Castelo de Cinzas - Capítulo 4
Nota da autora (CarolMunhoz6):
Boa Tarde !!!!
Vamos animar esse domingo?
Boa leitura!
Eu me perguntava sempre se o que houve entre Rick e eu havia sido um sonho, mas a cada dia dessas duas últimas semanas ele me surpreendia mais, a cada dia me mostrava um pouco mais do seu lado carinhoso. Depois que dormimos juntos, nós conversamos muito sobre o ocorrido, e decidimos que íamos ver no que isso tudo ia dar, eu queria ir com calma, mas ele sempre me provocava, e nós sempre acabávamos na cama. Era bom, nos conhecemos melhor, e por incrível que pareça o Rick não é tão inútil quanto aparentava. Ele sabe fazer as coisas da casa também, e é formado em Administração de Empresas, o que me surpreendeu muito, já que ele aparentava não fazer nada da vida. Eu me sentia cada dia melhor, cada dia mais feliz ao lado dele. Não sei se isso é paixão, ou se é só fogo de palha, da parte dele eu digo, porque eu não tenho outra palavra para descrever, eu estou apaixonada pelo meu primo, mas cada dia que passa ele está mais atencioso, ontem assistimos "Um Amor Para Recordar" abraçados, e ele em nenhum momento me soltou, nem parou de me acariciar.
Quando dei por mim já estávamos no quarto, com ele as coisas são bem intensas. Sinto-me adorada quando ele me toca. Agora estou deitada nessa cama, com seus braços me envolvendo e sentindo a sua respiração, enquanto protelo para não levantar. Mas essa escolha me é tirada quando o telefone começa a tocar. Começo a me levantar mas Rick me prende em seus braços.
- Deixa tocar - ele fala e enterra o rosto em meu pescoço.
- Vontade não falta, mas pode ser a sua mãe... ela ainda não ligou desde que viajou. - eu disse me soltando de seus braços. Ele não gostou muito, mas cedeu.
Levantei-me e caminhei apressadamente ate a sala. O telefone continuava a tocar, então devia ser algo importante, pois com essa demora para atender, eu mesma já teria desistido.
Peguei o aparelho nas mãos e atendi:
- Alô. - eu disse
"Bom dia, gostaria de falar com o senhor Henrique Silva, ele se encontra?" - Disse a voz de um homem.
- Ele esta sim, quem gostaria? - Perguntei.
"Aqui quem fala é o delegado Alberto Vieira, diga a ele que é importante".
- Tudo bem, aguarde um minuto, por favor. - eu disse já caminhando com o telefone sem fio para o quarto.
Rick estava deitado com o travesseiro sobre o rosto, retirei o travesseiro me sentando na beira da cama, ele me olhou questionador quando viu o aparelho em minha mão.
- É para você Rick, deve ser importante.
- Espero mesmo que seja. Tinha outros planos para agora. - ele disse piscando para mim - Quem é? - Perguntou.
- É o delegado Alberto alguma coisa, não prestei atenção ao sobrenome.
- Delegado? - perguntou desconfiado.
- Ah, vá Rick, atenda logo. Ele disse que era importante. Estou curiosa. - disse estendendo o telefone para ele que pega prontamente.
- Alô - ele diz. - Sim, sou eu, pode falar.
Ele escuta por um longo tempo, e eu percebo que sua expressão muda, seus olhos ficam marejados e uma lágrima escorre. O telefone cai de suas mãos, ele não fala nada, apenas me abraça e chora, então seu corpo desliza para o meu colo onde ele aninha sua cabeça em minhas coxas ainda chorando, eu afago seu cabelo atônita, ele chora como eu nunca achei que o veria chorar. Isso me assusta, ele tem sido meu porto seguro esses dias. Com sua cabeça aninhada em meu colo eu inclino meu corpo para frente e estico minha mão tentando alcançar o telefone sem incomodá-lo, preciso saber o que estava acontecendo, quando finalmente alcanço o telefone eu o levo ao ouvido, mas não havia ninguém na linha, desliguei o telefone chocada, o que será que houve para ele ficar assim?!
- Hey, o que houve? Por que você está assim Rick? - ele enterrou seu rosto ainda mais em meu colo, e continuou a chorar desconsoladamente.
Como ele não falava decidi que deixaria que ele falasse no seu tempo. Continuei acariciando seus cabelos e aos poucos ele foi se acalmando. Quanto tempo fiquei calada apenas acariciando seus cabelo até ele se acalmar? Eu não sei dizer, mas eu esperei pacientemente. Quando por fim ele ergueu o rosto para me olhar, pude ver em seu semblante a dor que o consumia. Algo estava terrivelmente errado e antes mesmo que eu abrisse a boca para perguntar o que houve, ele me abraçou fortemente e disse que tinha algo sério para falar, o que me preocupou ainda mais.
- Fala Logo Rick, estou preocupada. O que esse delegado queria? - perguntei
- Naty, é a minha mãe. Ela sofreu um acidente, e faleceu.
- Ah, meu Deus. Eu sinto tanto. Como isso aconteceu Rick?- pergunto
- Eu não sei direito, pelo que o delegado falou o carro perdeu controle e caiu em um precipício. Tinha um homem com ela. Os dois morreram.
- Quando foi isso Rick? Onde foi isso? - pergunto apressada.
- Pelo que o Delegado falou, foi ontem à noite, próximo a Florianópolis. O que é estranho já que a minha mãe falou para mim alguns dias antes da viagem que talvez ela fosse para o Rio de Janeiro. Ela teria me avisado se houvesse alteração no destino da viagem. O fato é que agora nós temos que ir para lá. Cuidar de todos os tramites para o enterro. E eu não sei se conseguiria fazer isso sozinho. Você iria comigo? - ele falou tudo muito rápido e entre lágrimas. Eu não podia negar isso a ele.
- Claro. Eu vou com você. Rick, nós podemos ficar na minha casa, lá em Floripa, eu aproveito e vejo como estão às coisas por lá. Mas tem uma coisa que você te que decidir se vai querer fazer translado do corpo, ou se quer enterrá-la junto com meus pais. - Eu ofereço sutilmente, pois sei que o translado do corpo sairia muito caro.
- Eu sinceramente não sei, e agradeço que seja você ao meu lado agora. Não sei o que eu faria, mas acho que seria bom se pudéssemos unir as irmãs. Sabe, elas não tiveram quase nenhum contato durante esses anos. E esse maldito segredo que minha mãe nunca me contou, eu gostaria de ter conversado mais sobre isso com ela. - ele disse com pesar, estava visivelmente mais calmo.
- Eu também gostaria de saber desse segredo. Toda vez que minha mãe começava a me falar algo sobre esse segredo, meu pai não deixava, sempre inventava algo que nos distraia e o assunto ficava para depois. Tia Ana também nunca quis falar, sempre inventava alguma coisa para fazer e fugia de mim toda vez que eu tentava perguntar. Eu nunca entendi o porquê disso. - disse enquanto olhava para nossas mãos entrelaçadas.
- Nem eu, meu anjo. E pelo jeito nós nunca vamos entender - ele disse com a cabeça baixa.
- É. - concordei - Você sabe quando nós iremos? - perguntei
- Temos que ir o mais rápido possível. Vamos fazer assim, vou ate o banco pegar algum dinheiro para comprar as passagens, e você vai fazendo as malas, assim que eu chegar nós vamos direto para o aeroporto certo? - assenti, enquanto ele levantava da cama e pegava a roupa que estava jogada no chão para vestir - Naty, eu sei que pode ser difícil o que vou te pedir, mas teria como você separar uma roupa para vestir na minha mãe? Eu acho que ela gostaria de estar com alguma coisa dela.
- Claro. Eu vou ligar para o meu advogado, sua mãe era minha guardiã legal. Acho que agora isso passa para você, mas eu tenho que falar com ele sobre. Vou pedir que ele providencie uma empregada pra limpar a casa que esta fechada desde quando eu vim para cá, e também pra ir agilizando todos os tramites com relação ao funeral, está bem?
- Tudo bem. - ele disse. - Estou saindo. Acredito que em uma hora mais ou menos eu esteja de volta. - aproximou-se do meu rosto e me deu um beijo casto nos lábios.
