Capítulo 4
Enquanto que a irmandade está a chegar na residência do ilustre morador da cidade, e consequentemente o guardião-mor dessa tal irmandade até então secreta, Egídio, o grupo formado por Milu, Ondina, Eurico, Aranha e Machado estão entrando no bem cuidado e florido jardim da mansão com pressa, Robério está de olho, fingindo estar concentrado no trabalho de regar algumas plantas e escondido entre duas pequenas árvores de amoreira, observa aquela gente toda ir andando em direção a entrada do local e acaba comentando para si mesmo em um tom sarcástico.
— A bruxa, a cafetina, o ladrão, o meganha e o médico de araque... Já vi que é assunto sério. – percebendo a falta de um dos integrantes desse grupo, no entanto exótico, está a faltar, o homem franze o cenho e até procura com o olhar o indivíduo. – Uéee, onde é que tá o mendigo maluco? Eu hein... Vou voltar pro meu trabalho que eu ganho mais. – após afirmar o final da frase, ele retoma sua atenção para os seus afazeres.
Já dentro da mansão, todos são recepcionados pela governanta, que logo os conduzem até a sala de jantar e deixam todos bem acomodados lá, não demorando muito ela vai informando a todos no local.
— O seu Egídio já está descendo, ele só foi pegar uns papéis no quarto. – Judith já havia até se virado em direção ao corredor da cozinha, porém, resolveu dar meia volta e assim fazendo com que a atenção das presentes pessoas no local recaia sobre si novamente, não hesitando de perguntar. – Vocês vão querer beber alguma coisa enquanto esperam-no?
— Eu aceito um chá. – responde Maria Luiza.
— Eu também aceito um chá, camomila de preferência. – fala Ondina, caminhando em direção a cadeira que fica perto da cabeceira da mesa e sentando-se nela.
— Café, por favor. – José pede enquanto está caminhando em direção a entrada do corredor e se escorando no arco da mesma.
— Café também. – O perfeito e o delegado se manifestam ao mesmo tempo e assim acabando por pedirem a mesma bebida.
— Certo, vou na cozinha preparar os chás e os cafés, já volto. – finaliza Judith, logo se direcionando para a cozinha pra preparar as bebidas.
— O que será que ele vai trazer pra gente hein? – Milu sussurra pra cafetina, rapidamente sentando-se ao lado dela. – Será que é algum documento importante?
— Não sei Milu, mas seja o que for, deve ser de suma importância. – diz a loira no mesmo tom. – Afinal, o Egídio nunca havia chegado atrasado pra uma reunião antes...
— O que as moças tanto cochicham? – fala o prefeito em um tom alto, assustando ambas.
— Caramba Eurico! – a esotérica leva a mão até entre os peitos, sentindo os batimentos cardíacos acelerados, sua feição é de surpresa com leves toques de enraivecimento.
— Quer nos matar do coração?! – completa Ondina.
— Não, só queria saber o que tanto as duas cochicham. – diz ele, sentando-se na frente das duas, alternando o olhar entre uma e outra.
— Estamos falando sobre essa demora do Egídio, ele nunca chegou atrasado pra uma reunião. – o tom de voz da esotérica era de total irritabilidade, o olhar está fixo no prefeito, e se pudesse, o teria fuzilado só com os olhos.
— É... ele nunca chegou atrasado... E cadê o Feliciano? Não era ele normalmente o primeiro a aparecer nas reuniões também? – comenta o prefeito enquanto se recostara na cadeira de madeira.
— Deve estar colhendo informações, como sempre – Joubert manifesta-se, logo indo no pote de doces que tem na mesinha de madeira verde que fica na porta da sala, de lá, tirando um bombom de chocolate com menta.
— Deveria contratar ele pro time da delegacia, vive colhendo informações de tudo e todos. – o doutor pronuncia-se, logo pegando a sua agendinha que vive dentro de seu paletó e começa a conferir as consultas que tem pra hoje. – Espero que não demore tanto essa reunião hoje, tenho consulta daqui a pouco.
— Se eu fosse você, adiaria essa consulta, pois vai demorar bastante. – afirma Eurico.
— Hmm, virou vidente agora? – Milu fala aquilo em um tom de deboche.
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São Paulo
Após pegar carona com o seu irmão, Taciana finalmente chega na academia pra fazer os seus exercícios de rotina. Adentrando no local, observa de longe que tem aqueles rapazes chatos de sempre, revira os olhos e determina pra si própria que não irá deixar esse fato medíocre acabe atrapalhando o seu dia que promete ser inesquecível.
Realmente, esse dia será inesquecível.
Deixando a sua bolsa de treinos na recepção e indo em direção a esteira junto com a sua garrafinha de água preta em uma das mãos e o celular na outra, ajusta o seu fone de ouvido bluetooth, coloca a garrafa apoiada no porta-copos da máquina e o seu celular preso na braçadeira, ligando a máquina, ela da o play na música e começa primeiro caminhando, aos poucos vai aumentando a velocidade, até que fica correndo.
Após completar o seu primeiro exercício do dia - demorou uns 20 minutos, mais ou menos -, ela desliga a esteira, pega a garrafa que estava apoiada esse tempo todo e destrava-a, imediatamente tomando um pouco do líquido transparente, dessa forma, vai matando a sua sede. Retirando os fones por poucos momentos, Taci começa a escutar as gracinha que os rapazes — irritantes, na opinião dela — começam a fazer.
— Ui ui ui, assim você mata o papai. - começa um deles, tem olhos azuis e cabelos castanhos, é um pouco musculoso e tem o mal costume de quase sempre ficar sem camisa nos locais.
— Aaah, deixa a miss estressadinha em paz, antes que ela jogue um monte de hambúrgueres na gente. – continua o outro, esse já é mais musculoso em comparação com o amigo, tem veias saltadas nos braços e nas pernas, pele morena contrastando com os olhos claros como o mel, o cabelo dele é castanho escuro quase preto e gosta de ficar exibindo os músculos — e como é de se esperar — muitas mulheres ficam gamadas nele por conta disso.
— Homens viciados em Whey e cross fit, todos iguais. – sussurra bem baixinho para si própria, assim deixando eles curiosos o bastante para irem em direção a mulher e assim tirar satisfações do que ela havia acabado de dizer sobre ambos.
— Você nos chamou do quê, rolhinha? - atiça o loiro.
— Nada que fira o ego excepcionalmente enorme dos dondocas. - alfineta a mulher, logo caminhando pros pesos e começando a escolher um deles, obviamente, tentando-se lembrar do novo peso que o seu personal havia lhe indicado.
— Do quê que vocês nos chamou? – agora quem falou foi o moreno, logo ambos caminharam pra mais perto de Taci.
— Iiiih, além de dondocas, são surdos é? – acaba falando em voz alta o seu pensamento que acabara de lhe vir a mente.
— Retire o que você acabou de falar, mesmo eu não tendo entendido uma vírgula. – um deles acaba pegando ela pelo braço bem forte.
— Me solte! – Taciana imediatamente mete um tapa bem forte na cara do rapaz, pegando perto do ouvido e deixando-o levemente surdo, ficando com um zumbido insistente em seus ouvidos.
— Ora, ora, a rolhinha sabe lutaaar.
Antes mesmo do loiro chegar mais perto na intenção de tentar algo contra a advogada, um rapaz de longos cabelos castanho claro e também não tão musculoso, porém continua sendo forte, acaba ficando entre a mulher e os rapazes, logo intimidando-os.
— Acho que estão no equipamento errado, garotos. – o homem fala com a sua voz levemente grossa e rouca, os rapazes logo vão andando pra trás, assim virando-se e indo pra outro equipamento, levando a atenção pros próprios exercícios. – Eles te fizeram algum mal querida? – o homem vira-se pra Taci e o olhar preocupado dele acaba analisando cada parte do corpo dela, encontrando o local machucado, o braço direito dela.
— Fizeram nada não, só deram uma apertadinha no meu braço, mas nada que me atrapalhe nos treinos. – ela dá um selinho no seu noivo e vira-se em direção aos pesos de volta. – Gael, lembra-se do peso que o meu treinador me passou? Acabei perdendo a nota que eu havia escrito os meus novos exercícios na festa de ontem.
— Ainda bem que eu guardo tudo no meu bloco de notas aqui no celular. – os olhos azuis do homem por um momento cruza com o olhar das íris castanhas escuras de Taci.
A mulher não impede que umas risadas acabe tomando-lhe os lábios e deixem o momento que estava até agora pouco perigoso, pra algo divertido.
Tudo estaria indo normalmente — mais alguns longos e quase infinitos minutos de exercícios com poucas pausas só na intenção de hidratar-se novamente — se não fosse o fato de que um gato preto aparecesse do nada na academia, não que seja estranho disso acontecer, afinal, muitos outros gatos acabam entrando no local e até ganham carinho do pessoal, são bem cuidados por uns dois ou três funcionários e acabou virando rotina encontrá-los passeando por aqui, tem até um potinho de água e um potinho de ração numa das entradas da academia. Mas, esse gato era diferente, algo chamava muito a atenção nele, e só uma única pessoa percebeu isso, Taciana. Ele caminhou até ela e se esfregou nas pernas, Taci acaba até gosta do gato, ele tem pelugem escura e olhos verdes neon. Não demora para que se agache e até dê um carinho nele enquanto sorri, a sua memória indica que conhece-o de algum lugar, porém, não se recorda da onde em exato. Gael, voltando do refeitório com dois copos de tamanho médio, um contendo suco de frutas amarelas e o outro contendo suco de frutas silvestres, observa a cena da noiva acariciando o gato até então desconhecido para ambos. Também repetindo o mesmo movimento da amada — agacha-se ao lado dela —, fala.
— Mais um amiguinho pra família da academia?
— Talvez, mas parece muito bem cuidado pra ser só mais um gato de rua, tem até uma coleira nele, – levanta um pouco a cabeça do animal e lê o nome escrito no pequeno medalhão dourado que está na coleira da mesma cor de sua pelugem: preta. – Leon, nome bastante diferente e lindo, igual esse gato.
- Interessante, acho melhor tirar uma foto e mandar pro grupo aqui no zap, vai que alguém perdeu um gato.
- Concordo... – Taci até faz menção em pegar o celular que está na braçadeira, mas o gato arranha a mão dela, impedindo-a de completar tal ação e assim fugindo o mais rápido que pode. – Ai! Mas que gatinho mais descarado.
— Eu diria inteligente, só foi você tentar pegar o celular pra tirar uma foto dele que ele te arranhou e fugiu. – o homem se levanta rapidamente e sem precisar se apoiar em nada, segura os dois copos com uma única mão e usa a outra para oferecer uma ajudinha pra advogada se levantar.
— Como se quisesse ficar foragido, - pega na mão do noivo e levanta-se. – comportamento bem estranho pra um gato.
— Bom... ao invés de ficarmos batendo papo do porquê desse gato fazer isso, que tal fazermos um pitstop nos treinos, que já foram muitos, e bebermos um suco de frutas?
— Ah, é mesmo, nem percebi o tempo passar rápido. – diz a mulher, não hesitando em pegar o celular que está na braçadeira e olhando o horário nele, enquanto pegava o copo de suco da mão de Gael e bebendo um pouco do líquido arroxeado. – Já é dez pras dez, daqui a pouco eu tenho que ir pro meu treino de tiro.
— Quer que eu lhe acompanhe amor?
— Se você não tiver mais nada pra fazer que seja muito importante, eu aceitaria uma companhia sim.
— Não, a única coisa importante realmente que tenho hoje depois do treino, é só o nosso casamento mesmo. – bebe um pouco do seu suco que está em sua mão, começando a andar em direção ao refeitório.
— Hmmm, achei que teria um dia bastante ocupado, como eu... – diz em um tom irônico, acompanhando o homem até uma mesa com cadeiras um pouco altas, Taci até tem uma pequena dificuldade pra conseguir se sentar nelas, já que ela não é tão alta assim, tendo 1,56 de altura e a cadeira bate um pouco acima da cintura dela. – Aff, bem que poderiam ter umas cadeiras um pouco mais baixas né?
— Assim a minha baixinha não teria tantos problemas pra se sentar pra comer, né? – diz o noivo brincando.
— Aaaah, diz o altão que quase sempre bate a testa na entrada do meu quarto. – devolve a advogada no mesmo tom, o que ocasiona de ambos ficarem rindo.
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Serro Azul, Mansão de Egídio Arantes
A espera pelo guardião mor estava até sendo demorada, Milu está inquieta, Ondina não parava de mexer em seu leque, o prefeito entediado fica se distraindo com uma caneta que sempre carrega consigo, o doutor revisa pela terceira vez a sua agenda de consultas, tanto de hoje quanto dos outros dias, e o delegado pega mais um doce do potinho de doces — ele já comeu uns cinco já. Quando Egídio finalmente chega na sala, todos no local levam a suas atenções até ele e não deixam de perceber que carrega uma pasta azul cinzenta fina de documentos, deixando-os curiosos e intrigados, a bruxa logo é a primeira a se manifestar antes mesmo do guardião-mor sentar-se em seu local de costume.
— O que significa tudo isso Egídio? – aposta pra pasta de documentos, agora está encima da mesa e o homem está a se sentar na cadeira que fica na cabeceira da mesa.
— Muita coisa, mas prefiro explicar depois, antes precisamos saber por onde anda o León.
— Eu sei que o gato é importante pra nossa irmandade, – agora, quem se manifesta é o Eurico. – é por isso que eu...
— Nós, Eurico, nós estamos aqui, – Machado o interrompe. – e sendo um guardião tal como vocês, mas na posição de delegado...
— Menos, – o prefeito o interrompe, logo levantando a mão e levando um olhar de censura ao homem. – menos Machado, a tua autoridade não serve de nada aqui. Se o gato sumiu, é hora do Egídio bater as botas. – finaliza a fala, afirmando com certeza a última frase que pronuncia.
— Prefeito! – exclama Maria Luiza, espantada a forma com que o prefeito fala tal frase. – Que jeito é esse de falar?!
