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Castelo de Cinzas - Capítulo 1

Nota da autora (carolmunhoz6): Bom dia meus amores!

como passaram a semana? o que estão achando desses contos feitos especialmente para vocês?

espero que estejam gostando! por que eu estou amando fazer isso para vocês!


Preparados para a mudança da Natalie?

vamos lá!


Boa leitura!

:*


- Bem vinda a sua nova casa. Espero que não repare. Não esperávamos receber ninguém por um tempo. A casa é velha, e não tem os luxos que você está acostumada, mas o que importa é que nunca faltou nada, principalmente amor querida. Quero que se sinta à vontade, essa é sua casa também Natalie. - minha "tia" disse enquanto entravamos, e quando digo tia, acredite estou tão surpresa com isso quanto ela. Cresci afastada de tudo e todos. Vivíamos em uma mansão na Florianópolis, e eu nunca soube que tinha outra família além de meus pais. É Claro que eu sabia que minha mãe não era filha única, que tinha uma irmã poucos anos mais velha, mas como nunca os conheci e para mim família significava estar junto, então minha família se resumia a apenas nós três, e estávamos bem assim. Ou melhor, bem até aquele maldito dia.

Entrei na casa que agora seria o meu "lar", e era melhor me acostumar com isso. Tia Ana era uma mulher simples pelo que vi, ela não era rica, não tinha nada de luxuoso na casa, enquanto andava e ela me apresentava os cômodos da casa tagarelando sem parar, como se isso pudesse me confortar e animar, mas animada não era como me sentia nesse momento, e eu queria apenas uma coisa: Que meus pais tivessem assinado minha emancipação. Do que adianta ser rica, se só posso usufruir após os meus vinte e um anos? Do que adianta ter tanto, e nada ao mesmo tempo? Porque eu tinha uma vida em Florianópolis, eu tina alguns poucos amigos, que talvez me ajudassem a passar por isso, mas eu não podia estar lá. E por quê? Por causa de um maldito testamento! Se eu fosse emancipada não precisaria ter vindo para este fim de mundo que "minha tia" chamava de casa, não precisaria passar por tudo sozinha, porque era assim que eu estava. Sozinha.

Seria realmente bom descobrir que se tem uma família, e conviver com ela, conhecer, e se acostumar com a ideia de vir morar com a tia que eu nunca vi antes.. Mas não nessas condições, não sendo obrigada a morar com essa 'família', porque seus pais morreram e deixaram determinado que você teria que conviver com pessoas estranhas, em um lugar estranho. Soltei um longo e pesaroso suspiro.

Queria apenas fechar meus olhos e fingir que nada disso estava acontecendo, que isso era um grande e terrível pesadelo, que eu iria acordar a qualquer minuto e encontrar minha mãe preocupada em minha porta perguntando se eu estava bem, e como fora o sonho. Mas isso estava fora de questão. Não era um sonho. O corte em minha mão ainda ardia levemente me lembrando de que a dor era real, que a perca era real, que eu não tinha mais os meus pais. Senti uma lagrima insistente correr pela minha face, enxuguei-a rapidamente e voltei para a realidade, onde minha tia me mostrava brevemente a cozinha.

Depois de passarmos pela cozinha e seu quarto, paramos em frente a uma porta de madeira escura entalhada com pequenas elevações dando efeito de flores, quando ela falou.

- Este era o quarto que sua mãe dormia quando morava aqui. Achei que quisesse ficar com ele, o banheiro é ao lado. - ela disse olhando-me tristemente - Só temos um banheiro na casa, então nós dividimos.

Apenas assenti e segui rumo a esse novo quarto, abrindo a porta e tentando em vão me preparar para o turbilhão de emoções que eu sentiria. Minha atenção estava totalmente voltada para a enorme porta em minha frente e meu coração palpitava. Este quarto foi de minha mãe, e eu só conseguia pensar nisso. Levei minha mão a maçaneta e a segurei firme, como se eu precisasse de um apoio, como se não estivesse preparada para isso. E realmente eu não estava. Era um passo muito decisivo, a partir do momento que eu colocasse os pés neste quarto meu destino estaria selado. Respirei fundo e senti a mão de Ana nas minhas costas, como se estivesse me dando forças para entrar, fechei meus olhos fazendo uma pequena prece, para que Deus me tirasse desse pesadelo, mas era em vão. Eu sabia que não era sonho. Girei a maçaneta sentindo mais uma vez o frio do metal contra minha pele e empurrei levemente a pesada porta. Abri os olhos e olhei ao redor, dando o primeiro passo para a minha nova vida, para o meu novo começo.

