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Parte Um: I

Os raios de sol da alvorada são os responsáveis pelo meu despertar, afinal esqueci-me de fechar a cortina, ainda assim, faltava apenas 7 minutos antes do despertador tocar às 7 da manhã. O céu estava claro e limpo, agraciado com um tom cinza-pálido. Desço as escadas em direção à saída depois de me aprontar e comer uma torrada com café, vestindo um sobretudo e gravata apertada de cor azul citrino e cabelos penteados para trás.

Assim que chego à rua, tenho o privilégio de encontrar, tal como acontece todos os dias, o senhor grisalho que está sempre sentado na mesa à direita da porta do bar localizado em frente minha residência. Estava sentado com a perna direita sobre a esquerda a ler um jornal com a manchete "O rio Tâmisa inunda em Londres; catorze pessoas se afogam – 07 de Janeiro de 1928'', vestia um casaco cinza a combinar com o chapéu Fedora que lhe cobria o rosto. Ele está sempre ali na mesma posição à mesma hora da manhã.

«Bom dia!» Cumprimento-o com um sorriso leve. «O que temos para hoje?»

Não sei seu nome.

«Bom dia, Sr. Aldane. Bom, hoje... "Quem vive nas trevas não consegue ser visto, nem vê nada" [1], estou refletindo neste pensamento por agora», disse sem levantar a cabeça, olhando por baixo do chapéu.

«Sim. Algo sobre o tempo?»

Não sei seu passado.

Ele finalmente levanta seu olhar para fixá-lo ao meu, exibindo um par de olhos exauridos azuis-topázio.

«Indiferente.»

«Certo, até amanhã.»

Não sei nada sobre ele.

Me retirei logo depois da despedida sem esperar uma resposta, afinal é sempre assim. Todos os dias.

Já à noite, às 8 para ser exato, estou no caminho de volta e encontro uma dama com roupas esportivas encostada em pé na lateral esquerda da porta do bar, que se encontra iluminado com tons quentes de modo a trazer uma noite acolhedora.

«Boa noite, Anna», ela responde rapidamente e volta a assistir o que quer que seja no telefone que tem em mãos. Seus longos cabelos negros ondulados repousam no seu ombro direito.

«Como foi o dia?»

«Indiferente.»

«Cadê o Johann?»

«Papai está lá dentro.»

«Diga-lhe que mando cumprimentos... e que não esqueci de devolver o livro, só não tive tempo de terminar ainda.»

«Pode deixar», disse ela num tom maroto.

«Até amanhã então, se cuida.»

«Sim, até amanhã.»

Anna Claxon, filha de Johann Claxon, o dono do bar. Uma jovenzinha peculiar que ocasionalmente se esgueira na porta esperando à esta hora apenas para me cumprimentar – provavelmente, é apenas uma cortesia do Johann. Subo as escadas, preparo um linguini com camarão acompanhado de um vinho rosé malbec para o jantar, e por fim repouso-me sobre cobertas de seda no meu quarto para apreciar a leitura do livro emprestado do Johann que trazia o título "Patris" sobre a capa aveludada vermelho-falu.

Encerro a leitura na página 77, e assim me retiro para uma noite de sono.


[1] Kahlil Gibran (1883-1931).

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