Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Escola pública

Fazia um calor lascado. A tarde ia transpondo outra manhã e, em casa, a meninada já se aprontava para ir à escola.

À uma hora batia o sinal. Desmanchavam-se as panelinhas espalhadas pelos corredores, bancos, janelas, cantina, portão. Todos entravam, sentavam, a conversa imorredoura mesmo com o professor em sala, o livro em mãos. Que coisa...

Lá fora, no céu, aquele sol inclemente de Rondônia. Tão logo assentava na sala de aula um odor acre de suor, de gente reunida, as janelas e portas abertas para arejar, os ventiladores de teto parados, criando teia, pela verba sempre em falta. De quando em vez vinha a diretora se explicar, esticar esse assunto, exigir punho cerrado dos alunos, encher de esperança os seus sacos furados.

Quando propunha à classe, o dedo em riste, o cenho sério de oradora regular, que deixassem a segurança daquela inércia e partissem para alguma ação ― que parassem carretas na BR, que chamassem a imprensa da capital, que batessem à porta do senhor Confúcio Moura ― puah! Vaiavam logo a ideia absurda. Onde já se viu? Uma trabalheira assim por uns ventiladores? E tudo para no ano seguinte serem outros os alunos a passar calor...

E fugia da turma, a regular diretora. Onde já se viu? Fugia... Voltava para a sua sala, para o seu chá-gelado, a poltrona de espaldar, para o seu ar-condicionado.

Na sala de aula, erguia-se um braço gordo, um pincel azul contra o quadro branco. Bailava, círculos, formas, números. Logo que enchia a lousa, apagava e nova dança. Os alunos, um olho no quadro e outro no caderno, operários céleres da reprodução, no ritmo da mão dançarina, a sala muda, uma inhaca de gente.

Classe cheia, transbordando: 47 alunos, terceiro ano do ensino médio. Uma moda estranha de se pentear. Uns tantos de óculos, uns tantos mais sem. Logo nos vamos focar num especial, o protagonista desse nosso recorrente caso. Sempre à frente, nunca no fundão. Enxergava mal, falava pouco, os óculos de lentes grossas pondo miudinhas as suas retinas. O cabelo aparado, a farda amarfanhada, a cara trigueira e pontilhada de acne. A mão operária, um olho na lousa e outro no caderno, feito bom aluno. Sob o narigão, germinava um buço juvenil.

Chamemo-no de Wisley. O popular Wisléia, Wislia, o Félix, bichona. De futebol, ficava distante nas aulas de educação física. Gostava nem um pouco, que coisa! Preferia a arquibancada, uma música metida nos ouvidos, até ter presença marcada para ir então embora.

Quando batia o sinal para o intervalo das três, ficava embiocado lá mesmo na sala. Para que sair? Para ouvir o Félix? O mão-torta? Para quê? Ficava em consolo de si mesmo, na sua cadeira, desenhando alguma estética musculosa no verso das matérias do caderno. Desenhava nudismos. Homens, mulheres, rostos, roupas, fisiculturismos diversos. Sempre lindos, impecáveis, mais que humanos: bonecos. Uma coisa, só vendo!

Na rara vez que botava fora da porta o narigão oleoso em horário de recreio era para ir à cantina. Até gente feia tinha fome. Mas este nosso rapaz nunca comprava nada para seu subsídio, era sempre mandado de algum amigo, amiga.

― Ai, Wisley ― espreguiçava-se alguém entalado na cadeira, lhe esticando uma mão com moedinhas. ― Compra um iorgute lá pra mim, amigo?

Ele ia, passivo. Cansado de outra vez negar baixinho, de requerer com direito a sua paz e comunhão. Saía encolhido, recluso, as pernas trocadas ― quase uma garça! É que todos o estavam olhando embora houvesse ninguém nos pátios. Passava em frente às salas, as portas abertas para arejar, algumas meninas em rodinhas a cochichar amenidades animadas entre si. Para Wisley, falavam dele. Que coisa...

Logo dava numa das galerias. Grupinhos de rapazes, de raparigas, de ambos juntos encostados à parede, chupando tereré, de conversa e riso sardônicos. Silenciavam bruscamente quando passava o Wisley com o seu andar sorumbático, a cabeça pendida, as mãos enterradas fundo nos bolsos do jeans foló. Depois estouravam risadinhas, mais pilhéria que não podia entender.

Em frente à cantina, uma desordem de alunos, fila alguma. Um alarido de molecada transitava pelo pátio central, o coração da escola pulsando. Gente conversando, gente discutindo, gente comentando a sua aparição ― e para quê?

Vez por outra conseguia discernir algum "Félix" dentre o vozerio. Novidade... Abanava a cabeça, aborrecido. Por que diabos tinha que esperar tanto para comprar um iogurte? E por que não tinha coragem de negar quem lhe pedisse o voluntarismo para tal tortura? Queria é estar na sala, desenhando gente linda no verso das matérias do caderno. Novidade...

Pediu o iogurte, jogou as moedas no balcão sujo e tomou a mesma jornada de volta. De longe, o espiava indo embora um admirador. Os professores, sempre de papo na boca e olho no relógio. A conversa boa, a tarde quente. Wisley passava pelo mesmo grupinho, olhavam-no de soslaio, esgueirando.

No meio desses, João. Rapaz gordo, sobrecenhos reticentes, cara oleosa. O pilheriador, o gozador. Também o machão, o bruto, o caubói. João Cowboy, como escrito nas costas da sua farda. E como gozava com os demais! Nem professor escapava! Bastava que passassem e já tinha um apodo para dar, uma troça, um preconceito inocente.

Para Wisley, reforçou o Félix, o "mão-mole". E estrondava a gargalhada, riso solto, pouco caso. Que coisa. Nem tinha lhe feito nada. Que coisa.

Tocava o sinal das três e quinze, as panelinhas de novo se desmanchavam e as salas tornavam a superlotar de alunos, de cheiro humano.

Noutro rito de ensino, a lousa se enchia, esvaziava. Os alunos ao caderno, funcionais. Quando não, dormitavam às explicações prolixas, oratória gaguejada de professor bacharel.

Chegada a hora da prática, botavam um aluno para escrever as questões na lousa, o professor fora, ocupado de algum outro problema. Logo que terminavam, recorriam a compulsar os livros à caça costumeira das respostas bem visíveis. Reproduziam-nas ao caderno, bons operários que eram. Nenhuma dificuldade, só sofriam os menos dotados.

Logo Wisley fechava o seu material, um dos primeiros a terminar, em paz, no aguardo do seu visto à caneta vermelha quando o professor retornasse. E aparecia o João, o mesmo das troças, com voz doce de compaixão, lhe pedindo o gabarito pronto. Que coisa. Queria o gabarito. Noutrora lhe fazia escárnio, agora lhe falava manso.

Para que vejam a que são elevados os gozadores quando sozinhos. E, não raro, estão sozinhos sempre. Wisley não recusava. Emprestava o caderno. Tinha, lá no fundo, uma esperança de reconciliação. De querer agradar para ser deixado em paz. Nunca funcionava, mas ele dava o caderno assim mesmo.

Aqui, ficam marcadas essas duas crisálidas sociais: uma, susterá a nação; a outra, a si mesma.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro