ENCHANTED
— É muito irônico você cantar, You Belong With Me, Anne — Percy disse rindo enquanto observava sua melhor amiga maquiar enquanto cantava sua segunda música favorita do Fearless. Ela estava vestindo apenas uma blusa azul dele e uma meia da sonserina, mas o moreno poderia ficar horas e horas apenas vendo ela se arrumar. Naquela noite seria o baile de formatura dos dois e Annabeth tinha o chamado para arrumar em sua casa enquanto ouviam Taylor Swift — Você é literalmente uma líder de torcida e só usa salto alto, mesmo tendo 1,79.
— Eu não tenho culpa dos homens dessa cidade serem baixinhos — Annabeth deu de ombros, se virando para ver Percy. Os dois tinham se conhecido aos 14 anos, em um acampamento de verão, e nunca mais se tinham separado. Era até engraçado como, mesmo sendo completamente diferentes, os dois se davam bem o suficiente para não quererem se separarem quase hora nenhuma. Ele deu uma risada e saiu da cama dela em um pulo, a abraçando por trás como se dissesse: o que você estava dizendo sobre os homens dessa cidade? — Você é a exceção, Cabeça de Algas, agora me solta porque preciso terminar de me arrumar.
— Ainda são só quatro da tarde, lá começa às sete e contando com os minutos de atraso que a gente vai ter, então você tem tempo de sobra para ficar de bobeira comigo — ele beijou o pescoço dela, sentindo-a arrepiar ao seu toque — Se você quiser eu posso até te ouvir falar sobre o quanto a Taylor Swift é a própria indústria da música.
Annabeth suspirou, virando o corpo para abraçá-lo de volta. O cheiro de maresia e algo amadeirado era forte e a loira sabia que não era só do mar a poucos metros da sua casa, mas sim do moreno também. Era bizarro como ele era a pessoa mais cheirosa que ela já tinha conhecido — Percy podia estar a vários metros de distância dela, mas, mesmo assim, o seu cheiro inundaria o ambiente e faria Annabeth suspirar. Não sabia como faria quando ele fosse embora.
Não gostava nem de pensar o que faria nos próximos meses quando ele voltasse para Londres para fazer faculdade. Involuntariamente, Annabeth o apertou ainda mais, como se ele fosse embora a qualquer momento.
— Ei, gatinha, eu ainda estou aqui — Percy sussurrou já sabendo no que ela tava pensando, pois também pensava o mesmo praticamente a todo momento. Oxford sempre havia sido seu sonho desde pequeno, seus avós maternos haviam se conhecido ali e seus pais haviam decidido se casar naquele local, era algo além do que apenas uma tradição de família e, por isso, mesmo quando seus pais decidiram se mudar para Capri, Percy manteve seu sonho de voltar para a Inglaterra e cursar Relações Públicas, mas deixar Annabeth seria mais do que difícil. No entanto, aquela não era uma noite para se pensar naquilo, por isso, tratou de mudar de assunto — E então, me diga, vamos nos atrasar um pouquinho?
— Você é um péssimo britânico, Perseus — Annabeth deu uma risada, afastando os pensamentos ruins e se mantendo firme ao presente. Não deixaria que a melancolia estragasse o dia que sempre havia sonhado em ter com o seu melhor amigo.
— Corrigindo, sou o seu péssimo britânico — ele encostou o seu dedo na pontinha do nariz dela, como sempre fazia quando queria distraí-la de qualquer coisa — Agora me conte mais uma vez, porque All Too Well é a música do século.
— Eu realmente te amo — a loira disse antes de beijá-lo, levando as suas mãos para a nuca dele. Normalmente, Annabeth tinha um pouco de preguiça ou receio demais de se relacionar com qualquer pessoa, mesmo que fosse apenas um beijo, ou algo além disso, em uma festa.
