Capítulo 21
"Todos os dias quando acordo, a primeira coisa que faço é sentir a sua falta."
PS: Eu te amo.
O caminho para minha casa é longo e silencioso. Bennet vai no banco de trás com Niyati, que dorme profundamente por causa dos remédios pesados que toma, e Kabir vai ao meu lado, no banco do carona, enquanto dirijo o nosso carro.
Os dois não se olharam nem mesmo por um segundo, e ignoraram a presença um do outro desde que saímos do hospital.
O trânsito está intenso, o que dificulta ainda mais para suportar esse clima pesado que se instalou no veículo.
ㅡ Vocês precisam se acalmar e tentar conversar, pelo bem de Niyati. ㅡ digo, olhando para o retrovisor para trocar de faixa.
ㅡ Eu estou calmo. ㅡ Kabir reponde, emburrado ㅡ E disposto a ter uma conversa civilizada.
ㅡ Oras, me poupe! ㅡ Bennet murmura do banco de trás ㅡ Conversa civilizada? Depois do que me contou, Kabir?
ㅡ Eu era jovem e cometi um erro, eu não sabia que você era o namorado da Kali! ㅡ Kabir vira seu tronco para trás, olhando seriamente para o outro ㅡ Foi tudo uma triste coincidência!
ㅡ Neste momento eu só consigo sentir uma enorme vontade de socar essa sua cara de bom moço. ㅡ Bennet responde por entre os dentes.
ㅡ Ei! ㅡ chamo a atenção dos dois ㅡ Vocês são dois adultos! Precisam resolver os problemas com diálogos e com a cabeça fria, pelo bem da filha de vocês.
Ambos ficam em silêncio, e assim seguimos nosso caminho.
Quando chegamos, Bennet tira Niyati do carro e Kabir pega nossas malas. Ananya nos aguarda na porta, com olhos arregalados, olhando de Bennet para Kabir, e de volta para mim.
ㅡ Kali, querida... ㅡ sua voz é baixa e suave, e leio em seus olhos o que ela quer me perguntar.
ㅡ Tik, ele já sabe, Nany. ㅡ sorrio fracamente e ela aperta minha mão ㅡ Você pode nos preparar um chai, por favor?
ㅡ Tik, acabei de fritar pani puri, vou colocar na mesa para todos vocês. ㅡ ela responde e caminha para a cozinha.
ㅡ Onde a coloco? ㅡ Bennet sussurra, perdido no meio da sala, com a filha no colo.
ㅡ No quarto dela. ㅡ é Kabir quem responde ㅡ Venha comigo, irei lhe mostrar onde fica.
Os dois seguem caminho para o segundo andar da casa, quando meu celular começa a tocar. Logo atendo quando vejo que é o número da empresa.
ㅡ Alô?
ㅡ Senhora Akshay? ㅡ a voz de uma mulher soa do outro lado da linha ㅡ Aqui é Soraya, secretária do senhor Akshay.
ㅡ Ah, em que posso ajudar? ㅡ estranho a ligação da secretária de Kabir.
ㅡ Preciso confirmar a passagem aérea do senhor, mas ele não atende o telefone desde ontem, então...
ㅡ Passagem aérea? ㅡ me sento no sofá, olhando para a escada no momento exato em que os dois homens aparecem e começam a descer os degraus.
ㅡ Tik, a passagem para a Austrália. ㅡ sinto meu sangue gelar ao encarar os olhos de meu marido ㅡ Preciso que ele confirme a dele e do senhor Raaj.
ㅡ O quê? ㅡ sussurro, horrorizada, ao ouvir o nome do homem que ajudou a causar tudo isso.
ㅡ Senhora, se não for possível obter essa confirmação hoje...
ㅡ Ligue para ele agora, Soraya. ㅡ Kabir fecha os olhos, como se já soubesse o que está acontecendo ㅡ Ele irá te atender.
ㅡ Atchá, Chukriá!
Desligo a ligação e fico olhando para a tela do celular por um tempo, e ouço o telefone de Kabir vibrar em seu bolso.
ㅡ Pode atender, eu já sei da sua viagem. ㅡ digo, levantando meu rosto e encarando sua expressão de culpa.
ㅡ Eu ia te contar.
ㅡ Você vai viajar com ele? Não entendo o que você quer com isso, Kabir! ㅡ me aproximo dele, vendo Bennet sentar no sofá e assistir tudo em silêncio ㅡ Como pode fazer isso comigo?
ㅡ Você vai ficar aqui com Bennet, Kali, achou mesmo que eu ia ficar aqui e assistir minha mulher se derretendo de amores por outro homem? ㅡ ele ri, mas o riso não chega aos seus olhos escuros ㅡ Eu te amo, mas não ao ponto de me diminuir assim. Vou deixar você livre.
ㅡ E sua filha? Não pensou nela?
ㅡ Niyati é meu bem mais precioso, mas ela precisa dessa aproximação com Bennet. ㅡ ele responde ㅡ Conte a verdade a ela, não enrole e seja direta. Ela é inteligente, vai entender.
ㅡ Eu vou cuidar delas. ㅡ Bennet diz, e vejo seriedade em seu olhar ㅡ Ainda quero te socar, mas eu agradeço se você se afastar das minhas meninas por enquanto, acho que é o certo a se fazer.
ㅡ Bennet! ㅡ exclamo, olhando feio em sua direção.
ㅡ Acho que é melhor que vocês saiam da cidade, pelo menos por enquanto. ㅡ Kabir diz, olhando para Bennet ㅡ Aqui todos conhecem a família Akshay, Kali e Niyati serão muito julgadas por estarem ao seu lado.
ㅡ Kabir, não! ㅡ ele não me ouve, e continua a falar:
ㅡ Quem sabe vocês não possam sair do país também? Acho que o projeto não terá mais o apoio da empresa, já que Aarav ainda é o presidente, então vocês precisarão retomar a busca de investidores do zero. Podem fazer isso de outro lugar.
ㅡ Vamos deixar que a Kali resolva sobre isso. ㅡ Bennet responde, cruzando os braços ㅡ Aceitarei qualquer decisão que ela tomar.
ㅡ Façam como quiserem, estarei viajando por um longo tempo. ㅡ Kabir o responde e se vira para mim ㅡ Não tenho data para voltar, Maharani. Tome o tempo que precisar para decidir, e me deixe saber se vocês mudarem de endereço.
ㅡ Kabir... ㅡ choro, segurando sua mão ㅡ Marido.
ㅡ Não torne as coisas mais difíceis, Kali. ㅡ ele beija minha testa de forma demorada, e acaricia minha nuca, me fazendo sentir arrepios por todo o corpo ㅡ Basta uma ligação sua para que eu volte no primeiro avião, você sabe disso.
ㅡ Eu...
ㅡ Shiu, não chore! ㅡ ele limpa minhas lágrimas carinhosamente ㅡ É uma decisão minha, não se culpe por se permitir viver isso.
ㅡ Eu te amo. ㅡ sussurro, beijando seus lábios macios, e ele me puxa para um abraço.
ㅡ Eu também te amo, Maharani! ㅡ sua voz embarga ao me apertar ainda mais ㅡ Agora está na hora de você amar o Bennet.
Kabir me solta e caminha rapidamente para fora de nossa casa, não me dando tempo de dizer mais nada. Fico paralisada no lugar, olhando para a porta, sentindo as lágrimas caírem por meu rosto.
ㅡ Eu não queria causar nada disso. ㅡ ouço a voz de Bennet atrás de mim ㅡ Ainda posso ir embora se você quiser, Kali.
ㅡ Nahin. ㅡ sussurro, limpando meu rosto antes de virar para Bennet ㅡ Ele fez a escolha dele primeiro. Me deixar livre foi escolha dele. ㅡ repito, mais para mim mesma do que para ele ㅡ Agora eu escolho te dar uma chance.
ㅡ Okay.
ㅡ Vamos tomar um chai. ㅡ sorrio, sentindo meus olhos arderem ㅡ Quero que você conheça Ananya.
♡♡
Levamos alguns dias até Niyati se acostumar com a presença de Bennet e a ausência de Kabir. Eles se falavam por chamadas de vídeo diárias, e minha filha chorava pedindo para viajar também, querendo estar ao lado de seu baldi.
Às vezes sentia raiva de Kabir por estar causando sofrimento assim a própria filha. Ele, que tanto me implorou para não tirar Niyati dele, foi o primeiro a correr para longe dela. E, por mais que ele quisesse se manter longe de mim e Bennet, isso não era justo com uma criança que não entende o que está acontecendo a sua volta.
