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Capítulo 24

"Alguns infinitos são maiores que outros."

A Culpa é das Estrelas - John Green

ㅡ Por que está me falando de tumor, Bennet?

Minha voz sai trêmula e me levanto rapidamente da cama, já sentindo as lágrimas caírem pelo meu rosto. Ele não me responde. Apenas encosta sua cabeça no encosto da cama e me olha de maneira tão profunda e intensa que sinto o medo me tomar.

ㅡ Me responda! Por que está me falando sobre isso?

ㅡ Você é tão linda, meu Deus! ㅡ vejo as lágrimas caindo em seu rosto e meu coração acelera ainda mais ㅡ Mesmo agora, com raiva e chorando, você continua sendo a mulher mais linda que tive o prazer de conhecer em toda a minha vida.

ㅡ Bennet, me responda! Por favor! ㅡ sussurro a última frase, sentindo minha voz embargar pelo medo da sua resposta.

ㅡ Eu tenho um tumor cerebral em estágio avançado.

Cada partícula do meu corpo congela. Olho para o homem à minha frente, com o semblante sofrido, o olhar de quem está sentindo dor, mas, ainda assim, jovem e aparentemente saudável.

Nahin, isso é impossível. ㅡ digo, deixando escapar uma risada trêmula e nervosa ㅡ Você não tem um tumor, Bennet, isso é um engano! Vários problemas de saúde podem causar desmaios, não é um tumor, não é! Vamos para outro hospital, algum com aparelhos mais modernos, vamos pedir todos os exames que existem, isso não pode ser...

ㅡ Minha deusa ㅡ ele me interrompe ㅡ, eu descobri há algumas semanas. Não adianta ir para outro hospital. Eu tenho um tumor na minha cabeça, isso já é um fato concreto e irreparável.

ㅡ Então por que você não está, nesse exato momento, em uma sala de cirurgia para retirar isso de dentro de você? ㅡ grito, em completo desespero, sentindo o chão se abrir sob meus pés.

ㅡ É inoperável, minha vida. ㅡ ele diz, conformado ㅡ Ninguém conseguirá chegar nele pois está localizado na área central do cérebro, um local de difícil acesso e muito arriscado.

ㅡ Quais os riscos? ㅡ a adrenalina corre por minhas veias, me dizendo que eu preciso fazer alguma coisa para salvar a vida de Bennet.

ㅡ Muitos.

ㅡ Eu perguntei quais.

ㅡ Eu posso perder a memória. ㅡ ele sussurra, amedrontado, arregalando levemente suas orbes azuis cristalinas ㅡ Ou viver em estado vegetativo, perder a capacidade de falar, ou morrer assim que eles chegarem ao tumor. São tantos os riscos que me impedem de viver ao seu lado, Kali, que eu não posso arriscar.

ㅡ E o que então? Você vai ficar sentado esperando o deus da morte bater em sua porta? ㅡ grito, bem próxima do seu rosto.

Baguan Keliê! Estou completamente fora de mim!

Ele tem um tumor, preciso me controlar.

ㅡ Kali, não é tudo tão literal assim.

ㅡ Como não? É exatamente isso que você decidiu fazer! Esperar a morte chegar, sem lutar! ㅡ choro, sentindo todas as minhas forças indo embora ㅡ Por favor, você precisa lutar, Bennet!

Caio ajoelhada no chão e enfio minha cabeça por entre os joelhos dobrados, e deixo o desespero me possuir. Meu corpo treme com as ondas de choro, intermináveis, cada vez mais fortes, e gritos de agonia me escapam da garganta.

Ele vai morrer. Bennet vai morrer.

Como ele pode estar tão tranquilo com isso?

ㅡ Lute por mim! ㅡ grito, sentindo minha garganta arranhar, mas o som sai abafado pelo tecido do sari ㅡ Lute por mim, você me deve isso, Bennet!

ㅡ Minha deusa... ㅡ  sinto seus braços em volta de mim, e ele me puxa para o seu colo ㅡ Eu quero viver por você! Isso não é suficiente?

ㅡ Faça a cirurgia, depois o tratamento, isso é querer viver por mim! ㅡ minha voz sai estridente e enterro meu rosto em seu pescoço quente ㅡ Por favor, eu preciso de você!