Annabeth gostava da segurança de um relacionamento, mas tinha medo dos primeiros passos. Ela era uma pessoa, no mínimo, complicada demais. No entanto, com Percy era diferente. Era um relacionamento com data de validade — namoro à distância não era algo que ambos queriam — mas Annabeth havia se jogado de cabeça. Havia começado do nada quando em um trabalho escolar, um grupo de adolescentes resolveu que era mais interessante jogar verdade ou consequência do que terminar o trabalho. A atração que sempre era jogada para debaixo do sofá, foi escancarada de vez quando foram desafiados a se beijar e nunca mais pararam.
Não tinham um título, afinal não queriam nomear algo que teria um fim — era somente algo mais do que somente uma amizade colorida, mas menos do que um namoro — mas Annabeth se sentia segura com ele o suficientemente para não se importar com isso. Ela amava ter o controle de cada aspecto da sua vida, mas com o moreno, nem mesmo aquilo importava.
Estar com Percy era como pular de paraquedas e ela amava a sensação de estar suspensa no ar, por isso, não se importou quando ele a colocou em cima da cama, beijando cada centímetro de seu corpo e materializando seu amor puro e adolescente, esquecendo do compromisso que tinham em poucas horas.
— Eu disse que a gente ia se atrasar — Annabeth corria, mesmo de salto alto, para tentar não se atrasar tanto. Depois de seus corpos estarem tão cansados, tanto ela quanto ele apagaram completamente só acordando uma hora e meia depois quando Piper ligou perguntando qual a cor de batom que ela usaria. Após isso, foi um verdadeiro caos.
Annabeth não era o tipo de pessoa que conseguia se arrumar rápido e nem do tipo que ficava calma estando atrasada. Às vezes, a loira achava que, na verdade, ela que era a britânica e não o Percy, afinal, ele continuou dormindo e se arrumou 10 minutos antes de sair, sequer ligando muito para o quão atrasados eles estavam, enquanto Annabeth estava quase arrancando os cabelos.
— Não me lembro de você ter reclamado, senhorita Chase, além disso, foi você que não quis uma limousine — ele deu um sorriso irônico, quando Annabeth o xingou de idiota — Sabe, eu sonhei a minha vida inteira em ter uma noite de princeso, mas você destruiu os meus sonhos, Annabeth Chase, sua ditadora.
Aquela era uma tentativa de fazer com que a loira relaxasse e ela não podia se sentir mais grata por aquilo. Por isso, respirou fundo e encostou a sua cabeça nos ombros dele, sentindo o cheiro do perfume gostoso e inebriante que era viciada. Devia ser um crime, o Percy nunca revelar o nome daquele cheiro tão perfeito. Quando ele fosse embora, seria uma boa ideia passar o perfume dele em seus pijamas para matar a saudades. Não. Ela definitivamente não pensaria nisso naquela noite.
— A gente mora a uma quadra do colégio, eu definitivamente não iria gastar metade das minhas economias para andar menos de 5 minutos — ela nunca iria confessar, mas havia ficado extremamente decepcionada ao perceber que ela não teria uma limousine devido a pouca distância da sua casa a escola. Poxa, só se formava uma vez no Ensino Médio e os dois mereciam tudo do melhor, mas definitivamente não podiam gastar tanto com Percy de viagem marcada e ela sem saber muito bem o que fazer da vida.
No último ano do Ensino Médio, havia decidido trocar a estabilidade da arquitetura — e consequentemente das empresas da família — para fazer moda. Agora só podia torcer para que o Istituto Marangoni, em Milão, aceitasse o vestibular de Capri, mas também não pensaria naquilo naquela noite.
Focaria somente nas coisas boas, como ir no baile com Percy.
— Destruidora de sonhos — ele deu língua para ela, já conseguindo ver a escola. Meia hora de atraso não deveria nem ser considerado um atraso.
— Sou! E você é um idiota. — o vento de verão deixava tudo leve, assim como o amor deles. Algo que sequer tinha nome, mas que fazia tão bem para os dois. Era uma pena que não era para sempre.
— Correção: o idiota que você ama. — Percy respondeu automaticamente, vendo o rosto de Annabeth se iluminar porque aquela realmente era a verdade — E, Anne, você está mais do que linda.
E ele não mentiu, o vestido azul marinho — da cor favorita de Percy — tinha um decote discreto e uma fenda considerável na perna esquerda, além dos pequenos brilhos que faziam com que parecesse que Annabeth vestia nada além do céu estrelado — assim como a noite estava naquele momento, assim como a pintura do Van Gogh eternizada em seu braço esquerdo. Além disso, ela usava um salto alto que fazia com que ficasse quase do mesmo tamanho dele e Percy amava quando ela fazia isso. Principalmente porque Annabeth tinha um dom especial para usar salto alto e fazer com que todos olhassem para ela hipnotizados.
Ela sorriu agradecendo e Percy sentiu como se todo o seu mundo se iluminasse com aquele simples gesto. Era apaixonado por Annabeth desde os 12 anos, mas só aos 16 a beijou pela primeira vez. A loira era uma pessoa complicada de ler, às vezes parecia que era super afim dele e às vezes ele tinha certeza que tudo o que ela queria era sua amizade e Percy definitivamente não arriscaria sua amizade com achismos e, por isso, sequer pensava em se declarar. Foi quando Jason e Piper cansaram de aguentar a enrolação, propuseram um verdade ou desafio ao invés de fazerem um trabalho da Senhora Dodds. e por algum milagre, Annabeth — conhecida por ser certinha demais — aceitou e não negou o beijo quando escolheu o desafio.
E então, desde o dia 11 de maio de 2013, eles tinham aquele rolo estranho. Percy quase havia pedido em namoro várias vezes, mas, assim como Annabeth, ele sabia que — infelizmente — aquela amizade mais do que colorida era apenas um amor de verão e que os términos desse tipo de amor eram extremamente dolorosos e substituam as memórias cor de rosa por algo cinza e doloroso. Não podia fazer com que Annabeth se tornasse algo terrível de ser lembrada, queria guardar em sua memória somente as partes boas. Por isso, levavam aquilo sem rótulos, com uma leveza quase inexplicável. Não era porque teria um fim que precisava ser ruim.
Suas mãos estavam unidas quando eles entraram no salão enfeitado com diversas breguices o que transformava tudo em uma experiência ainda mais mágica. Eles sequer teriam um baile de formatura por ser muito caro,mas o grêmio estudantil, com muita insistência e várias vendas, havia conseguido convencer o diretor da escola.
Só se formava uma vez no Ensino Médio, eles mereciam uma pequena recompensa por terem sobrevivido ao caos que era aquele período. Havia uma pequena orquestra — que fez com que os olhos de Percy brilhassem — e bebidas provavelmente batizadas. Não era perfeito, mas era na imperfeição que tudo se tornava mágico.
Durante um tempo, os dois se separaram para conversar com seus amigos, mas, às vezes, se pegavam encarando e admirando um ao outro. Ai, amor adolescente, porque tão puro e tão pequeno?
Em certo momento, os dois grupos de amigos se uniram em um só e eles ficaram conversando à toa sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Os braços de Percy em cima dos ombros de Annabeth despretensiosamente e suas mãos brincando com o rabo de cavalo loiro e elegante dela, enquanto ouvia sua melhor amiga e Piper conversarem como seria bom se a Taylor Swift lançasse a versão original de All Too Well, mesmo que ela tivesse mais do que 10 minutos. Ele e Jason apenas riam e concordavam com as meninas, fingindo entender sobre o que suas namoradas (ou quase isso) falavam.
Piper e Annabeth eram obcecadas por Taylor Swift de tal jeito que chegava a ser engraçado e tanto Jason quanto Percy amavam vê-las falando sobre isso. Na verdade, os dois amavam vê-las falando sobre qualquer coisa. Talvez fosse efeito da paixão ou pura admiração. Talvez as duas coisas.
Alguns casais dançavam na pista de dança a música lenta que tocava naquele momento, a maioria sequer seguia um ritmo somente balançando de um lado para o outro e quando os primeiros acordes de Photograph começaram a tocar, Piper arrastou Jason para a pista de dança dizendo que aquela era a música deles e que, por isso, era um crime não dança-la, deixando Percy e Annabeth sozinhos pela primeira vez desde o momento que haviam pisado no salão.
Em um primeiro momento, eles ficaram em silêncio apenas curtindo a presença um do outro como se não quisessem fazer nada além disso. Era confortável e gostoso ficar assim. Nenhuma palavra precisava ser dita para saber o quão felizes estavam. Não era algo que funcionava para todo mundo, mas com Percy e Annabeth era natural, assim como o que sentiam um pelo outro.
— Não recebi nenhum email até agora — a loira interrompeu o silêncio com um sussurro ao mesmo tempo que enrolava uma mecha solta de sua franja. Tinha prometido a si mesma que não falaria de assuntos tristes ou pesados naquela noite, mas as palavras simplesmente saíram como se seu inconsciente soubesse que ela podia confiar totalmente em Percy — Desculpa, eu não deveria estar falando sobre isso agora.
— Não precisa pedir desculpas, Anne — ele passou as mãos nas costas nuas dela. Capri era quente demais naquela época do ano para se usar um vestido todo fechado — Você já olhou na caixa de spam?
— Nada. Eu fico pensando na possibilidade de não ser suficiente ou de nunca conseguir sair daqui. Talvez precise criar um plano B — ela suspirou fundo apoiando a cabeça na mão, se virando um pouco para observá-lo. Mesmo com várias tentativas de deixar o cabelo arrumado, os fios escuros pareciam ter vida própria, mas surpreendente combinava com o moreno. A gravata dele combinava com o seu vestido. Ele estava um verdadeiro pedaço da perdição, mas Annabeth sequer estava conseguindo curtir aquele noite sem que a preocupação com o futuro viesse — Mas não agora, só queria parar de pensar nisso por hoje, mas não consigo.
Percy queria poder tirar todas as preocupações de Annabeth, dizer que tinha certeza que ela receberia um email daqui alguns dias, mas a loira não era uma pessoa que apreciava falsas esperanças. Por isso, precisava distraí-la por apenas aquela noite e no dia seguinte ajudaria a criar um plano B. Foi quando começou a tocar os primeiros acordes de La Vie en Rose que Percy teve a ideia mais brega e perfeita da noite.
— Dança comigo? — ele se levantou e estendeu a mão para ela.
— Eu não sei dançar — Annabeth confessou tímida. Apesar de ter feito ballet quando pequena e saber improvisar alguns instrumentos, ela definitivamente não tinha ritmo nenhum, nem mesmo ser líder de torcida havia ajudado com aquilo — Vou acabar pisando no seu pé mais vezes do que o aceitável.
— Eu não me importo — Percy balançou os ombros como se aquela fosse uma prova da sua fala e continuou com a mão estendida — Por favor, Anne, só uma dança.
Hesitante, a loira assentiu com a cabeça e segurou a mão dele, deixando ser conduzida até a pista de dança por ele. O som do violoncelo era marcado, o que deixava a música ainda mais leve e romântica. Os dois não faziam vários passos de dança, se mantendo apenas no balançar dos corpos e se arriscando, no máximo, com alguns giros.
Seus olhos não desviavam um do outro, verde no cinza, e seus corpos também não tinham a pretensão de se afastarem, como se estivessem sob efeito de um campo magnético, como se a mera falta de contato pudesse os matar. Eles deixavam com que a música os envolvessem como se ela fosse um elemento vivo e se materializasse em volta deles. Era quase mágico e era apenas uma dança.
Durante aqueles minutos, os dois esqueceram de tudo que estava a sua volta, era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido e somente eles existiam, dançando desajeitadamente se importando com nada. Até mesmo as preocupações de Annabeth sumiram naquele momento enquanto ela focava em não pisar — tanto — nos pés de Percy.
E quando a música acabou, os dois encostaram seus lábios de um modo quase inocente, permaneceram se abraçando sussurrando juras de amor até que a próxima música começasse e depois mais uma e mais uma, fazendo com que eles dançassem desajeitadamente cada uma delas.
Aquela não era uma noite perfeita, mas foram suas imperfeições que tornaram ela nada menos do que mágica para Percy e Annabeth e, às vezes, tudo o que precisamos é de um pouquinho de magia.
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