Entrei no quarto e coloquei a pesada mala que segurava ao lado da porta enquanto dava os primeiros passos inseguros dentro do quarto que outrora minha saudosa mãe habitara, e que ainda guardava algumas lembranças de seus dias neste cômodo.

Tinha pouca mobília no quarto, apenas uma cama, um guarda roupas um criado mudo e uma penteadeira com um espelho estilo provençal que aparentavam ser conjunto. Eram poucos, mas era o suficiente para que reconhecesse o estilo de mamãe impregnado na mobília, toda de madeira escura, mogno como ela gostava e o papel de parede gasto em tons salmão e dourado com desenhos intrincados de flores era o mesmo que tinha em seu quarto em Florianópolis. Ao lado da cama ficava o criado mudo, com um porta retrato em cima e um pequeno jarro com flores recentes, uma foto antiga de família onde um casal segurava a filha mais nova no colo e a mais velha estava de pé segurando uma boneca, estava exposta no pequeno porta retrato dourado e velho.

A filha menor, a que estava no colo do casal, era incrivelmente parecida comigo - percebi com lagrimas nos olhos que aquela menina era minha mãe. Fechei meus olhos e trinquei os dentes, não queria chorar novamente. Mas não houve forma de evitar que as lagrimas rolassem. Ana já havia saído do quarto dizendo que iria preparar algo para comer e me dar privacidade, então, sem me importar com mais nada, me deixei levar pelas lagrimas e pela dor, deitando-me na cama que pertencera a minha mãe e entrando mais uma vez naquele mundo que era só meu. O luto. Fechei meus olhos enquanto as lagrimas caiam e eu me recordava de como era o sorriso de minha mãe, o timbre da voz do meu pai e seu sorriso brilhante, e de como eu não dera valor suficiente a eles, como eu não aproveitara o suficiente ao lado deles e em como eu gostaria de ter tido mais tempo O ditado popular se provou real da pior forma possível, só damos o devido valor ao que temos, quando perdemos. E perdida nos pensamentos e em lagrimas insistentes adormeci.

Acordei zonza, e com muita dor de cabeça devido ao choro, levantei-me e ajeitei meus cabelos, estava saindo do quarto para tomar um copo de agua, quando escuto gritos:

- Rick! Já disse que não quero que largue suas roupas espalhadas pela casa! Não estamos sozinhos filho! - ouço minha tia gritando.

Limpei meus olhos, inchados e grudados devido ao choro e abri a porta. Não sabia que teria mais pessoas nesta casa, até onde sabia, pelo pouco que conversamos no avião, Tia Ana era viúva, mas ela não havia falado nada sobre um filho.

Sai do quarto caminhando até o hall de entrada quando minha visão escurece. Ah Maravilha! Uma camiseta suada e fedida acertou em cheio meu rosto! De onde isso saiu?!Argh! Que nojo!

Fiz a minha melhor cara de ódio, e retirei essa coisa imunda do meu rosto, pronta para devolver na mesma moeda, arremessando-a para a mesma direção de onde veio, mas quando abri os olhos para mirar, estaco. Seja lá quem for esse ser irritante que jogou uma camisa imunda em mim, ele com toda certeza é lindo. Um moreno alto e de ombros largos com rosto anguloso e olhos encantadoramente castanhos. A barba malfeita só o deixava ainda mais bonito. Um pequeno vislumbre do peitoral forte e definido quase me fez arfar. Quase, porque ele tinha que abrir a boca para soltar uma gracinha.

- Vejo que a priminha já chegou. Que bom! Alguém para limpar a casa e pôr em ordem à bagunça. Da pra por minha camisa no cesto?! - É... Mas o que ele tem de lindo tem de ogro! Se ele está pensando que vou bancar a empregada, ele está muito, muito enganado! Argh! Babaca!

- Coloque você. Tem duas mãos perfeitas ai, não sou empregada seu babaca! - estava virando para voltar ao meu quarto, a minha sede já havia passado quando minha tia surge apressada da cozinha e segura minha mão.