Ele saiu do quarto e alguns segundos depois ouvi a porta da frente bater. Estava sozinha. Era estranho estar sozinha de novo. Levantei-me apressada e caminhei até o guarda roupa dele, peguei algumas camisas e cuecas, duas calças, meias e o um terno preto e velho que estava escondido no fundo do armário. Coloquei tudo em uma bolsa que estava em cima do guarda-roupa e fechei. Era o suficiente para alguns dias. Peguei o telefone que estava ainda sobre a cama e sai do quarto enquanto discava telefone da empresa. Já era tarde, esse horário o Sr. Marcus já estaria lá.
"Construtora Brasiltags, Joana, boa tarde em que posso ajudar"?
- Boa tarde Joana, aqui quem fala é Natalie Johnson, eu gostaria de falar com o Sr. Marcus, por favor. - disse simplesmente
"Senhorita Natalie, sinto informar, mas não será possível."
- Ele esta em reunião?- questionei - Posso ligar depois se for preciso.
"Senhorita, ele não esta em reunião, mas sinto informar-lhe que ele já não faz parte do nosso quadro."
Como assim não faz parte do quadro? Isso não foi passado para mim.
- Joana, certo? Por favor, me diga com exatidão o porquê ele não faz parte do quadro de funcionários? - disse enquanto entrava no meu quarto e ia ate guarda roupa.
"Não tenho autorização para passar essa informação"
- Joana, acredito que esteja acontecendo um engano aqui, você prestou atenção ao meu nome? Eu sou Natalie Johnson, dona desta construtora, e eu estou pedindo que me diga o que houve. Agora por favor, pode me dizer?
"Mil perdões senhorita, estamos um pouco chocados e desorientados no momento, recebemos ordens para não falar sobre isso, mas acredito que a senhora irá conferir nos jornais de qualquer forma. Pois bem, fomos informados esta manhã que o Sr. Marcus faleceu devido a um acidente de carro nas redondezas."
- Acidente de carro? A família dele esta bem? Mais alguém se machucou? - questionei.
"Sim senhorita, estão todos bem. O Sr. Marcus estava acompanhado apenas por uma moça, que ninguém sabe dizer quem é. Os dois pereceram neste acidente."
Meu Deus. Minha mente estava me pregando peças. Seria impossível que essa moça fosse minha tia, devia ser qualquer outra pessoa, mas independente disso precisava resolver tudo com relação a nossa viagem, voltei minha atenção ao telefone. Sabia que precisava falar com Júlio, que era um dos melhores advogados que a construtora já dispôs. Ele era sempre designado para cuidar dos contratos menores, já que o Sr. Marcus era, não só advogado como sócio da construtora.
- Joana, o Sr. Júlio Souza se encontra? Gostaria de falar com ele. - disse.
"Aguarde um momento, por favor, que vou verificar".
- Tudo bem, eu aguardo. - eu disse enquanto separava algumas peças de roupa e meu vestido preto. Coloquei tudo na pequena mala preta e rígida que tinha, tomando o cuidado deixar um espaço para a roupa de minha tia. Separei também meus documentos, carregador de celular e produtos de higiene. Os documentos do Rick deviam estar com ele.
"Senhorita, o Sr. Júlio ira atendê-la em um minuto. Vou transferir a ligação."
- Obrigada Joana. - agradeci e em seguida escutei a voz rouca de Júlio.
"Boa tarde Senhorita Natalie, em que posso ajudar".
- Boa tarde, Júlio, desculpe incomodar, eu sei que isso não faz parte das suas atribuições, e ia pedir isso ao Sr. Marcus, mas com o ocorrido tive que recorrer a você.- disse sem dar tempo para que ele falasse, enquanto eu mesma corria contra o tempo, indo em direção ao quarto de Tia Ana - Preciso que vá ate o cemitério e providencie um funeral, o corpo será enterrado ao lado dos meus pais. Preciso, também, que encontre uma diarista ou chame a Prudie, o telefone dela deve estar na agenda do Sr. Marcus, peça para que organize a casa dos meus pais, chegarei aí durante a madrugada. -falei já sem fôlego.
"Natalie - disse, deixando de lado as formalidades, já que crescemos praticamente juntos. Júlio é filho dos meus antigos vizinhos, e tem a mesma idade de Rick. - Creio que a família do Sr. Marcus já cuidou do funeral. Mas irei providenciar as outras coisas que me pediu."
