EXTRA II: Em algum momento antes de tudo
1.
Taehyung sinceramente não achava que estava errado em demonstrar carinho.
Durante o tempo em que passara com a avó na fazenda, crescera entendendo que abraçar, tocar e beijar pessoas que gostava e sentia empatia era uma forma de se expressar muito mais objetiva e sincera do que usar palavras.
Deve ter sido por isso que, logo de cara, quando descobriu que Park Jimin, um dos trainees da empresa, entrou em sua escola, só que numa turma diferente, Taehyung achou que era certo usar de sua popularidade entre os alunos para alertá-los de que deviam tratar Jimin bem.
"Ei, pessoal", Taehyung disse na porta da sala de Park Jimin, antes da professora chegar, atraindo olhares em sua direção, inclusive o de Jimin, "Park Jimin, o aluno novo, é meu amigo, então sejam legais com ele, certo?"
Taehyung coroou seu pequeno discurso com um sorriso aberto e quadrado que teve outro de Park Jimin em retribuição. Jimin sentia-se solitário e desencaixado na nova escola, e surpreendeu-se com o gesto de Kim Taehyung. Naquele mesmo dia, todos os alunos trataram Jimin bem, pois ele era amigo do garoto popular que todos gostavam.
Mais tarde, na empresa, Jimin o agradeceu e Taehyung o abraçou sem reservas.
E, depois disso, eles passaram a ser amigos.
Jimin foi um dos primeiros que entendeu que o jeito livre, meigo e franco de Taehyung era uma de suas melhores qualidades. Quando o grupo enfim se formou, os outros membros tiveram um pouco de dificuldade em entender o jeito único e diferente de Taehyung, exceto Jimin...
E Jeongguk.
Enquanto Jimin via claramente o coração bondoso e inocente de Taehyung e a amizade entre eles se estreitava, Jeongguk, o maknae do grupo, criava uma espécie de adoração pelo garoto. Ele também percebeu de cara que Taehyung era diferente das outras pessoas, mas era novo demais para entender que seu fascínio estava no limite de se tornar outra coisa.
As risadas soltas e doces de Taehyung. A voz profunda que dizia palavras organizando-as de um modo diferente do comum, dando sentidos metafóricos a elas. A inteligência surpreendente. A simplicidade e franqueza que muitas vezes deixava Jeongguk envergonhado, como nas vezes em que o abraçava e o beijava na bochecha e na orelha.
Jeongguk jamais conhecera alguém assim. Taehyung o abalava, o maravilhava e o causava sensações dentro do peito que Jeongguk nem sabia que existiam e, o mais engraçado – Taehyung nem ao menos se dava conta disso.
Ele obviamente sentia a atração – a química se formando entre eles – mas não pensava que havia algo de errado ali, ou que fosse uma coisa para se preocupar ou pensar muito a respeito, e Jeongguk, puramente por imaturidade, também não colocava barreiras.
Eles estavam sempre juntos, todos eles. Não devia ser grande coisa o fato de que tivesse mais contato físico com Jeongguk, certo? Ele era fofo. Tímido, mas Taehyung gostava de como ele se soltava quando estavam juntos, os sete, ou então só eles dois. Jeongguk ria das gracinhas de Taehyung, por mais bobas que fossem; Jeongguk deixava que Taehyung o abraçasse, dormisse colado em si e tocasse os lábios em seu rosto, pescoço e orelha. Amigos faziam isso e eles eram garotos afetuosos, todos eles, a seu modo, e essa era a forma de Taehyung demostrar carinho, apenas isso.
Jimin também gostava de contato físico, mas era diferente. Taehyung gostava de deitar no braço do amigo enquanto liam mangás, e Jimin as vezes fazia carinho em seus cabelos até que Taehyung dormisse em seu colo. Era tão bom, Taehyung sentia falta disso, sua avó era uma pessoa extremamente carinhosa. Gostava de sair para comer com Jimin, tinham os mesmos gostos e interesses, mas só que com Jeongguk era... diferente. Taehyung não sabia definir, mas Jimin percebeu bem depressa, e os outros garotos também.
Eles faziam piadinhas internas com Jeongguk, notando o quanto ele ficava constrangido e vermelho quando brincavam com o fato de que ele estava apaixonado por Taehyung, apesar de acabar rindo junto. E foi Yoongi quem os alertou primeiro de que a coisa podia ser séria, que era melhor pararem.
"Você acha que ele é...?", Hoseok perguntou numa noite em que estavam sozinhos numa sala de treino da empresa, após um dia de ensaios, com Namjoon e Jin. Jimin, Taehyung e Jeongguk tinham saído juntos para comer.
"Eu não sei", Yoongi deu de ombros e Namjoon o olhou com atenção. "Mas, se eles forem, se eles gostarem um do outro, não devemos fazer piadinhas. É maldoso."
"Eu não achava que pudesse ser sério", Jin admitiu. "Os outros trainees também faziam piadinhas com o Jeongguk, lembram? Quando ele e o Tae dormiam juntos nos sofás."
"Jeongguk sempre reagiu mal a essas piadinhas", Namjoon lembrou. "Ele só parece que leva na brincadeira porque agora somos nós, mas Yoongi tem razão. Se ele realmente estiver gostando do Taehyung, fazer gracinha como se fosse motivo de risada vai confundi-lo."
"Vocês acham que o Tae corresponde?", Hoseok sondou.
"Aham", Yoongi respondeu.
Namjoon piscou, pensando no assunto.
"Com certeza. Só que o Tae é muito inocente para perceber o significado disso, sabe, para as outras pessoas. Nós devíamos ser os primeiros a protegê-los."
Eles concordaram.
"Sem piadinhas a partir de agora", Jin prometeu.
"Mas se eles começarem a se alisar no meio das gravações, eu vou rir e ninguém vai me impedir", Yoongi declarou.
"Eu também vou", Hoseok gargalhou. "Isso pode, não é?"
Namjoon balançou a cabeça, mas também estava rindo.
"Sério, eles dão muito na cara!", Hoseok indignou-se, e a conversa dispersou.
Entraram num acordo de que não iam mais fazer piadinhas, mas rir de Taehyung e Jeongguk sendo descaradamente explícitos na frente das câmeras era um terreno livre, afinal, eram garotos e jovens e, dentro de um certo limite, que mal havia em rirem uns dos outros?
E foi meio que naturalmente que eles todos entenderam o que havia ali, e que eles apoiavam ou, pelo menos, não recriminavam.
Jeongguk e Taehyung perceberam a mudança de postura dos hyungs, mas não falaram nada a respeito. Eles fingiam que eram só amigos que se provocavam e riam e fingiam que os hyungs acreditavam nisso também, por mais que, no fundo, estivessem ambos aliviados.
2.
Num dia de gravação de um MV, eles estavam particularmente agitados. Uma das staffs acabara de liberar Taehyung da maquiagem e ele foi para perto dos hyungs e do maknae, que conversavam e riam enquanto esperavam as filmagens começarem.
Eles estavam com a mania de se carregarem no colo, um tipo de brincadeira interna, então Taehyung abraçou Jeongguk pela cintura e o carregou para longe do foco das câmeras, ambos se divertindo. Quando o colocou no chão, Jeongguk virou a cabeça para o outro lado sem querer, as mãos apertando os ombros de Taehyung, e a boca dele raspou na bochecha do maknae, deixando um rastro de umidade no canto dos lábios.
Jeongguk ficou vermelho, mas eles fingiram que não tinha sido nada de demais. Sentia o rosto molhado na região em que a saliva de Taehyung tocara sua pele, e um calor subiu por seu ventre e pela nuca, a respiração acelerando com a possibilidade do que aquilo significava.
Por uma fração de segundo, a boca de Taehyung tocara na sua.
Discretamente, escondido, Jeongguk deslizou a ponta da língua para fora e lambeu a umidade. Esperou sentir alguma coisa, um sabor diferente, qualquer coisa, mas só sentia o coração disparando e seu rosto ficando quente.
Isso não voltou a se repetir por meses e meses, até que, numa live no hotel em que estavam, enquanto gravavam um desafio com as fãs, aconteceu outra vez. Jeongguk estava abraçando Taehyung contra a porta, sem malícia, pensando que estavam fora do foco da câmera na mão de Jimin, e então alguém chamou Jeongguk no outro quarto contíguo e ele virou o rosto, esbarrando a boca na de Taehyung. Nenhum dos dois recuou – já estavam acostumados com aqueles acidentes, lábios roçando o rosto um do outro, o pescoço, as orelhas, porque estavam sempre perto demais, praticamente colados.
