"Por pior que seja a noite,
amanhã é outro dia."

E o Vento Levou.

ㅡ Kali? ㅡ a voz de Kabir é um mero sussurro ao meu lado, mas meus olhos estão presos no rosto petrificado de meu baldi.

Seu olhar está perdido, vítreo, e sua boca meio aberta demonstra o choque da notícia recebida. Sua filha amada, criada como uma princesa, grávida. Desonrada com 17 anos. A luz da sua casa agora se torna a mancha da família.

Sinto as lágrimas rolarem por meu rosto quando vejo os olhos do temível Aarav brilharem com um choro contido. Lágrimas de decepção.

ㅡ Baldi... ㅡ choramingo e me aproximo dele ㅡ Me perdoe. Me perdoe.

ㅡ Calada! ㅡ mamadi rosna da sala ㅡ Não há perdão para o que você fez! Desonrar sua família desta maneira, engravidar...

ㅡ Você sabia? ㅡ baldi se vira para olhar mamadi ㅡ Você sabia disso e não me contou, Nivedita?

Vejo seu rosto ficar pálido e sua boca abrir e fechar várias vezes, buscando a resposta correta perante o olhar mortal de seu marido.

ㅡ Eu soube quando a vi fugir. ㅡ ela confessa finalmente ㅡ Mas decidi não lhe contar para lhe poupar de tamanha decepção.

ㅡ A senhora a viu fugir e não impediu? ㅡ Kabir soa incrédulo.

ㅡ Não se intrometa, Kabir. ㅡ mamadi o corta e volta seu olhar para o marido ㅡ Entende agora minha falta de interesse pelo sumiço de sua filha?

ㅡ Nossa filha. ㅡ baldi rosna ㅡ Nossa filha! Você a viu fugir e me fez de bobo todos esses dias? O que tem na cabeça, Nivedita?!

O olhar de mamadi se volta para mim e ela avança em minha direção.

ㅡ Você colocou seu baldi contra mim? ㅡ rosna ao me agarrar pelos braços ㅡ Maldita! Suma da minha casa!

Passar por isso tudo novamente é demais para mim. Lidar com todas as palavras de maldição e horror de minha própria mami dói mais do que uma surra.

ㅡ Kali não vai a lugar algum. ㅡ baldi declara firmemente e tira as mãos de mamadi de mim ㅡ Não até eu mandar!

O silêncio toma o ambiente, é perceptível somente o som de nossas respirações ofegantes no ar. Mamadi volta para a sala, de cabeça baixa, e baldi olha diretamente para mim. Sua orbes, tão escuras quanto a noite, parecem tristes enquanto percorrem minuciosamente cada centímetro do meu rosto. Estou suja, com poeira em todos os cantos do meu corpo, meu sari está remendado e desbotado. Não sou mais a filha que ele criou.

ㅡ Kali. ㅡ ele diz com dificuldade ㅡ Você está mesmo grávida?

Olho de seu semblante triste para o de Kabir, que tem a mesma expressão.

ㅡ Estou, baldi. ㅡ confesso em meio ao choro.

Vejo Kabir abaixar a cabeça e chorar baixinho, seus ombros tremem levemente, o que me faz chorar ainda mais.

ㅡ Are baba... ㅡ baldi diz com a voz embargada ㅡ Are baba! Ulu! Ulu!! O que você fez da sua vida, Kali?! Como pode não pensar na sua família antes de qualquer coisa?

Suas palavras parecem facadas em meu coração e caio de joelhos, com um choro de amargura e arrependimento.

ㅡ Suniedy, me perdoe! Me perdoe, baldi!!

ㅡ Você sabe que não posso te perdoar. ㅡ sua voz é dura, impiedosa ㅡ Você me desonrou, está com uma criança em seu ventre e livre como uma andorinha... a pior desgraça para uma moça de família.

ㅡ Baldi, não faça isso comigo, suniedy! ㅡ imploro e agarro seus pés ㅡ Me perdoe!

ㅡ Kali...

ㅡ Me perdoe, apenas me perdoe! Eu sumo da sua vida, o senhor nunca mais me verá, nem saberá que estou viva, mas eu preciso do seu perdão, baldi! Eu não poderei ser feliz sem o seu perdão! ㅡ minha garganta arranha com o choro de desespero.

Vejo as lágrimas caírem por seu rosto, mas ele permanece duro como uma estátua, impassível em sua decisão.

ㅡ Baldi...

ㅡ Vá embora da minha casa. ㅡ sussurra de olhos fechados, parecendo sentir dor ㅡ Esqueça que tem uma família.

ㅡ Não, baldi! ㅡ Kabir exclama em meio ao choro ㅡ Não faça isso!

ㅡ Cale-se, Kabir! ㅡ mamadi rosna ㅡ Este assunto não lhe diz respeito!

ㅡ Mas é claro que diz! ㅡ ele rebate, raivoso.

ㅡ Kabir, é minha filha. ㅡ baldi o corta rudemente - A decisão está tomada, não tem outra saída.

ㅡ Não faça isso com ela, é sua filha! Suniedy!

ㅡ Kabir, deixe. ㅡ digo, me levantando ㅡ Ele tem razão, não há mais saída.

Meu primo está ofegante, seu olhar vidrado em mim. Me aproximo dele e pego em suas mãos.

ㅡ Está tudo bem... ㅡ digo com a voz embargada.

ㅡ Não, não, não... ㅡ ele olha para baldi e de volta para mim ㅡ Conte a verdade a ele.

ㅡ Como? ㅡ pergunto confusa.

ㅡ Do que está falando? ㅡ baldi dá um passo a frente.

ㅡ Conte, ou eu conto. ㅡ Kabir diz, limpando as lágrimas.

ㅡ Contar o quê, Kabir? ㅡ olho para seu rosto sem entender.

ㅡ Sobre o pai do bebê. ㅡ ele diz e sinto meu corpo congelar.

ㅡ Você sabe quem é o desgraçado? ㅡ baldi esbraveja, mas Kabir mantém seu olhar em mim.

ㅡ Kabir, do que está falando? ㅡ sussurro assustada.

Nunca contei para meu primo sobre Bennett, então não há a menor possibilidade dele dizer ao baldi quem é o pai do meu bebê. Meu primo me puxa para um abraço rápido, e sussurra em meu ouvido:

ㅡ Apenas confie em mim.

Ele me puxa para trás de si e passa a encarar meu baldi com uma postura que eu nunca o vi adotar. Uma postura de homem, de igual para igual.

ㅡ Kabir, o que está acontecendo aqui?

ㅡ Baldi... ㅡ sua voz é firme ㅡ Aarav.

ㅡ Kabir! ㅡ arquejo ao ouvi-lo chamar baldi pelo nome.

ㅡ Eu sou o pai do bebê.

A loucura dessa frase demora a ser registrada no cérebro de todos os presentes na sala. Mamadi cai sentada no sofá, com as mãos na boca, em claro sinal de choque. Baldi dá dois passos para trás, como se levasse um soco e perdesse o equilíbrio. E minha única reação é vomitar.

Kabir segura meus cabelos enquanto coloco tudo que está no meu estômago para fora, bem ali, no porcelanato do chão da entrada da nossa casa.

ㅡ O que você disse? ㅡ ouço a voz chocada de baldi.

Meu primo não lhe dá atenção e continua segurando meu cabelo enquanto ofego, me recuperando das ânsias que doem o estômago.

ㅡ KABIR!! ㅡ Aarav berra, nos fazendo virar assustados em sua direção ㅡ O que você disse?

Suas mãos estão fechadas em punhos e suas narinas inflam com a respiração forte e ruidosa. Ele está com ódio explícito no olhar.

ㅡ Eu sou o pai do bebê. ㅡ Kabir repete com toda a coragem do mundo ㅡ E se Kali for expulsa dessa casa, eu também irei junto. Mas levarei toda a minha herança, incluindo as ações da empresa e minha parte da escritura desta casa.

ㅡ Como ousa... ㅡ mamadi se levanta bruscamente do sofá.

ㅡ Nivedita, não se meta. ㅡ Kabir a interrompe ㅡ Isso agora é entre mim e Aarav.

Baldi não tem forças para responder, tamanho o choque em que se encontra. Tento buscar minha voz para dizer que isso tudo é mentira, mas as palavras de Kabir me fazem permanecer com a boca fechada.

Confie em mim. Confie em mim.

O que você está planejando, Kabir?

ㅡ Isso é verdade? ㅡ baldi sussurra me olhando nos olhos.

ㅡ É. ㅡ Kabir não me dá espaço para responder ㅡ E é imperdoável, eu sei, mas já está feito.

ㅡ Como... Quando...

ㅡ Isso não importa mais, Aarav. ㅡ Kabir suaviza a voz ㅡ Foi apenas uma vez, e os deuses decidiram nos abençoar, então sejamos gratos por isso!

ㅡ Kabir... ㅡ murmuro em repreensão.

ㅡ Não, deixe-me falar. ㅡ ele diz e se aproxima de baldi ㅡ Aarav, eu quebrei sua confiança, e sei que jamais me perdoará. Mas saiba que nunca foi minha intenção lhe desrespeitar dentro de sua própria casa. ㅡ ele aponta para mim ㅡ Mas não pode expulsar Kali daqui. Eu não posso permitir.

Não há tempo para pensar. O punho de baldi acerta em cheio o rosto de Kabir e ele cai no chão com um baque forte, seu lábio sangra na mesma hora, e ele olha assustado para o homem bufando em pé acima dele.

ㅡ Baldi! ㅡ grito assustada e ajoelho para ajudar Kabir.

ㅡ Vocês dois... bem debaixo do meu nariz! ㅡ ele grita ㅡ Como puderam me enganar assim?

ㅡ Eu já disse, não foi minha intenção...

ㅡ Calado! ㅡ baldi interrompe Kabir - Baguan Kelie! Minha vontade é de jogar os dois no fundo do Ganges! Enforcá-los com minhas próprias mãos! Are baba!

Baldi anda de um lado para o outro, bufando e rangendo os dentes, murmurando coisas ininteligíveis, enquanto apenas assistimos a cena em silêncio.

ㅡ Marido... ㅡ mamadi tenta pará-lo, mas ele empurra sua mão e continua a andar.

ㅡ De onde tirou isso? ㅡ sussurro no ouvido de Kabir, sem que ninguém mais ouça.

ㅡ Apenas confie em mim. ㅡ ele sussurra de volta ㅡ Será melhor que morar na rua.

ㅡ O quê? ㅡ nossa conversa sussurrada é interrompida pela voz de mamadi.

A vejo parada, encarando baldi incrédula, enquanto Aarav apenas acena com a cabeça.

ㅡ Não pode fazer isso! ㅡ ela diz, inconformada.

ㅡ Posso, e farei. ㅡ ele diz, convicto, e vira para nos olhar ㅡ Vocês dois irão se casar.

ㅡ O QUÊ?? ㅡ grito e me afasto de Kabir rapidamente, mas ele me puxa para si e me aperta, em claro sinal de "calada".

ㅡ É claro que sim, baldi, essa sempre foi minha intenção. ㅡ Kabir declara firme e sorri para mim.

O choque permanece mesmo depois de mamadi sair correndo da sala, com ódio exalando por cada célula de seu corpo; mesmo depois de baldi puxar Kabir pelo pescoço para dentro do escritório e ficar trancafiado com ele lá dentro durante horas.

Já é madrugada e estou deitada na minha cama, no meu quarto, e não consigo dormir, pois ainda estou em choque. Isso tudo ainda parece um sonho, ou um pesadelo, não sei... me casar com Kabir? Nem nos meus sonhos mais loucos isso passou pela minha cabeça. No que ele estava pensando quando inventou essa história? Estragar a vida dele por minha causa? É uma completa e absurda loucura! Criar um filho que não é dele, cujo pai ele sequer imagina quem seja... Não compreendo o motivo que o levou a fazer isso.

O dia já clareou quando ouço batidas na minha porta.

ㅡ Kali? ㅡ a voz de Kabir soa abafada atrás da madeira ㅡ Está acordada?

ㅡ Entre logo! ㅡ digo alto o suficiente para que ele ouça.

Meu primo entra devagar e tranca a porta atrás de si. Me dá um sorriso amarelo, que não faço questão de devolver. Preciso entender tudo antes.

ㅡ Que tal você me contar sua história primeiro? ㅡ ele diz e senta na ponta da minha cama ㅡ Só depois lhe explicarei tudo.

Concordo e conto tudo que consigo me lembrar. Desde o Holi, quando conheci Bennett, até meu passeio ao Ganges com Ananya. Kabir ouve tudo atentamente, sem interromper, nem fazer perguntas, e termino dizendo o quão chocada fiquei quando o ouvi assumir a responsabilidade para baldi.

ㅡ Ah, Kali, foi a única maneira que encontrei de te ajudar. ㅡ ele explica e morde os lábios, nervosamente ㅡ Se eu não fizesse isso você estaria na rua agora. Era isso que você queria?

ㅡ Kabir, não é justo com você viver o resto de sua vida preso a mim e a uma criança que não é sua!

ㅡ Mas será. ㅡ ele diz sério ㅡ A partir do momento em que nos unirmos em casamento, essa criança será minha, Kali. Não me importo quem seja o pai, mas você nunca mais poderá procurá-lo.

ㅡ Kabir...

ㅡ Kali, eu sempre quis ter um filho. Sempre, e você sabe disso. ㅡ ele me interrompe ㅡ Mas eu nunca quis me casar, e você também sabe disso. ㅡ confirmo enquanto ele continua ㅡ Essa é a oportunidade perfeita para nós dois! Vai ser tudo de fachada, eu nunca, NUNCA, irei tocar em você. Têm a minha palavra. ㅡ sorrio, pois já imaginava isso ㅡ Mas a minha paternidade será verdadeira. Eu quero criar esse filho com você, mas eu, e apenas eu, serei o pai. Ninguém mais.

Longos segundos se passam enquanto pondero suas palavras. É o cenário perfeito para construir uma família. Ninguém irá desconfiar da gravidez, nem do nosso amor. E seremos livres do controle exercido de mamadi e baldi sobre nossas vidas. Kabir pensou em tudo!

ㅡ Mas... ㅡ coro de vergonha da pergunta que irei fazer ㅡ E quando você precisar... bom... sabe...

ㅡ O quê? ㅡ ele sorri, sem entender.

ㅡ Você sabe, Kabir... ㅡ solto uma risada nervosa ㅡ Quando você precisar fazer... aquilo.

ㅡ Ah... ㅡ ele entende e ri abertamente ㅡ Quando eu precisar fazer... isso... eu vou ao mesmo lugar que sempre vou.

Minha boca se abre em choque.

ㅡ Você frequenta as Casas? ㅡ sussurro envergonhada.

ㅡ Desde os meus 16 anos. ㅡ ele confessa em um sussurro ㅡ Fui assim que passei na faculdade. Mas não se preocupe, ninguém saberá de nada, então não manchará a honra de nossa família.

ㅡ Já está manchada.

ㅡ Mas ninguém sabe. ㅡ ele diz e segura minhas mãos ㅡ Fique tranquila, já resolvi tudo com baldi. Nos casaremos em uma semana.

ㅡ Uma semana?

ㅡ Quanto mais rápido, melhor. Por causa da gravidez.

ㅡ Tik, está certo. ㅡ concordo ㅡ Kabir, não tem medo de ficar preso a mim por toda a vida? E se um dia você se apaixonar por uma moça? Como será?

ㅡ Isso não irá acontecer, fique tranquila. ㅡ ele garante e sorri ㅡ Quanto a passar o resto da minha vida com você... Bom, eu já vivo com você há 17 anos, e tenho aguentado todas as vezes em que comeu minha sobremesa, ou usou meus perfumes escondida, e até mesmo quando colocou um sapo no meu chai. Eu te amei mais a cada travessura sua, Kali. Você é minha irmãzinha, passar o resto da minha vida ao seu lado será um presente dos deuses.

Nos abraçamos apertado e sinto que finalmente posso ver um fio de esperança para a minha vida. Kabir, com essa história louca, me salvou de um futuro incerto, cheio de dor e necessidades.

ㅡ E agora, qual o próximo passo? ㅡ pergunto enquanto ele limpa minhas lágrimas.

Ele sorri e vejo seus olhos brilharem.

ㅡ Agora temos uma festa para planejar, será tudo muito corrido, mas dará certo. ㅡ ele beija minhas mãos e me olha ㅡ Agora a pergunta mais importante: Kali, minha irmãzinha, minha deusa, aceita viver o resto da vida ao meu lado?

ㅡ Claro que sim, seu bobo! ㅡ solto uma risada leve.

ㅡ E agora... ㅡ ele ajoelha ao lado da cama e aproxima o rosto da minha barriga ㅡ Ei, você que está aí dentro... ㅡ sinto meu coração parar, de tanto amor ㅡ Me aceita como seu papai?

Meu sorriso é tão grande que sinto o gosto salgado das lágrimas em minha boca.

ㅡ É claro que aceita!! ㅡ Kabir beija minha barriga e nos abraçamos mais uma vez ㅡ Obrigada por nos salvar!!

ㅡ Salvarei infinitas vezes mais.

Alívio. Como é bom sentir alívio.

Mais alguém aí apaixonada por Kabir? 😍

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