-Não Júlio, o funeral não é para o Sr. Marcus. É para minha tia. Ela faleceu esta noite. - expliquei, estava agora diante do armário de minha tia, analisando suas roupas. Por fim me decidi por uma camisa de botões azul clara, uma calça social e um terninho. Essa seria sua ultima roupa. Peguei também seus documentos pessoais em uma pasta preta que estava no maleiro do guarda roupa dela. Notei que ali também estavam alguns recibos e contratos. Deveriam ser coisas do trabalho dela. O tempo estava correndo, então me abaixei para pegar o saco de tecido que estava dentro da minha mala e coloquei minha escolha dentro dele, coloquei-o dentro da mala, em cima das minhas próprias roupas fechando-a logo em seguida e sai do quarto.
"Ah, perdão eu não sabia. Sinto muito Natalie. Você tem tido tantas perdas." - ele disse com a voz um tanto abatida.
- Obrigada Júlio. Sem querer abusar da sua boa vontade, eu preciso tirar algumas dúvidas quanto a minha guarda. Você poderia me ajudar? - perguntei enquanto colocava a mala na sala.
"Claro, é só perguntar. O que exatamente você gostaria de saber?" - ele perguntou.
- Como você deve saber depois que meus pais faleceram eu fui obrigada a morar com o meu único parente vivo, ou seja, Tia Ana. Agora com o falecimento dela o que acontece com a minha guarda?- perguntei curiosa.
"Pelo que eu me lembro a sua tia tem um filho, certo? Nesse caso ele passa a ser o responsável legal por você e por seus bens até que atinja 21 anos." - ele disse calmamente.
- Entendi. Muito obrigada Júlio, pelo esclarecimento das dúvidas e também por me ajudar com os preparativos. Por favor, não se esqueça de falar com a Prudie, ok? Te vejo em breve. - disse despedindo-me dele.
"Pode deixar, faça uma boa viagem, Natalie" - ele disse e eu agradeci, encerrando a ligação.
As malas estavam prontas, olhei o relógio fazia muito tempo que o Rick havia saído, ele deveria chegar em breve, corri para o banheiro e tomei um banho rápido, coloquei uma calça jeans e uma camiseta preta, prendi meus cabelos em um rabo alto e estava saindo do banheiro quando ouvi a porta da frente bater.
- Naty, você já esta pronta?- ele gritou da sala.
Corri até ele e o abracei.
- Sim estou pronta Rick. As malas estão aqui no sofá. A sua também esta aí. Já liguei para a construtora e falei com o Júlio para providenciar tudo. - eu disse enquanto conferia a minha bolsa de mão
- Júlio? Mas não era o tal do Marcus que cuidava das suas coisas? - Ele perguntou.
- Sim, era Rick. Mas ele também faleceu esta noite, em um acidente de carro, - ele me olhou um tanto assustado. - Mas o Júlio é aquele vizinho que te falei semana passada. É de confiança.
- Não duvido disso - ele disse pegando minha mão - Vamos?
- Vamos.
Saímos da casa de minha tia e fomos para o aeroporto. Deixamos o carro numa espécie de hotel para veículos. Já era por volta das seis da tarde quando enfim fomos atendidos pela funcionária da companhia aérea. Depois de muito insistir conseguimos passagem para as onze da noite, chegaríamos a Florianópolis por volta das duas da manhã. Rick e eu rumamos até a locadora de carros, depois de uma longa conversa Rick deixou um carro reservado na filial deles em Florianópolis, ele estaria pronto para usar quando chegássemos. Voltamos para a longa espera,
enquanto aguardávamos expliquei toda a minha conversa com Júlio, e o fato de agora ele ser meu guardião legal. Tentei distrair ele de todas as formas, mas somente quando estávamos no avião a caminho de Florianópolis foi que sua expressão suavizou. Eu sabia pelo que ele estava passando. Sabia o quanto era dolorido perder alguém assim. E ele também sabia. Mas nessa situação era impossível não se deixar abalar. Adormecemos apoiados um no outro, e acordamos apenas com o aviso para por o cinto que iríamos pousar.
Saímos do avião, pegamos nossas bagagens e esperamos até que nosso carro alugado chegasse. Assim que entramos no veículo fui explicando para o Rick por onde ir. Passamos primeiro no IML para fazer o reconhecimento do corpo e entregar os documentos e a roupa separada para Tia Ana. Foi difícil para mim, mas enfrentei isso por ele que chorava silenciosamente. Ao meu lado. Como éramos apenas Rick e eu, decidimos que não haveria velório. Apenas uma celebração de corpo presente e depois seria o enterro. Quase uma hora depois saímos do IML, e como foi antes fiquei mostrando a Rick por qual caminho seguir, ate que estávamos novamente na porta da minha antiga casa e tudo aquilo que passei me atingiu novamente com toda a força. Eu gostaria muito de poder entrar em casa e encontrar meus pais, dizer que essa temporada em São Paulo foi ótima e que agora eu tinha um namorado, que esse namorado era meu primo. Mas eu não teria isso, nem poderia me deixar abalar pela minha dor. Eu tinha que ser forte agora. Tinha que ser um porto seguro para ele assim como ele foi para mim.
Segurei a mão de Rick e o trouxe para perto, olhei em seus olhos e vi ali toda a insegurança que um dia eu tivera. O que seria de nós agora? O abracei e puxei-o para dentro da minha casa. Tudo estava exatamente como era antes. Tudo estava em seu devido lugar, era como se eu nunca tivesse saído daqui.
Estávamos cansados e o dia seguinte seria cheio, como lanchamos no avião, fomos direto para o meu quarto. Colocamos as malas no canto e retiramos nossas roupas, deitando na cama. Rick adormeceu instantaneamente. Ele estava abalado demais para manter-se acordado.
Fiquei pensando sobre a nossa situação. Rick era administrador, como meu pai e o seu pai também eram. A construtora estava sem um bom administrador, e agora também sem o outro sócio. Rick estava desempregado. E eu teria de cuidar da empresa, o que dificultaria muito dado a minha atual situação. Talvez fosse melhor que nos mudássemos para esta casa e ele assumisse a administração da construtora. Eu poderia fazer arquitetura como sempre quis. Talvez fosse uma boa ideia.
Não sei em que momento eu adormeci, mas sinto que mal fechei meus olhos e estava sendo acordada por Rick. Ele já estava vestido com terno preto que estava em sua mala. Olhei no relógio que ficava ao lado da cama e constatei que estava quase na hora, levantei-me e peguei a minha mala, tirando de dentro o vestido preto que usei no funeral dos meus pais.
Rick estava sentado na beira da cama com a cabeça abaixada. Ele estava desolado. Desde que saímos do IML ele parecia ter ficado mais abatido. Eu gostaria de falar com ele sobre o que eu pensei na noite passada, mas ficaria para depois. Tomei um banho rápido e me troquei ainda mais rápido e saímos do quarto. Não fiquei surpresa ao encontrar Prudie na cozinha. Corri para seus braços. E fiquei com ela por alguns minutos. Notei Rick parado na porta da cozinha, com os olhos lacrimejantes. Fiz as devidas apresentações e ela ficou muito feliz em ver que ele era não só meu primo, mas algo mais. Prudie era como uma mãe para mim, ela havia praticamente me criado. Era nossa cozinheira, mas fazia as honras de minha babá quando eu era menor.
Tomamos café, os três juntos, e depois a ajudei rapidamente com a louça, o que a fez olhar-me questionadora. Dei de ombros e sorri levemente. Com ela era sempre assim. Não precisávamos de palavras.
Saímos da casa e fomos para o cemitério onde meus pais estavam enterrados. A cerimônia foi rápida, e após tudo estar acabado estávamos caminhando para a área norte do local, onde seria o enterro do Sr. Marcus, eu precisava prestar minhas condolências a sua família.
Percebi que havia um homem nos seguindo, mas Rick estava calado e distante demais para perceber que tinha algo errado.
- Senhorita Natalie? -ouvi uma voz me chamar. Virei-me na direção do som e constatei que era o homem que nos seguiu. Parei de andar e Rick postou-se atrás de mim, com as mãos pousadas possessivamente em minha cintura.
