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3 - Minha Primeira Turma

Acompanhei Débora, a professora de Biologia, até o segundo corredor, onde ficavam as turmas do terceiro ano. Enquanto caminhávamos, ela me apresentava as classes, apontando portas e soltando comentários rápidos sobre os alunos. Paramos em frente à sala 302, onde ela daria o primeiro período.

— Boa sorte com a sua turma — disse Débora, sorrindo antes de entrar.

— Valeu. Vou precisar — brinquei, ajustando a mochila no ombro.

Segui até a porta da sala 301, onde seria minha primeira aula como professor. Podia ouvir as vozes animadas dos alunos antes mesmo de entrar, um som que variava entre risadas, discussões e o eco das cadeiras sendo arrastadas. Espiei pela porta entreaberta e vi um grupo diverso: meninos e meninas de diferentes idades e tons de pele. Alguns estavam cheios de energia para o horário, outros pareciam sonolentos, distraídos em seus celulares ou com a cabeça encostada nos braços.

Respirei fundo e entrei de supetão, carregando a mochila no ombro e indo direto para a mesa. O impacto foi imediato. Os meninos que desenhavam no quadro largaram o giz e se sentaram às pressas. As meninas cochichavam entre si, algumas lançando sorrisos e comentários baixos que me fizeram sorrir de canto, tentando não parecer convencido.

— O senhor é o novo professor? — perguntou uma garota de mechas loiras, com um brilho curioso nos olhos.

— Isso mesmo. Sou o novo professor de artes — respondi, virando-me para encará-los. — Meu nome é Rafael Garcia, e espero que a gente se dê muito bem.

Minha tentativa de soar confiante funcionou, pelo menos em parte. Alguns alunos assentiram com a cabeça, enquanto outros mantinham a atenção em seus celulares.

— O senhor parece jovem. Quantos anos tem? — perguntou outra menina, de cabelos encaracolados e olhar desconfiado.

— Tenho vinte e oito.

— A mesma idade da professora Sabrina! — exclamou ela, animada. — Há quanto tempo o senhor dá aula?

Pensei rapidamente, olhando para o relógio em meu pulso.

— Três... dois... um... há exatamente seis minutos! — brinquei, arrancando risadas da turma.

— Parabéns pra gente, então! — comentou um menino, com um sorriso divertido.

— Pois é, vocês são meus primeiros alunos. E, pra ser honesto, ainda estou descobrindo o que fazer.

Mais risos. A turma parecia relaxar aos poucos, o que me deu confiança para continuar.

— Que tal dar mais detalhes sobre o senhor? — sugeriu a loira, inclinando-se na cadeira, já pronta para me bombardear de perguntas. — O senhor tem namorada?

— Não. Terminei um relacionamento recentemente — respondi, sem entender muito bem o entusiasmo delas com essa informação. Para minha surpresa, algumas garotas pareciam aliviadas, soltando risinhos e comentários baixos.

— Bom, vamos pular a parte da minha vida pessoal e focar no que interessa. — Dei um sorriso sem graça antes de continuar. — Como vocês estão no terceiro ano, trabalharemos muito com teatro e música. Quero que saibam que essas aulas vão exigir que vocês deixem os celulares de lado... — Fiz uma pausa, olhando para os meninos distraídos no fundo. — ...e também a timidez. Quero ver todo mundo se esforçando.

— Eu amo teatro! Quero ser atriz quando me formar! — exclamou a garota de cabelos encaracolados, sua empolgação sincera me fazendo sorrir.

— Isso é ótimo. Ser atriz exige muito esforço e dedicação, mas, se é isso que você quer, tenho certeza de que consegue.

Olhei para a turma, que parecia mais receptiva agora, e decidi compartilhar minha ideia.

— Como estamos próximos da festa junina, quero que vocês participem da quadrilha da escola e do teatro de casamento que faremos. Pensei em unir as duas turmas do terceiro ano para essa apresentação especial, já que será a última festa junina de vocês aqui.

Minha empolgação, no entanto, foi recebida de maneira inesperada. A turma começou a protestar quase imediatamente.

— Com a outra turma? Nem pensar!
— A gente não se mistura com eles!
— Eles são muito metidos!

O volume das vozes aumentava, e eu fiquei ali, parado, processando a rivalidade que parecia mais séria do que eu imaginava.

— Certo, pessoal, calma aí. — Levantei as mãos em um gesto de rendição. — Não sabia que vocês tinham essa rixa com a outra turma. Então, prometo que faremos dois casamentos. Assim, ninguém briga.

A sala foi se acalmando aos poucos, embora alguns ainda resmungassem. Resolvi mudar de abordagem para evitar mais conflitos.

— Vamos fazer outra atividade por enquanto. Eu amo desenhar, e foi isso que me fez escolher artes visuais. Quero ver a imaginação de vocês. Quero que desenhem vocês mesmos em um momento feliz daqui a dez anos.

— Pode ser na folha do caderno mesmo? — perguntou um menino, aparentemente aliviado por não ser algo mais complicado.

— Eu trouxe folhas de ofício, então não precisam se preocupar. É uma atividade simples. — Tirei um pacote de folhas e meu estojo de lápis de cor da mochila, colocando-os sobre a mesa. — Podem se organizar em duplas ou trios. Enquanto isso, vou fazer a chamada pra conhecer vocês.

Os alunos começaram a arrastar as cadeiras, conversando animadamente enquanto se organizavam. Fui até a mesa para pegar a lista de chamada, mas percebi que não estava lá. Eu havia saído da sala dos professores tão apressado que esqueci de pegar a pasta.

Olhei para os alunos, que ainda se ajeitavam e falavam alto. Não sentiriam minha falta por alguns minutos. Decidi sair rapidamente para buscar a lista, confiando que, naqueles instantes, a turma não causaria problemas.

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