🔥CAPÍTULO 15🔥
UM... AMIGO?
— Enfim chegamos, já não aguentava mais — resmungou Scarlett, saindo da limousine e deixando seus cabelos platinados voarem com o amanhecer. — Espero que o papi tenha escolhido uma boa casa de praia.
— S-Seja qual for... — Hannah se posicionou ao lado da irmã, pronunciando-se timidamente – que ele tenha escolhido, vai ser lindo. Estamos no Havaí, pessoal, tudo aqui é maravilhoso – finalizou gentilmente.
— Hannah está certa, só de estarmos aqui já é maravilhoso — comentou Nicolas, correndo até a moça de pele negra e abraçando-a por trás. — Não concorda, Scott? — perguntou com seu típico sorriso, olhando para ele mais atrás.
Obviamente, Collins apenas bufou e revirou os olhos, sem responder. Juntos, acompanharam o motorista, que seguia à frente, levando-os até a casa onde ficariam. Não era longe. Ao chegarem, o motorista os deixou ali, prometendo trazer todos os pertences do grupo mais tarde. De toda forma, os quatro arregalaram os olhos, ficando boquiabertos; Scott, no entanto, menos que os outros. De fato, Hector fizera uma boa escolha.
A casa era belíssima, localizada no meio de uma enorme praia. Tinha dois andares, com uma pequena escada na entrada. No interior, as cores eram simples: marrom-claro nas paredes, com detalhes ainda mais claros e quadros espalhados, além de várias pinturas, fruto dos antepassados dos Campbell. Os objetos tinham tonalidades brancas e pretas, harmonizando com o ambiente de forma coesa.
No primeiro andar, havia a cozinha, a sala de estar — decorada com requinte, repleta de eletrodomésticos caros o suficiente para pagar um ano de trabalho do motorista da família Campbell — e alguns quartos mais simples. Já no segundo andar, o destaque eram os quartos, seis ao todo, visualmente superiores aos do primeiro andar. Hector parecia fazer questão de que esses quartos fossem destinados às visitas, enquanto os do andar de baixo serviriam aos empregados. Um exemplo disso era que todos os seis quartos do segundo andar tinham suíte; já os dois quartos do primeiro andar mal contavam com um armário.
Os seis aposentos no andar superior tinham uma tonalidade mais clara que a sala e estavam decorados com flores. Os travesseiros eram macios e confortáveis, de primeira qualidade. E a vista, de frente para a praia, era espetacular. Já os quartos do primeiro andar... eram apenas aposentos, nada mais. Havia ainda a parte de trás da casa, dedicada especialmente a atividades ao ar livre, como um churrasco entre amigos. Afinal, Hector queria proporcionar uma experiência única e inesquecível a quem se hospedasse ali.
— Para quê tantos quartos? Eu, hein... — comentou Scarlett, observando os aposentos do segundo andar.
— Você é chata, hein — respondeu Scott friamente, após entrar em um dos quartos e analisar o ambiente. — Hum, já escolhi o nosso. Vai ser esse, Scarlett — chamou pela loira, saindo do quarto.
— Por mim, tanto faz – disse ela, aproximando-se e dando de ombros. Mas logo seu tom mudou. – Ei... Scott...
– Ah, lá vem você...
– Não, não é isso! — Ela levantou as mãos à altura do peito, como se se defendesse. — Só queria sugerir que esquecêssemos nossos episódios anteriores. Nossa discussão na sua casa, o que aconteceu na cerimônia de casamento... Bom, ao menos enquanto estivermos aqui. Afinal, é a nossa lua de mel, e, bem ou mal, temos que aproveitá-la.
— Hm, quem é você e o que fez com a Scarlett? — indagou Scott, franzindo o cenho e cruzando os braços, desconfiado.
— É sério, poxa... Só pensei que pudesse ser o melhor para ambos.
Scott suspirou e balançou a cabeça em negação, mas deu alguns passos lentos na direção dela. Scarlett não entendeu a aproximação. Mesmo com seu semblante frio e impassível, ele parou a poucos centímetros dela, fitando os lábios finos e rosados de sua esposa. Sem perceber, o coração de Scarlett começou a bater mais rápido, enquanto suas maçãs do rosto ruborizavam. Afinal, por que ele estava tão perto?
Sendo ainda mais surpreendida, Scott selou seus lábios nos da moça por alguns segundos, mas logo os separou, voltando a fitá-la nos olhos. Scott permanecia o mesmo, frio, como se seus olhos fossem a noite mais escura e gélida, enquanto os de Campbell brilhavam como uma esmeralda jamais vista. Aquele contato visual foi intenso, especialmente para eles, naquela situação. Não disseram uma palavra sequer; não era necessário. Afinal, Scott nunca foi de falar.
— Não me faça me arrepender disso, peste.
— Eu n-não estou pedindo para você fazer n-nada. — Desajeitada, ela não conseguia nem desviar o olhar, respondendo trêmula. — Você não p-precisa...
— Só cala essa boca por um minuto.
Scott, então, a beijou novamente, enquanto levava uma das mãos até o pescoço da mesma, segurando-a por debaixo das madeixas claras. Em um movimento rápido, puxou-a para si, aproximando seus corpos. Ela, então, foi abrindo lentamente a boca, permitindo a entrada da língua de seu marido. Não que fosse necessário ele pedir, pois invadiu a boca de Scarlett, entrelaçando suas línguas de forma fervorosa.
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— Olha só essa sala de estar, caramba! — exclamou o loiro, animado, ao entrar no cômodo. — Só aquela televisão já paga tudo o que tem no meu quarto. — Brincou, dando alguns passos à frente. — Seu pai não estava brincando quando escolheu este lugar, hein.
— E-Ei, N-Nicolas... — Tímida, ela o seguia de perto, mas ele continuava focado em admirar o ambiente. — E-Ei... — Chamou novamente, sem sucesso.
— Hm? — Nicolas parou quando sentiu uma mão suave segurar seu braço. — Hannah? O que foi?
— Durante o voo, no avião... V-Você... — Ela começou, enquanto ele se virou para ela, mas parou de falar e desviou o olhar. Depois de alguns segundos, voltou a encará-lo, balançando a cabeça. — N-Não é nada, desculpa.
— Acabamos de nos casar, mas conheço um pouco de você. — Colocou as mãos atrás da cabeça, sorrindo de forma descontraída. — Você parece ser uma péssima mentirosa, gatinha.
— Eu s-só estou... com fome, juro. — Negou com a cabeça e as mãos, esboçando um sorriso frágil. — V-Vem conhecer a cozinha comigo? — Pegou na mão dele, guiando-o até a cozinha.
Nicolas não disse mais nada, apenas ficou confuso com o que acabara de acontecer. O que Hannah queria dizer, mas desistiu de última hora? Ela mencionou o voo, então foi algo que aconteceu durante ele? Só havia uma coisa que aconteceu naquele período em que estavam no avião... "Jesus, Maria e José!" Pensou Nicolas, suando frio. Ela só poderia estar se referindo aos momentos íntimos que ele teve com Scott, tarde da noite.
"Mas como? Ela não estava dormindo?" A cabeça do loiro parecia que ia explodir a qualquer instante, com tantas suposições. O casamento mal havia começado, e se ela já descobrisse aquele segredo... tudo poderia acabar.
"Eu e o Scott precisamos ser mais cautelosos, que droga", continuou refletindo, enquanto Hannah lhe mostrava cada detalhe da cozinha. Mesmo que, por dentro, Nicolas pouco se importasse com aquele ambiente. Mas, obviamente, não deixaria transparecer seus sentimentos ou preocupações.
Não demorou para que Hannah começasse a mexer na geladeira, preparando o café da manhã dos dois. Nicolas permaneceu ao seu lado o tempo todo, auxiliando-a no que fosse necessário, sem tirar o sorriso impecável dos lábios.
— SCOTT, SCARLETT! — Nicolas correu até a escada, chamando o outro casal aos gritos. — A Hannah está terminando de preparar nosso café da manhã, vamos estrear a cozinha! — Ainda aos berros, percebeu que não obteve resposta dos dois. — OLHA SÓ, SE NÃO VIEREM, VOU COMER TUDO SOZINHO! E não duvidem, eu só sou magro de ruim.
Nicolas só não sabia que o casal estava tendo seu momento romântico.
— Miller, seu seco — em um rápido segundo, Scarlett apareceu no topo da escada — eu vou te matar! – Sua expressão estava diferente, beirando o maníaco. Ela levantou um dos punhos, mirando-o.
— O q-quê eu fiz? — Assustou-se ao vê-la com aquela expressão e deu uns passos para trás, tomado pelo medo.
— Quando eu te socar, você vai saber rapidinho. — Sem demorar, a moça desceu as escadas em passos rápidos, correndo na direção de Nicolas, que apenas começou a correr para longe.
— SOCORRO, HANNAH, SUA IRMÃ FICOU MALUCA!!! — gritou em pânico, enquanto fugia de Scarlett.
— MALUCA? — gritou de volta. — Ah, meu Deus, agora que eu te mato mesmo!
Hannah apareceu no corredor e soltou risadas genuínas, pois sabia que aquela era a maneira que eles tinham encontrado para se entrosarem. Mas logo olhou na direção da escada, vendo Scott descê-las. O moreno se aproximou e entrou na cozinha, oferecendo ajuda. Hannah aceitou, e juntos foram terminando o preparo da refeição. Durante aquele momento, permaneceram em silêncio, sem trocarem um diálogo.
Porém, Hannah quebrou o gelo.
— É... S-Scott... — Chamou a atenção dele, enquanto terminava de colocar os copos na mesa. – Sobre aquela nossa c-conversa... no avião...
— Não se preocupe, está tudo bem — respondeu, frígido, colocando os pratos perto dos copos que ela havia deixado.
— N-Não, eu nunca falei daquele jeito com n-ninguém... Não sei o que me deu na cabeça. Quando eu me d-dei conta, tudo aquilo já tinha saído da minha boca. Realmente... sinto muito, não queria ter falado tudo aquilo.
— Sou eu que devo que me desculpar. Fui eu quem começou com aquilo. Então — colocou o último prato e virou-se para ela, pousando uma mão em um de seus frágeis ombros — me desculpe.
Sua voz saiu como um vento gelado e cortante, mas que naquele instante não machucou. Pelo contrário, Hannah gostou do que ouviu e ficou bastante surpresa, não esperando aquela reação. Seus olhos arregalaram-se, mas logo sua expressão mudou, esboçando um sorriso.
— Agora, enquanto você termina aí, vou chamar aqueles dois patetas, antes que eles realmente acabem se matando. — Sem mais delongas, ele foi até a saída da cozinha, mas ouviu quando ela o chamou de novo. — Eu sei, essa conversa também nunca existiu.
Ele jogou a cabeça para trás, fitando-a. Por fim, apenas piscou.
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— Você vai correr atrás de mim até quando? Já estamos do lado de fora, aqui na areia da praia! – exclamou, ainda correndo pela areia, com o medo incessante de Scarlett, que permanecia furiosa.
— Até eu te deixar mais seco do que você já é! — Prosseguiu atrás dele.
— Eu não sabia que essa areia estaria tão quente — disse, olhando para baixo. — Ai, meus pobres pezinhos!
— Então para e descansa um pouco.
— Boa ideia, Scarlett. — Ao ouvir a sugestão dela, ele parou debaixo de um coqueiro, onde havia sombra. Abaixou o tronco e apoiou as mãos nos joelhos, ofegante e cansado de tanto correr. Fechou os olhos por alguns segundos, mas, quando se deu conta, os abriu rapidamente de novo. Viu Scarlett bem na sua frente, com um rosto que esboçava uma sede de vingança e ódio, além daquele sorriso maléfico. — AAAAHHH! — gritou, talvez sendo o seu último grito, ainda vivo.
Scarlett apenas pulou em cima dele, derrubando-os na areia. Ele tentou fugir, arrastando-se, mas não adiantou. A loira platinada continuou a puxá-lo. Em meio àquela situação nada favorável para Miller, seu salvador apareceu para ajudá-lo naquele momento que poderia ser de vida ou morte; mais de morte.
— Terminem de se matar depois. Agora entrem, para comermos — falou ríspido, de braços cruzados, aparecendo ao lado deles.
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— Kevin? — Laura indagou, surpresa por vê-lo ali logo tão cedo.
A loira entrou naquele quarto de hospital com algumas sacolas e um buquê de flores nas mãos. Deixou as sacolas na pequena mesa ao lado da porta e foi trocar as flores de um vaso de vidro que estava perto da cama de Ivy. Jogaria as flores mortas fora para colocar as novas.
Enquanto isso, Kevin permaneceu sentado no sofá de frente para a cama de Ivy, sem tirar os olhos dela nem por um segundo.
— Desde o dia em que a Ivy ficou nesse estado, eu chego neste hospital assim que amanhece, mas eles só me deixam entrar no horário de visita.
— Então, como conseguiu hoje?
— Fiz mais birra que o normal. Parece que fazer o número dois nas calças, de tanto nervosismo, é algo novo para eles.
— Meu Deus! Então a calça em que você está sentado aí...
— Não, eu fui em casa trocar depois que eles aceitaram que eu entrasse. Moro aqui perto, de qualquer forma. — Ao falar, os dois riram baixo, enquanto Laura terminava de colocar as flores novas no vaso. — Mas e você? Eles deixam você entrar aqui a essa hora? Deve ser umas sete horas ainda.
— Nada que umas chantagens não resolvam. Sou a chefe de uma grande empresa de paparazzis, o que eu mais tenho na manga são furos de todo tipo de gente fazendo burrada. — Brincou.
Por fim, foi até ele e sentou-se ao seu lado. Ambos ficaram apenas fitando o corpo desacordado de Ivy sobre aquela cama. Um silêncio um tanto incômodo, principalmente para duas pessoas que sempre gostaram de falar, conversar, dialogar. Porém, Laura conhecia bem aquele trio: Ivy, Kevin e Silas. Foi ela quem os juntou em uma mesma equipe, pois sabia do passado deles e da ligação que criaram desde cedo.
Por serem tão próximos, achou que seria um desperdício não os reunir quando percebeu que, coincidentemente, os três resolveram seguir a mesma profissão. E, dos três, Kevin sempre foi o mais emotivo.
— Ela tem alguns momentos em que fica acordada, isso é um bom sinal, Kevin. É motivo para ficarmos felizes.
— E mesmo que ela acorde, quem garante que aqueles dois desgraçados não voltem para terminar o trabalho?
— Continua nisso? A Ivy vai ficar bem, você tem que confiar.
— E quanto ao Silas, Laura? — Com as mãos nos joelhos, fitou a chefe ao seu lado, com os olhos marejados. — Eles eram os meus melhores amigos, e, num piscar de olhos, fiquei sem eles. Não consigo acreditar que o Silas realmente morreu. — Voltou a fitar Ivy. — Eu não posso perdê-la também. Eu não... posso, vai ser demais para mim.
— Eu entendo, mas é por isso que estou te dizendo para ficar tranquilo. Nem eu, nem você, vamos perdê-la. — Apoiou a mão no ombro dele, tentando reconfortá-lo. — E eu sinto muito pelo que aconteceu com o Silas. Saiba que eu me arrependo muito de não ter escutado vocês desde o início. Não tem um dia que eu não pense nisso e me sinta culpada.
— Laura... — Kevin a fitou, surpreso por vê-la assim. Sua chefe não era exatamente o tipo de pessoa que costumava dar o braço a torcer. — Você não tem culpa de nada. Nenhum de nós tem. Os únicos culpados são aqueles dois, e você sabe disso.