Mas, dessa vez, Jeongguk sentiu que não era o único a ter reações a esses contatos. Por mais que se provocassem, as vezes era simplesmente muito intenso. O corpo quente de Taehyung ficou tenso contra o de Jeongguk e eles se soltaram. Não comentaram sobre o incidente nem agiram como se fosse grande coisa, embora os corações estivessem disparados.
3.
Era verão.
Eles estavam de folga e tinham ido visitar as famílias. Jimin e Jeongguk viajaram juntos, e voltaram juntos de Busan, encontrando Taehyung já ali, na sala do dormitório jogando videogame com uma expressão absorta.
"Que bagunça", Jimin reclamou, passando por cima dos mangás, embalagens de salgadinho, doces e latinhas de refrigerante espalhados pelo chão. "TaeTae, Jin hyung está chegando e vai dar um sermão em você se não arrumar essa confusão."
"Jiminie", Tae chamou com a voz dengosa, olhos grudados na tela. "Me ajude a arrumar."
"Nem vem com Jiminie, você fez, você arruma. Vou tomar banho", Jimin passou com a mochila para o quarto e Jeongguk ficou em pé na sala minúscula, olhando com pena para a situação. Estava cansado da viagem e também queria tomar banho e descansar antes de terem que ir para a empresa e começar tudo de novo, mas não é como se pudesse usar o banheiro agora, de qualquer modo. Jimin estava lá.
"Hyung, vamos, eu ajudo você."
"Sério?", Taehyung piscou, feliz. Deu pause no jogo, largou o controle e levantou, espreguiçando-se. Usava uma regata branca e shorts de ficar em casa, os braços e as pernas expostos. O sol da tarde entrava pela janela, ressaltando o tom caramelo de sua pele e o castanho dos cabelos.
Taehyung não era definido e grande como Jin hyung ou Namjoon hyung. Ele era magro, apesar de alto, ombros estreitos, braços compridos e orelhas grandes demais para um rosto tão suave. Mesmo assim, algo nele afetava Jeongguk fisicamente. Os tendões nos braços, a maciez das coxas e o cheiro do shampoo dele, que sempre ficava um pouco na nuca e no pescoço depois que ele tomava banho.
"Tudo bem, traga um saco", Taehyung bocejou, apontando para a cozinha.
Jeongguk largou a mochila perto do balcão da cozinha e revirou a lavanderia até encontrar os sacos. Voltou com eles para a sala e, passando um para Taehyung, começaram a recolher a bagunça, ajoelhados no chão. Ouviram o chiado da água no banheiro quando Jimin abriu o chuveiro.
"De quem é isso?", Jeongguk perguntou, erguendo entre os dedos uma embalagem de preservativo. Levantou o olhar hesitante para Taehyung. "É seu, hyung?"
Taehyung riu.
"Não. Deixe aí em cima da mesa, tanto faz, o dono vai guardar."
Jeongguk largou a embalagem na mesa, o rosto em chamas e a boca aberta em espanto. Não é que nunca tivesse visto um preservativo, mas um assim, solto no meio da casa, e logo no fim de semana em que passaram separados, e Taehyung já estava ali quando voltaram... porque isso o incomodava?
"Você sabe colocar?", perguntou de repente e no mesmo instante se arrependeu. Esperou a resposta sem olhar na direção de Taehyung, que ergueu a cabeça do outro lado da mesinha de centro e riu.
"Óbvio que sei. Não aprendeu no colégio?"
"Eu faltei essa aula", Jeongguk admitiu.
"Estava doente?"
"Não. Eu sabia que ia ter isso, tinham avisado, sabe, que iam ensinar... eu fiquei com vergonha."
Taehyung riu abertamente da cara de Jeongguk.
"Porque, Gukie? Não é como se fossem pedir para você colocar seu pau para fora para demonstrar. Geralmente usam uma banana ou mostram um vídeo, nem dá pra ficar excitado, é tão didático e sem graça."
Jeongguk riu timidamente.
"Eu sei lá, só fiquei com vergonha, depois iam começar as conversas sobre sexo e beijo e, você sabe, tudo isso. Eu ia acabar virando o alvo em algum momento."
"Ah, Jeongguk-ah", Taehyung engatinhou até ele, "Não seja fofo."
E, sem aviso, como sempre acontecia, Jeongguk recebeu o beijo de Taehyung em sua bochecha sem sequer respirar, sorrindo suavemente e olhando para baixo.
"Por que você tem que ser tão fofo?", Taehyung o beijou de novo, rindo. O hálito morno roçou perto da orelha de Jeongguk, com cheiro de bala de morango. Fez cócegas e Jeongguk riu, enterrando o nariz no pescoço de Taehyung, arrepiando-se inteiro. "E sensível", Taehyung provocou. Abriu a boca e soprou de leve na lateral do pescoço do maknae.
Jeongguk esquivou-se, caindo de lado no chão, com o hyung por cima. Eles começaram a rir.
"Tão sensível!", Taehyung apontou para o braço do maknae. Os pelos estavam em pé, os poros abertos. Jeongguk tentou rolar para o lado e sair debaixo de Taehyung, mas o garoto era pesado e o maknae estava mole de tanto rir. Como vingança, fez cócegas nas costelas de Taehyung e eles viraram no chão, invertendo as posições.
"Não! Desculpa, desculpa!", Tae implorou, esticando o pescoço e se contraindo numa risada muda. Se Jeongguk era sensível a certos estímulos, o ponto fraco de Taehyung eram cócegas. Ele desmoronava e o maknae adorava vê-lo suplicando perdão entre lágrimas de riso.
Jeongguk aproximou a boca de sua orelha e soprou, do mesmo jeito que tinha sido torturado pelo mais velho, fazendo Taehyung se encolher e esticar os braços para contê-lo. Os dedos se entrelaçaram e numa pequena batalha de forças, os braços nus se roçaram, pele quente e macia contra pele quente e macia. Estavam acostumados com esse tipo de contato, mas naquela situação, com os sentidos abertos pelas provocações, os reflexos foram um pouco além do comum.
O mais novo afastou a pélvis da de Taehyung ao sentir o início de uma palpitação familiar.
Num movimento rápido, as mãos grandes de Taehyung foram para baixo da camisa de Jeongguk, procurando os mamilos do garoto e os beliscando como Jin hyung fazia quando o maknae ficava de manha para acordar. Todos eles sabiam que Jeongguk era mais do que vulnerável ali e afastava depressa qualquer tentativa de toque na região, mas daquela vez não afastou Taehyung, apenas riu, apoiando as mãos no chão e olhando para o rosto risonho do amigo embaixo de si.
Taehyung estava rindo mordendo o lábio inferior, os olhos apertados e a franja comprida e castanha roçando as pálpebras. A regata cavada deixava à mostra as clavículas magras, os ombros e o pescoço bonito. A pele cor de caramelo era tão, tão aveludada e morna, Jeongguk queria tocá-la com os lábios, não de forma desastrada e desatenta como faziam quando se abraçavam ou brincavam, como agora, mas de verdade.
Com calma.
Sentindo.
Jeongguk estremeceu, o fôlego das risadas lentamente dando lugar a arquejos disfarçados. Taehyung parou de beliscar os mamilos quando percebeu que o maknae não estava mais gargalhando, mas não afastou os dedos. Em vez disso, converteu a provocação numa carícia casual. Os nós dos dedos se curvaram entre a carne rígida e rugosa e o olhar de ambos ficou fixo, cálido e especulativo.
As pernas de Taehyung estavam dobradas, de modo que as nádegas de Jeongguk se apoiavam em suas coxas, e ele ficou totalmente consciente daquele contato, podia sentir o calor febril da pele de Taehyung mesmo através da bermuda que usava. Sua garganta apertou num nó. O calor em seu baixo ventre cresceu e ele sentiu o peso da ereção se formando rapidamente e comprimindo a braguilha; levantou-se depressa, com uma risada nervosa, tropeçando nos joelhos erguidos de Taehyung e quase caindo por cima do hyung outra vez.
"Jimin finalmente terminou o banho!", disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça e só então se deu conta de que a sorte estava a seu favor; o ruído do chuveiro tinha mesmo cessado.
"Gukie, você disse que ia me ajudar!", Taehyung protestou, sentando e ajeitando a franja bagunçada.
Jimin abriu a porta do banheiro, cabelos úmidos e uma toalha enrolada na cintura, segurando a muda de roupa suja contra a barriga. Jeongguk passou por ele praticamente o derrubando e fechou a porta do banheiro com um baque. Jimin olhou assustado para Taehyung, sem entender.
"Aish, que garoto sem modos", reclamou. "Se ele queria tanto assim tomar banho, podia ter me pedido para ir primeiro."
Taehyung levantou e apanhou os sacos de lixo, terminando de recolher tudo. Nada do que acontecera ali havia passado despercebido para ele, as reações de Jeongguk, cada dia mais óbvias, e ele se sentia preso a elas, adorando-as, como se Jeongguk fosse um jardim secreto esperando para ser só seu.
Só não sabia o que fazer com isso. O carinho que nutria pelo maknae só crescia. A cada dia que passava era mais difícil não ficar perto dele, tocá-lo, beijá-lo, abraçá-lo, Jeongguk era adorável em todos os sentidos. Pareciam conectados por um ímã. Era natural, tão bom.
Mas, a opção mais confortável ainda era a de fingir que tudo não passava de brincadeiras e provocações.
4.
Taehyung e Jeongguk entraram correndo no elevador da empresa, ouvindo os gritos de Jimin e Jin atrás deles.
"Depressa, depressa!" Tae demandou enquanto Jeongguk socava o botão da garagem.
Viram as portas de fechando no instante em que Jimin e Jin surgiram esbaforidos no corredor do hall.
"Jimin, pelas escadas!", Jin ordenou.
Jeongguk e Tae riram, escorados nas paredes do elevador enquanto este descia. Numa brincadeira surgida do nada enquanto se arrumavam para encerrar o dia na empresa, Tae tinha pego as chaves do carro de Jin e as escondido e, quando o hyung mais velho descobriu, avisou que se Taehyung não as devolvesse... bem, Jin não era bom em ameaçá-los. Sempre cedia às brincadeiras dos garotos, mas o fato é que sem as chaves do carro Jin teria que voltar para o alojamento a pé.
E então, do nada, Jeongguk estava no time de Taehyung apenas para gargalharem juntos e Jimin, com pena de Jin e por um senso inato de justiça, ficou no time do hyung mais velho, e agora eles estavam disputando um jogo de esconde-esconde no prédio da empresa em plena nove horas da noite.
O elevador chegou na garagem, as portas se abriram e eles correram para fora. Taehyung puxou Jeongguk para um vão entre duas colunas perto da saída de incêndio, os corpos magros lutando por espaço no ângulo apertado. Jeongguk espiou pela lateral da coluna e viu o momento exato em que Jin e Jimin saíram pela porta da escada, procurando por eles.
"Não vou mais fazer o café da manhã de vocês, estou dizendo!", Jin gritou. "Devolvam as minhas chaves! Taehyung, Jeongguk!"
Jeongguk explodiu numa risada e Taehyung o puxou para dentro do vão, a mão pressionando a boca do maknae e os olhos arregalados num pedido mudo de silêncio, mas os dois estavam morrendo de rir. Jin hyung ficava particularmente hilário tentando ser durão, porque nem ao menos conseguia dar uma bronca sem soar fofo. Ele era como um tio engraçado tentando se passar por um pai exigente.
"Taetae!", Jimin os chamou, passando pelas fileiras de carros. "Gukie! Apareçam, vamos!"
A respiração apressada de Jeongguk fez cócegas nos dedos de Taehyung. Os lábios do maknae estavam pressionados contra seu indicador, e eles estavam tão espremidos juntos que as barrigas se apertavam, o volume macio nas calças se pressionava. Taehyung se remexeu os quadris no lugar tentando encontrar mais espaço no vão minúsculo e sua coxa resvalou entre a de Jeongguk. Eles ainda riam, não tão alheios quanto gostariam à proximidade física íntima demais.
Taehyung apoiou a testa na de Jeongguk para recuperar o fôlego. Fechou os olhos, o corpo todo amolecendo com uma descarga de satisfação e deleite ao respirar o cheiro de sabonete de leite de Jeongguk misturado ao suor salgado do garoto. Sentiu o coração do maknae disparando, não sabia dizer se pelo esforço da correria ou pela adrenalina de estarem tão juntos, então levou a mão que não o calava até sua nuca e o afagou. Riram de novo quando escutaram mais ameaças bobas de Jin e a voz e Jimin se elevando.
