Depois do reencontro.
CAPÍTULO 02:
Abro os olhos e os raios do sol se chocam contra eles. É impressionante como isso sempre acontece. Também pudera, além da janela ficar de frente para o nascer do sol, eu sempre esqueçode fechá-la a noite.
Esfrego meus olhos e juntando forças, (não sei de onde) me levanto. No relógio, próximo a cabeceira da minha cama, marca 06:30. Próximo a ele está o livro que estou lendo este mês: O morro dos ventos uivantes.
Hoje é domingo, então posso demorar um pouco mais para descer. Abro o livro, mas paro para refletir sobre o meu reencontro com Pietro ontem. Eu realmente o revi.
Ainda sinto em mim o cheiro do seu perfume e é como se eu também ainda sentisse o seu toque sobre minha pele.
Entre nossa infância e nossa fase adulta, houve um pulo: pois entre elas nós não construímos nada. Chega a ser estranho, eu sei. No entanto, a sensação que tenho é que roubaram de nós quinze anos e nunca poderemos recunperá-los.
Olho para o livro de Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes, e reflito sobre os personagens principais desta história: Heathcliff e Catherine. Eles cresceram juntos, se apaixonaram e foram separados pelas diferenças sociais. Longe de mim querer comparar minha história e a de Pietro com a do romance gótico de Brontë. O que quero dizer, é que os adultos precisam tomar cuidados com o que falam e fazem quando se tem crianças próximas.
Eu não amo Pietro como Catherine amava Heathcliff. Também acredito que aquele que foi meu amigo de infãncia, não tenha voltado atrás de vingança, assim como o personagem principal de O morro dos ventos uivantes. Sem falar que nossas separações foram por motivos diferentes.
Enfim, o que quero dizer é que acima de qualquer problema familiar, as crianças devem ser poupadas, pois os problemas familiares não devem respigar sobre elas.
Fecho o livro, que está velho de tanto que já li, e coloco de volta à mesinha, próxima a minha cama.
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Depois de fazer minha higiene matial, vou tomar meu café, mas logo ao chegar na sala, ouço uma música tocando e meu pai a acompanhando.
"Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho
Deixem que eu decida a minha vida"
O abraço por trás, cantando junto com ele.
"Não preciso que me digam de que lado nasce o Sol
Porque bate lá meu coração"
Ele sorri e dou-lhe um beijo na bochecha.
"Sonho e escrevo em letras grandes de novo
Pelos muros do país"
Nós continuamos abraçados, cantando.
Meu pai sempre faz o café da manhã. Ele acorda cedinho e deixa tudo pronto antes de eu ir para o trabalho. Nos finais de semana sou eu quem faço, mas hoje foi exceção, pois dormi demais devido a festa de ontem.
- Se não me soltar, vou acabar te queimando. - Ele fala sorrindo.
Eu abro um sorrindo e solto-lhe. Ele vai até a mesa e coloca a panquenca no prato. Eu desligo o som.
- Vem, filha, vamos tomar nosso café da manhã.
Contemplo a mesa farta ali, cheia de comidas gostosas: bolo de milho, panquecas, pão com presunto e tapioca com queijo.
Abro a geladeira e tiro a jarra com suco de laranja e ponho sobre a mesa..
- Como foi a festa ontem? - Meu pai questiona enquanto serve o suco.
Não posso falar para meu pai que, depois de anos, vi o Pietro.
- Ah, pai, foi ótima. - Pego um pedaço de panqueca e levo a boca. - Havia muitas pessoas...
- Algo me diz que você está me escondendo alguma coisa. - Ele arqueia a sobrancelha.
Meu pai era bom em supor coisas.
- É sério, pai, - bebo um gole do meu suco - não aconteceu nada fora do comum.
Ele assente, mas sei que não o convenci.
- A reforma da casa aí da frente, - meu pai nunca mencionava o nome da mãe de Pietro - ficou pronta. - Ele come um pedaço do bolo.
"Eu vim para ficar e para reconquistar sua amizade."
As últimas palavras ditas por Pietro ontem, me vêm à mente. Não é possível que ele venha morar aqui perto novamente.
- Ao que tudo indica, - ele pigarreia - eles vão voltar a morar aí.
Tento não demonstrar que isso me inquietou.
Desde o mês passado que a casa da frente está em reforma. Durante os quinze anos, ela ficou fechada. Quando eu olhava para lá, me vinha uma dor no peito, pois sentia saudades de quando entrava lá e brincava com Pietro em seu quarto, ou quando sua mãe me chamava para almoçar.