ㅡ Meu amor, eu não vou fazer a cirurgia. ㅡ ele engole com dificuldade e me aperta ainda mais forte ㅡ Justamente porque eu quero viver com você os meus últimos meses como um homem normal. A qualquer momento eu posso parar de falar, de andar, de comer; meu cérebro pode esquecer quem você é, mais uma vez. O tumor vai fazer isso comigo, de uma forma ou de outra, com ou sem cirurgia. Então eu escolhi o caminho menos doloroso para mim. Sim, eu sou um egoísta desgraçado, mas eu quero ter o direito de viver intensamente com você cada um dos dias que me restam. Agora sou eu quem imploro: eu preciso de você! ㅡ ele chora copiosamente, beijando meu cabelo repetidas vezes ㅡ Eu preciso de você!

ㅡ Bennet! ㅡ envolvo meus braços ao redor do seu corpo, ainda forte, mas já imaginando que logo ele perderá toda essa massa corporal para o câncer.

Choramos juntos, abraçados no chão do quarto de um hospital; sinto cada terminação nervosa do meu corpo implorar para que eu grite, esperneie, e o obrigue a realizar a maldita cirurgia. Mas eu sei que não devo fazer isso. Por mais que seja insuportavelmente doloroso imaginar que a qualquer momento ele possa morrer em meus braços, eu não tenho o direito de obrigá-lo a realizar um procedimento que é fadado ao fracasso.

Um procedimento que pode arrancar sua vida em questão de segundos, e tirar a chance dele viver seus últimos dias feliz e com a família.

Eu não posso carregar este fardo comigo, não posso.

ㅡ Você não pode morrer! ㅡ choramingo, tentando controlar o choro ㅡ Me diz que isso tudo é um pesadelo, por favor! Brahma não pode estar fazendo isso conosco de novo! Isso não é justo!

ㅡ A vida não é justa, nunca foi. ㅡ ele puxa seu corpo levemente para trás e me olha, seus olhos vermelhos e inchados piscam repetidas vezes tentando limpar as lágrimas que continuam se formando ㅡ Mas nós podemos fazer dos meus últimos dias os melhores, minha deusa! Não quero ver você sofrendo assim...

ㅡ Isso é impossível!

ㅡ Eu sei, eu sei. Só vamos viver, esquecer que tenho essa bomba relógio em mim, e...

ㅡ Como vamos esquecer do tumor, Bennet? ㅡ aperto seu rosto entre as minhas mãos e digo, exasperada: ㅡ Ele vai tirar você de mim!

ㅡ Eu sempre serei seu, minha deusa. ㅡ ele sussurra e me puxa para um beijo rápido e molhado ㅡ Mesmo quando eu não estiver mais aqui, eu ainda serei seu.

ㅡ Ben...

ㅡ Você tem um pedaço de mim personificado no ser mais lindo e incrível de todo o planeta Terra! ㅡ quando cita Niyati, Bennet não consegue mais se conter e todo o seu corpo treme com um choro de agonia ㅡ Meu Deus, como dói saber que quando eu finalmente encontro meu lugar no mundo, tudo dá errado dessa forma!

Shiii, se acalme! ㅡ o abraço, apoiando sua cabeça em meu colo.

Ficamos assim por intermináveis minutos. Bennet com a cabeça deitada em minhas pernas, minhas mãos fazendo o movimento de vai e vem de um cafuné em seus cabelos cor de areia molhada, e o único som que chega até nós é o de pessoas andando pelo corredor do lado de fora.

ㅡ Tem uma música que eu aprendi esses dias. ㅡ a voz dele é rouca e baixa, e sinto sua mão apertando levemente a ponta do meu sari ㅡ Eu estava pesquisando algumas músicas que falam sobre... bom, sobre a morte. E me deparei com uma que não saiu da minha cabeça depois disso.

ㅡ Cante para mim. ㅡ sussurro, emocionada ㅡ Você sempre teve a voz tão bonita para cantar.

ㅡ Eu já cantei para você antes? ㅡ ele se levanta devagar, me olhando com curiosidade.

Tik, muitas vezes! ㅡ sorrio ㅡ Eu adorava.

Ele balança a cabeça, pensativo, e tateia a cama em busca do celular.

ㅡ Eu gravei ela com meu violão. ㅡ ele abre a galeria de vídeos e vira o aparelho para mim ㅡ Acho melhor ouvir essa versão gravada, minha voz não está das melhores hoje.

Concordo com um movimento da cabeça e dou play na imagem congelada da metade do rosto de Bennet com um violão preto nos braços.

Os acordes iniciais de uma música lenta começam, e me vejo sorrindo para a tela em minhas mãos. A voz de Bennet é rouca, até mesmo cantando, e seu tom grave e melodioso enche meus ouvidos com uma letra triste, com um quê de despedida.

ㅡ "O tempo está passando muito mais rápido que eu, e estou começando a me arrepender por não gastá-lo todo com você.
Agora estou me perguntando o motivo de eu manter esse sentimento aqui dentro,
Então, estou começando a me arrepender por não dizer tudo a você.
Então, se eu ainda não o fiz, tenho que te deixar saber:
Você nunca ficará sozinha de agora em diante!
Se você quiser deixar tudo ir, eu não te deixarei cair.
Você nunca ficará sozinha, eu te abraçarei até a dor passar!
E agora , enquanto eu puder, estarei aguentando isso com as duas mãos.
Porque, para sempre, acredito que não há nada que eu possa precisar além de você!
Então, se eu ainda não o fiz, tenho que te deixar saber:
Você nunca ficará sozinha de agora em diante!
Se você quiser deixar tudo ir, eu não te deixarei cair.
Quando toda a esperança se for, eu sei que você consegue continuar."

Bennet fica com a voz embargada no vídeo, e deito minha cabeça em seu ombro quando sua voz continua em meio ao choro:

- "Vamos ver o mundo lá fora, eu te abraçarei até a dor passar!
Você tem que viver cada dia como se fosse o único...
E se o amanhã nunca vier?
Não deixe isso escapar, poderia ser o nosso único dia,
Você sabe que só está começando, todos os dias, talvez o nosso único dia
E se o amanhã nunca vier?
O amanhã nunca vem!
O tempo está passando muito mais rápido que eu, e estou começando a me arrepender por não dizer tudo a você.
Você nunca ficará sozinha de agora em diante!
Se você quiser deixar tudo ir, eu não te deixarei cair...
Quando toda a esperança se for, eu sei que você consegue continuar!
Vamos ver o mundo lá fora, eu te abraçarei até a dor passar.
Estarei lá o tempo todo, eu não perderei mais um dia.
Estarei lá o tempo todo, eu não perderei mais um dia."

O violão ainda continua com alguns acordes finais, e logo o vídeo é desligado por um Bennet choroso. Continuo apoiada em seu corpo, enquanto as lágrimas teimam em cair em meu busto.

ㅡ Kali...

ㅡ Não diga nada. ㅡ sussurro, fechando os olhos na vã esperança de aplacar a dor que toma todo o meu peito ㅡ Eu preciso sentir a mensagem que essa música me trouxe.

ㅡ É linda, não é? Não consigo parar de cantá-la.

ㅡ Ela é triste, mas perfeita.

ㅡ Sim. ㅡ ele respira fundo e me abraça ㅡ Eu preciso te dizer mais uma coisa, meu amor.

Me afasto lentamente e, relutante, olho em seus olhos. Meu coração acelera, temendo uma notícia ainda pior.

E é o que acontece.

ㅡ Meus pais querem me levar de volta para os Estados Unidos.

ㅡ O quê? ㅡ minha voz é um mero sussurro.

ㅡ Eu prometi a eles que tentaria a radioterapia, para tentar evitar o crescimento do tumor e, talvez, ganhar mais algum tempo, e lá temos muito mais tecnologia e tratamentos experimentais que podem me ajudar. ㅡ o peso de suas palavras fazem minha cabeça girar ㅡ Não quero jogar nenhuma responsabilidade em cima de você, Kali, mas eu só vou se você e Niyati forem comigo.

ㅡ Bennet...

ㅡ Pode pensar, não precisa me dar a resposta hoje. ㅡ ele sorri e beija a ponta do meu nariz ㅡ Converse com Kabir, não será para sempre, afinal...

Seu olhar se fixa na parede atrás de mim, e meu coração se parte ao entender o final de sua frase.

ㅡ Não pense nisso. ㅡ limpo suas lágrimas com meu véu e lhe dou um sorriso encorajador ㅡ Vou conversar com seus pais e Kabir sobre isso, fique tranquilo.

ㅡ Obrigado.

ㅡ Não me agradeça. Agora se deite um pouco, foram emoções demais para um mesmo dia. ㅡ o ajudo a se levantar e se acomodar na cama, cobrindo seu corpo até o tórax ㅡ Tente descansar, amanhã teremos um dia cheio!

ㅡ Sério? ㅡ ele ri, com uma expressão de surpresa e felicidade ㅡ O que você está aprontando?

ㅡ Nada. ㅡ sorrio e beijo sua testa ㅡ Amanhã você vai descobrir.

Fico sentada ao seu lado até ver sua respiração ficar ritmada e profunda. Está dormindo.

Então corro para o banheiro do corredor e desabo mais uma vez.

A música que Bennet canta no capítulo se chama Never Gonna be Alone, do Nickalback. 💙

Capítulo não revisado:
CONTÉM ERROS!

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Namastê 💙

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