"Eles acham que estamos escondidos entre os carros", Jeongguk sussurrou.
Taehyung sorriu e, na posição em que estava, o rosto colado no de Jeongguk, os dentes esbarraram nos próprios dedos e ele pensou de repente que tudo que separava suas bocas era sua própria mão. As respirações deles se embolavam, rápidas e intensas, ele quase sentia o gosto de Jeongguk em sua língua. Estava nervoso, a barriga tremendo com calafrios que nada tinham a ver com a brincadeira, mas Jeongguk interpretou errado. Achou que estavam rindo e tremendo por causa da perseguição. Enterrou o rosto no pescoço de Taehyung, e Taehyung fez o mesmo. A princípio, foi só um gesto simples para abafar as risadas, mas então os lábios de Taehyung estavam, roçando a pele morna de Jeongguk, e Jeongguk estava enterrando mais ainda a cabeça no ombro de Taehyung, dando espaço e permissão.
"Taehyung! Aigoo!", Jin gritou novamente, a voz mais próxima.
Taehyung levantou a cabeça para olhar além da coluna e a boca esbarrou no queixo de Jeongguk. Eles riram, as cabeças tentando se desviar, o que acabou resultando nos lábios se tocando e eles rindo. Num reflexo, Taehyung inclinou a testa para frente e, por estarem rindo, os dentes se chocaram e eles riram ainda mais, os lábios um no outro fazendo cócegas. Jeongguk murmurou algo como hyung, numa voz baixa e entrecortada, as mãos suadas agarrando a barra da camiseta de Taehyung.
Umedeceram os lábios, as respirações ofegantes, os peitos comprimidos um no outro inflando sem parar. Olhar para o lado para espiar Jin e Jimin se tornara uma desculpa para incorrer no mesmo incidente de lábios e dentes esbarrando e risadas desajeitadas.
"Taehyungie!", Jimin bradou, claramente irritado. "Apareça com essas chaves de uma vez, inferno, queremos ir beber! Se você não aparecer em cinco segundos, vai pagar uma punição!"
Os ouvidos de Taehyung e Jeongguk zuniram. Taehyung apertou mais o corpo de Jeongguk contra si, os ossos dos quadris se encaixando, e ele deixou a cabeça pender no pescoço de Jeongguk outra vez com um suspiro de derrota. Quando ergueu a cabeça, mordiscou a orelha do maknae com carinho.
"Cinco", Jimin começou a contar. "Quatro..."
"O que você acha que vão fazer?", Jeongguk perguntou, a voz manhosa e arrastada, os olhos fechados sentindo a boca macia e Taehyung passar pela curva de sua orelha.
"Posso imaginar", Taehyung riu contido, a voz profunda e rouca arrancando um gemido sufocado de Jeongguk.
"Três, dois, um!", Jimin apressou a contagem. "Ok, TaeTae, você vai beber hoje, essa é a sua punição."
"Não gosto de álcool!", Taehyung gritou de repente, afastando-se de Jeongguk e escapulindo para fora do vão.
Eles se revelaram ao correr na direção dos hyungs, os rostos vermelhos e as respirações esbaforidas, olhos brilhantes. Jimin apalpou os bolsos de Taehyung e encontrou as chaves, atirando-as para Jin, que espertava ao lado do carro de braços cruzados, olhos arregalados pelo estado em que Taehyung e Jeongguk estavam.
"Onde vocês se meteram? Numa lata de lixo?"
Jeongguk esticou as roupas, encabulado. Taehyung, como sempre, se saiu melhor disfarçando ao entrar no carro com Jimin, e logo eles estavam discutindo o lugar para onde iriam. A punição de Taehyung seria beber soju até ficar bêbado pela primeira vez e como cúmplice Jeongguk teria que registrar tudo com fotos e filmagens e postar no Twitter.
5.
Era uma punição de fato, uma vez que Taehyung detestava o gosto amargo do álcool.
