desprezar as garotas, mas Leonardo tentou; Ouviu alguns pedaços da conversa, desconexos, mas sua mente ainda estava na cena infame de Helena com o desconhecido.
Por esta razão, ele quase não ouviu quando se dirigiram a ele:
— E você, Leo? — Era Beatriz, uma garota negra de olhos fundos. — Está tão quieto...
Ele se forçou a esquecer Helena. Não seria produtivo ficar remoendo aquela situação lamentável o tempo todo.
— Eu... O que? — Tentou se situar.
Tanto as garotas (com exceção de Diana) quanto Fred e Chaves começaram a rir. Novamente, Leonardo era o palhaço da vez.
— Do que você gosta, Leo. — Completou Leandra, uma menina baixinha e bochechuda de lábios cheios. — De ler, passear, aprender coisas novas... É disso que estamos falando.
Leonardo se pôs a pensar por alguns minutos.
— Hã... Eu gosto de... — E disse a primeira coisa que passou pela sua cabeça: — De super-heróis.
Elas riram novamente. Leonardo estava perdido e levemente ofendido. Qual o problema? Questionou ele. Estou velho demais para gostar do homem-aranha?
Mas, antes que ele pudesse tomar decisões precipitadas, Diana se manifestou:
— Isso NÃO tem graça! — E foi a primeira vez que o garoto ouviu sua voz.
Olhando para os lados, Leonardo percebeu que Fred e Chaves estavam confusos. O coral de risadas não era para ele, notou; O foco ali era outro.
— O que é tão engraçado com super-heróis? — Ele coçou a nuca.
— Ah, Leo, a Diana não te contou? — Era a vez de Tamires, uma garota alta e magra que usava tiara de oncinha. — O nome dela é Diana por causa da Diana Prince. O seu pai é obcecado pela Mulher-maravilha.
E as quatro novamente irromperam em risadas, juntamente com os dois garotos, que agora entendiam a graça. Diana queria sumir.
— Ah... É um bom nome, eu acho. — Leonardo tentou entrar na brincadeira. — Se eu tiver uma filha, o nome dela será Natasha. Por causa da Natasha Romanoff. Eu prefiro a Marvel.
Seu objetivo não era constranger Diana, mas infelizmente foi o que ele conseguiu fazer.
— Eu agradeceria muito... — Ele conseguiu ver lágrimas escorrendo pelo queixo da garota. — Se você não tirasse sarro da minha cara.
As outras garotas pararam de rir assim que Diana começou a chorar, e Leonardo se sentiu particularmente mal.
— Ei, calma. Eu não quis rir de você. Não precisa chorar. — E levantou seu rosto pelo queixo. — Era só uma brincadei...
E se interrompeu. Era a primeira vez que ele via com nitidez o rosto de Diana, e ela era particularmente bonita; A mais bonita das cinco. Tinha traços sensíveis e delicados, soubera destacar suas feições com a maquiagem e o rímel estava borrado por causa do choro. Foi quando Leonardo prestou atenção em seus olhos: Um era verde oliva, de um tom bem sutil, e o outro era intensamente castanho.
O rapaz conseguiu vê-la por cerca de um segundo, porque Diana logo se livrou de sua mão e voltou a se esconder no meio dos cabelos.
— Você tem olhos de cores diferentes.
Arthur desviou os olhos do celular para conferir a informação. Chaves franziu a testa, tentou penetrar o olhar dentro dos cachos negros da amiga da María, mas Diana agia como se alguém tivesse dado uma facada em seu peito.
— É. Eu tenho. Sou uma aberração e meus olhos são horríveis. — Ela se virou de costas, abalada. — Agora você sabe disso e eu serei zoada por outro menino bonito.
— Do que você está falando? — Ele piscou. — Seus olhos são lindos.
As lágrimas pararam de escorrer por sua face. Ela ergueu a cabeça e seu olhar brilhou em verde e castanho.
— Está falando sério? — E limpou os resquícios das lágrimas com as costas da mão.
Ele fez que sim com a cabeça.
— São diferentes, incomuns. Tem o contraste perfeito tanto do verde quanto do marrom e dá um ar diferente ao seu rosto. — Era verdade. Leonardo não havia mentido em uma vírgula sequer. — Não sei porque você os acha feios.
Chaves e Fred concordaram. Arthur não se manifestou, mas ele parecia achar o mesmo.
— Finalmente alguém disse isso! — Leandra ergueu os braços para o alto. — Diana sempre está arranjando desculpas para dizer que seus olhos a deixam feia. Age como se isso fizesse dela uma aberração.
— Não te disse, Di? — Beatriz colocou um sorriso em suas bochechas. — Seus olhos são bonitos. Não precisa ficar se escondendo.
Diana encarou Leonardo com seu olhar bicolor e, em gratidão, sorriu.
— Já riram de mim por causa disso. Muito. — Ela estava prestes a abraçá-lo. — Tentei usar lentes de contato, óculos escuros, até fingir que eu era cega...
— Bom, as pessoas riem de mim porque eu sou magrelo. E do Fred, porque ele usa óculos. E do Chaves... Martín, porque ele tem um sotaque forte. — E do Arthur, porque ele acha que é popular, pensou Leonardo. — Não é por isso que eu vou colocar meias nas minhas roupas. Ou que Fred vai sair sem óculos, trombando com todo mundo. Ou que Martín vai fechar a boca e nunca mais dizer nada.
Fred e Chaves encararam o amigo, espantados. Arthur fingia não ter reação alguma, mas os seus olhos esbugalhados saltavam do celular para a cena. Antes que Leonardo pudesse se questionar qual o motivo de tamanho espanto, se deu conta de que ele era a última pessoa do mundo de quem essa frase poderia partir.
Ou ao menos o Leo que eles conheciam era. O novo Leo, o Leo que conheceu Helena, era uma nova pessoa; Alguém que não se importava com o que os outros pensavam, alguém que vivia de acordo com suas próprias regras. De um garoto infeliz e frustrado que tentava ser quem não era, Leonardo se tornou dono de sua própria narrativa.
Nada disso teria acontecido se ela não aparecesse.
Por mais que seja estranho admitir, Helena havia matado o Leonardo antigo. E nada lhe trazia mais orgulho do que isso. Em outros tempos, Leonardo se incomodaria tanto com sua magreza quando Diana se incomoda com seus olhos bicolores, mas agora ele era uma nova pessoa. Uma pessoa que simplesmente aceita as suas diferenças e leva isso como um escudo.
— Ele... Ele tem razão. — Fred gaguejou. Talvez um dia ele poderia despertar de sua prisão assim como Leonardo havia despertado. — As pessoas sempre vão arrumar um motivo para te deixar para baixo, Diana. O Leo...
— Era só o que me faltava. — Arthur, o estraga-prazeres de sempre, se manifestou. — Frase de efeito de filme da sessão da tarde. Tudo o que você disse, Leo, foi muito bonito, mas só funciona na teoria. É claro que nós ligamos para o que pensam de nós mesmos. Eu ligo, Diana liga, até você mesmo liga, não é mesmo? Acha que eu não te conheço?
— Você não me conhece. Nunca me conheceu. — Ele jamais havia feito esse esforço. Simplesmente assumia que seus amigos eram tediosos demais para perder tempo com eles. — Mas, de qualquer forma, eu sou uma nova pessoa. Há muito tempo que não nos vemos, Arthur, e eu mudei alguns de meus conceitos. Você também deveria fazer isso, essa sua obsessão por popularidade não te faz bem.
Por um breve momento, Leonardo teve a impressão que Arthur queria bater nele. Talvez estivesse quase lá, mas a voz da razão soprou em seu ouvido e ele se conteve.
— Você é ridículo. — Murmurou, entre os dentes.
— Ah, gente, mas por que nós estamos aqui batendo papo? — Beatriz percebeu o clima pesado. Conscientemente ou não, ela havia evitado uma briga homérica. — Vamos dançar!
Leonardo concordou, seguindo Beatriz e suas amigas até a pista de dança. Embora o novo Leo tivesse coragem para confrontar Arthur — Algo que o antigo Leo não teria —, o novo Leo era esperto o suficiente para perceber que seria um embate desnecessário — Coisa que o antigo Leo não perceberia.
***
Maria e Chaves, como era de se esperar, foram o primeiro casal a se unir na pista de dança. Fred tomou coragem de chamar Beatriz para dançar, e ela aceitou. Leandra optou por dançar sozinha, o que foi uma ótima ideia, já que opção que lhe restava era Arthur; Este, por sua vez, cedeu à pressão de convidar Tamires, que também estava sem jeito para recusar. Deveria ser a pior noite da vida de ambos, já que eles sequer conseguiam dançar no mesmo ritmo.
Leonardo, assim como Leandra, escolheu a solidão num primeiro momento. No entanto, aquilo não era para ele; O garoto não era o melhor dançarino do mundo, e a música eletrônica não lhe agradava. Se cansou rápido daquela brincadeira e escapou sorrateiramente da pista de dança para se sentar ao lado de Diana.
A garota havia se recusado a dançar desde o início, preferindo ficar isolada em uma mesa ao lado com uma lata de coca-cola. Talvez, e apenas talvez, Leonardo não fosse o único chato do mundo com relação a álcool.
— Oi. — Ele a cumprimentou.
Ela ergueu o olhar, deixando os cabelos cacheados caírem sobre a testa. Ao ver de quem se tratava, sorriu.
— Oi. — E era possível ver suas lindas covinhas no meio da bochecha. — Voltou, é?
— Sim. — Ele assentiu. — Dançar não é o meu maior talento. Acho que prefiro jogar videogame.
— Você tem outros talentos. — Ela riu baixinho. — Eu queria ser igual a você.
Leonardo piscou. Ninguém havia lhe dito aquilo antes.
— Igual a mim? — Ele era, afinal, tão desinteressante... — Por que?
— Você tem personalidade forte. É independente, não tem medo do mundo. — Ela nem mesmo parecia estar falando de Leonardo. — E também é um doce.
De fato, ele era um doce; Uma maria-mole, no caso. No entanto, todas as outras qualidades estavam tão fora da realidade que Leonardo sequer conseguia se identificar nelas.
— Ah, todo mundo pode ser assim. — Se ele havia conseguido passar essa imagem, é porque não era tão difícil. — Acho que só precisamos da motivação certa. A bomba só explode se o estopim for acendido, não?
Tímida, Diana riu.
— Me fale sobre você. — Ela olhou no fundo de seus olhos. — Gostei de te conhecer.
De que maneira Leonardo poderia continuar ludibriando-a para que Diana ainda pensasse estar diante de um cara interessante?
— Bom, acho que eu posso começar falando da minha vida. — A onda de autoconfiança não parecia querer ir embora. — Prazer, meu nome é Leonardo. Eu tenho 17 anos, faço 18 em junho. Estudo na Escola Municipal de Labramar e estou no último ano. Minha mãe era minha melhor amiga, mas ela morreu recentemente, e meu pai morreu antes de eu nascer. Moro com minha avó. — Até mesmo falar de sua família não era mais tão difícil. — E você?
— Ah, eu... — Diana olhou para o chão. — Eu fiz 16 no começo do ano. Minha mãe é dentista e meu pai é advogado. Nós somos bastante religiosos, vamos à igreja regularmente. E eu estou no segundo ano. — Ao terminar de falar sobre si mesma, Diana ergueu o rosto novamente. — Você vai bem na escola? Tem cara de inteligente...
Ele poderia mentir. Poderia dizer que sim, arrasava em matemática, física e química, e sua menor nota havia sido 8,5. No entanto, o rapaz preferiu dizer a verdade.
— Você considera 6 uma boa nota?
Ela sorriu.
— Depende da matéria... — Disse.
— Nas mais fáceis.
Ambos riram deliciosamente, fazendo piada da desgraça do garoto.
— Você... — Quando a menina interrompeu suas risadas, Leonardo percebeu que suas bochechas estavam vermelhas. — Tem namorada?
— O que você acha? — Era melhor pedir para ela adivinhar do que contar a verdade sobre ele ser um completo fracasso amoroso. Ah, sim, e ele obviamente omitiu o fato de que, em sua nova escola, achavam que ele era gay.
— Eu acho que sim. — Errou feio. — Você é tão interessante, decidido, simpático... E bonito. Você é muito bonito. Qualquer garota adoraria namorar você.
— Bom, você está errada. — E como estava... — Eu não tenho namorada. Nunca tive. As meninas fogem de mim como o diabo foge da cruz.
Diana sorriu e suas covinhas ficaram mais salientes.
— Sério?
— Sério. Mas está tudo bem, eu supero. — E riu. — Por que a pergunta?
Ela olhou para baixo, sorriu sem graça e tirou parte do cabelo que cobria os olhos. Parecia estar ponderando se deveria ou não fazer aquilo...
— Fica comigo? — E o resultado de suas ponderações foi um sim.
Leonardo piscou. Ele não tinha muita sorte com as garotas, e das quatro meninas que havia beijado em toda a sua vida, uma foi em um jogo de verdade ou desafio e outra tinha tanto nojo dele que o beijou como se ele tivesse herpes. Desta vez, no entanto, ele estava diante de uma garota linda que o achava incrível; Não era o tipo de coisa que se via todo dia.
Diante disso, ele só tinha uma resposta para dar:
— Fico.
E levou seu rosto ao dela, colando seus lábios para garantir à garota uma experiência inesquecível.
Embora Leonardo não tivesse lá tantos dotes amorosos, naquele momento ele sabia exatamente o que fazer. Era como se ele fosse invencível, um lorde do amor, o maior conquistador que já existiu. Seus lábios tocavam os dela e o menino conduzia o beijo como um maestro conduziria sua orquestra.
Então, eles se separaram. Diana olhou no fundo de seus olhos e disse, encabulada:
— Você beija bem.
Não era algo que ele ouvia todo dia, há de se admitir. E, nas feições do garoto, não havia nenhum sinal de hesitação ou fraqueza; Ele era O momento.
— Vamos dançar? — Ele sugeriu, e ela timidamente concordou.
***
Quando ambos chegaram na pista, Chaves e María estavam num romance tão meloso que seria impossível separá-los. Tamires e Arthur tentavam se organizar (o que seria um pouco difícil se eles não parassem de evitar um ao outro.), contrariamente a Fred e Beatriz, que pareciam estar se dando bem. Talvez tivessem ficado, ou estavam bem próximos disso.
Leonardo trocou alguns beijos molhados com Diana e, enquanto ambos dançavam, o garoto espiou pelo ombro dela e viu Arthur se mordendo de raiva. Incomodar seu amigo babaca não era a intenção, e o rapaz jamais usaria uma garota para isso, mas já que estava acontecendo...
— Você dança tão bem... — Ela sorriu. — E diz que dança não é um dos seus talentos...
Ele retribuiu o sorriso. Em outras ocasiões, ele devolveria o elogio com uma piadinha autodepreciativa, mas inexplicavelmente ele estava se sentindo muito bem. Uau, quem era aquela pessoa? Ele poderia ser assim? Leonardo estava tendo o melhor momento de toda a sua vida, sentia-se como se estivesse nas nuvens.
— O que achou de mim? — Era uma pergunta tosca, mas ele precisava confirmar.
— Incrível. — Uma resposta óbvia. — Estou adorando ficar com você.
Leonardo puxou Diana para perto de si novamente e lhe presenteou com mais um beijo intenso.
No entanto, ainda havia algo que lhe incomodava. Seus lábios estavam em Diana, sua mão estava na cintura de Diana, seus olhos encontravam os de Diana, mas sua mente não estava em Diana. Esta, ainda estava presa ao que acontecera há duas horas, em Helena.
Ele pensava fortemente em Helena, sua amiga que havia despertado o Leonardo autoconfiante. Por mais que estivesse adorando se sentir alguém pela primeira vez na vida, ele ainda queria explodir ao pensar naquele homem nojento beijando sua amiga. Aquela amiga que ele sabia ser a pessoa menos inocente do mundo, e que adorava se agarrar com os outros por aí. Ele conhecia Helena, afinal, por que estava tão espantado?
E se forçou a esquecer aquilo. Leonardo não precisava de Helena, não precisava se incomodar com o que Helena fazia. Ele era muito mais do que isso; Uma garota linda na sua frente e ele preocupado com uma terceira pessoa?
O ímpeto que tomou conta de Leonardo foi resultado de um misto de raiva e indignação. Até então, seus beijos com Diana não eram nada mais do que beijos, mas desta vez ele arrancou seu último suspiro com um beijo voraz e agressivo. Parou a dança, cessou o movimento de seu corpo, tudo isso apenas para beijá-la.
Num primeiro momento, ela se assustou e o empurrou. Incrédulo, Leonardo encarou a garota, ciente de que havia passado dos limites.
— O... Que... Você... Está... Fazendo? — Ela mal conseguia respirar.
— Eu... Desculpe. — Infelizmente, ele havia estragado tudo mais uma vez. — Eu não queria ter feito isso. Quer dizer, eu queria, mas... Desculpa. Não vou fazer de novo. Eu prometo... Eu...
— Não. — Diana o interrompeu. — Eu gostei. Foi bom. Ninguém nunca me beijou assim, como se eu fosse... Como se eu fosse sexy.
O sorriso voltou ao rosto de Leonardo.
— Você gostou?
— Uhum. — Assentiu. — Eu quero de novo.
Ele não tinha certeza se conseguiria repetir aquele beijo, mas ainda assim puxou Diana para perto e, como um predador voraz, tomou a boca dela mais uma vez.
Este beijo foi ainda melhor que o primeiro.
As coisas estavam indo bem no início, mas aquilo foi gradativamente evoluindo até que Leonardo perdesse seu próprio controle. Não era a intenção, mas aquele beijo evoluiu para mãos bobas e insinuações nada indiretas; Quando ele deslizou sua mão até as nádegas de Diana, ela não protestou e pareceu aproveitar, então o garoto continuou. Como resposta, ela apertou seu genital, arrancando do rapaz um gemido seco.
Ao partir o beijo, Leonardo ouviu um sussurro em sua orelha.
— Vamos para o banheiro?
Ele assentiu. Arrastou Diana até o banheiro feminino (que tinha um cheiro muito bom, se comparado ao masculino), se trancou em uma das cabines e continuou o que estava fazendo ali dentro, espremendo-se contra as paredes estreitas e contra o vaso sanitário.
Ele a prensou contra a parede e enfiou as mãos dentro de suas cabeleiras encaracoladas. Diana deslizava as mãos pelas suas costas e dedilhava o tecido de seu terno. Leonardo fechou os olhos...
Apenas sentiu suas mãos levando um vestido para fora de seu corpo, simultaneamente às roupas que saíam de si: Terno, calça, camisa, gravata... Em pouco tempo, ambos estavam apenas de roupas íntimas.
Ele abriu os olhos. Viu aqueles dois belos olhos castanhos lhe encarando, brilhando por dentro dos cabelos ruivos que encobriam o rosto salpicado por sardas e enfeitado por um sorriso sapeca.
A garota sorriu para ele. E ele sorriu para ela.
Se beijaram novamente, consumidos pelo desejo. Leonardo estava insano, louco, descontrolado. Apalpou com as mãos aquelas coxas grossas, marcadas com uma tatuagem de caveira. Enterrou sua língua dentro dos lábios cheios e vermelhos que tentavam seu imaginário, os lábios que despertavam seus desejos mais sombrios.
Pôs uma das mãos por dentro do sutiã. Os dois olhos castanhos lhe lançavam um desafio: "Você realmente me quer?", ele conseguia ler. "Então vamos ver se você aguenta, Maria-mole."
Ele abriu o fecho. Descobriu dois seios lindos, fartos, arrebitados...
— Ah, Leo... — Ela disse. — Você é maravilhoso...
— Você também é, Helena.
Todo o tesão da garota pareceu ter se esvaído naquele exato momento. Franziu a testa e, confusa, olhou para ele:
— Do que você me chamou?
Leonardo ficou atordoado. Parou. Pensou. O que estava acontecendo? O que ele havia dito? Por quê? Como?
Sacudiu a cabeça e esfregou os olhos. Diana estava lá, quase pelada, com seus cabelos negros encaracolados e seus olhos de cores diferentes. O que havia acontecido? Era Diana, sempre havia sido Diana. Mas, por algum motivo... Ele vira Helena.
— Eu... Eu... — Sua cabeça girava.
— Quem é Helena? — Ele poderia jurar que Diana estava com ciúmes.
— Ninguém. Helena não é ninguém. — Disfarçou. No entanto, somente um asno não perceberia sua mentira. — Eu me confundi.
A moça não engoliu a mentira, mas pareceu acreditar que aquilo não era tão importante no momento.
— Então tá. — E trouxe o sorriso de volta. — Vamos continuar.
Leonardo voltou a beijar Diana, mas não era a mesma coisa. Seus lábios não tinham o mesmo gosto, seu corpo não tinha o mesmo calor. Ela continuava linda, mas o desejo se fora; Ele estava completamente desmotivado para qualquer coisa. Era a primeira vez que ele via uma mulher pelada fora das revistinhas e dos vídeos indecentes, e ainda assim ele não conseguia fazer absolutamente nada.
Quando a garota tocou sua cueca, ele percebeu que não poderia continuar fazendo aquilo. Não poderia fazer de sua primeira experiência sexual um impulso desesperado e desgostoso, principalmente após aquele devaneio nada sutil com Helena.
Ele não poderia transar com uma pessoa pensando em outra.
— Diana. — Ele disse. — Nós não podemos fazer isso.
A garota fez uma careta.
— Por quê não? — A decepção era tão óbvia que seria difícil de esconder. — Eu sou feia?
— Não. Claro que não. Você é linda. — E era verdade. — O problema é que... Bem, eu sou virgem.
Era uma péssima desculpa, com toda a certeza. No entanto, ele não tinha paciência e nem coragem para explicar a ela a visão que tinha tido com Helena — Talvez isso fosse deixá-la pior.
— Sério? — Ela parecia surpresa.
— Sim. — Leonardo torceu os dedos para que funcionasse.
Diana o beijou e, desta vez, o beijo não foi tão prazeroso assim.
— Não tem problema. Eu também sou. — Ela confessou. — Nós podemos perder juntos. Assim, ninguém bota defeito em ninguém. O que acha?
— Diana, não. — Ela tentou se aproximar, mas Leonardo a afastou. — Isso não está certo. Esse deve ser um momento legal para você, algo que vai marcar a sua vida, e não um sexo feito às pressas em um banheiro público. Eu não tenho o direito de ser o seu primeiro.
— Leo... — A garota ainda tentou se opor.
— Desculpe. — Parcialmente constrangido, Leonardo se vestiu. — Um dia você vai entender. E, quando aparecer o cara certo, vai me agradecer. Tenha certeza disso.
E abandonou a cabine do banheiro, deixando Diana confusa, nua e sem palavras lá dentro. Tentou parecer confiante, mas em sua cabeça não parava de martelar a ideia de que havia desistido da única menina que o achara incrível em toda a sua vida.
Pensando nisso, ele abandonou o banheiro do salão. Arthur estava lhe esperando, apoiado na parede.
— Até que foi rápido. — Lá vinha ele fazer mais um comentário venenoso... — E aí? Comeu?
A maneira como Arthur tratava as mulheres era um bom indício do porquê ele não tinha sucesso com elas.
— Não que seja da sua conta, Arthur, mas não. — Respondeu.
— Por quê? — Ele soava como se Leonardo fosse obrigado. — Ela arregou?
— Ela não "arregou". — Embora disfarçasse, estava óbvio que Leonardo odiava essa palavra e basicamente 90% do vocabulário de Arthur. — Eu "arreguei".
Arthur piscou desesperadamente, recusando-se a crer que havia ouvido aquilo.
— Você é idiota? — Talvez um pouco, pensou Leonardo. — Ela é a única gostosa das cinco, mesmo com aqueles olhos estranhos. Era a sua grande chance! Você ia ser o primeiro de nós a perder a virgin... Digo, o segundo. Porque eu já não sou mais virgem há um bom tempo, claro.
Leonardo sabia que aquilo era mentira. Estudava com Arthur desde os seis anos (Época em que ele ainda era legal, e não um babaca obcecado por popularidade) e nunca o havia visto com uma garota; No entanto, ele estava exausto demais para rebater.
— Eu tive os meus motivos. — Era tudo o que o garoto conseguiu dizer.
Arthur deu de ombros.
— Você é um palhaço. — Disse.
— Talvez. — Leonardo estava farto daquele garoto. — Mas ainda é melhor ser um palhaço do que ser um babaca que só corre atrás dos populares e ignora os amigos de anos, certo, Arthur?
E abandonou o menino, deixando-o sozinho com sua incredulidade.
***
Para a sorte de Leonardo, quando ele chegou à sua mesa original, Helena ainda estava lá. Seu coração disparou; Ela estava linda, degustando um copo de cerveja como degustaria o sangue de seus inimigos. Era misteriosa e astuta como um gato, voraz e feroz como um lobo; Adorava o selvagem, o desconhecido, o perigoso. Era o amor e o ódio, a loucura e a sanidade, o perigo e a segurança. Ela era Helena, simplesmente Helena, nada mais e nada menos que ela. Por que ela? Leonardo se perguntava, mas logo se deu conta de que não poderia ter sido com mais ninguém. Não teria como ser outra pessoa, senão Helena.
Era hora de admitir: Ele estava apaixonado por sua melhor amiga. Foi por isso que ele havia morrido de ciúmes do desconhecido, foi por isso que ele não conseguiu transar com Diana, já que a pessoa que ocupava seu coração era outra. Leonardo estava desenvolvendo uma paixão ingrata por Helena.
— Leo? — A garota o chamou. — Que cara estranha é essa? Parece que acabou de ter um AVC.
Ele estava impaciente demais para refletir sobre a expressão que havia apresentado a ela. Tinha outros assuntos para tratar.
— Quem era aquele cara? — Sua voz soava falha.
Ela deu um gole no copo de cerveja novamente. Estava na metade da garrafa, mas Leonardo não sabia dizer quantas haviam vindo antes.
— Que cara? — Embora realmente soubesse se fazer de desentendida, Helena parecia verdadeiramente confusa.
— Você sabe. Aquele cara, que você estava... — E, unindo aos dedos ao polegar em ambas as mãos, Leonardo simulou um sinal de bocas se beijando.
— Ah. — Ela riu baixinho. Pareceu entender. — Aquele cara...
— É. — Ele trincou os dentes. Estava se mordendo de ciúmes. — Quem é aquele cara?
Helena bebeu do copo de cerveja novamente.
— Sei lá.
— "Sei lá"? — Leonardo estava irritado. — Como assim "sei lá"?
— Sei lá, ué. Sei lá é sei lá.
— Você não pode simplesmente dizer "sei lá". — Ele precisava de uma explicação. Certamente precisava. — Você se agarra com o cara como se vocês fossem fazer amor a noite inteira e não sabe me dizer quem é?
— Ai, como você é chato. — Bufou. — Ele me disse o nome antes da gente se pegar, mas eu esqueci. Está melhor para você agora, fiscal de buceta?
— Não. Não está. — O Leonardo chato estava de volta, aparentemente. — O mínimo que ele poderia ter com você é respeito. Que merda é essa? Ele te pega assim, do nada, sem nem saber quem você é? Isso não é correto.
Helena deu de ombros.
— Leonardo, eu vivo pegando caras e garotas que eu nunca vi na vida. Eles me usam, e eu os uso também. — Retrucou. — Você está sendo ridículo.
— Ridículo? Eu? — E quando ele não havia sido? — Você acha que eu não tenho o direito de ficar indignado?
— Exatamente isso. — Tão sutil quanto um soco. — Eu não estou entendendo a sua raivinha. Você não é meu pai e nem meu namorado. Quem eu pego ou deixo de pegar é problema meu, e não seu.
— Mas... — Ela tinha razão. E Leonardo não queria dar o braço a torcer. — Ele estava pegando na sua bunda!
— Estava. — Deu um sorriso com o canto da boca. — E foi ótimo.
Ele se sentiu como um soldado desarmado. Murmurou um "Ah" envergonhado e, naquele momento, só queria sumir sem deixar rastros.
— É... Você está certa. — Ela sempre estava. — Me desculpa.
— Tudo bem. As pessoas têm suas divergências. — Tão serena quanto a noite. — Eu já estou acostumada com a sua chatice, e gosto de você mesmo assim.
— Só por via das dúvidas... Vocês dois...? — E não disse a palavra exata, mas pelos seus gestos estava óbvio a que ele se referia.
— Você quer saber se nós transamos? — Ela pegou no ar. — Não. Eu estou menstruada. Além disso, nem sei se estou com tanto tesão hoje, vai ter que ficar para a próxima.
Leonardo suspirou, em alívio.
— Mas, mudando de assunto... — Helena fez um sinal para que ele se aproximasse, e o garoto assim o fez.
A garota encarou o rosto do rapaz por quase meio minuto, e esfregou a ponta do dedo indicador em seus lábios. Quando ela o retirou, havia uma mancha rosa em seu dedo; Resquícios do batom de Diana.
— Pelo visto, você também andou aprontando, hein? — Talvez ele estivesse ridículo com a boca toda suja de batom.
— Ah... — E, imediatamente, se lembrou da garota que havia acabado de beijar. Pego de surpresa, ele havia se esquecido completamente dela: De seus beijos, do sexo que eles não fizeram e do motivo disso. Enquanto empurrava essas coisas para o canto mais obscuro de sua mente, Leonardo limpou a boca na manga do terno. — Foi uma menina.
— Bom, eu não estava esperando que fosse um menino. — Ironizou. — Conte-me mais sobre isso, Maria-mole.
— Foi interessante. — Ela não estava nem um pouquinho enciumada por ele? — A conheci através dos nossos amigos, ela me achou bonito e nós ficamos. E eu aproveitei, né? Não é todo dia que alguém me acha bonito...
Leonardo forçou uma risada sem graça, mas Helena ergueu uma sobrancelha.
— É mesmo?
— Hã... É. — A menos que ela discordasse...
— Você é exagerado demais. — E tamborilou os dedos na mesa. — Te acho bem bonitinho. Se você não fosse tão preocupado com futilidades, se daria bem no amor.
Leonardo piscou. "Bem bonitinho" não era o melhor elogio do mundo, mas era um elogio. Ainda que não estivesse aos pés de Helena, ele não era um completo lixo descartável.
— Mas, deixando esse assunto à parte... — Ela continuou. — Você ainda é virgem?
Ela não era nem um pouco delicada.
— Claro que sim. Eu não vou transar com uma garota que conheço há três horas. — E tinha outro motivo também. — Por que a pergunta?
— Sei lá. Perguntei por perguntar, mas eu já sabia a resposta. — Ela deu de ombros.
Leonardo se encolheu.
— Você deve achar que eu sou gay.
— Não. Isso nunca passou pela minha cabeça, na verdade. — Ela tratava de tudo com tanta naturalidade... — Você é?
— Não. — Logo se pôs a negar.
— Eu acho que você não é tão confortável assim com a ideia de sexo casual. — Era uma conclusão mais próxima da realidade. — Estou errada?
— Não sei dizer. — Leonardo nunca havia gasto muito tempo para pensar nisso. Não era o que se esperava dos garotos. — Acho que estou esperando o momento certo. A pessoa certa, talvez. Isso é ridículo?
— De forma alguma. — Sorriu Helena. — Já ouviu falar em demissexualidade?
Leonardo franziu o cenho.
— O que é isso? — Questionou.
— É quando você precisa ter um vínculo com a pessoa para sentir atração sexual. — Explicou Helena. — Já conheci alguns demissexuais. Nunca entendi muito bem como isso funciona, mas deve ser o seu caso.
— Pode ser. É provável que eu seja isso mesmo. — Talvez ele estivesse mais para "Helenassexual". — Mas sei lá, eu gostaria de ser... Normal.
— Não existe apenas uma forma de ser normal. E ser demissexual é completamente normal. — Leonardo gostaria apenas de não se sentir esquisito. Esse sentimento era bem recorrente em seu íntimo. — Não precisa se apressar, Léo, uma hora esse momento vai chegar. E, quando chegar, vai ser incrível. Eu tenho certeza disso.
— É. Espero que você esteja certa. — Deu de ombros. Ele estava tão vidrado nela que dificilmente conseguiria ter relações com qualquer outra pessoa.
— Eu sempre estou certa. — Disse. De uma só vez, acabou com toda a cerveja do copo. — Mas, já que você não está fazendo nada, vamos dançar.
Ela se levantou e puxou o garoto pelo braço. Leonardo, desengonçado, caminhou com ela até a pista de dança.
— Você... — Ponderou. — Não está bêbada, está?
Ela achou graça na pergunta. Repousou as mãos no queixo, pensativa, e após alguns segundos respondeu:
— Talvez um pouquinho tonta. — Piscou.
Ele não poderia ter agido de forma diferente: Riu e permitiu que ela o levasse para onde planejava, o seu destino usual desde que havia entrado naquela escola. E o restante da noite se passou daquela forma: Ambos dançando, um ao lado do outro, talvez até às três ou quatro da manhã. Helena não sabia, mas ele gastou todo o tempo em que passaram juntos refletindo o quão importante ela era, e o quanto ele a amava.
Júlia chegou com seu carro dali a pouco tempo depois e o levou de volta para casa. Leonardo demorou a pegar no sono: Helena e seus lábios cor de sangue invadiram seus pensamentos. Mesmo ao dormir, os sonhos que teve com ela foram tão melosos que o garoto até estranhava que tivessem partido dele.
E esta era a história de sua primeira paixão sólida, a mais confusa e a mais impossível também. Algumas pessoas tem sorte, outras nem tanto; Leonardo, infelizmente, estava no segundo grupo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro