Capítulo 10
Valentina e Olavo se encontram na varanda do quarto dela, um de frente ao outro, enquanto que ele está impaciente, suas veias no pescoço levemente saltadas, maxilar travado, postura reta, olhar fixado na Senhora Marsalla e dando atenção total palavra por palavra que lhe era dito, a dona da casa se encontrava em um beco sem saída, não tem escapatória para aquele problema que acabou a encurralando feito uma criancinha assustada, ela está com a postura ereta, queixo erguido, olhar também fixo no homem a sua frente, as mão espalmadas de rentes ao corpo uma sobre a outra, de vez em quanto seus dedos se pressionam uns nos outros para que consigam aplacar o medo e nervosismo que correm a mil por hora junto com um pouco de adrenalina que deixa o coração palpitando fortemente na caixa dos peitos da empresária, como se fosse fugir dali a qualquer momento, seu olhos demonstram serenidade, calma, e até um pouco de superioridade, o que se é normal vir desta mulher.
— Você está a me pedir um tempo, isso mesmo que eu ouvi? - questiona o empresário, suas mãos estão juntas ao seu corpo e meio que uma segurando a outra. Franze o cenho por um momento, ainda tentando processar a imagem de poucos minutos atrás e ao mesmo tempo começando a planejar como que diria a sua amada filha que o seu noivo acaba por sair de carro a poucos minutos, fugindo do casamento de última hora depois de tantos meses de planejamento.
— É... São só algumas horas - Valentina, em um ato de puro desespero, tenta barganhar com o Senhor Aragão. -, é tudo o que eu te peço.
— Depois do que eu vi? - coloca a ponta dos dedos de uma das mãos encima do batente, logo indo pra frente alguns centímetros por meros instantes e voltando a sua posição anterior rapidamente. - Os seus filhos fugiram - pronuncia aquilo com um tom de voz completamente indignado, porém calmo e contido. -, você mandou o seu capanga ir atrás deles, e daqui a pouco a minha filha vai chegar aí, o quê que eu digo pra essa menina? Hein? O noivo sumiu por que ele não quer casar, é isso? - seu tom de voz começa a ficar irônico. - Ainda tem o Gael, que chegou comigo e está lá, na festa, que nem um dois de paus esperando a noiva dele aparecer, que também sumiu?! Escafedeu sabe-se lá pra onde?!
— O casamento vai acontecer, - Valentina diz aquilo com uma voz segura, calma, até um pouco otimista. Um pequeno e singelo sorriso desesperado e nervoso lhe toma os lábios por aqueles meros segundo que pronuncia aquelas palavras, ela mesma tenta acreditar naquilo que fala, pois já imagina que seus filhos hão de voltar e fazer esse casamento acontecer, ao menos Gabriel tem que fazer isso! - Você confia em mim, não é?
— Eu já lhe dei muito crédito - a voz dele já está mais normal. -, inclusive em dinheiro. Não, agora não, não mais, não lhe dou mais um minuto sequer! Nunca mais! A confiança que eu tinha em você e naqueles canalhas de seus filhos já ela! - enquanto que o Senhor Duarte profana aquilo levemente enraivecido, as veias saltadas, olhos fixos e um pouco esbugalhados, Valentina está lá, calada, queixo erguido e boca levemente contraída, queria ali poder chorar e se desesperar, mas não, não poderia agora, não ali, na frente daquele homem que com toda certeza irá debochar de seu momento fraco e rir da sua cara, já que agora pode se decretar falida. - E quanto a nossa futura sociedade financiada pelo meu dinheiro...
— Pelo o amor de Deus...
— DE MIM VOCÊ NÃO TIRA MAIS NEM UM CENTAVO - interrompe a fala da empresária com aquela breve explosão expressada em palavras.
— Mas sem o teu dinheiro eu... - A Dona Marsalla está começando aos poucos ceder de sua fortificada muralha de frieza e inexpressão ao desespero, tentando a todo custo conseguir convencer o homem a sua frente de não desmanchar o acordo. Por um momento desvia o seu olhar por nervosismo, mas rapidamente o volta aos olhos castanhos escuros dele. - Eu não vou sobreviver!
— Que se dane! - Valentina recua poucos centímetros com aquela frase no tom de voz agressiva e, aparentemente, com leves toques que ameaça, coloca uma das mãos que gesticulada sobre seu peito, enquanto que a outra fica se apoiando no pulso, descendo-as lentamente. - Que se dane! - diz novamente a frase sílaba por sílaba. - Não é pra mim que você tem que dizer isso, - o olhar da mulher a sua frente continua de superioridade, frieza e calma, mesmo o que a sua voz tento denunciado diferente momentos antes. - é pro Gabriel e pra Taciana! Nós tínhamos um trato, que incluía dinheiro, mas que dependia do casamento de nossos filhos, certo? certo! - a falida gesticula a sua cabeça em afirmação. - Mas graças a irresponsabilidade daqueles merdinhas, daqueles fujões, esse trato está desfeito! - vira-se em direção à saída da varanda.
— Ah, mas... Espera! - a mulher tenta evitar que o homem saia dali sem que consiga argumentar uma outra solução para esse problema e que consiga que esse trato não seja desfeito de maneira alguma. - Espera, nós podemos encontrar uma outra solução...
— Mas que solução? - profere aquela frase também sibilando-a, entredentes e parece que se segurando muito mentalmente para que não acabe voando no pescoço de Dona Marsalla e a estrangule ali mesmo, pois está completamente enraivecido. - Solução, porra... - desvia o olhar por um momento com aquele sussurro audível, porém, no demora para que volte. - Solução... Tô aqui pensando em outra coisa. - ele por uns meros instantes olha pro evento que está lá, acontecendo no salão que se tem plena e total vista privilegiada da onde estão. - Pensando do quê que vai ser dos meus filhos, porquê o lindo e belo sonho deles que tava pra acontecer, acabou de virar um horrível pesadelo!
Olavo levanta o dedo indicador por minúsculos segundos, em seguida vira-se uma segunda vez na intenção de ir embora daquele local. No primeiro passo que ele dá, Valentina, mesmo nesta saia justa que aparentemente não tem como contornar e fugir, tenta argumentar.
— Olavo, espera...
— Não quero mais sequer, você perto de mim, - vira-se e fala aquilo em um tom ameaçado, volta a se aproximar com uma das mãos não tão levantadas, seria na altura do peitoral dele mais ou menos, enquanto que a mulher já ergue ambas as mãos em tom de defesa na mesma altura que a dele está. - eu não vou descansar enquanto não destruir você - ela abaixa as mãos, uma fica rente ao corpo enquanto que a outra fica apoiada no batente da varanda, sua postura fica ereta, queixo erguido e ar imponente. -, eu quero acabar contigo. E é nisso que eu vou me concentrar, é nisso que eu vou pensar o tempo todo. Em destruir você, eu fui claro?
Não esperando uma resposta, o Senhor Aragão vira-se e finalmente vai caminhando em direção à porta do recinto. Limpa um minúsculo escorrimento de seu nariz que um choro que está segurando e irá continuar assim, segurando-o, mas não é um choro de tristeza, mas sim de raiva, ódio. A dona da mansão fica lá, parada, feito uma estátua vendo o homem caminhando, sua respiração está rápida, descompassada e, pelo que dá pra se perceber, ofegante. Talvez aquela calmaria toda que estava tendo na conversa está agora se extinguindo e sendo liberta a mulher que está completamente desesperada, nervosa, louca pra encontrar uma santa e bendita solução para aquele inferno que acabou de se formar por conta dos seus idiotas que, por ventura e obrigação os chama de filhos.
Com o milionário já bem longe dali, a falida já pode começar a espernear a vontade sem que ninguém a incomode, pegue no flagra, deboche, ironize, a inferiorize ou qualquer coisa do tipo.
— MAS QUE MERDA, GABRIEL! QUE BOSTA, TACIANA! - bate com pouca força as mãos completamente espalmadas na batente de madeira de carvalho com verniz de sua belíssima varanda, algumas poucas e solitárias lágrimas se atrevem correr pelo seu rosto. - VOCÊS TEM NOÇÃO DO QUE FIZERAM, SEUS INÚTEIS?! IRRESPONSÁVEIS! FUJÕOOES! Aaaaaah, mas hão de me pagar! Hão de me pagar centavo por centavo essa bagunça, esse problema, ESSE INFERNO QUE FIZERAM POR CONTA DE UMA IRRESPONSABILIDADE QUE FIZERAM! AAAAAAAAAAAAAAAAAH, MAS QUE ÓDIO! - dá um "soquinho" no batente com a mão direita bem fechada, tendo mais probabilidade de sentir dor na palma da mão por conta das unhas do que na falanges que ligam os ossos de seus dedos ao osso da mão. - Mas vão pagar muuuuuito beeeem, se não eu não me chamo Valentina Marsalla!
⸘‽
Minutos se passam, em torno de uns quinze, vinte e cinco mais ou menos, o carro onde está a noiva finalmente chega a mansão de Valentina Marsalla, o palco de onde, era pra ser, o dia mais feliz e inesquecível de sua vida, o dia do seu casamento, aquele que, com toda certeza e esforço de seu amável e corujão pai, seria manchete de capas de revista, jornais, sites de notícias, entre outros meios comunicativos que se pudessem existir no mundo. Laura está animada, ansiosa, feliz, nervosa, com muita adrenalina correndo em seus sangue e fazendo com que o bombeamento do líquido vermelho feito pelo coração fique mais forte, acelerado, como se fosse uma bomba relógio que a qualquer minuto, segundo, instante dentro daquele carro fosse explodir de emoções mistas, todas no intuito positivo. A morena olha pela janela do carro, inúmeros e incontáveis convidados estão à sua espera, alguns fofocando entre si bem baixinho pelo que se dá pra ver, a moça imagina que seja fazendo apostas de como qual será o vestido que ela está a usar, ou de qual maquiagem está a usar também.
Coitada, mal sabe ela o que está por vir, sendo aquele o momento que por um longo tempo de sua vida irá se martirizar mentalmente, a todo momento querendo esquecer, mas também, a todo instante procurando entender e encontrar respostas do porquê ele poderia ter feito isso com você...
Uma das seguranças do evento vai em direção ao carro, indo pra posta onde a noite está e abrindo-a sem pestanejas, umas duas melhores amigas dela que são damas de honra foram para lá, na intenção de ajudá-la a sair daquele veículo.
— Oooi migles! - Laura diz aquilo animada, saindo do carro e dando alguns passos para que suas amigas possam ajudar a arrumar o vestido. Vendo o pai emocionado poucos metros, caminha mais um pouco até ele, um sorriso é estampado em seu rosto de orelha a orelha, vai caminhando segurando um pedaço da saia do vestido para que não arraste tanto no chão e para que não tropece. - Aaaah pai, eu já seeei, eu tô atrasada! - chegando perto dele, estende as suas mãos em direção para tal, não demorando muito para que sejam pegas e uma delas seja beijada delicadamente pelo mais velho. - Valentina já teve um treco e o Gabriel de tão impaciente já fugiu do Altar, sem falar do Gael e Taciana, que a essa altura do campeonato já devem ter casado e ido na frente para a noite de núpcias deles! - inclina-se um pouco para frente do homem e fala aquilo tudo completamente feliz, mas muito nervosa. Acaba dando uma gostosa risada, já o pai, com um olhar triste e marejado porém com um sorriso amável, coloca a outra mão, que no momento encontrava-se livre, no ombro de sua amada filha, dando-lhe um pouco de carinho naquele local.
Rapaz, não é que duas das três afirmações dela estão certas? Valentina realmente teve um treco, mas nada grave além de um surto momentâneo e completamente sozinha e o Gabriel fugiu do altar, só não foi pela impaciência de tanto esperar sua belíssima noiva chegar.
— Filha... - segura ambos os ombros agora, a fazendo para de rir e sua animação sumir instantaneamente, até mesmo a ansiedade foi embora, o que toma conta agora da mente da noiva é a curiosidade, nervosismo e pitadas de medo e apreensão, sua expressão está séria e expressando um pouco de confusão. O milionário usa uma de suas mãos para acarinhar o rosto de Laura - Tá linda... Tá linda meu amor... - o sorriso esbranquiçado e perfeito, como aqueles de comercial de pasta de dente e enxaguante bucal que aparece na televisão, volta a ser a estrela principal naquele belo rosto juvenil que parece aqueles rosto desenhados a mão com extrema delicadeza em bonecas de porcelana de colecionador. - Linda. - Olavo a puxa para um breve, porém significativo, abraço. - Vem comigo agora, vem.
— Papis, você tá chorando? - questiona ela sorridente, afinal, era uma ocasião rara encontrá-lo emocionado, mais raro ainda vê-lo chorar por alguma coisa. Pensa ela, por um momento, que a última vez que viu o seu pai chorar era no enterro de sua mãe, quando era jovem. Não era um choro como os dos outros no local daquele dia, era um choro doloroso, silencioso. Por incrível coincidência, é exatamente este mesmo choro que vê no dia de hoje, porém, com uma tentativa extremamente falha de uma feição feliz e alegre, usada como máscara para encobrir algo muito, mas muito sério mesmo.