Namjoon, Hoseok e Yoongi se juntaram a eles e todos riram de como Taehyung ficava fofo e carente bêbado, abraçando todos eles e falando bobagens com um sorrisinho meigo. Jeongguk tirou fotos dele e até mesmo arriscou uma selca com o amigo quando voltavam para o alojamento, no carro, e ajudou Taehyung a subir as escadas tropeçando antes de enfim chegarem no quarto, onde Taehyung escalou o beliche até chegar em sua cama, na parte de cima, e desabar de bruços nos travesseiros.
"Hyung, você está bem?", Jeongguk riu ao subir na cama também. Era tarde e os garotos estavam espalhados pelo apartamento pequeno, Namjoon no banheiro, tomando banho, enquanto os outros assistiam televisão ou se preparavam para dormir.
"Eu estou bem", Tae murmurou, a cara enterrada no travesseiro. Balbuciou algo ininteligível que obrigou Jeongguk a subir por cima do amigo para ouvi-lo mais de perto.
"O que? Você quer vomitar?"
"Quero beijar."
Jeongguk riu, incrédulo. Taehyung se ajeitou na cama, virando de barriga para cima, e Jeongguk sentou sobre sua barriga para continuar gravando e tirando fotos. Taehyung não se incomodava, parecia gostar de estar sendo o alvo da atenção do maknae. Olhou para os lados e encontrou o boneco hip-hop monster de Jimin enterrado numa pilha de roupas embolada no canto da parede. Agarrou o boneco e o abraçou.
"Quero transar", fez um bico manhoso.
"Hyung, do que você está falando?", Jeongguk estava vermelho e rindo de nervoso.
"Quero carinho, Jeongguk", Tae reclamou, e começou a tirar a roupa do boneco de Jimin. Jeongguk observou a situação com um sorriso fascinado. Taehyung ficava ainda mais doce e meigo bêbado, ainda mais entregue e afável, ainda que falando um monte de baboseiras sem sentido.
Sabia que o garoto não estava falando literalmente que queria fazer sexo, ele só queria contato físico. De todos eles, Taehyung era o que mais precisava de afeto emocional, então Jeongguk não se importou em colocar a mão que não segurava o celular para sobre a barriga e Taehyung e afagá-lo.
"Jeonggukie, você nunca beijou, não é?", Tae murmurou, os olhos pesados pelo torpor do álcool.
"Quem disse?", Jeongguk ficou na defensiva.
"Eu sei que não. Olha, não é tão difícil, é só você apertar os lábios nos da pessoa, assim", beijou o boneco, imitando um beijo profundo e romântico, e Jeongguk ficou perdido entre a vontade de rir muito e corar. Tirou mais fotos, sem pensar em qualquer consequência.
Antes que pudesse responder, porém, Jimin escalou a escada do beliche, viu a cena e estalou um tapa na coxa de Taehyung.
"Pare de fazer indecências com o meu boneco e venha tomar banho. Monie hyung já saiu do banheiro, aish, TaeTae, como é possível que exista alguém como você?"
Taehyung murmurou uma lamúria e tentou virar de lado para dormir, mas Jimin o puxou pela bermuda.
"Não vai dormir com esse cheiro de soju, vai empestear o quarto inteiro. Levante e venha tomar banho", Jimin desceu a escada e saiu do quarto, deixando para Jeongguk o trabalho de arrastar Taehyung para baixo.
"Vamos, Hyung, eu te..."
Taehyung sentou de repente, o rosto tão próximo de Jeongguk que o garoto respirou o álcool exalando pela boca entreaberta do hyung. Não era ruim, só era... estranho. Diferente do cheiro de pasta de dente de morango que costumava sentir em seu hálito.
"Estou com cheiro de soju?", Taehyung perguntou ingenuamente. Jeongguk abaixou o celular, olhando-o de perto. Os olhos de Taehyung estavam quase se fechando, manhosos e febris, o rosto corado e os reflexos lentos.
"Está."
Tae tentou ficar sentado na cama, apoiado nos braços com Jeongguk sentado em seu colo, mas acabou desabando de volta nos travesseiros. Com esforço, Jeongguk conseguiu convencê-lo a descer da cama e entrar no banheiro, e Taehyung tomou um banho de quase quarenta minutos, muito provavelmente porque dormiu no processo.
Quando saiu, com a aparência mais lúcida e já de pijama, embolou-se na cama de Jeongguk, que ficava em baixo e, agarrado aos travesseiros, pegou no sono. Acordou o que lhe pareceu anos depois, com Jeongguk o cutucando nas costelas.
