Capítulo 29
"Mas há jogos bem piores para se jogar."
A Esperança - Suzanne Collins.
Ao entrar pelo portão branco de nossa casa o som de Mast Kalandar chega até meus ouvidos. Sorrio e caminho lentamente, tentando não fazer barulho nos cascalhos. Espio pela janela e a cena que vejo traz lágrimas aos meus olhos. Niyati rodopia sem parar, movimentando os braços e as pernas no ritmo da música, e Bennet a acompanha, sem rodar, mas batendo palmas como a melodia pede. Os dois sorriem sem parar, os olhos brilhando de plena felicidade.
Quando a música termina logo se inicia outra, desta vez mais lenta, totalmente diferente.
ㅡ Baldi, eu adoro essa! ㅡ minha filha grita, eufórica.
Não consigo mais me conter e entro em casa, jogo minha bolsa de qualquer maneira em um canto e começo os movimentos de Salaam ao mesmo tempo em que caminho para me juntar a Niyati.
Dançamos as duas em completa sincronia, uma para a outra, nossos olhares grudados e sorrisos discretos enquanto realizamos os movimentos precisos dos ombros e mãos. Olho de soslaio para Bennet e o vejo no sofá, batendo palmas lentamente, um sorriso enorme estampado em seu rosto e o amor gritando em seus olhos vidrados em Niyati.
Dançamos e dançamos, uma música após a outra, até que o ar nos faltou e caímos gargalhando no chão.
ㅡ Ah, mami, Salaam e Ishq sempre acaba comigo! ㅡ minha pequena exclama, secando o suor de seu rosto com a ponta do sari.
ㅡ E você sempre adora! ㅡ digo, beijando sua testa levemente.
ㅡ Eu e baldi fizemos muitas coisas legais hoje! Mas antes... ㅡ ela levanta e pula em direção à Bennet ㅡ Posso fazer o convite?
ㅡ Claro, vai em frente. ㅡ ele responde, sorrindo carinhosamente.
ㅡ Mami, queremos convidá-la para um jantar especial que iremos preparar com nossas próprias mãos.
ㅡ Uau! ㅡ exclamo, arregalando os olhos ㅡ Hoje?
ㅡ Oh, nahin, tivemos essa ideia agora à pouco, não vai dar tempo. ㅡ ela se aproxima e segura minhas mãos ㅡ Pode ser amanhã?
ㅡ Tik, claro que pode!
ㅡ Atchá! Queremos fazer um jantar muito especial, pois a senhora merece, então... Resolvemos que a senhora vai passar o dia em um Spa. ㅡ ela pula batendo palmas, como se fosse a melhor notícia do mundo.
ㅡ Chukriá, minha luz, mas não precisa. Eu quero ajudar vocês.
ㅡ Não quer não. ㅡ Bennet diz e sorri ㅡ O plano é nosso, não cabe mais ninguém na cozinha, nem Ananya poderá ajudar. Seremos só eu e Niyati, não é, filha?
ㅡ Tik! Já pegamos as receitas na internet, mami, não se preocupe, vai ser tudo uma delícia!
ㅡ Atchá! ㅡ sorrio, duvidando muito do resultado final disso.
˖♡♡˖
Fecho a porta do quarto de Niyati e desço as escadas lentamente. Bennet está sentado mexendo no celular, e duas xícaras fumegantes estão descansando na mesinha de centro. Vou em sua direção e, em um ato impulsivo, sento em seu colo. Ele me olha assustado, mas não me afasta.
ㅡ Niyati...
ㅡ Está dormindo. ㅡ digo e dou um beijo leve em seu nariz.
ㅡ Ah, sim. ㅡ ele balança a cabeça e, lentamente, envolve minha cintura com os braços ㅡ A viagem está marcada, meus pais já reservaram nossas passagens para daqui a uma semana.
ㅡ Nós iremos em voos separados?
ㅡ O quê? Ah, não! Nossas passagens incluem você e Niyati.
Suas palavras me trazem uma alegria inesperada. É real. Eu vou para os Estados Unidos.
ㅡ Eu vou estudar lá. ㅡ sorrio, prendendo os lábios com os dentes ao ver a cara de confuso que ele faz ㅡ Baldi vai me deixar assumir a presidência da empresa se eu fizer a faculdade nos Estados Unidos.
ㅡ Ai, meu Deus! ㅡ Bennet exclama, completamente surpreso ㅡ Isso é inacreditável, Kali! Então foi isso que você foi fazer lá hoje?
ㅡ Tik, tik, foi. É inacreditável mesmo, e completamente surreal, mas vai acontecer. Já está acontecendo, na verdade. A empresa já emitiu uma nota oficial comunicando à imprensa, e a notícia já se espalhou por toda a Ásia.
ㅡ Você está fazendo história. ㅡ seus olhos brilham de admiração ㅡ Estou tão orgulhoso de você. Saiba que sempre estarei.
ㅡ Shiiii, não vamos falar disso. ㅡ sussurro e beijo seus lábios macios ㅡ Vamos só viver o hoje e sentir essa felicidade.
Puxo seu rosto para perto do meu e beijo cada um de seus olhos fechados. Ele sorri e me aperta um pouco mais forte, e logo retribui o gesto carinhoso comigo. Beijando meus olhos, testa, nariz e bochechas, mas para próximo aos meus lábios e sinto sua respiração ofegante. Fico aguardando a sua aproximação, sentindo meu coração martelar fortemente contra o meu peito, a espera me fazendo sentir aquela sensação gostosa de frio na barriga que sentia quando namorávamos escondidos em meu quarto anos atrás. Então ele faz algo que gela todo o meu corpo.
Sinto dois de seus dedos encostarem no osso exposto da minha clavícula direita. Abro os olhos rapidamente e o vejo completamente vidrado no caminho que seus dedos tomam em meu colo, tão leves e lentos que mal sinto o toque passar por cima do volume dos meus seios, que sobem e descem com minha respiração curta e rápida, até sua mão pousar em meu ombro esquerdo, fazendo círculos carinhosos antes de levar a mão para a minha nuca.
Um movimento conhecido para mim. Um gesto que ele sempre fazia antes de me beijar apaixonadamente em nossos encontros escondidos. Ele sempre fazia isso quando pretendia me desenrolar do sari e passar a noite inteira na cama comigo.
ㅡ Você é tão linda! ㅡ ele exclama em um sussurro emocionado ㅡ Eu sou tão sortudo por você ter me dado essa chance, Kali!
ㅡ O que você fez agora... ㅡ engulo com dificuldade e sinto meus braços trêmulos ㅡ Você costumava fazer exatamente isso, esse carinho, era exatamente esse mesmo caminho.
ㅡ Isso te assusta?
ㅡ Jamais. Eu amo saber que você é o meu Bennet.
Envolvo minhas duas mãos em seu cabelo e o puxo para um beijo desesperado. Sua mão em minha cintura me puxa para ainda mais perto, grudando nossos corpos completamente, e a outra segura fortemente minha nuca, me prendendo no frenesi que nosso beijo se torna.
Com Bennet sempre foi assim, essa paixão fervorosa que nos consumia com apenas um toque. Bastava um beijo para que a necessidade de ter nossos corpos unidos nos tomasse, e aí não parávamos até ver o sol iluminar o céu através de minha janela. Era sempre a pior hora, a da despedida, quando nossos lábios não queriam se desgrudar e nossos corações batiam tão forte que conseguíamos sentir através da roupa um do outro.
Mas agora não havia hora da despedida, não mais. E, ainda assim, eu sei que não podemos passar disso, de apenas beijos quentes e saudosos. Eu fiz uma promessa para Kabir e irei cumprir, mesmo que ele tenha feito o que fez.
As mãos de Bennet acariciam minhas costas, fazendo círculos lentos e carinhosos, para acalmar meu corpo trêmulo. Devagar eu solto seus cabelos, e também faço um carinho vagaroso em seu couro cabeludo. Não precisamos de palavras nesse momento, então apenas nos olhamos profundamente por longos minutos.
Gravo em minha mente cada centímetro de seu belo rosto. Seus olhos azuis brilham, emocionados, e também percorrem toda a minha face, com um carinho tão explícito que sinto um aperto doloroso no peito. Levanto meus dedos lentamente e passo sobre os pêlos grossos de suas sobrancelhas, descendo pela maçã de seu rosto, passando por sua mandíbula travada e terminando em seus lábios macios. Pouso meu dedão em seu lábio inferior, fazendo sua boca se abrir levemente, e faço um carinho em sua pele fina e avermelhada.
ㅡ Eu não sei como vou conseguir viver sem você. ㅡ sussurro e sinto lágrimas se formando em meus olhos.
ㅡ Não vamos pensar nisso agora, por favor.
ㅡ Bennet...
ㅡ Kali. ㅡ ele olha profundamente em meus olhos ㅡ Não vamos nos torturar com isso agora, por favor. Eu preciso gastar o tempo que temos com bons momentos. Quero criar memórias com minha filha, e eu sei que isso é muito egoísta da minha parte, já que eu sei que não vou estar aqui por muito tempo e isso vai causar sofrimento à ela, mas eu preciso ter bons momentos ao lado dela. E eu preciso de bons momentos ao seu lado, minha deusa. ㅡ ele limpa a corrente de lágrimas que caem pelo meu rosto ㅡ Não vamos falar do que vai acontecer, não por enquanto, por favor.
ㅡ Tudo bem. ㅡ concordo e respiro profundamente, tentando controlar minhas emoções ㅡ Eu amei a ideia de vocês.
ㅡ Na verdade, tudo foi ideia de Niyati. ㅡ ele ri e me puxa, me aconchegando em seu colo ㅡ Ela é tão perfeita, Kali, eu não tenho palavras para agradecer por esse presente!
ㅡ Nem eu. ㅡ sussurro contra seu pescoço e fecho os olhos, gravando a sensação de estar em seus braços.
˖♡♡˖
As bolhas da banheira de hidromassagem relaxam completamente os meus músculos, fazendo meu corpo entrar em um estado de sonolência tão gostoso que apóio minha cabeça na borda da banheira e fecho os meus olhos, curtindo o som ambiente que me cerca.
Acabamos dormindo no sofá da sala, aconchegados um no outro, e isso me deixou com muitas dores musculares. Mas não reclamei em momento algum. Mesmo quando meu braço começou a formigar e logo ficou dormente, mesmo quando meu pescoço doeu por estar tempo demais na mesma posição, eu não reclamei nem quando minha bexiga parecia que ia estourar. Eu só continuei lá, deitada nos braços de Bennet e o olhando enquanto dormia. Gravando o movimento de sobe e desce que sua barriga faz ao respirar, sentindo seu coração bater sob meus dedos, admirando suas expressões faciais durante o sono pesado enquanto me abraçava.
Acordamos com o despertador do meu celular tocando na cozinha, e não tive muito tempo depois disso. Niyati apareceu nas escadas quando ia acordá-la e logo me obrigou a pegar uma pequena mala preparada por ela, praticamente me empurrando para fora de casa, enquanto Bennet apenas sorria e acenava. Um carro do Spa me aguardava na porta, e um motorista muito elegante abriu a porta traseira para mim.
O local é bem conhecido na cidade por ter profissionais experientes e educados, e não tenho do que reclamar do meu atendimento até o momento. Após um banquete de desjejum, comecei o Spa pela massagem nos pés e mãos, conversando sobre amenidades com duas massagistas jovens e bonitas. Gostei tanto das duas que acabei dando generosos cupons de desconto da nossa joalheria. Logo fui para a sauna, onde passei um bom tempo curtindo o silêncio.
Após o almoço foi a hora da manicure, e optei por fazer alguns desenhos em henna nas pontas dos dedos. Niyati vai adorar!
O dia passou rápido entre massagens linfáticas, pedras quentes, skin care e limpeza de pele. Agora, com os cabelos feitos e presos em um coque no alto da cabeça, curto a hidromassagem como a última etapa do meu dia. Já é quase hora de ir embora e a curiosidade do que aqueles dois estão aprontando me consome.
Todas as vezes que liguei para Bennet quem me atendeu foi Niyati, dizendo que estavam muito ocupados para falar comigo e que eu não devia me preocupar, pois não haviam colocado fogo na casa ainda. Ainda. Sorrio feito boba ao imaginar os dois cozinhando para mim.
Sou tirada de meus pensamentos com uma batida na porta. A atendente me avisa que preciso sair da banheira logo, para não enrugar minha pele. Fico mais alguns minutos, aproveitando esse momento de paz, mas decido logo me arrumar e ir para casa. Tenho um evento importante esperando por mim.
Faço minha própria maquiagem enquanto duas mulheres arrumam meu sari e prendem o véu em meu cabelo. O resultado me faz sorrir em frente ao espelho. Agradeço a gerente pela estadia maravilhosa, e saio prometendo voltar em breve. O motorista me leva de volta em silêncio, com a rádio ligada nas notícias do dia, mas não presto atenção.
Meus olhos estão grudados no meu celular. Nas dezenas de chamadas perdidas de Kabir. Há inúmeras mensagens de voz na minha Caixa Postal, e muitas mensagens, mas não quero encarar isso agora. Provavelmente a notícia sobre a presidência da empresa já chegou até ele, e não é comigo que ele tem que tirar satisfação. Foi Baldi quem lhe prometeu o cargo, então é com ele que Kabir tem que falar.
Eu sou a herdeira verdadeira, e é preciso garantir que tudo isso será de minha filha e não de um provável filho homem do segundo casamento do meu marido.
O carro estaciona em frente a minha casa e o motorista sai para abrir a minha porta. A primeira coisa que noto é o carro de Kabir estacionado do outro lado da rua. Um tremor passa por todo o meu corpo ao ver que ele está sentado atrás do volante, e ao seu lado, no banco do carona, está Saniya. Os encaro, paralisada no lugar, enquanto o carro do Spa vai embora.
O tempo parece correr em câmera lenta enquanto Kabir abre a porta do carro e caminha em minha direção. Não consigo desviar os olhos do seu rosto e, por um mísero momento, tenho vontade de correr e pular em seus braços, e dizer que senti sua falta. Mas isso logo passa quando desvio o olhar e vejo Saniya parada do lado de fora do carro. Ele se casou com outra mulher. Ele escolheu ter uma segunda esposa, não posso me esquecer disso.
ㅡ Kali. ㅡ ele diz ao parar em minha frente.
ㅡ Marido. ㅡ o cumprimento com um aceno de cabeça, utilizando a tradição de não usar seu nome na rua.
ㅡ Precisamos conversar. ㅡ vejo sua mandíbula travada e olho suas mãos fechadas em punhos.
ㅡ Agora não. ㅡ respondo educadamente ㅡ É melhor que você converse com Baldi primeiro.
ㅡ Agora sim. ㅡ Kabir dá um passo à frente, me fazendo recuar de maneira automática ㅡ Por que está se afastando? Acha que eu seria capaz de te machucar?
ㅡ Você já me machucou de uma maneira muito pior. ㅡ sussurro, olhando diretamente para Saniya.
Ouço seu suspiro e o vejo passar as mãos pelo cabelo, deixando bagunçado, enquanto balança a cabeça freneticamente.
ㅡ Kali, meu amor, precisamos conversar. Eu imploro, vamos conversar, por favor! ㅡ sua voz é baixa e grave, e vejo um toque de desespero em seu olhar.
ㅡ Nahin, hoje não. ㅡ me mantenho firme ㅡ Saia daqui e não volte mais com sua esposa, até que eu conte para Niyati.
ㅡ Ela está convivendo com Bennet, qual a diferença...
ㅡ Como ousa? ㅡ o interrompo, perdendo a compostura e aumentando o tom de voz ㅡ Bennet é o Baldi dela, não o compare com sua segunda esposa!
Kabir abre a boca para me responder, mas logo a fecha quando seu olhar desvia para algo atrás de mim. Viro meu corpo rapidamente e encontro Bennet e Niyati de mãos dadas na porta de casa. Minha filha leva alguns segundos antes de reconhecer seu Baldi, então ela se solta e sai correndo, encontrando os braços abertos de Kabir, que a levanta e gira no ar. Uma cena que me emocionou muitas vezes antes, mas agora me causa um aperto estranho no peito.
Sinto Bennet se aproximando e o olho nos olhos. Ele franze as sobrancelhas e morde os lábios levemente, então ele para muito perto de mim e cochicha em meu ouvido:
ㅡ Que história é essa de segunda esposa?
Engulo com dificuldade e meus olhos vão de forma automática em direção a Saniya. Um zumbido invade meus ouvidos e tudo vira um borrão. O olhar assustado da segunda esposa, sabendo que com um estalar de dedos eu posso fazer da vida dela um inferno. Niyati convidando Kabir para o nosso jantar, e dizendo que adora ter dois pais tão legais. Bennet ao meu lado, confuso, me chamando e perguntando o que está acontecendo. É muita coisa para a minha cabeça. É muita coisa para lidar.
ㅡ Eu preciso de uma bebida forte. ㅡ digo e caminho decidida para dentro de casa.
Olá, queridos leitores!
Peço desculpas pelo sumiço.
Tive um bloqueio horrível e não estava conseguindo escrever absolutamente nada!
O capítulo não ficou muito bom,
prometo que o próximo será melhor.
Obrigada por me acompanharem até aqui, não desistam de mim.
Capítulo não revisado:
CONTÉM ERROS!
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