- Vejo que já se conheceram. HENRIQUE - ela grita com uma expressão não muito agradável

- Fala mãe. - a olha com cara de enfado, apoiando uma mão no batente da cozinha, o que o fez flexionar os músculos daquele braço imenso.

- Filho essa é sua prima Natalie. - ele me olha com ar de diversão - será que ele percebeu que eu o analisava? Ah sim, já nos conhecemos tia, tive vontade de falar.

- Ah a órfã! Já sei mãe! Bem vinda priminha - ele diz com toda a ironia possível. Senti um arrepio passar pela minha espinha, congelando-me. Abaixo a cabeça, e fico quieta apenas esperando que essa sensação passe.

Vejo pelo canto do olho que Ana olha feio para ele, que abaixa a cabeça e sai, levando consigo aquele objeto fedorento que ele se referiu como camisa. Tia Ana toca minhas mãos, e eu levanto a cabeça para olhar em seus olhos, a estranha sensação que se apoderou de mim há alguns instantes, não passou. O meu coração ainda estava descompassado, e eu ainda sentia o efeito da sua voz com tanta ironia em mim. O olhar dela estava terno, quase que pedindo desculpas pelo comportamento do filho. Sorriu tristemente enquanto falava.

-Não preste atenção ao meu filho, Natalie. Ele é... Problemático. - ah com toda certeza tia! Pude perceber claramente o problema com suas glândulas sudoríferas... E seus músculos... E sua boca irritante!

Apenas concordei movendo levemente minha cabeça. Não queria me meter nesses assuntos familiares, não estava pronta para falar e nem interagir com eles como se tudo estivesse normal. Mas um ronco em meu estomago chamou a atenção de minha tia que me olhou com um sorriso enquanto eu corava e baixava a cabeça envergonhada.

- Venha, deve estar com fome - ela disse enquanto eu a seguia até a cozinha. Ela se dirigiu ao fogão e eu caminhei em direção a mesa. Parei ao lado da cadeira preta, a puxando para sentar, produzindo um barulho incomodo de coisas sendo arrastada. Sentei-me a mesa, estranhando o fato de ela não estar arrumada. Afinal como iriamos comer?

Ana olhou-me um pouco apreensiva, notando que eu já estava acomodada, foi até o armário e retirou uma tolha e pratos e não deixou de me olhar - ora estranhando, ora segurando o riso enquanto colocava a mesa. Quando tudo estava arrumado gritou por Henrique que entrou na cozinha dizendo-se 'cheio de fome'. Os dois sentaram-se, agradeceram e começaram a se servir. Estavam comendo e entre garfadas tia Ana me olhava questionadora...

-Não está com fome, Natalie? -perguntou-me.

- Estou sim tia. - respondi prontamente, ainda esperando ser servida.

- Ora, então porque não come? - estranhou, enquanto Henrique me olhava divertido e pegava um fio de macarrão colocando entre seu nariz e a boca, imitando inutilmente uma espécie de bigode. O molho escorria nos cantos e era até engraçado. Segurei o riso e minha tia percebeu o que acontecia. Olhou brava para o filho e deu-lhe um leve tapa em sua cabeça, o repreendendo pela atitude infantil.

-Já disse para não brincar com a comida! Parece criança. - olhou para mim - desculpe por isso querida, as vezes ele acha que está no circo. .

Com esse comentário eu ri, mas parei abruptamente quando vi o olhar raivoso de Henrique para mim.

- Voltando a falar sobre a comida, porque não come? - tia Ana questionou.

- Estou esperando os empregados me servirem. - respondi calmamente - aliás onde eles estão? Eles deviam ter servido vocês!

Henrique explodiu em gargalhadas, parecia até que estava em um show de Stand Up, minha tia o olhava dividida entre a repreensão e a diversão, mas decidiu-se por repreendê-lo.

- Henrique, tenha modos. - ralhou e olhou-me como se pedisse desculpas.

- Desculpe mãe - risos - mas... É que... A dondoquinha aí.. - mais risos - acha que ainda está em seu Castelo!

- Henrique - falou Tia Ana, o olhando brava - comporte-se! - e olhando para mim com um misto de pena nos olhos disse-me carinhosamente - Querida, nós não temos a mesma situação financeira que seus pais tinham. Não temos empregados aqui. Somos nós que fazemos tudo. Um ajudando o outro. Todas as tarefas, a comida, tudo nós fazemos juntos.

- Isso mesmo mãe - interrompeu Henrique - E já a deixe avisada que a louça depois da janta agora é a parte dela.

Ana o olhou severamente, que se calou com o olhar da mãe, depois olhando para mim falou:

- Querida, sei que não está acostumada, mas terá que aprender as tarefas da casa, assim como nós. A ajudarei no que for necessário, vou te ensinar tudo o que precisar, mas terá que nos ajudar. É assim que funciona a nossa família. Sei que era diferente lá onde você morava, mas as coisas mudam, e eu não tenho o mesmo padrão de vida que vocês tinham. Aqui todos fazem de tudo, e não será diferente com você. Teremos toda a paciência para lhe ensinar. - ela terminou de falar acariciando minha mão levemente.

Como é que é? Sem empregados, eu realizando tarefas domesticas? Ah meu deus, em que fim de mundo eu vim parar?!

Acho que devo ter feito uma careta, porque Henrique explodiu em gargalhadas de novo, dessa vez eu olhei feio para ele, e como ele estava a minha frente cruzei as minhas pernas embaixo da mesa, e 'sem querer' chutei sua canela.

- Ai! - ele falou me olhando. Mas foi ignorado tanto por mim quanto pela sua mãe.

- Tia, eu não sei nada dessas coisas, eu posso acabar estragando alguma coisa, ou pior...- fui interrompida por Henrique.

- Quebrando sua unha priminha?- ironizou Henrique imitando debilmente minha voz. O que fez minha raiva aumentar ainda mais, mas cada vez que ele abria aquela maldita boca a mesma sensação de mais cedo tomava conta de mim.

- Ora seu moleque! Mais uma piadinha e nada de dinheiro o resto do mês. - Tia Ana falou olhando feio para Henrique, depois se virou para mim e disse. - Querida, não ligue para esse tonto aqui. Ele é um palhaço e não usa a educação que eu lhe dei. Acalme-se, tudo bem? Vou te ensinar o que precisa saber, mas depois do jantar. Apenas sirva-se e coma tranquilamente. - e voltaram a comer, dando a assunto por encerrado.

E assim foi, eles voltaram a comer e eu me servi de forma hesitante, e até sujei um pouco a toalha com o molho da macarronada, o que fez Henrique rir novamente. Ele não tem mais o que fazer a não ser rir da cara dos outros?

Henrique e eu trocamos olhares raivosos durante todo o jantar, mas cada vez que nossos olhos se cruzavam, era como se uma corrente elétrica corresse por mim, e eu desistia rapidamente de olhar, esperava alguns segundos e olhava de novo. Já não sabia se a minha raiva era por conta das palhaçadas ou pela sensação incomoda que ele me causava. Mas a troca de olhares apenas se intensificava.

Ao fim do jantar Henrique saiu da cozinha com um "Divirta-se com a louça, priminha " sorrindo de orelha a orelha, como se não tivesse me encarado durante todo esse tempo. Minha tia levantou-se, alheia a guerra de olhares que travamos na mesa, perguntando se eu já havia terminado, e quando eu disse que sim falou:

- Então querida, agora vou te ensinar a tirar a mesa e colocar a louça no lava louças. Ele faz todo o trabalho sujo - falava me apontando uma máquina semelhante a um micro-ondas - primeiro você tira tudo e coloca na pia - e assim fomos fazendo, juntas - depois retira os restos e ai sim coloca no lava louças.

- Eu vou ter que tirar os restos? Não é o tal lava louças que faz isso tia? - disse apreensiva. Que nojo! Eu não vou tirar restos, mas não vou mesmo!

- É simples querida, apenas coloque a louça na pia, e abra a torneira - ela falava enquanto fazia para que eu aprendesse - e o lixo vai cair no triturador. Quando não tiver mais restos, você pega os pratos e os coloca assim - ela abriu o lava louças e colocou os pratos enfileirados - coloca uma pequena quantidade de detergente no reservatório - ela colocou um liquido amarelo em um recipiente dentro do aparelho e fechou - e aperta esse botão verde, a lavagem vai começar. Essa máquina faz tudo sozinha, mas quando terminar tem que guardar a louça no armário. Conseguiu entender querida?

- Sim tia, não parece ser tão difícil. - eu disse hesitante.

- E não é! - ela disse acariciando meus cabelos. Ouvi um apito, e olhei assustada para ela.

- Calma querida, é só o lava louças que terminou a lavagem. Abra ele, vou te mostrar onde guardar tudo. - Abri a máquina e peguei os pratos ainda quentes - coloque os pratos na segunda porta de vidro à sua direita, os copos na primeira e os talheres na gaveta ao lado da pia. - Assenti, e assim fiz. Quase morri de ódio quando minha unha grande e bem feita ficou presa no vão de madeira da gaveta. Quando puxei a mão, vi o tamanho do estrago. QUEBREI. UMA. UNHA.

É meu dia não tinha como piorar. Cidade estranha, família estranha, costumes estranhos e unha quebrada. Ótimo começo Natalie!

Assim que terminei dei boa noite a minha tia e passei reto pela sala, não queria ouvir mais gozações do Henrique. Onde é que eu vim parar! Porque Deus foi tão mau comigo? Porque comigo, justo comigo, isso tinha que acontecer?

Entrei no meu quarto escutando as risadas do meu "primo" vindas da sala. Provavelmente estavam comentando sobre a "desajeitada princesinha", sentei em minha cama pensando na vida enquanto escovava meu cabelo ruivo.

Meu pai dizia que eu sou linda como uma princesa, meus olhos verdes claro, meu cabelo ruivo e longo levemente ondulado, pele branca e nos últimos anos tinha adquirido algumas curvas em meu corpo. Eu era uma linda princesa, dizia meu pai.

E Ok, eu era mesmo uma princesinha, viva no meu mundo de fantasia, num castelo de cristal à espera do meu príncipe encantado no cavalo branco. Mas a 'princesa' aqui nunca teve sorte, nem mesmo antes de vir para esse fim de mundo. As pessoas diziam que eu sou amargurada. Talvez seja mesmo. Ninguém se aproximava de mim com intenções boas. Minhas amigas ficavam comigo apenas para terem mais visibilidade, os rapazes chegavam perto de mim apenas para diversão. Nem mesmo Henzo fora diferente.

Henzo foi meu primeiro namorado, quando tinha quinze anos ele se aproximou, e fez com que eu me apaixonasse por ele, como ele era o capitão do time de futebol e eu além de rica, era popular por ser bonita, os outros garotos o invejavam, isso o inflava seu ego. Eu sempre achei que ele me amava, e quando tínhamos um ano juntos, preparei uma surpresa. Eu disse que ia viajar, mas na verdade iria me entregar a ele. Fiquei o esperando em sua casa, ele morava praticamente só, já que a mãe não parava em casa. Estava ansiosa e quando escutei o barulho da porta batendo corri para recebê-lo, eu estava apenas de camisola, mas estaquei quando o vi chegar com Rebeca, minha melhor amiga. Os dois estavam aos beijos e ela já arrancara sua saia. Aquilo foi demais para mim, sai correndo daquela casa, batendo a porta e escutando gritos de 'não é o que você está pensando', 'me desculpe', 'volte aqui' e chorando, chorando muito. Nem sequer me importei com o fato de que eu vestia apenas uma camisola, quando cheguei em casa, minha mãe não me questionou, me abraçou e deixou que eu chorasse tudo o que eu precisava em seu colo, e depois nós duas tivemos a melhor noite das garotas de toda a minha vida.

E ao lembrar isso, aquele aperto no peito me assolou novamente, me trazendo de volta a realidade. Uma realidade em que minha mãe já não estava comigo. Eu precisava tentar me livrar dessa dor lancinante que toda vez que me lembro dos meus pais me assola.

Precisava tirar esse peso de mim, e lembro como se fosse hoje, quando mamãe perdeu um bebe, há uns quatro anos atrás, e quando ela chorava ela ia para o chuveiro e deixava que a água levasse e lavasse tudo que a assombrava.

Era isso. Eu ia tomar um banho e ia ficar tudo bem. Eu acho.

