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Papo baixo

Johnny Wally levantou cedo; a carruagem para Austin saía às cinco horas. Fazia uma bonita manhã e o pintor pensou na sorte que teria de contemplar por horas a fio aquelas paisagens agrestes americanas que tanto estudara em Bristol.

Doce ilusão.

Na verdade, quando Wally pisou a bota dentro da carruagem, descobriu que viajariam mais dois passageiros consigo: um anão com semblante tristonho e um cowboy risonho. Ambos iam no assento oposto ao seu.

O primeiro, artista de circo, se chamava Tito. Mas ele nem mesmo chegou a dizer isso; foi o segundo passageiro, Travor, quem o apresentou. Ruivo bonito de barba espinhenta, esse aí tinha um quê a mais de charme no jeito debochado de sorrir. Travor era o tagarela inconveniente que não falta em lugar algum do mundo. E bastava ouvi-lo um pouco: falava e falava e falava. Seu prazer, seu ego, sua arma era a sua palavra.

A certa altura, ele esticou essa sua prosa grudenta para Johnny:

― Você não é daqui, não é, moço?

― É verdade ― Johnny confirmou, gentil ―, não sou. Sou de Bristol.

― E isso fica onde? Carolina do Norte?

― Inglaterra...

― Sei ― arrastou os e com ironia. ― A terra dos almofadinhas, então! ― E riu.

― Não compreendo, caro amigo, o uso pejorativo que se faz de nossa nacionalidade por aqui...

Mas Travor fez uma cara de quem pouco entendia. Disse logo depois:

― E lá na sua terra, vocês sabem ao menos trepar, moço?

Johnny corou.

Tito, bem ao lado do ruivo, lhe mirava um olhar de tédio.

― Trepar, sabe? ― Travor continuou. ― Foder uma vadia?

― Bom... Eu, bem... Suponho que sim.

― E chupar uma boceta, sabem também, moço?

Mas aqui, sob o evidente constrangimento do forasteiro, o cowboy sorriu, olhando Johnny nos olhos, cínico, como se aquilo o divertisse intimamente. Prosseguiu:

― Eu pergunto porque você sabe, né, moço, como são essas coisas. A última vez que vi um inglês foi em New Orleans. E o desgraçado tinha um pau tão minúsculo que eu fiquei me perguntando como é que ele conseguia foder uma vadia. Ah, eu fiquei sim. Tinha essa dúvida guardada comigo até hoje.

Johnny encarnava mais.

― Você não sabe, moço, mas eu e o pequeno grande homem aqui ― indicou Tito, abraçando-o ― trabalhávamos num circo. É verdade. Eu era o palhaço. E ele, ele era ótimo em assustar as crianças e as mocinhas. Aí fizemos umas coisas ruins e aqui estamos. Mas você não acreditaria se eu dissesse que esse anão desgraçado tem o maior pau que você já viu na sua vida, não é, moço? É sim. Mas acredite. É um belo pedaço de carne que entope uma vadia fácil.

Tito mantinha o olhar morto em Johnny.

― E eu descobri isso da pior forma, sabe, moço. Descobri quando flagrei o filho da puta metendo aquilo na minha garota. Tudo bem que o pequeno Tito aqui não teve culpa. A minha garota era também de todo mundo. Mas eu fiquei uma fera. Fiquei sim. Eu queria mata-lo e eu ia, mas aí pensei um pouco, e havia algo de mais interessante para fazermos.

Johnny queria desviar o olhar para longe, na paisagem. Sentia cada solavanco da estrada como um soco no seu estômago.

― Mostre a ele, Tito ― Travor intimou. ― Vamos, mostre a ele. O moço parece não acreditar em nós.

Mas antes que o pintor pudesse falar qualquer coisa em contrário, o anão já estava de pé na sua frente, apoiado no assento, arriando a roupa. E quando o fez, Johnny não escondeu na feição o espanto pelo grande membro daquele pequeno homem.

Era monstruoso.

― E agora, acredita, moço?

Johnny ainda encarava aquilo, sem uma reação distinta. Tito, de calças nos tornozelos, tornou a se sentar, o pau agigantado esquecido balançando, caído entre as perninhas.

― Precisa vê-lo em ação, moço. Mas, bem, agora que acredita na gente, presumo que queira nos retribuir...

E aqui, Johnny entendeu o que acontecia:

― Ora, não espera mesmo que eu pague por tê-lo visto ao natural, não é mesmo, rapaz?

E Travor, sacando uma pistola do paletó e mirando-a em Johnny, falou, sorrindo:

― Espero sim, moço. E rápido.

Meio minuto depois, o ruivo contava muito satisfeito as notas de dólares que Johnny acabara de lhe passar. Então, pondo-se de pé com alguma dificuldade, falou:

― Sabe, moço, se tirasse os olhos de cima do meu parceiro aqui, eu, talvez, não reparasse. Mas, pensando bem, isso me dá uma oportunidade única...

Travor abria o zíper da calça.

― Não precisa ficar tímido, pombinho.

E, agarrando a nuca do pintor, empurrou a sua ereção contra os lábios dele até sentir o abraço quente daquela boca inglesa.

Sob solavancos, calor e poeira, a viagem seguia, Johnny engasgando, o ruivo sorrindo, o bolso estufado de dinheiro, Tito os espiando com indiferente tédio. Foi ele mesmo quem puxou a mão desprevenida do inglês e fê-la pousar sobre o seu sexo agora rijo.

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