Encontrei as duas turmas do terceiro ano no ginásio, claro que não era todos os alunos, apenas treze que decidiram participar do teatro, mas ambas as turmas estavam separadas em grupos distintos.

— Porque estão tão distantes um dos outros? Não vai ter como fazer uma boa apresentação assim — falei logo que cheguei na beira da quadra — Podem ficando mais perto um dos outros, todo mundo aqui é praticamente adulto.

— Embora a maioria não se comporte assim — Rafael brincou atrás de mim, soltei um leve suspiro arrependida por ter aceitado sua ajuda.

— Inclusive os professores — rebati cruzando os braços, ele concordou com um sorriso nos lábios —Voltemos ao assunto, primeiramente quero agradecer por estarem aqui, mesmo sabendo que vocês estão ganhando pontos extras por isso.

— Mas isso realmente não importa, o importante é participar. — Rafael me cortou, obviamente de propósito esperando que eu revidasse — Eu estava pensando que podíamos começar a apresentação com os convidados do casamento chegando em pares, se sentam para a missa, no meio acontece uma confusão por causa de que o noivo roubou flores para dar à noiva, ele é preso, mas tudo acaba se resolvendo e eles finalmente se casam, ai a gente termina com uma dança.

Todos pareciam concordar, mesmo que estivessem com cara de confusos, talvez não tivessem gostado tanto da ideia e não queria comentar ou talvez só quisessem os pontos extras mesmo e pouco se importavam com o que tinham que fazer.

— Realmente, não era suco que você tava bebendo mais cedo — falei fazendo os alunos rirem, Rafael parecia um completo maluco enquanto falava aquilo.

— Preferem o que? Que a gente faça a entrada como eu falei só que no meio do casamento a noiva decide sair fugindo e deixa o noivo plantado com cara de bobo no altar, então todos os convidados começam a cochichar falando que a mulher fugiu com o melhor amigo dele até que o padre faz com que todos saiam da igreja? Não acham que é muito novela da Globo isso? — ironizava com a voz ficando mais irritada a cada palavra que dizia como se ele fosse o personagem largado.

— Okay, okay, melhor opção número um — respondi deixando um tapinha em seu ombro, ele deu um passo para o lado deixando minha mão cair — Vamos lá, eu quero que se juntem em pares e rápido, um, dois, três!

Assim que falei os alunos começaram a se mexer, meninos jogando uns aos outros para as meninas enquanto essas esperavam conversando entre si. Eu dei uma ajudada enquanto Rafael observava o teto do ginásio, parecia aborrecido com algo.

— Professora, a Aline ficou sem par — Francine comentou apontando para a última colega da fileira — o que acha do professor Rafael ficar de par com ela?

Voltei-me para Rafael que ainda parecia estar em um lugar distante, estalei meus dedos em sua frente e ele logo voltou ao mundo real.

— Está tudo bem pra você fazer par com a Aline? — perguntei o mais clara possível, ele apenas concordou com a cabeça e ficou ao lado da menina, deu-lhe um sorriso cúmplice que não foi retribuído — Vamos começar a ensaiar, ainda temos alguns dias até a apresentação.

(QUEBRA DE TEMPO)

O ensaio durou o dia inteiro e Rafael permaneceu com um sorriso forçado nos lábios, ele estava diferente depois do que falou, parecia que havia verdades naquela meia mentira, parecia que ele tinha passado por algo parecido.

Não sei muito de Rafael, apenas que é uma pessoa carismática e brincalhona na maior parte do tempo, sua cor favorita é laranja, digo isso pois é a cor que ele mais usa, ele também parece se importar muito com quem está por perto afinal de contas ele adotou a Bergamota pois ficou com muita pena dela e agora está decidido a ajudar Aline, uma menina que ele mal conhece.

Mas de sua vida pessoal não sei muito, só sei que ele brigou com seu pai e por isso mudou de cidade, há boatos que ele se formou em Ciências Contábeis e atuou algum tempo na área enquanto se formava em Artes Visuais. Ouvi as alunas falarem que quando perguntaram se ele tinha uma namorada ele apenas respondeu não, terminei um relacionamento recentemente. Talvez por isso a história soou familiar, não necessariamente ele foi abandonado no altar, mas provavelmente foi a menina que terminou com ele.

Obviamente era uma menina, ele não parece o tipo de cara que gosta de homens, ele parece o tipo que é perdidamente apaixonado por mulheres.

Senti meu rosto esquentar, eu já o tinha flagrado olhando para o meu decote, mas como foi rápido e parecia que ele não tinha feito por gosto, apenas deixei passar, porém de certa maneira gostei de vê-lo umedecer os lábios, afinal de contas ele é muito mais atraente do que os nossos outros colegas quase carecas ou casados.

Mas que diabos eu estou pensando? Estou passando muito tempo com a minha tia e suas novelas.