"Hyung, vá para a sua cama, por favor."
Taehyung virou para o outro lado e acomodou-se melhor. Jeongguk suspirou, achando que seria difícil tirá-lo dali e, afinal, Taehyung já tinha dormido consigo tantas vezes, que diferença fazia mais uma?
Enfiou-se debaixo das cobertas e não demorou nada para que Taehyung se ajeitasse outra vez, o abraçando. Ficaram quietos, respirando juntos, de frente um para o outro, de olhos abertos na escuridão do quarto ouvindo os roncos de Namjoon. Ainda carente, Taehyung aproximou-se mais e beijou a bochecha quente e macia de Jeongguk, resvalando os dedos compridos por seu rosto. Ele tinha acabado de sair do banho, o que significava que o cheiro do sabonete de leite estava mais fresco na pele do maknae.
Taehyung o respirou, a boca tocando a curva no canto dos lábios de Jeongguk. Eles estavam tão sonolentos e ao mesmo tempo tão imersos na quietude do momento que suspiraram juntos ao deslizarem as bocas uma na outra, pressionando-as devagar.
Não foi como se estivessem conscientes do que acontecia, por mais que entendessem e sentissem todos os efeitos disso. Era como um encaixe natural que, no fundo, eles sempre souberam que cedo ou tarde ocorreria.
A boca em formato de coração de Taehyung moldou-se à boca volumosa de Jeongguk. Eles testaram a textura macia e quente da carne lisa, as sensações que cada mínimo movimento causava no fundo de suas entranhas. Eles sempre tiveram um mundo particular, uma bolha que agora os envolvia deixando o resto do mundo de fora, suspenso, em expectativa.
Os dedos de Taehyung pousaram na gola da camiseta de Jeongguk, fechando-se discretamente conforme tocavam o início da fenda do peitoral do maknae. Jeongguk estava paralisado, não porque não quisesse mais contato, mas as sensações novas o esmagavam. A boca de Taehyung era tão, tão macia e quente deslizando na sua devagar, as vezes quase sem tocar, as vezes pressionando um pouco mais, empurrando com cuidado, amassando em selos suaves que terminavam em estalos abafados.
Nenhum dos dois soube o momento em que pegaram no sono, os rostos juntos e as respirações misturadas.
Nada mudou entre eles. Ainda se abraçavam e se tocavam sem um pingo de susto ou estranhamento. Taehyung ainda deslizava a boca pelo pescoço de Jeongguk distraidamente quando estavam sozinhos, a palma da mão aninhando a nuca do maknae, as bocas colidindo casualmente se dormiam juntos, de madrugada. Jeongguk ainda deixava que o hyung o afagasse onde queria, no pescoço, nas coxas, nos cabelos, adorando cada sensação, cada avanço sutil.
Sem pressa, iam se tomando.
Numa tarde, na empresa, Taehyung brincou com o piercing novo de Jeongguk na orelha, rolando-o na língua. Numa noite, eles se beijaram na garagem do alojamento quando não havia ninguém por perto, depois de voltarem de um passeio de bicicleta, e Jeongguk experimentou usar a ponta da língua para lamber os lábios quentes de Taehyung. Eles riram dos calafrios que sentiam percorrendo as espinhas dorsais, os dentes ainda trincando pela inexperiência.
E Taehyung descobriu que, ao contrário do que imaginava, nunca soube beijar até aprender todos os movimentos da língua de Jeongguk na sua; Jeongguk experimentou todas as maneiras de encaixar os lábios nos de Taehyung, todos os ritmos em que podia prová-lo e sorvê-lo e explorá-lo.
Começavam devagar e demoravam-se tanto tempo que não raro eram arrancados daqueles momentos por alguém os chamando, um celular tocando, uma interrupção. Beijavam-se e beijavam-se e cada beijo era novo, interminável e de tirar o fôlego, intenso demais, por mais lentamente que as bocas se tocassem.
E não fazia muita diferença o que o mundo poderia pensar disso, porque tudo silenciava quando se beijavam, e nada mais importava a não ser as sensações, a conexão, os sabores de ambos se misturando na umidade as línguas e a certeza de que isso era bom.
Era completamente certo.
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