7 - We will survive
Fiquei estática por alguns segundos, apenas olhando para a garota em minha frente. Como ela havia crescido, estava madura apesar de ainda ser nova. As imagens de mim e meus irmãos, sobrevivendo ao apocalípse com ela e seu irmão. Foi quase um mês até nos perdermos uns dos outros, e praticamente duas semanas depois me perdi dos meus irmãos.
Me apeguei muito a essa garota, assim como Daryl e Merle. Me soltei de Rick e caminhei até ela, mesmo com minha perna gritando para eu parar, mas fui mancando e apoiando nas árvores até ela. Cassie se apressou em se aproximar também, me livrando de um caminho mais longo.
Me choquei com ela em um abraço apertado. Eu tinha meus olhos arregalados e um enorme alívio pairava em meu coração. Eu a senti sorrir, como sempre. Não existira um dia que Cassie ficasse sem sorrir antigamente, e parecia que continuava assim. Essa garota era um poço de felicidade, mesmo nas piores condições.
— Você está viva, meu Deus. — disse apertando um pouco mais a garota. Ela soltou uma risadinha fraca.
— Você também. — disse ela. Sua voz ainda era doce como antigamente.
Me separei dela e olhei em seu rosto. Passei os dedos pelos seus cabelos claros. Considerava essa menina como uma irmã mais nova, até o maldito dia que baixei a guarda o suficiente e ela e o irmão se perderam de nós. Ela mantinha um sorriso nos lábios enquanto olhava em meus olhos.
— Se você se separar de nós daquele jeito de novo, eu juro que te procuro até no inferno, mocinha. — disse com o cenho franzido. Ela apenas riu em resposta.
As consequências da pequena caminhada até Cassie fizeram efeito, e minha perna latejou de dor. Eu precisava costurar esse corte logo. Escorei as costas em uma árvore e levei a mão até o machucado. O fluxo de sangue estava menor, mas ainda assim não parava de sangrar. Cassie foi até o meu lado e colocou meu braço em seus ombros, assim como Rick minutos antes. Procurei o líder com o olhar, e o vi caminhar até a frente do grupo. Daryl caminhava até nós.
— Está bem? — perguntou ele para Cassie enquanto colocava uma das mãos em sua bochecha. A garota fez que sim com a cabeça, sorrindo. Daryl assentiu e se afastou para ir ao lado de Rick.
— Vocês brigaram de novo? — perguntou Cassie com uma expressão inconformada. Busquei Daryl com os olhos antes de responder, mas não conseguia vê-lo por ter muita gente entre nós.
— Quem dera fosse apenas uma briga. — respondi em um grunhido, sem olhar para ela. Cassie não prolongou o assunto. Um mês conosco antigamente fez com que a menina aprendesse o que perguntar e a hora de perguntar.
Rick começou um discurso qualquer. Juro que tentei prestar atenção, mas a dor na minha perna estava quase insuportável. Me sentei no chão com a ajuda de Cassie. Estiquei a perna machucada e coloquei a mão no ferimento, pressionando e tentando fazer parar de sangrar.
Observei uma agitação no grupo e fiquei atenta para o que quer que viesse. Não foi necessário me levantar, porque percebi que todos sorriam olhando para alguma coisa. Ou melhor alguém. Pelos espaços entre as pernas de todos, pude ver Daryl abraçando alguém. Não fazia ideia de quem era, primeiro porque meu irmão sempre fora um homem grande, e isso não mudou; e segundo porque estava muito concentrada na dor em minha perna.
A única coisa que ouvi foram alguma palavras aleatórias do tipo: "salvou", "explosão" e "obrigado". Não me esforcei e nem me interessei em escutar a conversa. Pensei em meu arco. A única coisa que tinha para me lembrar do carinho que meus irmãos tinham comigo agora estava perdido pelo caos no Terminus. Se Gareth sobreviver, juro que vou espancá-lo apenas por me separar do meu arco.
— Onde ela está? — Uma voz feminina perguntou. Era familiar, mas continuei concentrada em parar o fluxo de sangue do machucado.
— Ela...? — A voz de meu irmão era confusa. Certeza que estava com o cenho franzido.
— Reyna. Onde está Reyna? — A voz feminina voltou a falar. Dessa vez ergui minha cabeça, procurando a dona.
O grupo foi abrindo espaço, e os olhos curiosos de cada um foram depositados sobre mim, me causando um certo incômodo. A mulher, que estava ao lado de Rick, abriu um sorriso quando me viu. Não é possível, aquele só podia ser o dia dos reencontros. Mais uma vez, arregalei os olhos, olhando-a por inteiro.
Carol caminhava em minha direção. Novamente fiz esforço para me levantar, agora com a ajuda de Cassie. Não tirei os olhos da mulher por um segundo. Ela segurava um rifle nas costas, e em suas mãos nada mais nada menos do que o arco e a aljava com as flechas.
Assim que ela chegou perto o bastante, me estendeu o arco e a aljava, com um sorriso no rosto. Peguei os dois em um movimento lento, enquanto continuava com meus olhos repousados sobre a mulher. Após alguns segundos atônita, apoiei ambos objetos em meu ombro e estendi a mão esquerda para Carol. Ela segurou meu braço, e apenas com um olhar tentei transmitir toda gratidão que eu sentia.
— Eu disse que nos encontraríamos de novo. — Ela falou ainda com um aperto firme em meu braço. Sorri fracamente em sua direção como resposta. — Sentiu falta? — perguntou ela apontando com a cabeça para o arco em meu ombro.
— E como... — respondi, apoiando a mão esquerda nele, apenas para ter certeza mais uma vez de que ele estava ai. Carol sorriu uma última vez antes de virar-se para Rick e dizer:
— Vocês precisam vir comigo. Agora.
(...)
Caminhamos por quase cinco minutos até chegarmos em um casebre pequeno de madeira. Me apoiava em Cassie o caminho todo por insistência dela. Eu via o esforço que a garota fazia e isso parecia machucá-la algumas vezes, enquanto me culpava internamente por depender de alguém para andar.
Rick correu até um homem negro, grande com uma bebê no colo. Uma bebê. Quando penso que nada mais me surpreenderia, aparece um bebê em pleno apocalípse, que ótimo. O líder, assim como o filho, não seguraram as lágrimas quando pegaram a criança no colo. Rick mexia delicadamente nos pequenos fios de cabelo dela enquanto a abraçava e beijava o topo de sua cabeça. Confesso que aquela era uma cena maravilhosa.
Todos se aproximaram lentamente, inclusive Daryl, que segurava suas lágrimas. Meu irmão sempre foi duro na queda e nunca demonstrava quando queria chorar, mas pelo amor de Deus, conheço aquele homem mais do que a mim mesma. Percebo até os mínimos detalhes. Ele deu um único beijo na testa da bebê, contendo as lágrimas e um sorriso.
Carl tomou a garotinha no colo, e Rick caminhou até o homem que a segurava antes. O líder estava tomado por alívio e felicidade. Não havia conhecido essa face de Big Grimes ainda, e era incrivelmente linda. Observei em silêncio ao lado de Cassie enquanto a bebê passava de um colo ao outro. Na verdade eu, Cassie e mais quatro pessoas, que pareciam estar tão perdidas quando eu. Dois homens, um ruivo, parecia ser militar, e um do cabelo das antigas, com cara de poucos amigos; duas mulheres, ambas morenas. Uma delas usava um boné.
— O que houve com a perna? — A do boné perguntou, olhando para a ferida em minha coxa. Hesitei antes de responder.
— Um tiro. — disse olhando novamente para frente. Mais especificamente para o líder, que conversava com Carol.
— Se tivesse uma agulha dava um jeito nisso rapidinho. — disse ela. — Sou Rosita. — Ela ergueu a mão para a minha direção e de Cassie. A loira a cumprimentou com um sorriso.
— Cassandra, mas me chame de Cassie. — disse ela animadamente. — Essa é Reyna. — Acenei com a cabeça na direção da garota no mesmo momento que Carl se aproximou, ainda com a bebê no colo. — Oi, gracinha. — Cassie se controlou para não se afastar de mim e correr para pegar a garotinha. Me permiti sorrir enquanto observava aquele pedaço de inocência. — Como ela se chama?
— Judith. É minha irmã. — Carl respondeu acariciando a cabeça da garotinha. Olhei para Carl ainda com um pequeno sorriso no rosto, que foi retribuído pelo menor.
— Vem, vou cuidar dessa perna. — Carol se aproximou, tirou meu braço dos ombros de Cassie e colocou nos próprios.
Ela me levou até um canto mais afastado e me ajudou a sentar. Escorei minhas costas em uma árvore novamente, mas dessa vez apoiei a cabeça junto. Coloquei o arco no chão, ao meu lado junto com a aljava de flechas. Carol abriu uma mochila e tirou de lá algumas coisas para fazer um curativo, como soro fisiológico, agulha, esparadrapos, gazes, uma caixinha de antibióticos e analgésicos, pomada e uma garrafa pequena de vodka. Como ela achou vodka nesse fim de mundo?
— Vai doer um pouco, ok? — disse ela antes de molhar uma gaze com o soro fisiológico. Assenti com a cabeça.
— Vai em frente. — falei trincando o maxilar.
Uma nova ardência subiu pela minha perna quando Carol encostou a gaze na ferida. Conti um grunhido de dor com uma careta. Nem percebi que estava apertando algumas folhas secas nas mãos, tentando desviar minha atenção da minha coxa.
Fechei meus olhos tentando pensar em outra coisa que não fosse a agulha entrando e saindo da minha pele. Foi quase impossível, mas mantive o foco em uma lembrança aleatória da minha infância, junto com meus irmãos, mas não consegui conter um grunhido um tanto alto de dor quando Carol jogou a vodka por cima da ferida. Abri os olhos rapidamente olhando inconformada para a mulher.
— Não esperava por essa, huh? — Carol comentou, divertindo-se com a situação. Revirei os olhos e estendi minha mão.
— Passa pra cá. — disse me referindo a garrafa de vodka. Carol sorriu antes de me entregá-la.
Tomei um longo gole da bebida enquanto sentia Carol passando a pomada na costura recém-feita. Senti o líquido queimar em minha garganta, e isso me distraiu pelo menos um pouco. Olhei para o lado onde o grupo estava, para me certificar de que não me observavam. Ninguém parecia se importar com o que estava acontecendo comigo ali, estavam todos distraídos. Menos Rick e Daryl. Os dois me olhavam com um misto de preocupação e alívio. Meu irmão tinha algo a mais no olhar, mas ainda não havia identificado o que era.
— Pronto. — Carol olhou para seu pequeno trabalho por alguns segundos antes de se levantar para me ajudar.
Tornei a pegar o arco e a aljava do chão antes de Carol me erguer. Passei a alça em volta do meu tronco, sentindo o leve peso confortável das flechas em minhas costas. O arco tomou o mesmo rumo, ficando junto da aljava. Passei o braço novamente pelos ombros da mulher e caminhamos até mais perto do grupo. Rick disse alguma coisa para Daryl antes de deixá-lo para trás e se aproximar de nós duas.
— Como se sente? — perguntou ele, tirando o meu braço dos ombros de Carol e voltando para os seus. Franzi o cenho, confusa com tal atitude, e novamente incomodada por depender de alguém para andar.
— Como uma boneca de pano. — respondi em um grunhido. Rick sorriu fraco.
— Que ótimo. Judith estava precisando de uma boneca para brincar. — comentou divertido. Virei meu rosto em sua direção, erguendo uma das sobrancelhas. Ele riu e virou o rosto também. Estávamos próximos, até demais.
Voltei a virar o rosto para frente. O grupo todo esperava alguma ordem por parte de Rick, que se apressou em dizer:
— Todos nós agora, somos uma família. Somos um grupo forte. Sobrevivemos a isso, e podemos sobreviver a qualquer coisa. — Ele firmava mais a mão em minha cintura a medida que falava, para manter a postura na frente de todos. — Nós vamos sobreviver. Ao que der e vier.
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Autora: ooooiiii amores! perdão a demora mais uma vez, mas essa semana foi uma loucura... mas enfim, não vou me estender muito, cá esta mais um capítulo!! pretendo postar outro ainda hoje ou senão amanhã de manhã!!!
obrigada pela leitura, não esqueçam da estrelinha e de comentarem bastanteeee, não sejam tímidos, juro que sou legal hihi
Bjin procêis♥️
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