- Sim? - perguntei receosa.
- Sou o delegado Alberto, falei com a senhorita ao telefone ontem - explicou, e olhando para o Rick falou - Você deve ser Henrique, certo?
Rick concordou com a cabeça.
- Sei que não é uma boa hora, mas preciso falar com vocês dois. - ele nos olha seriamente - de preferência em outro lugar.
- Claro, mas poderia ser depois? Temos outro funeral para ir agora. - eu digo, olhado para ele e apertando a mão de Rick.
Algo me diz que isso não é bom.
- Sim, eu sei o Sr. Marcus não é? - ele perguntou e eu confirmei - É exatamente sobre isso que gostaria de falar, e adianto-lhe que se trata de seus pais também.
Meus pais? O que ele sabia sobre meus pais, até onde me foi informado era outro policial que estava cuidando do caso e o mesmo foi dado por encerrado.
- O Senhor sabe algo sobre a morte dos meus pais? Há uma nova pista? - perguntei já aflita, e por mais que Rick estivesse extremamente calado, ele apertou minha cintura, como se quisesse mostrar que estava ao meu lado.
- Na verdade, eu preferia tratar sobre esse assunto em outro local, e se fosse possível agora. Tem um restaurante do outro lado da rua, podíamos ir para lá. Pode ser? - disse o delegado.
Olhei para Rick, buscando uma posição. Eu deveria ir ao funeral do Sr. Marcus, que tanto me ajudara esses meses, que fora um grande companheiro de meu pai, mas ao mesmo tempo eu sentia que devia ver o que esse homem tinha a falar, perguntei silenciosamente o que Rick achava, ele apenas me disse "vamos lá, é sobre seus pais.".
Voltei a olhar para o delegado, e sorri fracamente, caminhamos por alguns minutos ate estarmos fora do cemitério. Atravessamos a rua e entramos no restaurante de toldo vermelho. Era um local simples, e estava vazio, o que nos possibilitaria uma boa conversa.
Sentamo-nos em uma mesa mais afastada e pedimos apenas três cafés. Ficamos em silêncio até que nosso pedido chegasse o que não demorou e por baixo da mesa Rick estava com sua mão pousada em minha coxa, enquanto eu estava acariciando sua mão. Era uma forma de nos apoiarmos. Precisávamos um do outro agora, não só pelos motivos óbvios, mas por um ser o porto seguro do outro. E seria assim sempre. Eu tinha certeza disso. Não queria ser a primeira a falar, e acho que Rick percebeu isso, tomando a frente da conversa.
- Muito bem, Sr. Alberto, diga-nos, por favor, o que o senhor descobriu sobre a morte dos pais dela, e o que tem haver a morte do Sr. Marcus e da minha mãe. - disse Rick, encarando o delegado seriamente.
- Pois bem, em primeiro lugar vou começar esclarecendo o incidente mais recente. As mortes da Sra. Ana e do Sr. Marcus estão ligadas, pois eles estavam juntos no carro. As semelhanças entre os dois acidentes, o dos seus pais - ele disse olhando para mim, e em seguida olhou para Rick, completando - e o da sua mãe são muitas.
- Como assim semelhanças? O que o senhor esta querendo dizer? - questionei. Senti a mão do Rick virando embaixo da minha, e ele entrelaçou seus dedos nos meus.
- Natalie eu tenho motivos muito fortes para acreditar que essas mortes estão ligadas de uma forma não muito boa. O que quero dizer é que, apesar de aparentemente as investigações do acidente dos seus pais terem sido encerradas, não foi bem o que aconteceu. Nós tínhamos motivos muito fortes para acreditar que o Sr. Marcus estava envolvido, visto que ele afastou você da cidade com um falso testamento. - eu arquejei quando ele despejou essas informações, senti uma lágrima escorrendo. - Ao que tudo indica ele tinha um cúmplice, alguém que concordou com os termos dele, para o qual ele desviava uma grande quantia de dinheiro da empresa. E ontem, com o acidente já temos nossa suspeita.
- Como é que é? - explodiu Rick - O senhor esta mesmo insinuando que a minha mãe estava envolvida nisso? O senhor só pode estar louco.
Tive que apertar firme a mão de Rick, para fazê-lo se acalmar, mas a situação era mais grave do que parecia.
- Veja bem, eu não estou insinuando nada. O fato é que algum tempo atrás descobrimos algumas ligações suspeitas do Sr. Marcus para uma mulher, o número obviamente é de São Paulo, investigamos e descobrimos se tratar da sua tia. - disse o Sr. Alberto olhando para mim - monitoramos as ligações deles, tudo em sigilo, nenhuma informação vazou, o que nos possibilitou um flagrante ontem pela tarde. Como você sabe, o Sr. Marcus era sócio da empresa, o plano inicial era eliminar todos vocês, mas ele não contava que você não estaria no carro naquela noite. Como advogado, ele soube encobrir bem seus passos, não deixou pistas quando mandou cortar os cabos de freio do carro dos seus pais - ele falava e eu chorava copiosamente, Rick tinha se aproximado e me abraçava enquanto eu me apoiava nele, sentia-me sem forças. - mas ele não contava com a gravação do restaurante. Naquela noite o jantar de negócios foi com um representante de uma construtora russa, que buscava comprar a Brasiltags, mas ele era apenas um pretexto. O Sr. Marcus queria comprar a empresa há um longo tempo, e seu pai sempre resistiu. Aquela noite foi a última tentativa dele. Como não funcionou ele decidiu apelar para o crime. Assim que o rapaz saiu do restaurante, foi possível o ver indo até o carro de seus pais, que ainda ficaram terminando o jantar, e cortou os cabos. O que causou o acidente.
Ele pausou por um momento, e bebericou seu café antes de continuar.
- Quando soube que você ainda estava viva, optou por te manter fora, alegou que tinha um testamento, que se provou ser falso, e sua tia era parte do plano. Ela te manteria longe em troca de grandes quantias em dinheiro, o que possibilitaria que Marcus vendesse a empresa e sumisse do mapa. - a esta altura minhas mãos soavam, eu tremia e Rick também estava alterado, as mãos fechadas em punhos, o olhar feroz. - Ana, apegou-se a você e se recusou a cumprir a parte do plano, que incluía a sua morte, por isso ela veio até aqui. Nós estávamos preparados para tudo que pudesse acontecer, precisávamos deixar as coisas irem ate seu limite para que prendêssemos a dupla, então grampeamos os telefones, colocamos escutas na casa, na empresa e no carro dele. E foi assim que soubemos que ele a estava chantageando para cumprir a parte do acordo, dois dias atrás eles se encontraram em um chalé na estrada, a dois quilômetros do local do acidente, o que eles falaram nesse local, não temos como saber, já que não estavam no alcance dos microfones, mas apenas quinze minutos depois eles voltaram ao carro e foram para a estrada.
- Para de bobagens, minha mãe não faria isso, ela amava a Naty - disse Rick tentando se controlar.
- Olha, eu sei que é difícil escutar isso, mas eu tenho provas. Escutem. - falou Alberto, tirando do bolso um pequeno gravador e apertando o play.
"Eu não vou fazer isso, não adianta me chantagear"- era a voz da minha tia.
"Nós temos um acordo! Você queria vingança, e eu queria a empresa. Cumpra a sua parte! Já fiz diversas transferências altíssimas para você! Esta na hora dessa pirralha sumir do mapa!"- gritava de volta a voz do homem que eu tanto confiava.
"Eu. Não. Vou. Matar a minha sobrinha!" - gritou tia Ana.
"É uma escolha sua, ela ou vocês três. Pode ser do jeito fácil, ou do jeito difícil. O seu filho também esta em risco, sabe disso" - ele ameaçou.
"Que seja eu então"- gritou minha tia, depois disso os sons ficaram muito altos, ouvimos, ele pedindo para ela parar, que iria matar os dois, e logo em seguida ouvimos gritos e uma grande explosão.
Eu já não tinha forças para sequer respirar, a bile subia pela minha garganta, e antes que eu sequer pensasse em levantar, senti meu corpo desfalecendo e tudo ficou escuro.
Nota final da autora: para quem quiser entrar no grupo do face...
https://www.facebook.com/groups/900573143334264/?fref=ts
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro