Quero sua amizade de volta
CAPÍTULO 03:
Desci no ponto de ônibus e caminhei um pouquinho até a rua da minha casa. Era meio-dia. Eu sempre saio de casa cedinho. Acordo às 05:00, me arrumo, tomo café e organizo os materiais que usarei na aula. Todas essas atividades duram em média uma hora. Saio sempre de casa às 06:00. A escola que leciono fica um pouco perto daqui, mas eu pego um ônibus até lá.
Eu sou professora, sou formada em pedagogia. Me formei aos 22 anos e desde os 23 anos trabalho como contratada na escola que ensino. Atualmente leciono a turminha do 1° ano dos anos inícias. São uns amores.
Meu pai estava dormindo no sofá com o controle da TV na mão e a mesma ligada. Vou direto para a cozinha almoçar.
No final da tarde saí para caminhar e encontrei Milena no parque. Nós havíamos marcado de nos encontrar aqui. Ela está usando uma camiseta rosa de alça fina, calça legging cinza e um tênis branco. Seu cabelo preso em um coque.
- Achei que tu não vinha mais. - Me abraçou sorrindo.
- Desculpa, - falo ofegante - é que tive que resolver uns problemas antes.
Milena assente e saímos caminhando pelo parque. Há muitas pessoas ali fazendo essa atividade, como também outras apenas sentadas nos bancos conversando. Este parque é o mais famoso da cidade e fica pertinho da minha casa.
- Nós ainda não conversamos sobre a minha festa. - Milena fala tentando puxar assunto. - O que você achou do Pietro?
Milena sabe da história que envolve Pietro e eu, pois contei a ela. Depois que ele foi embora, Milena assumiu o seu lugar de melhor amigo em meu coração. Nós estudamos juntas na faculdade. Ela também é professora, mas ensina em outra escola.
- Não há o que achar, Milena, - fico em sua frente e tiro meus óculos - ele não existe para mim.
Milena sorri e eu viro de costas para ela, retomando minha caminhada.
- Como assim ele não existe para mim? - Ela questiona debochando e ficando a minha frente. - A quem você quer enganar, hein, dona Lia? - Franze a testa para mim. - Eu vi perfeitamente o brilhinho nesses olhos. - Ela fala isso apontando seu dedo rumo aos meus olhos.
Desvio de seu dedo e sorrio. Sentamos em um banco ali perto.
- Não vou negar que vê-lo mexeu comigo. - Suspiro.
- Ah, eu sabia! - Ela fala eufórica. - Conta.
- Depois dos parabéns, nós dois conversamos. - O vento do fim de tarde me faz arrepiar.
- O quê? Como assim?
Faço um resumo de tudo o que conversei com Pietro e de como me senti com seu abraço. Ao contar para Milena, eu revivi todos os detalhes daquela noite.
Durante todo esse tempo, eu tentei odiar Pietro e culpá-lo por nossos pais terem brigado, por terem nos separado e por não crescermos juntos. No fundo, era injusto com ele, eu sei. Entretanto, na minha cabeça, o fato dele ter contado ao seu pai ocasionou tudo isso.
- Lia, olha, - ela pega minha mão - você precisa conversar com ele e contar tudo isso, sabe? - Milena me fita. - E também - ela balança minha mão - ouvi-lo, pois creio que ele tem muita coisa para contar também.
“Eu sei que você me considera um traidor por ter quebrado o nosso juramento do dedinho, mas Lia quando eu te explicar, quando nós conversarmos tudo, você vai me perdoar e nós voltaremos a ser bons amigos.”
A fala de Pietro naquela noite me vem a mente.
- Ei! - Milena me tira dos meus pensamentos.
- Naquele dia, na sua festa, ele foi logo falar com a Mariana.
- Não, não foi. - Milena sorri. - Ele ia passando e ela pulou em seu pescoço.
- Sério? - Abro um sorriso tímido.
- Aí você saiu e ele se soltou do abraço dela. - Milena levanta do banco me puxando. - Mas eu não imaginava que Pietro ia atrás de você.
Sorrimos e continuamos nossa caminhada.
********
Quase duas semanas se passaram desde que vi Pietro na festa de Milena. A sua casa, em frente a minha, já estava pronta para ser habitada novamente. Dentro de mim havia um misto em querer revê-lo e não revê-lo. Mas creio que quero vê-lo novamente.
Eu amo a sexta-feira e a paz que ela traz: posso dormir um pouco mais tarde e, no dia seguinte, acordar depois das 07:00 horas.
Hoje a minha coordenadora me incubiu à missão de organizar o projeto de leitura da escola. Eu fiquei muito feliz, mas isso vai aumentar o meu trabalho. Entretanto, se ela, minha coordenadora, me confiou tamanha responsabilidade, é pelo simples motivo de saber que sou capaz. Boa, garota!
Depois que desci do ônibus, fiz o trajeto a pé até a rua da minha casa. Ali, na minha rua, próxima a minha casa havia um carro de mudanças e conversando com dois rapazes estava Pietro, ele usando uma camisa branca de mangas compridas (levantadas até a metade de seus braços), bermuda jeans e óculos escuros. Pietro gesticulando as mãos dando as coordenadas aos homens próximos a ele.
Finjo não vê-lo, mas observo um garotinho que saiu de dentro da casa chutando uma bola.
- Gol! - Ele grita.
A bola vem rolando em minha direção e o garotinho vem atrás. Entretanto, me precipito em pegar a bola e atravessar a rua rapidamente, pois vejo um carro vindo.
- Valentim! - Pietro o chama e vem rápido em nossa direção.
Entrego a bola a criança, que aparenta ter sete anos.
- Filho! - Pietro fala se abaixando ao tamanho da criança e o abraçando.
Filho?
- Papai, eu ia pegar a… a… a… bola. - Ele demorou para concluir a frase.
Pietro deposita um beijo na cabeça do menino e fica de pé. Tiro os óculos e vejo o suor descer por seu rosto. Ele também tira seu óculos.
- Obrigado, Lia. - Ele passa o braço por seu rosto na tentativa de limpar o suor. - Se não fosse você, nossa…
- Não foi nada! - aperto a alça da minha bolsa. - Ele é seu filho? - Não consigo controlar minha curiosidade.
Os dois primeiros botões de sua camisa estão abertos e há algumas marcas de suor por ela.
- Sim! - Ele afirma olhando para o garoto. - Valentim, filho, agradeça a moça por ter pego sua bola.
- Obligado! - Ele não me olha.
Me abaixo ficando do seu tamanho.
- De nada, princípe. - O garoto tem os olhos castanhos e o cabelo preto. - Você é muito lindo! - Ele sorrir. - Bom, eu vou indo. - Falo ficando em pé novamente.
O garotinho sai correndo com sua bola embaixo do braço e volta para dentro.
- Obrigado mais uma vez, Lia. - Ele estende sua mão e eu hesito.
- De nada. - Aperto a sua mão de volta e sinto um frio percorrer por meu corpo.
Desvio meu olhar do seu, mas continuo segurando sua mão. Avisto uma caixa próxima ao caminhão e dentro da mesma vejo o livro O pequeno princípe. Solto sua mão e me aproximo da caixa. Faço o reconhecimento daquele livro, na qual a capa está cheia de marcas do tempo. Pego-o da caixa.
- Você lembra quando compramos juntos? - Ele questiona bem atrás de mim.
Eu lembro sim! Meu pai nos levou numa livraria e comprou um livro desse para cada. Antes disso, ele tinha feito o resumo da história para nós. Então, ficamos fascinados e meu pai prometeu nos dar um.
- Sim! - Me viro para ele.
- Ainda tem? - Seus olhos azuis me fitam cheios de esperanças.
- Sim! - Vejo o brilho em seus olhos.
- Legal! - Ele desliza sua mão por seu cabelo.
Há tantas coisas para serem ditas, mas nós ainda estamos escolhendo as palavras certas. Pietro está esperando o meu tempo e eu o dele.
Entrego o livro a ele e atravesso a rua.
- Lia! - Ele me chama e eu me viro. - Foi muito bom te rever. - Assinto e continuo andando.
Pietro está de volta. Eu quero que ele reconquiste minha amizade e não vá mais embora.
Mais um capítulo hehe
Obrigado!❤️
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