Em nome do sentimento
Midoriya passou a dormir na casa de Ochako, uma das alunas intercambistas e sua melhor amiga. Chorou a semana inteira sofrendo pela briga e pela separação, mas sem estar realmente arrependido do que dissera, afinal, estava realmente cansado e não achava que estivesse errado.
Por conselho da amiga, voltou para casa na quarta feira, esperando que Katsuki estivesse ali para que, enfim, pudessem conversar, devidamente, sem gritos, e resolverem a mágoa não resolvida.
Acontece que o Bakugou só foi chegar no sábado, depois do almoço, cheirando à álcool e com uma expressão de culpa tão grande que Izuku sabia não ter relação direta com a briga.
Katsuki estava arrependido de algo, mas não era das palavras que disse. Ele tinha bebido e feito algo que sabia que magoaria o Midoriya.
A dor foi grande, principalmente, pela decepção. As lágrimas caiam por seu rosto e, sabia, que o namorado havia as interpretado de modo errado, assim como, possivelmente, achava que o desespero no próprio rosto não havia sido percebido.
Mas Izuku não era chamado de gênio a toa, e não demorou nada para imaginar os motivos da culpa, enquanto caminhavam para o quarto. Não que fosse algo difícil, levando em conta a situação.
O Bakugou passou a semana, até onde sabia, na casa de Kirishima, que, o esverdeado já havia notado, nutria certo sentimento por seu namorado, mesmo sabendo do compromisso deles.
O Bakugou estava cheirando a bebida e, misturar mágoa com álcool nunca era uma boa ideia, ainda mais para o loiro.
O Bakugou confiava demais no amigo, ainda que não devesse, visto que Kirishima não tinha a melhor das famas e nenhum boato surge do nada.
Não foi difícil deduzir que um Katsuki bêbado e magoado, possivelmente, tenha aproveitado para se vingar das palavras ditas pelo namorado e provado que era realmente egoísta.
Mal dormiu naquela noite e não conseguiu ficar muito tempo nos braços do namorado adormecido, antes que o nojo e a indignação pela traição o atingissem.
Chorou por boas horas com a cara enfiada em alguma almofada, antes de voltar para a cama e fingir que nada havia descoberto.
Acontece que Izuku não era uma pessoa que sabia mentir com facilidade. Não iria conseguir esconder seus sentimentos, ainda mais do Bakugou, que o conhecia tão bem e sabia desvendá-lo como ninguém, nem mesmo sua mãe, conseguia.
Acontece, também, que o Bakugou estava tão imerso no próprio domo de culpa, que mal prestava atenção no sofrimento do amado.
E, mais uma vez, ignoraram o elefante branco na sala que, agora, gritava como se estivesse parindo mais um elefante branco para ocupar o espaço da sala que já parecia pequeno o suficiente para um só elefante.
Segunda feira chegou e Katsuki se enfiou na faculdade o dia todo, deixando Izuku só para sofrer suas mágoas sozinho.
Ainda que tivesse a intenção de passar o dia enfiado no sofá chorando as pitangas, pouco depois do almoço, alguém perturbou seu silêncio ao apertar a campainha que ele jurava estar quebrada.
E como ele desejou que a campainha estivesse, realmente, quebrada e não tivesse que atender a porta.
Eijirou Kirishima estava a sua frente com a maior cara de pau, pedindo para entrar e conversar com Izuku, que já tinha total noção do motivo da conversa e não gostava nada do rumo que aquele dia estava tomando.
Sentado no sofá, ouviu, em total silêncio, o ruivo dizer como se sentia em relação ao seu namorado e, como foi ele, quem ajudou e suportou Bakugou durante o tempo em que o Midoriya estava fora cuidando da mãe. Como esta situação acabou aflorando os sentimentos, antes ocultos (ocultos somente para o falso ruivo, porque Izuku já tinha notado há muito tempo).
Ouviu Kirishima dizer que, na sexta, levou as garrafas de bebida, como o esverdeado suspeitava, para tentar tornar Katsuki mais receptivo aos seus sentimentos. No entanto, tudo que conseguiu, foi um homem choroso que se negava a abandonar uma almofada verde que jurava ser o namorado.
Acontece que o ruivo percebeu que o rapaz estava tão alterado que, possivelmente, não lembraria de nada no dia seguinte, então, começou seu novo plano. Despiu-o e deitou-se junto a ele, para que, ao menos, passasse a impressão de terem feito algo. Assim, o Bakugou se sentiria culpado, terminaria com o namorado e estaria disponível para suas investidas.
Apesar de não estar surpreso, o Miroriya estava horrorizado com as atitudes daquele que se dizia amigo do loiro e foi capaz de agir daquela maneira, mesmo sabendo o quanto o rapaz ficaria destruído. A vontade de esganar o filho da puta era tão grande que precisou repetir algumas vezes em voz baixa que matar era crime e sua mãe não suportaria de vê-lo preso.
Ainda evocando a imagem da mãe decepcionada por estar preso, levantou e, o mais educadamente que pode (o que foi bastante rude, considerando que o mantra não estava baixando muito sua raiva), exigiu que aquele arrombado se retirasse de sua casa e nunca mais ousasse se aproximar de Katsuki, caso não quisesse enfrentar as devidas punições por seus atos.
Enfiou a cara no sofá e gritou toda sua frustração. Como havia um ser humano tão horrível como Kirishima? Como ele pôde?
Verdadeiramente, estava puto. Muito puto. Tanto que, todos os xingamentos que havia aprendido com Katsuki, se manifestaram em instantes.
Parece que o "cabelo de merda" não tinha só o cabelo de merda.
Não conseguia ficar parado sem que ideias homicidas lhe tirassem a atenção, então marchou para o quarto.
Passou a tarde arrumando suas coisas nas malas que levaria. Deixou algumas roupas e objetos que não achou necessário levar. Talvez, estivesse deixando-os como uma demarcação de território ou, como se forçou a pensar, uma garantia de que voltaria ali e Katsuki não o esqueceria.
Deixou as malas na sala- junto aos elefantes brancos que já não berravam mais- para não ocupar o pouco espaço do quarto, e foi preparar algo para comerem mais tarde.
Apesar do ressentimento, fazer suas malas só ressaltou o pouco tempo que teria com o namorado, então, iria aproveitá-lo da melhor maneira que pudesse.
E assim foi feito. Ignorou o incômodo elefante na sala e o aperto no peito sempre que estavam juntos e tentou agir com normalidade em seus últimos dias ali.
Ao entrar no avião, sentiu como se um peso saisse de seus ombros, pelo menos, por enquanto, não carregaria o peso da quantidade de ressentimento naquele relacionamento.
No mesmo momento em que o pensamento lhe abateu, o choque veio junto. Ele estava aliviado de ficar longe daquele que amava? Era verdade? Ele estava aliviado por se afastar e isso lhe fez sentir tanta culpa que lágrimas lhe assaltaram os olhos.
Naquele momento, Izuku soube que era o fim, não tinha como voltar atrás. Aquilo tinha lhe desgastado tanto que a presença de Katsuki era incômoda.
Não havia mais volta.
Mas Izuku sempre fora dramático e pessimista, então era óbvio que, no futuro, aquele sentimento passaria e eles voltaria a ficar bem. Durante suas férias, viajaria para ver o namorado e colocariam tudo em pratos limpos e tudo ficaria bem, certo? Certo.
Ou não tão certo assim.
O mês que se seguiu foi de adaptação. Arrumou suas coisas no dormitório, o qual usaria até conseguir um local mais privado para poder morar, e teve suas primeiras aulas no enorme campus, que lhe causou alguns momentos de desorientação.
O tempo que disponibilizava ao namorado era pouco, normalmente ao final do dia, quando os dois já tinham terminado as aulas e estavam em casa. As ligações- normalmete, chamadas de vídeo- eram curtas e ambos sempre pareciam exaustos a cada minuto de conversa.
As aulas só não eram mais complicadas por já ter algumas bases de seus estudos no Brasil, mas, mesmo nas dificuldades, não foi dificil achar amigos que pudessem ajudá-lo.
Fez amizade, principalmente, com Momo Yaoyorozu, uma garota de olhos e cabelos pretos que estava na sua turma. A garota era incrível, apesar da impressão inicial causada por seu status social- Momo era, levemente, podre de rica. Um tanto animada com tudo e com um nato espírito de liderança, não demorou a achar nela um ótimo ponto de referência do curso, além de Momo ser uma das melhores alunas da turma.
A morena adorava sair- principalmente com Izuku, que era tão responsável quanto ela e, dificilmente, se deixava levar muito pelo ambiente- e era a responsável por achar programas para o grupo desestressar depois das provas exaustivas.
Além de Momo e Izuku, o grupo era, também, formado por Mashirao Ojiro, Mina Ashido e Hitoshi Shinso.
Mashirao era um rapaz loiro bem tímido, foi com muito custo que conseguiram incluí-lo no grupo. Assim como Izuku, quando saiam, era um dos responsáveis e ficava por levar todos pra casa, já que era o único que tinha carteira e não bebia nada de álcool. Namorava à distância com uma garota que, agora, morava em Paris, onde fazia faculdade de moda e vivia por dar conselhos 'pro Midoriya, tentando ajudá-lo a conciliar o relacionamento, a distância e os estudos.
Mina era uma negra de cabelos tingidos de rosa que conseguia as entradas deles nos esquemas e saídas. Namorava Momo desde antes da faculdade e era a mais irresponsável do grupo nas festas. Era extremamente animada e nem precisava estar sob efeito de alguma coisa 'pra passar vergonha em público (na real, ninguém do grupo ligava muito 'pras doideras da garota, não fazendo mal, eles até participavam, às vezes).
Hitoshi era outro do trio de cabelo tingido. Os cabelos eram roxos e usava lentes do mesmo tom, além de sempre estar com cara de sono. Era bem antissocial e, por consequência, acabou atraindo a atenção de Izuku, que tomou como desafio pessoal, fazer amizade com o garoto. Bem, ele conseguiu e acabou atraindo bem mais do que só amizade, mas isso ele só notaria bem depois.
Todos do grupo sabiam do relacionamento do Midoriya, apesar de não terem conhecimento dos problemas que ele enfrentava- Izuku sempre foi adepto da ideia de não contar seus problemas de relacionamento (seja em qual âmbito for) para os outro, as intrigas devem ser resolvidas entre os envolvidos- e até já tinham conversado com Katsuki uma vez, durante as chamadas de vídeo antes de um rolê.
Acontece que foi, exatamente, pelas novas amizades, que Izuku fez, que as brigas entre os dois voltaram com tudo.
O Bakugou começou a ficar, extremamente, incomodado com a proximidade do namorado com aquelas pessoas.
Da primeira vez que o esverdeado viajou, dedicava todo seu tempo à mãe, portanto não tinha tempo de fazer amizades ou se relacionar com pessoas que não fossem a sogra ou os profissionais responsáveis por sua mãe.
Além do que, Izuku nunca teve noção do próprio poder. Sempre foi um rapaz bonito, seja pelos grandes olhos verdes, as sardas em seu rosto que se assemelhava às estrelas ou seu sorriso que era como uma lanterna apontada diretamente a quem olhasse. Mas tudo isso remetia a uma beleza infantil, já que começara a amadurecer, fisicamente, aos 20 anos.
Com o tempo que passou no hospital com a mãe, perdeu muito de seu brilho natural, além do apetite e vontade de sair ao sol, por consequência, perdeu muito do peso que tinha e sua expressão tornou-se muito abatida. Seu sorriso já não tinha mais a mesma intensidade.
Mesmo quando voltou, pouco de seu antigo eu resplandecia e foi, com muito ciúmes, que Katsuki percebeu que Izuku voltara a brilhar junto àquelas pessoas. O brilho que sempre foi direcionado a sua pessoa, só voltou a aparecer longe dele. E como aquilo doia.
Izuku não entendia as atitudes do namorado. É verdade que o Bakugou sempre foi uma pessoa possessiva, mas nunca brigaram pelo ciúmes dele, era sempre o Midoriya que tinha seus surtos de insegurança, portanto, era realmente difícil entender os motivos do loiro pra todo aquele estresse.
Ainda que não entendesse o comportamente do parceiro, não deixou de falar com ele nem mudou a própria rotina. E, nossa, como aquilo incomodou Katsuki. Izuku percebeu seu incômodo e ainda, sim, fez tão pouco caso que continuou agindo como se nada tivesse acontecendo?!
Mesmo sabendo que não tinha direito algum sobre o esverdeado, o jovem estudante de psicologia, simplesmente, surtou. Somente naquela semana, tivera três provas e dois seminários para apresentar, além de estar pilhado por, ainda, não ter decidido o tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso. Sua válvula de escape sempre foi Izuku, mas agora, a maior parte de seu estresse era por conta dele.
Sabia que não fazia sentido se sentir assim. Não era ele o inseguro da relação. Sempre foi alguém muito auto confiante e que pouco se importava com os outros. Confiava no próprio taco. Mas aquele inútil sempre seria seu calcanhar de Aquiles e não sabia como lidar com a frustração de não ter a parte mais importante de sua vida sob controle. Izuku era independente e não havia nada que fizesse que pudesse mudar isso.
Sem saber como lidar com seu estresse, fez algo que há muito não fazia na frente do namorado. Explodiu, e toda sua agonia era direcionada, em forma de raiva, ao esverdeado.
Acontece que o Midoriya não era mais aquela criança submissa que ouvia tudo calada e chorando. Cansado de todo o estresse que a faculdade causava, e pressionado pelo sentimento de culpa, por se sentir bem longe do namorado, Izuku também gritou.
E os gritos dos dois assustaram, machucaram.
Por que estavam gritando se aquilo os machucava?
E mais gritos.
Por que continuavam gritando se percebiam como aquilo machucava a pessoa que mais amavam no mundo?
E os gritos continuaram. E as lágrimas vieram.
Gritar chorando era difícil. A garganta já estava machucada, os olhos ardiam, o peito apertava, o ar faltava. Mas, o pior de tudo, era ver a mesma dor que sentiam, refletida na tela do computador. Ver o sofrimento que causavam um ao outro.
Aquele era o fim. Não dava mais.
Os dois estavam sofrendo com aquilo. Os dois estavam fazendo alguém sofrer com aquilo. Aquela situação não era boa. Há muito não era boa.
Em meio aos gritos, lágrimas, palavras sofridas, e que machucavam mais que tudo, Izuku e Katsuki sentiram que aquilo que tinham, já não existia mais. Era o fim 'pra eles.
As pessoas temem a calmaria antes da tempestade, mas esqucem que, depois da tempestade, vem a calmaria.
O silêncio reinou enquanto a realidade aos poucos se revelava a eles. Os olhos fixos nos do outro, aproveitando a calmaria que vinha depois da tempestade. A última calmaria. A última vez.
Não souberam dizer quanto tempo ficaram ali, somente se encarando. Também, pouco saberiam dizer como a ligação se encerrou, talvez a bateria de algum dos dois tenha acabado ou, em um acordo silencioso, os dois tivessem desligado. Mas isso pouco importa. O fim havia chegado e, apesar das nuvens negras avisando da tempestade eminente, nenhum deles deu atenção até que a chuva despencasse contra suas cabeças.
Eles sabiam que aquilo viria, mas fingiram que o elefante branco não existia, até que estivesse tão grande que fizesse o teto cair sobre eles e já não pudesse ser ignorado.
E, como bons seres humanos orgulhosos que eram, ao invés de resolverem sues problemas, duplicaram o elefante e cada um levou uma parte consigo, apenas torcendo para que, um dia, se acostumassem com o peso a ponto de poderem não sentí-lo.
Porque, uma coisa era certa, aquele elefante não seria resolvido e tirado de suas costas. Não enquanto o orgulho e a culpa deles fosse maior que o amor e a saudade que sentiam.
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