Bennet já havia conquistado a confiança dela, mas ainda não era a hora de contarmos sobre sua paternidade. Ele ainda tinha medo de que a nossa pequena achasse que ele estava ali para substituir seu baldi, e adiamos contar a verdade por algum tempo.
Nós ficamos cada vez mais próximos, envolvidos, ligados. Convivemos todos os dias, o dia inteiro, e eu me sentia cada vez mais encantada por ele.
Bennet fazia questão de incluir Niyati em todos os nossos planos, desde os passeios pela cidade e parques, até um simples filme na sala de casa. E realmente parecemos uma família feliz por um tempo.
Até que as pessoas começaram a virar o rosto quando me viam na rua. As crianças não queriam mais brincar com Niyati, que chorava, inconformada, sem saber o motivo de estar sendo excluída. Ananya chegou a ser expulsa do mercado de frutas em uma manhã de compras.
Então eu soube que a sociedade já sabia sobre o que estava acontecendo.
ㅡ Acho que precisaremos sair da cidade. ㅡ digo para Bennet, quando saímos de uma loja de tecidos, onde o vendedor se recusou a me atender.
ㅡ Sim, tenho que concordar.
ㅡ Treze dias. ㅡ digo, olhando para o céu carregado de nuvens escuras ㅡ Até que a notícia demorou para se espalhar, não?
ㅡ Não precisa se fazer de forte, Kali. ㅡ ele diz, enquanto atravessamos a rua rapidamente ㅡ Imagino que seja doloroso ter que lidar com o preconceito dessas pessoas.
ㅡ Tik, e é. ㅡ sorrio, olhando para seus belos olhos ㅡ Mas não me importo mais, Bennet. Não dependo mais da aprovação de baldi para viver, agora posso fazer o que eu quiser. E eu quero sair dessa cidade.
ㅡ Estarei com você em qualquer decisão que tomar.
Entramos em casa e vejo Niyati brincando de boneca no sofá da sala, enquanto Ananya borda em um sari.
ㅡ Ben, trouxe o que te pedi? ㅡ minha filha grita, animada, e corre em direção as bolsas que Bennet carrega.
ㅡ Mas é claro! Achou mesmo que eu esquecera de trazer o carro de Maya? ㅡ ele diz, tirando uma grande caixa com um carro rosa da sacola ㅡ Agora ela poderá viajar para qualquer lugar do país!
ㅡ Atchá, atchá! ㅡ a pequena bate palmas e pula de alegria.
Os dois vão brincar com o mais novo objeto, enquanto observo, com um sorriso no rosto, a cena em minha sala. Meu coração transborda de felicidade em ver como eles se dão bem, e como Niyati se entrega ao carinho de Bennet cada dia mais.
Depois do jantar, assistimos a vários filmes até tarde. Niyati dorme no sofá, com a cabeça em meu colo e as pernas por cima das pernas de Bennet. Uma cena tão típica de se acontecer nas famílias que, por um momento, esqueço de todos os meus problemas e me permito apenas relaxar. Sorrio ao reparar na chuva que cai lá fora, fazendo um leve barulho ao se chocar contra o vidro das janelas, e esqueço do filme que continua a passar na televisão.
Sair da cidade e começar uma vida do zero não será fácil, mas não posso permitir que minha filha cresça em um lugar onde as pessoas amaldiçoam o seu nascimento, e desejam apedrejar sua mamadi. Os costumes aqui são levados muito a sério, e o fato de todos saberem que um estrangeiro visita frequentemente a minha casa, quando meu marido não se encontra, coloca minha vida e a de minha filha em risco. E, a esta altura, aposto minhas rúpias que todos já sabem sobre a paternidade dela.
ㅡ Bennet... ㅡ chamo, ainda olhando para a janela.
ㅡ Sim?
ㅡ Eu quero me mudar, mas não quero sair da Índia. ㅡ viro meu rosto e vejo um olhar compreensivo nele.
ㅡ Jamais pediria para você sair do seu país. ㅡ ele diz, baixinho, fazendo carinho em minha cabeça ㅡ Fique tranquila quanto a isso, Kali, eu vou para onde você quiser.
ㅡ Chukriá. ㅡ sussurro ㅡ Pode levar Niyati para o quarto? Vou levar esses potes para a cozinha.
Ele faz sim com a cabeça e pega nossa filha no colo. Empilho nossos potes de pipoca e os copos de suco para levar até a cozinha.
Quando já estou voltando, vejo Bennet sentado no alto da escada, com os cotovelos apoiados nos joelhos, e as mãos sob a mandíbula. Subi alguns degraus até parar de frente para ele, que me olha com seus olhos azuis brilhantes.
ㅡ Houve alguma coisa? ㅡ murmuro, ajeitando alguns fios de seu cabelo que estão para o alto.
ㅡ Niyati me chamou de baldi. ㅡ sinto todo o meu corpo congelar ㅡ Mas, na verdade, acho que ela quis chamar pelo Kabir, e confundiu por causa do sono.
ㅡ Ah, Bennet! ㅡ sussurro, acariciando seu rosto ㅡ Nós devemos contar para ela. Já está na hora.
ㅡ Vamos sair da cidade primeiro. ㅡ ele diz, abrindo os braços e me puxando para mais perto, me fazendo ficar entre suas longas pernas ㅡ Vou falar com meus pais, eles estão fazendo campanha hospitalar em uma vila ao norte daqui, talvez possamos ficar por lá, pelo menos por enquanto.
ㅡ Atchá, eu acho ótimo. ㅡ sinto meu coração acelerar com a nossa proximidade.
Mesmo convivendo diariamente, ainda não chegamos a nos beijar; apenas nos abraçamos e nos tratamos de forma carinhosa, mas sempre me afastei quando percebia que estávamos caminhando para esse ato.
Mas não agora.
Passo meus braços por seu pescoço, e vejo Bennet arregalar seus olhos levemente, antes de enlaçar minha cintura.
ㅡ Kali, eu...
ㅡ Não diga nada. ㅡ sussurro, já sentindo seu hálito contra meus lábios ㅡ Eu quero te beijar.
ㅡ Meu Deus, eu estou ansioso por isso.
Coloquei meus lábios nos seus de maneira suave, apenas para testar a sensação de beijar sua boca depois de tantos anos. Mas meu corpo logo se lembra da explosão de calor que sempre fomos juntos.
Bennet me puxa para ainda mais perto quando me aprofundo no beijo, nossas línguas se entrelaçando, testando os movimentos, até entrar na mais perfeita sincronia.
E aí o mundo explode em milhões de pedacinhos em minha cabeça.
Logo minhas mãos estão apertando seus cabelos, da maneira como ele gostava, e sinto um arrepio de satisfação quando um gemido baixo escapa do fundo de sua garganta.
Aí está o meu Bennet!
Suas mãos logo estão em minha cintura e quadril, me apertando fortemente. E quando sua pele toca as minhas costas sob o sári, é como se fôssemos aquele casal apaixonado de anos atrás, e nosso beijo fica ainda mais ardente, exigente, me causando uma sensação de reconhecimento imediato.
Meu coração bate loucamente em meu peito ao explorar seu tórax com minhas mãos trêmulas e encontrar seu abdômen ainda definido. Bennet estremece sob meu toque, e se afasta de meus lábios para beijar meu queixo e pescoço.
ㅡ Isso é normal? ㅡ ele pergunta, ofegante, enquanto beija uma parte sensível de meu pescoço me causando arrepios ㅡ Kali, isso é tão…
ㅡ Bom? Quente? ㅡ sussurro, puxando sua cabeça para trás e olhando em seus olhos embriagados pela paixão ㅡ Nós éramos assim, Ben, e pelo jeito nada mudou.
ㅡ Eu queria tanto me lembrar! ㅡ ele choraminga, voltando a beijar meus lábios de forma doce, porém sensual ㅡ Eu quero ser o mesmo Bennet que você conheceu, Kali.
ㅡ Não se preocupe com isso, sua essência não mudou. ㅡ beijo seu nariz e sorrio ㅡ Vamos criar novas memórias, ainda melhores, te garanto.
ㅡ Obrigada por me dar essa chance.
Nos beijamos e conversamos a noite inteira, e, quando o sol nasceu, ainda em meio a garoa do fim da madrugada e início da manhã, eu já tinha uma certeza em meu coração: a de que eu estava completamente entregue a Bennet Huxley.
E me senti a pior mulher do mundo ao perceber que meus pensamentos logo me lembraram de Kabir, e meu coração se pesou de culpa e saudade.
Baguan Keliê!
Eu, definitivamente, amava dois homens.
Capítulo não revisado:
CONTÉM ERROS!
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