— Esse choro... - o empresário desvia seu olhar por um momento, virando seu rosto de um lado para o outro, vendo os convidados à sua volta e a volta de sua filha, olhando aquela cena e comentando em cochichos inaudíveis naquele momento. Porém, não demora muito fazendo isso e já volta suas íris escuras à sua pequena princesa. Pega ambas as mãos, leva-as para perto de seu rosto e dá-lhe um outro beijo nas costas delas. Respirando fundo, soltando o ar em um suspiro doloroso, segura no ombro da moça novamente e fala com um tom de voz agora começando a ficar embargada - Esse choro... Filha, por favor, vem. - a puxa para um abraço.
Completamente confusa, Laura cede inconscientemente e abraça o seu pai. Ela não consegue entender, não era para o homem que mais ama no mundo estar feliz no dia de hoje? Talvez seja só a emoção falando mais alto dentro do peito dele, mas, aquele olhar, aquele olhar não mente! Pode estar com o sorriso mais verdadeiro que for, mas reconhece muito bem aquele olhar triste e mórbido que está ali presente nos olhos do empresário, Há algo de muito errado nessa história, e não tem como uma explicação plausível aparecer a essa altura do campeonato para fazê-lo ficar daquela forma... A não ser que... "Não pode ser, impossível!" pensa consigo mesma.
— Vem comigo. - o Senhor Aragão desfaz o abraço, sua expressão já não está mais com uma máscara muito fraudulenta de felicidade, sua feição agora é de seriedade, seu olhar está baixo e começando a ficar levemente turvo pelas lágrimas que estão sendo represadas em seus globos oculares.
— O Gabriel... Aconteceu alguma coisa com o meu noivo, pai...? - pergunta com receio do que o seu pai possa acabar respondendo, mas também não deixa de proferir naquelas palavras seu desespero e nervosismo que estão tomando conta de seu corpo e mente aos poucos, sua face agora está séria, seus olhos estão fixados nos do pai e demonstram medo.
— Shhhhh - o pai levanta a mão aberta em sinal para que ela não falasse mais nada, em seguida fecha-a e aponta com o polegar o interior daquela bela e bem mobilhada residência que hoje está muito bem organizada e enfeitada para o que deveria ser um casamento. - lá sentro eu te conto tudo, vem comigo, vem. - vai conduzindo a filha aos poucos, a face dela é completamente tomada pela confusão e desespero, dando passos lentos e quase arrastados em direção ao salão de onde é a enorme mesa do buffet. O pai adentra na mansão um pouco envergonhado, mas também enraivecido, e antes mesmo que umas poucas lágrimas raivosas resolvessem escapar de seus olhos, passas seus dedos por cima dos olhos e as espalha pelas laterais de seu rosto redondo, consequentemente as secando. Enquanto a filha, entra no salão confusa, nervosa, perdida, a todo momento procura com o seu olhar ao menos a sombra daquilo que seria o grande amor de sua vida pronto para dizer o seu juramento de casamento que, provavelmente, decorou a semana inteira no intuito de falar belas e doces palavras neste dia mais importantíssimo da vida deles.
Ela sente alguma coisa em seu peito, talvez seja angústia de não ver o rapaz, vergonha por chegar e os convidados estarem falando alguma coisa sobre ela, "será que é o vestido? Deve ter ficado horrível o remendo, ou o Gabriel está montando uma tremenda surpresa onde está todo mundo participando? Mas não, não tem como ser... Tem muitos olhares tristes em minha direção, como se eu fosse uma coitadinha por alguma coisa... Mas o que é?! O que está acontecendo?! Onde que estão os sorrisos e olhares de admiração que normalmente se tem em uma ocasião dessas? Eu não estou entendendo mais nada!" a moça pensa consigo mesma. Ela já não sabe mais onde olhar naquele salão, pois não vê o seu amado em lugar nenhum! Onde havia esperança, alegria, amor, felicidade e até ansiedade sendo transmitidos só pelo seu olhar, deram espaço a tristeza, angústia, vergonha, confusão e constrangimento. Como isso seria possível? Ser largada no altar pelo homem que tanto dizia que a amava e que no dia anterior se amaram tórridamente. Seria aquela noite um indício do que estaria acontecendo no dia de hoje? Por que ao menos Gabriel não mandou uma mensagem? Ao menos uma mensagem pra poder explicar toda essa confusão? Laura tem tantas perguntas, mas ninguém que tenha as respostas que, nesse momento, tanto anseia.
Valentina está descendo as escadas, a maquiagem retocada depois do surto que deu isolada em seus aposentos, com o mesmo ar que sempre deixava emanar de sua pessoa: superior e imponente. Observa Laura chegando e os convidados, alguns rindo discretamente, outros cochichando, aqueles que se dão o trabalho de ficarem preocupados com o bem estar da moça e tem gente que não faz nada além de ficar olhando curiosos, querendo saber o que acontecerá agora com a chegada da única pessoa que faltava para que aquele lugar vire uma bacia cheia para as colunas de fofocas de todo o mundo, sendo aquilo o extremo oposto daquilo que o pai havia prometido para ela. A empresária respira fundo, suas pálpebras, por uns instantes, descem e cobrem os globos oculares, já vai pensando no que vai falar pra moça. Com toda certeza, terá de escolher muito bem as palavras que usará com a jovem, pois tem completa noção de que está toalmente sentimental, com o ego ferido, ilusões de um belo casamento jogados penhasco abaixo, entre outros sentimentos que um dia já experimentou na vida. Todos juntos, de uma só vez, misturados no caldeirão que se chama Valentina Marsalla.
Foi exatamente em um dia fadítico feito esse, há trinta anos atrás, quando tinha uma tenra idade e aproveitava de sua juventude para fazer tantos planos, grande parte deles envolvia o pai de seus filhos. Mas, tudo mudou de repente. Foi como se recebesse um balde enorme de água fria com gelo. Entrou na igreja de sua cidade natal, não viu o seu noivo lá, a esperando em seu devido lugar no altar. Foi instantâneo a reação da jovem Valentina, ou como era conhecida na época pelo nome de batismo, Marlene. Desesperada, essa deve ser a palavra mais apropriada para definir o que sentiu naquele momento. Só de lembrar o rosto de algumas, que considerava na época, amigas rirem, já faz com que o seu estômago embrulhe e fervilhe de ódio.
Voltando para a realidade, depois do breve momento nostálgico, a empresária desce os degraus faltantes e vai em direção a pai e filha, observando atentamente que Olavo está a todo momento tentando acalmar a sua filha, ela já está entrando em desespero e sua respiração está ofegante, quase chorando ali mesmo, ainda procurando a todo momento o seu noivo, até vez ou outra resmugando a procura dele, perguntando sobre ele, o paradeiro dele.
- O que tá acontecendo, papai? - continua olhando ao redor, ainda não tendo a ficha caída de que foi largada no altar.
- Por favor, calma, calma. - o patriarca dos Aragão segura momentaneamente no ombro de Laura, não demorando muito para que segura as suas delicadas mãos e as beija, tentando dar apoio nesse momento tão difícil. - Calma, filha.
Valentina, já perto deles, respira fundo e começa.
- Eu falo com ela.
- Nem se atreva! - diz com toda certeza que poderia ter na vida, sem sequer olhar pro rosto da mulher.
- Eu devo isso a sua filha. - ponderou se deveria ter falado aquilo, mas acredita ser o mais certo nesse momento, estende a mão em direção a jovem, indicando que a conduziria para um local mais reservado para ter essa conversa.
- Vocês podem pelamor de Deus me explicar o que está acontecendo? - ela está praticamente implorando por uma explicação, não importa de qual das partes venha, só está desesperada por respostas.
O empresário olha pra filha, pondera a possibilidade que lhe foi ofertada pela sua ex-sócia de poder explicar tudo que está acontecendo de mulher pra mulher. Leva uma das mãos para o rosto de sua menina, acariciando o local delicadamente e lentamente. Sua expressão facial é séria e ao mesmo tempo com desapontamento. Vira-se em direção à Valentina ainda segurando nas mãos da noiva, a olhando severamente.
- Você meça bem as suas palavras.
A mulher não fala nada, só fica olhando pro homem, logo leva o olhar para a moça.
- Vai lá filha. - dizendo aquilo, deixa que a falida pegue na mão de Laura com cuidado, na intenção de tentar explicar pra ela da melhor forma possível.
- Pai...
- Vai filha.
Valentina passa a mão no ombro da jovem quando ela chega perto de sua pessoa, andando ao lado dela em direção às escadas do local, os olhares de pai e filha se cruzam, a moça querendo explicação, o mais velho sem ter as respostas certas para poder dizer a sua menina. Laura volta a atenção em subir as escadas, subindo a sua enorme saia do vestido, a todo momento, sendo acompanhada pela mais velha. Ela se sente destruída, acabada, tendo plena certeza de que não esquecerá esse dia nunca mais, enquanto que a dama de vermelho que caminha logo atrás não deixou momento algum que seu papel de dama do gelo, insentimental e superior, deixasse cair. Olavo acompanha a moça subindo os degraus lentamente com o seu olhar sério. Tem medo de qual será a reação dela quando souber da verdade.
Continua...
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