- E o que você pensa sobre isso? - O encaro, limpando minha boca e rompendo o silêncio ali.
- Filha, - ele me encara de volta - o que aconteceu, passou. - Vejo sinceridade em seu olhar. - Acredito que o tempo se encarregou de curar todas as feridas.
Me levantei, recolhi as louças sujas e as levei à pia.
- Lia, - ele vem até a pia - fala, filha, pois sei que tem algo para me dizer.
Abro a torneira para tirar o sabão do prato. Sinto o olhar do meu pai sobre mim.
- Eu vi o Pietro ontem. - Descanso as mãos na pia. - Nós meio que conversamos. - Me viro para encará-lo
Ele se vira e vai até a geladeira, pega uma garrafa com água e toma um pouco.
- O que você sentiu? - Ele coloca a garrafa de volta. - Digo, o que você achou dele?
- Ah, pai, - enxugo minhas mãos no pano de prato - acho que um misto de raiva... saudade. - Sorri. - Não sei bem.
- O que eu mais temia, parece que vai acontecer.
Franzo a testa sem entender.
- Eu sempre tive medo deles voltarem e você se apaixonar por aquele moleque.
Engulo em seco. Meu pai nunca demonstrou ter esse receio.
- Me apaixonar por ele? - Sorri para descontrair. - Isso nunca vai acontecer!
- Vocês sempre foram apegados. - Ele faz essa observação. - Se ele tivesse continuado aqui, isso talvez seria uma opção.
-Pai! - Tento repreendê-lo, mas quase rindo.
Dou-lhe um beijo e saio da cozinha.
Depois que minha mãe faleceu de cancêr, meu pai se dedicou somente a mim. Ele se absteve de casamento e relacionamentos (com execeção do caso com a mãe de Pietro). O nome do meu pai é Miguel Villar. Ele tem 50 anos, mas passaria facilmente por um homem de 40 anos. Seus olhos são castanhos e o seu cabelo perfeitamente grisalho.
Os pais de Pietro sempre foram amigos dos meus. Nós moravámos na mesma rua. Nossas casas eram próximas. Segundo o que meu pai me contou, eles se conheceram na adolescência e mantiveram a amizade até a fase adulta.
Certo dia, eu vi Melissa, a mãe de Pietro, aos beijos com meu pai. Na época, eu era bem pequena, mas tenho certeza que vi certo. Então, contei ao meu melhor amigo, Pietro Santos. Ele, obviamente, não acreditou. Entretanto, sugeri fazermos um juramento, pois não queria que ninguém soubesse que eu tinha visto. Na realidade, eu não tinha noção que entre meu pai e Melissa havia um caso amoroso. Me questiono como Pietro lidou com isso quando descobriu, pois se estivesse em seu lugar, eu não saberia o que fazer.
Nesse mesmo dia, ao final da tarde, Pablo Santos, o pai de Pietro, entrou em nossa casa como um louco, gritando: ele havia descoberto a traição. Eu corri para a sala e o mesmo estava batendo em meu pai. Fui tomada pelo instinto, corri para cima dele, mas Pablo me empurrou e bati a cabeça em alguma coisa e isso me fez perder os sentidos.
*************
No final da tarde, calcei meu tênis e saí para caminhar. Parei num banquinho de uma pracinha e comecei a relembrar o meu reencontro com o meu amigo de infância e como isso me afetou. Eu sei que tanto Pietro quanto eu éramos apenas crianças, mas até hoje me pergunto: por que ele traiu o nosso juramento? por que contou ao seu pai?
Depois que tudo passou e que ele e sua mãe foram embora, eu passei a culpá-lo: foi por sua causa que fomos separados. Talvez se ele tivesse mantido seu juramento, nós teríamos crescido juntos. Ou não!
Durante esses quinze anos eu sempre me perguntei por ele: como estava? se tinha saudades de mim? Mas o rancor infantil me impediu de aceitá-lo em minhas redes sociais e neguei-lhe qualquer chance de contato. Porém, ao revê-lo, fez algo em mim despertar. Eu imaginei que a mágoa em relação a ele me acompanharia por toda a vida, mas ela se dissipou ontem. Será que ela sempre esteve aqui? Ou a ausência dele fez eu pensar que sim?
O meu coração estava igual terra seca: sem vida e sem a menor chance de florir. Revê-lo foi como se um sereno passasse por ele; sentir seu toque foi como se alguém tivesse plantado uma sementinha. E agora, sinto ela brotar no meu peito.
Pietro voltou. Eu quero que ele fique e reconquiste minha amizade.
Obrigado por acompanhar.❤️
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