— É o que eu acho, ué. Na verdade, tenho quase certeza disso, pois, ele pode ter feito a mesma coisa nas outras vezes. E se – Eurico enfatiza essa palavra. – for esse o caso, o gato só volta quando encontrar o novo guardião.
— Sim, sim, aquele que comandará a nossa irmandade, mas, estou querendo saber, doutor Aranha, o quê que acha de tudo isso? – a cafetina vira-se para as costas da cadeira e leva o olhar até o médico.
— Na qualidade de médico pessoal de Egídio...? Eu diria que ele está a vender saúde. – diz Aranha olhando diretamente pro guardião-mor. – Mas não custa nada fazer um checape.
— Perca de tempo. – Eurico expõe aquilo em uma voz tranquila enquanto olha pra uma das paredes da sala, logo voltando os globos oculares para os guardiões aqui presentes, assim vendo a cara de espanto ao ouvirem tal frase sair da boca do homem sair dessa maneira, tão calmamente e friamente. – Se a hora dele já está marcada.
— Mas assim tá parecendo que você quer ver o Egídio morto. – contesta Ondina, ainda incrédula e agora de frente pro prefeito, assim olhando-o com um olhar de quem não está a acreditar no que acabara de ouvir.
— Querer, eu não quero...
— Está parecendo. – afirma a loira.
— Mas... – levanta a mão, assim, impedindo que o delegado fale e permitindo que ele próprio continue a falar o seu raciocínio. – Se o sumiço do gato significa a morte do guardião-mor...
— Eurico, por favor né, – o delegado o interrompe novamente – a gente só quer saber... Qual de nós vai... – Joubert agora olha diretamente pro Egídio com um olhar preocupado. – Desculpe Egídio... – o homem respira fundo por um momento. – Assumir o lugar dele, é isso. – solta essa última fala de uma vez sem nem ter coragem de olhar pro dono da residência, levando o seu olhar para um outro lugar qualquer da sala.
— Ahhh, – leva o seu olhar que estava fuzilando Eurico agora pouco até Machado. – se essa ansiedade toda é por causa disso, podem sossegar o faixo, porquê ninguém aqui vai ocupar o lugar do Egídio aqui. – baixa os seus olhos, já que o pescoço logo se incomoda de ficar erguido e em direção ao delegado, pois ele ainda não se sentara, dessa maneira, o seu olhar acaba pousando na sua tão amada Ondina.
— Não mesmo porquê eu ainda tô aqui, hein. – o sétimo guardião finalmente consegue encontrar um bom momento pra conseguir se pronunciar.
— Mas daqui a pouco pode não estar. – o prefeito contesta veementemente. – Vamos se ater a isso, – fica inclinado sobre a mesa e apoia os seus cotovelos no mesmo, olhando diretamente pra Egídio enquanto suas mãos se entrelaçavam. – de quem é a vez?
— De um forasteiro... – diz Milu com uma voz etérea, olhando ocasionalmente pra um imenso e grande: nada. – Alguém que vem de muito longe.
— Dona Milu, quem te disse isso? – pergunta o delegado enquanto se sentava ao lado da esotérica.
— Foi a Minerva. – assim que volta do seu "devaneio", a mulher fala tal frase com muita certeza e segurança.
— A Minerva? – o prefeito repete essa fala da guardiã com um pouco de ironia. – Uma coruja empalhada? Nem quando era viva, ela falava. – o tom de voz dele deixa bem perceptível o deboche se misturando com essa ironia.
— Comigo ela fala, – argumenta a ruiva. – e já me disse coisas a seu respeito, que se eu saísse contando por aí... – agora o tom de voz da mulher é ameaçador.
— Não me provoca, se não eu tiro o alvará da sua loja, e ainda mando lhe prender por calúnia. – o homem começa a pontar o dedo pra Milu, sem esticar o braço.
— Olha aqui Eurico, meça bem as suas palavras quando for se referir à Milu, cê tá me entendendo? – agora quem está ameaçando é Ondina.
— Então manda ela para com essas calúnias sobre a minha pessoa.
— Calúnia seria se fosse mentira, mas é a mais pura verdade! – contesta a bruxa.
Enquanto essa discussão acontecia, Egídio se levantara aos poucos de sua cadeira e andava em direção à uma janela que havia na sala, assim tendo a vista de um pátio que tem bem no meio da mansão e começa a refletir, pensa em tudo o que viveu para chegar onde chegou. Será que ele está realmente pronto pra acabar tudo assim e entregar de bandeja a proteção do tesouro mais precioso que esse planeta pode ter em seu interior para um total desconhecido? O sétimo guardião não sabe se está realmente pronto para partir e entregar o seu posto, ele sequer sabe se realmente acabou de fazer tudo que realmente precisava fazer.
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