1 - Primeiro Encontro
Mais uma tarde de quarta-feira chegava ao fim. A última turma me dava adeus enquanto as meninas corriam alegremente em direção à saída da quadra. Os meninos, por sua vez, insistiam em terminar a última partida de futebol da semana.
— Muito bem, garotos, vai anoitecer e vocês ainda estarão aí jogando bola ou vão para casa? — perguntei, enquanto guardava os colchonetes no armário.
— Só mais um pouco, professora! — responderam em uníssono, como um coral.
— Anotem o resultado do jogo de hoje, e na próxima aula prometo deixar vocês jogarem de novo — disse, tentando persuadi-los.
Funcionou. Pararam o jogo, guardaram a bola e saíram do ginásio comigo. Certifiquei-me de trancar a porta e levar a chave para a sala dos professores.
— Sabrina, que tal se juntar a nós? Vamos ao restaurante que abriu aqui perto — sugeriu Débora, a professora de Biologia.
— Valeu, meninas. Queria muito ir, mas fiquei de mostrar a casa da minha tia para alguém — respondi, e a rodinha de professoras suspirou em decepção coletiva.
— Tá certo, outro dia você vai. Tomara que dê certo; aquela casa é tão linda, tão aconchegante... Ela merece um novo dono — comentou Luara, e todas concordamos.
Despedimo-nos, e eu fui para casa. Morava com minha tia a algumas quadras da escola, mas, como ela estava viajando, fiquei responsável por mostrar a casa para possíveis inquilinos.
Cheguei em casa por volta das seis e vinte. Tomei um banho rápido, troquei de roupa e liguei a televisão para assistir ao telejornal local. Não demorou muito para receber uma mensagem de Rafael Garcia, um dos interessados na casa.
"Olá, senhorita Sabrina. Estou na frente da casa, como combinamos. Você virá daqui a pouco?"
Franzi a testa. Detestava ser chamada de "senhorita"; sempre parecia uma piada. Cliquei na foto de perfil para vê-lo melhor.
Era um rapaz que aparentava ter minha idade, 26 anos. Cabelos cacheados, pele clara e olhos castanhos cor de âmbar.
"Estou saindo de casa, daqui a pouco te encontro." Respondi sem dar muitos detalhes. Afinal, morava na casa do outro lado da rua.
Ao abrir a porta, lá estava Rafael. Mais alto do que parecia na foto, vestia um suéter laranja e jeans, com um sorriso tão amigável que parecia me conhecer há anos.
"Por favor, Sabrina, seja gentil e não quebre o braço de outro rapaz" — o lembrete de minha tia ecoou na minha cabeça. Respirei fundo. Precisávamos alugar aquela casa.
— Prazer, Sabrina. — Estendi a mão, que ele apertou rapidamente, ainda sorrindo.
— Rafael. Mas pode me chamar de Rafa.
Claro que não, não precisamos dessa intimidade, pensei.
— A casa é modesta, mas muito acolhedora e está toda mobiliada — comecei, enquanto girava a chave na porta. — Pode entrar primeiro.
Ele caminhava à frente, observando cada cômodo em silêncio, enquanto eu explicava sobre os móveis e possíveis mudanças que ele poderia fazer. A visita foi breve, pois a casa não era grande.
— Pois bem, senhorita, vou ficar com a casa — declarou assim que voltamos para a sala.
— Certo, mas outra pessoa também se interessou. Vou conversar com minha tia, e a resposta sairá na sexta-feira — expliquei, vendo seus olhos se arregalarem. Ele discordou com gestos espalhafatosos.
— Não, não. De jeito nenhum posso esperar até sexta. Preciso da casa hoje mesmo! — respondeu, aflito.
— Você está morando na rua ou o quê? — debochei, vendo-o franzir o cenho. — Já sei! Papai te expulsou de casa! — deduzi assim que notei seu relógio.
— Isso mesmo. Meu pai me expulsou. — Ele suspirou e começou a despejar informações. — Vim para esta cidade recomeçar. Estava em uma pensão perto do meu trabalho, mas fui expulso porque bati em um cara que tentou agarrar uma das moradoras. Quer mais detalhes?
Pisquei, atordoada com tanta informação de uma vez.
— Olha, gostei mesmo da casa e preciso dela. Estou disposto a pagar mais, se for necessário — concluiu, parecendo perdido, como um dos meus alunos quando me pediam conselhos sobre a vida.
Respirei fundo. Talvez fosse me arrepender, mas concordei.
— Certo. Vou buscar o contrato. Você assina e pode se mudar hoje mesmo. — O sorriso dele se abriu como o de uma criança no parque de diversões. — O valor continuará o mesmo. Espero que se sinta em casa.
— Obrigado, senhorita Sabrina! Obrigado mesmo! — agradeceu, tentando segurar minhas mãos. Afasto-me rapidamente, deixando as mãos dele caírem.
— Sem o "senhorita", por favor.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro