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2 - O novo professor

A manhã começou tranquila, e eu estava a caminho da sala dos professores quando um grupo de alunas do primeiro ano passou por mim aos risinhos. Elas cochichavam, animadas:

— Tomara que ele dê aula para nós, ele é lindo demais!
— Ouvi que ele vai lecionar artes!

Dei uma risada baixa. Pelo visto, o professor substituto de artes finalmente havia sido contratado. Já fazia dois meses que os alunos estavam sem aula de música e artes, e eu sabia que todos estavam ansiosos para o retorno dessas disciplinas.

Cheguei à sala e me sentei ao lado de Débora, que rabiscava freneticamente em um caderno, tentando terminar suas anotações antes do sinal. Mal tive tempo de tomar meu café quando o diretor Munhoz entrou, esbanjando sua energia matinal de sempre.

— Bom dia, meus colegas! Hoje temos uma novidade para alegrar a quarta-feira — anunciou, atraindo todos os olhares. — As aulas de artes estão de volta! Apresento a vocês nosso novo professor, o senhor Rafael Garcia. Pode entrar, garoto!

Eu já sentia meu estômago embrulhar. "Não pode ser o mesmo Rafael", pensei, mas minha esperança se desfez assim que ele entrou. Lá estava ele: a camisa, laranja de novo, calças de alfaiataria e aquele mesmo sorriso pateta. A sensação de déjà vu quase me fez rir, mas me controlei.

— Bom dia, pessoal! — começou ele, cheio de entusiasmo. — Como já foi dito, trabalharei com vocês. Não tenho muita experiência, então, por favor, me ajudem, e eu prometo me esforçar ao máximo para retribuir!

A sinceridade e o carisma dele conquistaram os demais professores, que o aplaudiram calorosamente. Eu apenas sorri, de forma contida, quando nossos olhares se cruzaram.

— Certo, certo. Rafael, sente-se ao lado da Sabrina. É a de roxo com cara de nervosinha — brincou Munhoz, como sempre aproveitando qualquer oportunidade para me provocar.

Enquanto Rafael vinha em minha direção, fiz o possível para manter uma expressão neutra. Ele se acomodou na cadeira ao meu lado e, inevitavelmente, tentou puxar conversa.

— Que mundo pequeno, hein? — sussurrou, inclinando-se ligeiramente para mim.

Revirei os olhos, mostrando claramente meu desinteresse.

— Não se preocupe — continuou ele, com um tom leve. — Farei de conta que não nos conhecemos.

— É melhor para você.

Munhoz voltou a falar, e eu me forcei a prestar atenção.

— Aproveitando que o Rafael chegou na época certa, quero lembrar que nossa festa junina está se aproximando. Como sabem, é tradição que a nossa seja a melhor da cidade — ele disse, com seu típico orgulho. — Já temos algumas tarefas distribuídas, mas a quadrilha ainda está sem supervisão. E, para que tudo saia bem, precisamos de dois professores para organizá-la.

A sala inteira murmurou em concordância. Ensaiar vinte alunos para uma dança coordenada era um trabalho que exigia paciência e dedicação.

— Que eu me lembre, a Sabrina ficou sem tarefa e sem dupla. Foi bom você aparecer, Rafael. Vocês podem cuidar disso juntos — adorável e intrometida Débora que, sem motivos além de amizade eu ainda a mantinha por perto, se intrometeu como uma criança inocente, ou melhor, levada.

— Eu estou sem dupla, mas não vejo necessidade. Consigo fazer isso sozinha — rebati, tentando escapar.

— De jeito nenhum! — exclamou Luciana, a coordenadora, com um sorriso travesso. — A quadrilha do ano passado quase foi um desastre.

Débora, como boa cúmplice, assentiu rapidamente, assim como os outros.

Rafael, para meu desgosto, decidiu se manifestar:

— Se a Sabrina achar necessário, ajudarei com muito prazer. Claro, quem mandará será ela, afinal, tem mais experiência aqui.

O tom dele era tão calmo e educado, era como se Cupido tivesse descido as escadas do Olimpo para persuadir meros mortais.

Munhoz deu o assunto por encerrado e, com isso, a reunião acabou.

Quando o sinal tocou, os professores começaram a sair para suas aulas. Fiquei na sala por mais alguns minutos, arrumando as coisas e preparando o café.

Enquanto esperava o próximo período começar, fiquei observando os alunos atrasados passando pela porta. Sem perceber, meus olhos seguiram Rafael pelo corredor, onde ele conversava animadamente com Débora. Suspirei, me perguntando o que os próximos dias reservavam.

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