Capítulo 20
"Eu sei que, em alguma parte dessa cidade pela qual ando só, você respira.
E isso me basta."
Replay - Marc Levy
As mãos de Abigail mantém um afago ritmado em minhas costas e cabelo, enquanto estou deitada em seu colo, ainda no chão. Ela fica cantarolando uma música o tempo todo, e sua voz calma e doce faz meus músculos tensos relaxarem. As minhas lágrimas caem sem cessar em sua calça jeans, mas ela não se importa; ela só fica aqui, cantarolando e me ninando, como uma mãe faria.
Eu bati em minha mamadi.
Eu bati na mulher que me colocou no mundo.
O medo do carma toma cada parte do meu corpo, e peço aos deuses, mentalmente, perdão por meu ato impensado.
Que minha filha nunca faça isso comigo, Baguan Keliê!
Uma enfermeira entra na sala e se ajoelha ao lado de Abigail, sussurrando algo em seu ouvido, enquanto a médica apenas balança a cabeça em concordância.
ㅡ Kali, querida, precisamos cuidar do machucado em seu lábio. ㅡ ela diz, sua voz mansa e carinhosa ㅡ Também precisa colocar gelo no seu olho.
ㅡ Eu não quero. ㅡ sussurro ㅡ Eu mereço ficar assim.
ㅡ Não diga um absurdo desses! ㅡ Abigail me aperta ㅡ Você é a maior vítima nessa história!
ㅡ Eu não podia ter feito isso. ㅡ choro, me levantando do seu colo ㅡ Ela é minha mami, eu não podia...
ㅡ Vocês chegaram ao extremo, Kali, mas sua mãe não é uma santa perfeita enviada por Deus! ㅡ ela diz, enxugando minhas lágrimas ㅡ Não fique se martirizando por isso!
Concordo, balançando a cabeça, e solto um gemido de dor quando ela me ajuda a ficar de pé. Minhas costelas doem, onde baldi me chutou, e sinto meu olho direito menor que o esquerdo.
ㅡ Isso dói! ㅡ exclamo, tocando meu lábio cortado ㅡ Onde está Kabir?
ㅡ A enfermeira me disse que ele foi atrás do seu pai. ㅡ ela diz, enquanto saímos da sala ㅡ Provavelmente ele não sabe o que aconteceu. E sua mãe foi colocada em um táxi pela equipe de segurança, então fique tranquila.
ㅡ Atchá. ㅡ murmuro.
Caminhamos calmamente até a sala de enfermaria, e Abigail cuida de mim por longos minutos. Outra profissional a ajuda, lhe entregando algodão embebido em remédio e colocando uma bolsa gelada em meu olho inchado e roxo.
Quando chego ao quarto de Niyati, ela já dorme tranquilamente.
Bennet pula da poltrona e corre em minha direção, me olhando com o semblante assustado.
ㅡ O que aconteceu, Kali? ㅡ sua voz é urgente, mas se mantém baixa para não acordar Niyati.
ㅡ Mamadi. ㅡ digo, segurando o choro.
Bennet me ajuda a sentar e se ajoelha entre minhas pernas. Ele pega a bolsa de gelo da minha mão e a afasta de meu olho, trincando os dentes ao ver como está roxo e completamente fechado.
ㅡ Meu Deus! Por que ela fez isso?
ㅡ Contei sobre a paternidade de Niyati. ㅡ sussurro, sentindo minha garganta fechar pelo choro.
ㅡ E ela te bateu por isso? ㅡ ele exclama, incrédulo.
ㅡ Eu bati nela primeiro.
ㅡ Como? ㅡ sua confusão momentânea me faz ter vontade de rir.
ㅡ Eu dei o primeiro tapa. ㅡ sorrio quando sinto as lágrimas voltarem a cair ㅡ Eu bati em minha mamadi.
Começo a rir, em pura histeria, e minha visão embaça com o choro. Bennet me abraça quando percebe meu estado deplorável, e me aperta tão forte que preciso apertá-lo de volta para aliviar a dor.
ㅡ Ah, minha menina ㅡ ele murmura contra o meu pescoço ㅡ, mais uma vez você sofrendo por minha causa.
ㅡ Não diga isso. ㅡ sussurro em seu ouvido, sentindo meu peito apertar.
ㅡ Me perdoa, Kali! ㅡ ele se afasta e vejo as lágrimas escorrendo por seu rosto ㅡ Me perdoa por te causar tanto sofrimento!
ㅡ Ei! ㅡ enxugo seu rosto ao mesmo tempo em que ele segura a bolsa contra meu olho ㅡ Não é culpa sua! Brahma me escolheu para passar por isso, e não faço ideia do motivo, mas sei que ele sabe o que faz.
Ele me olha por longos segundos, examinando cada parte do meu rosto, seus olhos vermelhos pelo choro que não para.
ㅡ Eu ouvi sua conversa com Kabir. ㅡ ele confessa, em um sussurro trêmulo.
ㅡ Are Baba!
ㅡ Por que ele quer fazer isso, Kali? Por que sair de campo para me dar uma chance? ㅡ ele tira a bolsa do meu olho e encosta levemente em meu lábio cortado ㅡ Eu não entendo... Ele não te ama?
ㅡ Eu não... ㅡ fecho os olhos respirando fundo ㅡ Ele me ama.
ㅡ Então...
ㅡ Ele me ama, Bennet, mas ele quer me dar a chance de escolha. ㅡ digo, com a voz embargada ㅡ Eu não sei como te explicar...
ㅡ E você quer? ㅡ ele questiona, colocando alguns fios de cabelo atrás de minha orelha ㅡ Quer ter escolhas, Kali?
ㅡ Eu já não sei. ㅡ sussurro, e sinto minha pulsação acelerar com essa confissão ㅡ Eu estou confusa com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
ㅡ Bom, pelo menos isso não é um não. ㅡ ele sorri ㅡ Mas eu não estou aqui para acabar com seu casamento, essa nunca foi minha intenção.
ㅡ Eu sei. ㅡ murmuro, calando sua boca com dois dedos meus ㅡ E Kabir também sabe. Ele tem os próprios motivos para isso, mas a escolha é minha. Sou eu quem deve decidir o que quero.
ㅡ Eu conheço Niyati há poucos dias, mas eu quero ser um pai para ela, Kali. ㅡ Bennet acaricia meu rosto lentamente ㅡ E se eu tiver a sorte de ter você ao meu lado, eu ficarei imensamente feliz. Mas se você tiver que terminar seu casamento com Kabir, que não seja por mim, por favor. Não quero ser o responsável por destruir a família de minha filha.
ㅡ Ah, Bennet! ㅡ sorrio e choro ao mesmo tempo ㅡ Você ainda é o mesmo menino doce e gentil que eu conheci.
ㅡ Ouvir isso me alegra.
Sorrimos um para o outro e passamos o restante da noite conversando em sussurros; ele me contando da experiência que viveu ao acordar com a mente completamente em branco, e eu tentando dar cor a sua vida contando sobre tudo que consegui lembrar do crescimento de Niyati.
♡♡
Os dias que seguiram foram de pura rotina no hospital. Minha filha fazia exames diariamente, várias vezes ao dia, e nós sempre ficamos ao seu lado tentando distrair sua mente do fato de que baldi e mamadi não apareceram para visitá-la.
Bennet e Kabir estão mais próximos um do outro, e fico cada vez mais confusa em relação aos meus sentimentos.
Pode um amor do passado chegar tão de repente assim, abalando toda a nossa estrutura?
Como discernir se é realmente amor ou apenas saudade? Ou culpa?
Cada vez que vejo o sorriso de Bennet sinto borboletas no estômago, e minha pele anseia por seu toque. Mas também sinto meu coração doer com saudade de Kabir.
Baguan Keliê, o que será da minha vida?!
ㅡ Kali, já estamos prontos. ㅡ Kabir chama minha atenção, e o vejo me olhando de forma curiosa ㅡ Sua mente estava longe, ham, Maharani.
Rio, sem graça, e me levanto da cadeira.
ㅡ Não estava não. ㅡ olho para a cama onde Niyati dorme tranquilamente com Bennet ao seu lado ㅡ Estava bem aqui.
ㅡ Certo. ㅡ ele sorri ㅡ Vou levar as malas para o carro, já volto para buscar vocês.
ㅡ Tik.
Niyati recebeu alta alguns minutos atrás, e arrumamos tudo o mais rápido possível para irmos embora logo.
Bennet está velando o sono de minha pequena, e faz um cafuné em seus fios de cabelo espalhados pelo travesseiro.
ㅡ Você é bem vindo em minha casa, Bennet. ㅡ digo, apoiando minha mão em seu ombro ㅡ Todos os dias, a qualquer hora.
ㅡ Obrigado por isso, mas eu prefiro deixar as visitas pré-agendadas com vocês. ㅡ ele diz, virando-se para me olhar ㅡ Aparecer todos os dias pode acabar causando brigas entre você e Kabir, e não vou abusar da simpatia dele.
ㅡ Kabir saiu de casa. ㅡ digo, em um rompante, e Bennet arregala levemente os olhos ㅡ É... ele quis assim. Para me dar espaço para decidir. Então não haverá problemas, fique tranquilo.
ㅡ Mas você quer mesmo isso, Kali? ㅡ ele se levanta e nossos corpos ficam tão próximos que sinto sua respiração pesada em meu rosto ㅡ Você tem dúvidas sobre seu sentimento por Kabir?
ㅡ Não, nenhuma dúvida. ㅡ respondo, ofegante ㅡ Minha maior dúvida é sobre o que eu sinto por você, Bennet. Eu não posso ter sentimentos por dois homens ao mesmo tempo, isso não é certo. Não é justo com você, e não é justo com Kabir.
ㅡ Eu entendo. ㅡ ele diz, cabisbaixo ㅡ E eu acho melhor você continuar firme em seu casamento.
ㅡ O quê?
ㅡ Eu não sou o Bennet que viveu dias de paixão com você, Kali. O que você vê é uma casca do que fui. Seus sentimentos estão confusos pelo que sou por fora, a imagem que te traz lembranças dolorosas.
ㅡ Nahin, não é isso...
ㅡ É sim, acredite. ㅡ ele limpa minhas lágrimas e beija minha testa ㅡ Veja os dias em que posso buscar Niyati para passear, minha mãe a buscará em casa.
ㅡ Bennet, não, você...
ㅡ Eu não quero nada com você. ㅡele me diz, dando um passo atrás ㅡ Quero apenas ser pai de Niyati.
ㅡ Eu... É... ㅡ balbucio, sem entender, e vejo Kabir aparecer na porta do quarto.
ㅡ Você é um péssimo mentiroso, Bennet. ㅡ ele ri, de maneira amarga ㅡ Reconheço um blefe mal feito de longe.
ㅡ Kabir, eu nunca quis...
ㅡ Eu sei, sou eu quem estou deixando a Kali livre. ㅡ meu marido diz e me olha, seu olhar ao mesmo tempo triste e carinhoso ㅡ Eu sei que minha Maharani me ama, assim como eu a amo. Mas ela também te ama, Bennet.
ㅡ Kabir! ㅡ exclamo, dando um passo em sua direção.
ㅡ Você foi arrancado da vida dela de uma forma tão brusca e desleal, que ela não deixou de te amar, apenas substituiu o amor por ódio. ㅡ ele coloca suas mãos nos bolsos e encosta no batente ㅡ E agora... Bum! Voltou tudo de uma vez, e a única coisa que posso fazer é deixá-la te amar.
ㅡ Por quê? ㅡ Bennet diz de forma alterada ㅡ Eu preciso entender! Porque se fosse comigo, eu jamais deixaria Kali para outro homem!
ㅡ Porque eu estava lá. ㅡ Kabir sussurra, contendo as lágrimas.
ㅡ Marido, não! ㅡ me aproximo, segurando em sua blusa e sacudindo ㅡ Pare de se machucar por isso!
ㅡ Estava aonde? ㅡ a voz de Bennet é desconfiada, cada vez mais perto.
ㅡNo dia do seu atropelamento. ㅡ a voz de Kabir é sem vida, apenas uma constatação ㅡ Eu estava dentro do carro que te atropelou, Bennet.
ㅡ Baguan Keliê, Kabir! ㅡ sussurro, encostando minha testa em seu peito, sentindo como seu coração está acelerado.
ㅡ Você... Como? Tinha apenas um homem no carro, e ele não tem o seu nome. ㅡ Bennet parece transtornado.
ㅡ Eu estava de carona com Raaj. ㅡ ao ouvir esse nome Bennet fica pálido ㅡ Estávamos rindo e falando de garotas, havíamos bebido, como o exame dele constatou, e não vimos você atravessando a rua.
ㅡ Meu Deus!
ㅡ Fui eu quem convenci Raaj a fugir do local do acidente.
Leva alguns segundos para Bennet entender o que Kabir acaba de confessar, e então ele parte para cima dele.
Consigo segurar Bennet poucos centímetros antes dele socar o rosto de Kabir. Meu corpo se choca com o seu, o impedindo de chegar a porta, e ele leva a mão em punho para longe de mim rapidamente.
ㅡ Não faça isso! ㅡ digo, abraçando seu tórax, enquanto ele fecha os olhos, tentando se controlar.
Empurro seu corpo para trás, devagar, ainda abraçada a ele, e sinto seus músculos tremerem com a força que faz para não me tirar de seu caminho.
ㅡ Você! ㅡ Bennet chora, trincando os dentes ㅡ Por que fez isso comigo?
ㅡ Eu era jovem, Bennet, não podia me envolver com a polícia, por favor, me perdoe! ㅡ Kabir chora, com as duas mãos no rosto.
ㅡ Ser jovem não é desculpa para cometer crimes! ㅡ Bennet responde ㅡ Foram aqueles minutos em que fiquei agonizando na calçada, sozinho, que me fizeram ser esse livro em branco que sou hoje!
ㅡ Bennet, se acalme, por favor! ㅡ aperto seu corpo quando ele tenta avançar mais uma vez em Kabir.
ㅡ E você ainda ficou com a minha mulher e minha filha! ㅡ Bennet ri, incrédulo ㅡ Meu Deus, isso só pode ser uma piada do destino!
ㅡ É por isso que eu vou me retirar, deixar a Kali livre para escolher. ㅡ Kabir seca as lágrimas e respira fundo ㅡ Eu não sabia que era você, Bennet, só soube no dia do baile da empresa, eu juro!
ㅡ Suas juras não me servem de nada, Kabir.
Bennet vira seu rosto para mim, chamando minha atenção. Meus braços ainda estão ao redor de sua cintura, apertando fortemente. Então sinto os seus braços fortes me envolverem em um abraço de urso, tão quente e protetor que me faz sentir uma leve falta de ar.
ㅡ Esqueça o que falei sobre ser apenas pai de Niyati. ㅡ ele diz, seus olhos extremamente azuis brilhando para mim ㅡ Eu quero você, Kali. Eu quero o pacote completo! ㅡ ofego com sua fala e sinto um calafrio passar por meu corpo ㅡ Estou disposto a recuperar tudo que foi arrancado de mim. ㅡ sua voz embarga, e as lágrimas caem por seu rosto ㅡ Você vai me dar essa chance?
Quando olho para a porta Kabir está sério, mas apenas balança a cabeça que sim, e sai em seguida.
ㅡ Kali. ㅡ Bennet chama minha atenção, e me viro, olhando em seus olhos ㅡ Eu não quero que você se sinta pressionada a pagar alguma penitência pelo que Kabir fez. Se for por isso, não precisa se dar ao trabalho...
ㅡ Eu quero. ㅡ sussurro, engolindo com dificuldade ㅡ Eu quero tentar, Bennet.
ㅡ Tem certeza? ㅡ ele sussurra de volta, olhando para os meus lábios de forma faminta, sedenta.
ㅡ Que Brahma tenha piedade de mim, mas sim. ㅡ digo, envolvendo seu pescoço com minhas mãos ㅡ Eu tenho certeza.
ㅡ Então vamos para casa. ㅡ ele sorri em meio às lágrimas, beijando a ponta do meu nariz.
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