Levantei da cama e caminhei até o armário. Tia Ana devia ter guardado minhas roupas enquanto eu dormia, pois elas já estavam dentro do guarda roupa que pertencera a minha mãe. Abri todas as portas dele memorizando onde tudo estava. Eram apenas seis divisões, não seria difícil. Fiz uma nota mental de agradecer a ela depois, eu realmente não saberia guardar nada disso. Na minha casa eram as empregadas que faziam tudo. Até mesmo tiravam a roupa suja do banheiro.

No canto esquerdo do guarda roupa tinha uma caixinha pequena de cerâmica, onde minha mãe guardava seus pertences. Eu nunca tinha aberto aquela caixa, mas a curiosidade foi maior que a necessidade de um banho, a peguei e voltei a me sentar na cama, cuidadosamente a abri e ali encontrei um envelope com meu nome, na caligrafia sempre bem feita de minha mãe, mas não tive coragem de abrir naquele momento. Coloquei-o ao lado e levei minhas mãos aos olhos, enxugando minhas lagrimas insistentes. Voltei minha atenção à caixinha e retirei de lá algumas fotos com inscrições atrás, uma delas era minha mãe gravida com meu pai de joelhos beijando o ventre já grande. Virei e lia a descrição "a caminho da maternidade! Natalie nós te amamos filha!". Não contive mais as lagrimas e me deixei desabar, sem ao menos olhar o restante do conteúdo da pequena caixa de lembranças. A minha vontade era gritar. Gritar até que minha mãe me ouvisse e viesse me buscar. Não tinha sentido em ficar sem eles. Eu nunca imaginei que fosse os perder, nem mesmo me imaginava longe deles por alguns dias, e agora tinha que me acostumar com isso.

Eu nunca mais iria vê-los novamente. Nunca mais sentiria o afago de mamãe e nem teria mais o colo de meu pai. Não entraria no escritório dele sorrateiramente para lhe desejar boa noite, e nem sentiria mais o beijo de boa noite quando estivesse deitada. Minha mãe jamais voltaria ao meu quarto para me cobrir durante a noite e nem fecharia a persiana aos domingos por conta da claridade. Ela nunca mais ia me abraçar quando eu chorasse, ela nunca mais iria ralhar comigo por alguma arte. Ela não iria mais me aconselhar em relação a garotos. Eu não entraria com meu pai na igreja no dia do meu casamento, minha mãe não ia escolher meu vestido de noiva comigo. Ela não iria conhecer seus netos. Eu havia perdido tudo naquele maldito acidente. Eu perdi minha vida naquele acidente. A vida que eu sempre sonhei e que eu nuca mais teria.

Decidi que estava na hora de tomar aquele banho e deixar que a água levasse tudo de ruim. Tirasse essa dor de mim. Guardei tudo de volta na caixa de lembranças e caminhei com dificuldade até o guarda roupa. O choro me consumia. Peguei meu pijama de mangas compridas e meu nécessaire, e fui vagarosamente ao banheiro. Entrei no cômodo asséptico e frio e enquanto me despia, desisti de lutar contra as lagrimas. Então eu deixei que toda aquela pressão que senti nos últimos dias me atingisse, era lancinante, pior do que fora há alguns minutos. Era como se o chão já não existisse. Coloquei música no celular. Ninguém precisava ouvir meus lamentos, e eu não queria ser interrompida. Não depois da decisão que tomei. Então quando o banheiro já estava tomado pelo vapor fiz aquilo que meu corpo pedia. Eu buscava sentir outra dor, a dor física para tentar esquecer a dor no meio do meu peito. Deslizei a pequena lamina que carregava em meu nécessaire sobre minha pele e a escondi em um vão do espelho. Ninguém a acharia ali. Enquanto o sangue escorria junto com as lagrimas entrei debaixo do chuveiro e deixei que a água levasse tudo. Chorei descontroladamente por alguns minutos até que não tinha mais lagrimas e o torpor me atingiu, a consciência que isso, essa dor nunca ia passar. Ao sair do chuveiro fiz um breve curativo em meu corte, vesti minhas roupas e fui para cama.

Precisava dormir. Tentar esquecer. Apagar tudo. E se possível não acordar mais.


Nota da autora:

da pra dar umas risadinhas com esses dois né?!

me digam o que estão achando!

e não se esqueçam, quinta tem Castelo de Vidro, sexta tem Castelo de Água, sábado tem Castelos de pedra e domingo mais um pouquinho de Castelos de Cinza para voces!!!

Bom domingo a todas e boa semana!

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