A loira abriu um sorriso esperançoso, concordando com a cabeça. Um pouco menos desanimado, Kevin assentiu também. Em seguida, levantou-se e aproximou-se da cama de Ivy. Devagar, encostou os dedos de uma mão entre os fios negros da mulher asiática, enquanto segurava uma das mãos dela com a outra.
Sem perceber, algumas lágrimas escorreram pelo rosto do homem negro, mas ele também não fazia questão de segurar o choro. Não é como se não chorasse pelo que aconteceu com seus amigos, todo dia.
"— Ah, então são vocês dois, os novatos — falou um garoto, se aproximando acompanhado de outros rapazes. — Esta escola já foi melhor. Estamos aceitando até "neguinhos", agora? E pior, vieram dois de uma só vez. Que azar o nosso.
— Cai fora, mané — respondeu Kevin, sentado no refeitório, terminando o almoço, com Kaleb ao seu lado, fazendo o mesmo.
— I-Irmão, podemos comer em outro lugar... — sussurrou Kaleb para o gêmeo ao seu lado.
— Isso, escuta o outro "pretinho" e sumam daqui, porra. Este refeitório é para gente branca, não para escuros como vocês! — O líder daquele grupo se aproximou mais e bateu forte com as mãos sobre a mesa. — Vocês estão comendo aqui no refeitório há dias, desde que entraram.
— Até onde sei, o refeitório é um local público desta escola. Vocês não mandam em merda nenhuma, seus branquelos azedos — falou Kevin de forma rude, sem sequer olhar para o homem à sua frente.
O agressor, num momento de raiva, passou a mão pela mesa, jogando toda a refeição deles no chão. Os gêmeos se levantaram, mas Kaleb recuou, enquanto Kevin prontamente partiu para cima do veterano, desferindo um forte soco em seu rosto. Obviamente, o restante do grupo avançou em direção a Kevin para socá-lo, ao ver o líder no chão.
Kaleb tentou ajudar, mas antes que conseguisse, Kevin o empurrou para trás, não deixando que ele interferisse. Não houve tempo para pensar antes que Kevin recebesse o primeiro soco.
Todos os alunos do refeitório começaram a se reunir em volta da briga, para acompanhar melhor. No entanto, ninguém deu um passo à frente com a intenção de apartar a briga. Muito pelo contrário, permaneciam motivando aquele ato grotesco, com gritos e gesticulações. Para aquele público, pouco importava se cerca de seis garotos brancos estavam agredindo covardemente um rapaz negro.
— MAS QUE PORRA? — gritou um dos agressores, em meio aos socos em Kevin, ao ver um de seus colegas receber um chute no rosto.
— Vou te ajudar, carinha — disse ela, após acertar as partes íntimas de um segundo garoto que tentou golpeá-la por trás.
— V-Você... — Kevin tentou dizer, mas havia recebido muitos golpes. Não conseguia ver direito a pessoa que o salvou, pois sua visão estava turva. Apenas reparou que era uma garota, de silhueta fina, com madeixas negras até a altura dos ombros.
— Relaxa, deixa comigo. Você — olhou para Kaleb, acuado no canto — tire seu irmão daqui. Encontro vocês na enfermaria em alguns minutos.
Assustado e chorando, Kaleb não teve outra escolha senão confiar naquela garota. Os agressores, então, começaram a direcionar seus ataques a ela, deixando Kevin jogado no chão, com uma poça de sangue debaixo de seu corpo. O gêmeo aproveitou a oportunidade para retirar seu irmão dali, pois precisava levá-lo à enfermaria o quanto antes.
Ela, por sua vez, permaneceu e lutou com maestria contra os garotos, conseguindo nocauteá-los com facilidade, restando apenas um.
— Eu nunca mais quero ver você ou seus amiguinhos incomodando os gêmeos de novo. Na verdade, incomodando ninguém nesta escola. É o meu primeiro e último aviso! — O único que restou tropeçou no próprio pé e caiu de traseiro no chão, mas concordou com a cabeça. — Ótimo.
— Ei, não é aquela garota que ajudou o gordinho viado no ano passado?
— Hm? — Ela ouviu a voz e olhou na direção, tentando descobrir de onde vinha, mas não conseguiu identificar, pois havia muita gente em volta. — Não tem coragem de mostrar a cara, né, covarde?
— Você não vai conseguir salvar todo mundo o tempo todo, vadia.
— Ela não está sozinha — disse uma outra voz feminina, surgindo entre o grupo de pessoas e se aproximando da asiática no centro da roda. — Eu vou ajudá-la. Esta escola acoberta muita coisa errada, está na hora disso parar.
A garota de cabelos negros arregalou os olhos, surpresa. Jamais imaginou que outra garota iria apoiá-la, ainda mais na frente de toda a escola. Como se não bastasse aquela surpresa, outra garota se juntou a elas, apoiando a asiática também. Outra, e mais outra... No total, dez garotas estavam agora ao redor da que acabara de lutar contra o grupo de valentões.
— Se os adultos e funcionários dessa escola não fazem nada sobre o bullying que sempre aconteceu aqui, nós vamos fazer então."
— E pensar que, depois daquele dia, a Ivy conseguiu criar uma revolução naquela escola, com a ajuda das outras meninas. As situações de bullying diminuíram drasticamente. Graças a ela, eu e meu irmão conseguimos ter uma vida escolar digna, como qualquer outro, dentro daquela escola. Heh, ela é a mulher mais incrível que já conheci...
Kevin disse enquanto mexia nas madeixas negras de Ivy. As lágrimas em seus olhos escorriam como uma cachoeira, trazendo soluços à tona. Laura se levantou, mexeu nas sacolas sobre a mesa que trouxera consigo e retirou dois sanduíches embrulhados em papel-alumínio. Caminhou até o homem de pele negra e o cutucou de leve para chamar sua atenção. Ele olhou para o lado, vendo sua chefe lhe estendendo um dos sanduíches. Kevin não queria comer; não tinha fome, não havia como ter vontade de comer algo vendo Ivy naquele estado. Porém, a loira apenas arqueou uma sobrancelha, fitando-o com seu olhar intimidador.
— Tudo para você não me olhar assim. — Com um riso abafado, ele pegou um dos sanduíches da mão dela.
— Saco vazio não para em pé, garoto — falou com um sorriso. — E outra, você tem que estar bem para quando ela acordar, não é?
— Como assim?
— Ué, você precisa dizer o que sente por ela. — Ao ouvir aquilo, Kevin corou como um tomate. — Ah, isso já estava óbvio há muito tempo, só vocês dois que não viam. — Desembrulhou o sanduíche para começar a comê-lo. — Agora, come. É frango desfiado com salada e requeijão. Eu mesma fiz.
Laura se afastou dele e retornou ao sofá, sentando-se. Kevin permaneceu sem reação, sem saber o que dizer ou como reagir. Foi pego de surpresa pelas palavras de sua chefe. Estaria mesmo apaixonado por Ivy todo esse tempo? Não era novidade para ninguém que ambos fossem bissexuais; na verdade, Ivy era pansexual. Então, essa não era a questão. Mas ela sempre foi sua melhor amiga.
Além disso, será que Ivy nutria esses sentimentos de volta? Pelo que Kevin se lembrava, a asiática nunca deu a entender nada nesse sentido. Ou talvez Kevin fosse lerdo demais para perceber os sinais. Quem o conhece escolheria a segunda opção. Ele não sabia direito nem o que pensar. E mais importante: Ivy ser uma mulher transexual também não fazia a menor diferença para ele, de jeito nenhum.
"— Oi — disse Kevin, entrando devagar na enfermaria. Ivy apenas acenou, e ele prosseguiu os passos. — Você está... bem?
— Claro, aqueles bundões não foram nada — ela respondeu com um sorriso, enquanto a enfermeira da escola terminava de fazer os curativos pelo seu corpo. — Na verdade, era eu quem tinha que te perguntar isso. Eles te bateram bastante, hein.
— Não precisa falar desse jeito. — Ele desviou o olhar e franziu o cenho, ficando um pouco irritado. — Fui pego de surpresa, só isso. Eu também daria conta deles, de todos eles. — Cruzou os braços, enfezado. — Foi sorte deles, só isso.
— É, eu sei que sim. — Abafou um riso com uma das mãos, deixando o garoto com as maçãs do rosto avermelhadas. — Aliás, prazer, meu nome é Ivy, Ivy Blackwood. — Estendeu a mão para cumprimentá-lo.
— K-Kevin... Kevin Turner. — Ainda um pouco tímido pela espontaneidade dela, mas apertou a mão da garota. — Obrigado por nos ajudar, a mim e ao meu irmão. Você não precisava fazer o que fez por dois "neguinhos" que acabaram de chegar à escola.
— Eu sei. Não fiz porque precisava, fiz porque queria, e não me arrependo de nada. Principalmente porque agora consegui mais um amigo nesse antro de babacas.
— Um... Amigo?
— É, ué. Você é meu amigo agora, não é? Porque eu quero ser sua amiga.
Tais palavras saíram da boca dela de forma leve e carinhosa, o que deixou Kevin boquiaberto. Não esperava fazer amizade logo na sua primeira semana de escola, ainda mais com uma garota tão linda, que fazia seu coração bater mais forte. Além disso, por que Ivy sorria de forma tão gentil e alegre para um garoto que acabara de conhecer e que havia sido alvo de uma pancada anteriormente? Kevin não sabia o porquê, mas algo nela brilhava intensamente, como um forte raio de sol. Ele ficou fascinado pela essência dela.
— Pronto, Ivan, você já pode ir — disse a enfermeira, terminando de fazer os curativos no corpo da garota.
Naquele momento, Ivy e Kevin se olharam de forma estranha. Ela não esperava aquilo, e ele não entendeu por que a enfermeira a chamara por outro nome. Notoriamente, a moça da enfermaria não notou o clima tenso entre os dois, afastando-se logo para atender outros alunos. Tanto Ivy quanto Kevin queriam dizer algo, mas não sabiam o que falar, nem como falar. Kevin tentava entender: o nome dela era Ivan? Mas Ivy era ela, não ele. Só de olhar para ela, ele via uma menina, não um menino.
— Não — disse ele, quebrando o silêncio constrangedor. — Você não precisa dizer nada. Você me disse que seu nome é Ivy, certo? Então, para mim, você é a Ivy, e pronto, acabou.
Com um sorriso bobo nos lábios, o garoto jogou os braços para trás do pescoço, colocando as mãos na nuca. Ivy, por sua vez, apenas arregalou os olhos, surpresa com a reação dele. Naquela escola, sua matrícula ainda era Ivan Blackwood, pois, por ser menor de idade, ela não tinha como alterar isso legalmente. Apesar de sempre se identificar como mulher, a maioria das pessoas na escola ainda se referia a ela no masculino. Mesmo pedindo para que parassem, não adiantava. Mas aquelas foram as primeiras pessoas que realmente enxergaram sua essência, viram Ivy Blackwood.
Primeiro, foi Silas, e agora Kevin. Depois, quando Kaleb a conheceu, também foi imediato. Eles três foram os primeiros a reconhecer a existência de Ivy, e isso significava mais do que tudo para ela. Naquele instante, ela sabia que não havia encontrado apenas colegas, mas amigos que levaria para toda a vida."
— Acorda, Ivy, por favor... — disse Kevin, com o olhar fixo no corpo inconsciente de Ivy, deitada naquela maca de hospital.
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Que casarão é esse que eles vão passar a lua de mel, hein? 🤭
Será que essa trégua entre Scarlett e Scott vai durar? 👀
E essa relação entre Kevin e Ivy? É tudo, gente! 😭
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