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capítulo quatro.

──── EU TIREI UM 9, Heeseung! ── Sunghoon exclamou descrente, sorrindo de orelha a orelha enquanto segurava com ambas as mãos a tão temida prova de matemática, que havia feito na semana passada ──── um nove! Você sabe o que isso significa?

──── que você passou na matéria e vai poder voltar a treinar normalmente com as líderes de torcida? ── embora sua voz tranquila não demonstrasse, o mais velho estava realmente orgulhoso de Sunghoon, sabendo o quanto ele havia se esforçado nas últimas duas semanas.

Nós últimos 14 dias, Sunghoon começou a frequentar a biblioteca da escola apenas para poder passar mais tempo com Sunoo, que, embora não admitisse, já não se sentia mais tão incomodado com a presença alheia. Eles também se encontravam fora da escola, geralmente na casa de Sunoo, para repassar toda a matéria estudada naquele ano e, vez ou outra, terminavam o dia jogando The Last Of Us enquanto esticavam as costas na cama de casal do mais novo.

Sunghoon também aproveitava o tempo livre aos fins de semana para convidar Sunoo para visitar alguns museus de arte contemporânea, já que sabia sobre o quanto Kim gostava de apreciar coisas que Sunghoon não entendia, finalizando o passeio em alguma cafeteria desconhecida da região.

Sunghoon havia se apaixonado ainda mais por Kim Sunoo quando, em uma dessas tardes quentes e estranhamente acolhedoras, o mais novo fez questão de puxa-lo até uma fonte de água cristalina em meio a um parque arborizado, entregando-lhe uma moeda para que fizesse um pedido.

Aquela foi a primeira vez que Sunghoon viu o belo sorriso de Sunoo ser direcionado a si e jamais se esqueceria de tal sensação. O coração acelerado e o suor excessivo em suas mãos delicadas, juntamente com o leve arregalar de seus olhos escuros eram uma visão adorável para Sunoo que, sem que o mais velho soubesse, desejou que Sunghoon tivesse êxito em suas provas e pudesse voltar a fazer aquilo que mais gostava.

Aquele final de tarde também rendeu belas fotos. Fotos que Sunghoon guardaria para sempre, quase como se fossem seu maior tesouro.

Dessa forma leve, repleta de estudos, risadas e momentos apaixonantes ─ apaixonantes na visão do loiro ─ duas semanas se passaram e Sunghoon mal podia acreditar que tinha mesmo conseguido.

──── sim, isso também! ── o mais novo assentiu diversas vezes ──── mas, o mais importante ── fez suspense, deixando um cintilar bonito tomar conta de seus olhos escuros ──── Sunoo vai ficar orgulhoso de mim e ver que as aulas que me deu não foram desperdício de tempo, como ele disse que seria! ── e então Sunghoon inclinou-se em direção a Heeseung, deixando um beijo na bochecha macia do mais velho antes de sair correndo pelos corredores lotados, com as alças da mochila caindo por seus ombros.

( . . . )

A porta da sala de monitoria estava entre-aberta, quase como em um convite silencioso para o garoto de fios douradinhos, que não hesitou em se aproximar cautelosamente sem desfazer-se do sorriso contente, desejando surpreender Sunoo ao pega-lo de surpresa.

O que ele diria quando soubesse que aquelas duas semanas foram de total proveito para o loiro? Sunoo se sentiria orgulhoso? Talvez sentisse vontade de abraçar Sunghoon em uma espécie de felicitação e, então, o mais velho poderia finalmente sentir a proximidade de seus corpos pela primeira vez.

Pensar nisso o deixava nervoso, inevitavelmente, mas ele certamente não iria reclamar caso acontecesse e, com o coração acelerado dentro do peito, levou sua destra até a maçaneta, pigarreando baixinho, preparando-se para encontrar com o olhar avaliativo e intimidador do mais novo mas, antes que pudesse realizar tal ação, ouviu vozes conhecidas soarem de dentro da sala.

──── lembra quando você me disse que o Sunghoon era o garoto mais fútil que você já havia conhecido? ── foi a voz de Nishimura Riki, representante de classe da turma do segundo ano e líder da equipe de debate, que lhe chamou a atenção, fazendo-o recostar-se sobre a madeira fria da porta para prestar atenção no diálogo que se seguia ali ──── você também disse que jamais poderia se interessar por alguém como ele e, sabe, eu não tiro sua razão ── o mais velho ouviu um riso contido soar e, imediatamente, sentiu um nó se formar em sua garganta, apertando o papel que segurava contra o próprio peito ──── então o que poderia ser diferente agora? Afinal, se ele passar na tal prova, terá conseguido aquilo que mais almejava, isto é, voltar para a equipe dos loiros burros ── mesmo que o japonês não houvesse dito com todas as letras, Sunghoon sabia que ele se referia ao time de futebol. O Park sabia que, secretamente, era assim que os chamavam pelos corredores da escola e nunca antes havia se importado com aquilo. Não até aquele momento ──── é isso que ele é Sunoo. Um garoto que sempre recebeu tudo o que desejava sem esforço algum e que teve seus pés beijados por todos ao seu redor apenas por ter pais milionários, e isso jamais irá mudar.

Houve um curto silêncio naquele momento que pareceu perdurar por várias e várias horas na mente confusa e entristecida de Sunghoon, que reunia toda a força que lhe restava para segurar as lágrimas que banhavam seus olhos.

──── é, você tem razão ── Sunoo assentiu após um longo suspiro e, como que em uma reação espontânea, o loiro entre-abriu seus lábios em completo choque, sentindo suas pernas fraquejarem por um instante.

Sunghoon sabia que era algo improvável mas, nas profundezas de seu coração, ainda esperava que Sunoo discordasse ou que, pelo menos, não fosse tão firme em sua resposta. Contudo, não havia um pingo de hesitação na voz do Kim.

──── não é como se uma nota alta fosse mudar quem ele é, afinal de contas.

Aquele foi o estopim para o Park que, sentindo toda a sua felicidade se esvair pouco a pouco de seu corpo, afastou-se cautelosamente, não querendo ser notado, caminhando para longe dali logo em seguida.

Enquanto revivia cada palavra em sua mente atordoada, Sunghoon permitiu-se cair na realidade fria e dolorosa que era sua relação com Kim Sunoo.

Embora fosse apaixonado pelo mais novo desde o ensino fundamental, era difícil para Sunghoon entender com clareza quando aquilo havia começado. Tudo o que ele sabia era que, desde então, sua única vontade era ter o olhar do Kim focado em si, bem como os sorrisos calorosos que ele raramente oferecia a alguém.

Sunghoon sempre desejou poder se aproximar do garoto que mais admirava afinal, como não sentir apreço por alguém tão terrivelmente fascinante? Alguém tão inteligente, bonito, corajoso e que não hesitava em lutar pelos seus objetivos. Essa, aliás, era uma das características que mais chamavam a atenção de Sunghoon. A sua determinação.

Diante de tudo isso, era difícil controlar a vontade que sentia de ser a pessoa a quem o mais novo recorria quando estava triste, precisando de um abraço apertado e um conforto silencioso ou aquela pessoa que a faria rir até a barriga doer.

Tudo o que o Park queria era poder ser alguém importante para Sunoo, mas, a única coisa que havia conseguido, era o seu rancor e sua repulsa, no entanto.

Sem nem mesmo perceber, Sunghoon permitiu que a primeira lágrima escorresse por sua bochecha, contornando seu nariz até chegar aos seus lábios vermelhos.

Depois de muito escutar sobre o quanto Kim Sunoo o odiava, o loiro pensou estar blindado contra qualquer coisa que pudesse ouvir da boca do mais novo. Bem, ele definitivamente não estava e, embora pudesse parecer dramático demais, sentia seu estômago doer, quase como se tivesse levado uma facada.

Sunghoon julgava a si mesma como alguém indigna porque, se antes ele duvidava, naquele dia Park teve sua mente clareada.

Kim Sunoo foi, é e sempre será muito mais do que Sunghoon merece.

( . . . )

Lee Heeseung sempre foi um garoto pacífico que regularmente buscava sua paz interior na meditação. Com o histórico escolar perfeito, sem nenhuma mancha em seu histórico, era conhecido como a pessoa mais tranquila e reservada de todo o campus.

Isso até Kim Sunoo cruzar o caminho de seu melhor amigo, é claro.

Heeseung até poderia ser uma pessoa que foge de conflitos e prefere resolver tudo com uma boa conversa mas, quando se trata de defender uma das pessoas mais importantes de sua vida, ele realmente não se importaria de passar por cima de seus próprios princípios.

Foi pensando nisso que, assim que encontrou com Sunoo em frente a biblioteca pouco movimentada, Heeseung não hesitou em acertar um tapa estalado na bochecha do mais novo, que deu alguns passos para trás, recostando-se na parede gélida para recuperar o equilíbrio.

──── o que foi isso? ── o menor questionou atordoado, elevando seu olhar apenas para encontrar com a expressão de poucos amigos do moreno ──── você enlouqueceu?

──── quem enlouqueceu aqui foi você, Kim Sunoo ── Heeseung respondeu sem parecer intimidado pelo tom ríspido que fora utilizado consigo ──── tem muita coisa entalada na minha garganta e eu realmente iria adorar despejar minha raiva acumulada em você, mas isso levaria bastante tempo e, sinceramente, você não vale meus minutos preciosos ── ele prosseguiu, cruzando os braços sobre o peito, olhando para Sunoo com superioridade, sabendo muito bem que o de fios cor-de-rosa não estava acostumado com isso ──── então eu só quero deixar bem claro que Park Sunghoon é areia demais pro seu caminhãozinho e, embora esse seu ego inflado te engane constantemente, você não é melhor do que a Sunghoon, ouviu bem?

Sunoo ouvia tudo com atenção, sentindo sua bochecha direita arder como o inferno. Ainda assim, nada respondeu, interessado em saber o que estava acontecendo ali.

──── nem acredito que eu o incentivei a te procurar. Me sinto tão estúpido por pensar que você poderia ter um coração batendo dentro do peito ── Heeseung riu sem humor ──── Sunghoon é a pessoa mais doce, dedicada e carinhosa que eu já conheci e não vou admitir que ninguém diga o contrário, Sunoo ── o Lee encarava o mais novo com os olhos cerrados, parecendo realmente irritado. Era a primeira vez que Heeseung era visto naquele estado. Parecia até mesmo outra pessoa  ──── e, sabe, você tinha razão. Uma nota alta não vai mudar quem Sunghoon é simplesmente porque não há nada nele que precise ser mudado. Espero que isso tenha ficado bem claro.

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