Medo de escuro
Opa, faz uns meses já, mas consegui escrever algo pra essa coletânea :3
Bem, pelo título já dá pra ver sobre o que se trata, né?
Tive essa ideia há um tempo atrás e finalmente consegui colocá-la em prática, espero que gostem!
Boa leitura!
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Eijirou espreguiçou-se após levantar da cadeira qual esteve por horas, vendo o horário na tela do monitor antes que o computador enfim desligasse. Eram duas horas da manhã. Não ligou muito para o horário e começou a andar em direção ao quarto que compartilhava com os dois namorados. Viviam juntos há pouco tempo, pois haviam acabado de se formar na U.A., mas possuíam uma convivência tranquila, apesar de algumas brigas bobas vez ou outra.
Seus dois amores já estavam dormindo, mesmo que não tivesse algum trabalho no dia seguinte, e até aconselharam Kirishima a fazer o mesmo, porém o ruivo não quis, afirmando que tinha que terminar de ler algumas coisas no computador antes de dormir, o que resultou naquele horário tardio. Se deitou no meio dos dois na cama, já estando acostumado com os roncos altos de Tetsutetsu – sinceramente, parecia que ele estava morrendo enquanto dormia – em contraste com a leveza qual Bakugou ressonava, chegando a parecer uma figura angelical, coisa que não era nem de longe era.
Deitou no travesseiro, mas encontrou dificuldades em pegar no sono; era difícil demais dormir. Andava sem sono há alguns dias e a ansiedade somado ao peso de tornar-se um herói acabou piorando tudo.
Ele fecha os olhos na tentativa de fazer que o sono viesse mais rápido, pensando em coisas confortáveis para tentar apaziguar a ansiedade vivida dentro de si. Isso só o faz ficar mais ansioso, imaginando constantemente se cometeria algum erro em sua jornada como herói, se alguma vida poderia ser perdida por sua culpa. Ele possui um medo absurdo quanto a isso e é um fator que acaba retirando suas noites de sono.
Sua vontade extrema é de abraçar seus amados, aconchegar-se junto a eles para que todos aqueles pensamentos negativos, os medos que se agrupavam em sua mente se dissipassem, ao menos naquele momento. No entanto, outro medo o perseguia: o de incomodar seus namorados. Sabia que ambos trabalharam tão duro quanto ele no dia, e estavam completamente exaustos, então não se perdoaria caso os incomodasse por puro egoísmo seu.
Os pensamentos eram seus, ele que lidasse com isso sozinho, certo?
Não, não está certo, e Eijirou sabia que seria repreendido de imediato caso um dos dois fosse capaz de ler seus pensamentos, mas ainda assim, se impedia de despertá-los em prol de resolver suas dificuldades, ou abraçá-los durante o sono e deixá-los desconfortáveis.
Era tudo tão recente que o medo conseguia tomá-lo por inteiro.
Pensou, momentaneamente, em se levantar para fazer um chá; talvez fosse fazer algum efeito, mas assim que se sentou na cama, percebeu... o escuro.
Ah, o maldito escuro.
O motivo de sempre manter um abajur ligado durante a noite, de cobrir-se da cabeça aos pés nos lençóis, de fazer seus pelos arrepiarem apenas com a forma bizarra que os objetos no quarto assumiam.
Droga, ele tinha medo de escuro. Muito.
Sempre teve, e ele piorou quando, na infância, seus amigos quiseram fazer uma pegadinha e trancaram-o em um quarto escuro. Seu peito apertava só de lembrar da sensação angustiante de estar sendo observado em meio a escuridão, como se algum ser oculto estivesse lá, preparado para atacá-lo a qualquer mínimo movimento que fizesse.
Parou um pouco de pensar para prestar atenção nos sons do ambiente, os roncos do platinado se misturando ao som dos ventos que vinham da janela e outros sons quais não tinha ideia do paradeiro. Olhou para um canto do quarto e viu algo, estreitou os olhos para ter certeza do que era e sua paranoia só o fez ver coisas piores, como se aquilo estivesse se movendo.
Sem que percebesse, seu coração começou a ficar acelerado e o pânico começava a se instalar em seu peito. Ele olha para outro canto e vê outras formas, pareciam se mexer... ou não? Não sabia, seu cérebro parecia querer pregar-lhe uma peça.
Ele vagarosamente se deita na cama, ainda mantendo suas orbes fixas no canto. Queria muito acender a luz para ter certeza de que não era nada, mas com seu desejo de não incomodar seus dois amados, ele descarta essa ideia.
Não conseguia sentir sono, seus pensamentos estavam a todo vapor e seus batimentos estavam extremos. Não estava achando aquilo nada másculo e esse pensamento só contribuía para que sua autoestima – já baixa – piorasse. Eijirou não contou desse medo para os namorados, nem para mais ninguém além de suas mães, sabia que ririam dele e o veriam como uma criança com medo de fantasmas.
Mas o que ele poderia fazer quando tudo no escuro parecia tão vivo?
Ele se deita de lado na cama e dobra os joelhos, fazendo questão de não deixar seus pés de fora da coberta enquanto tenta se forçar a pegar no sono, a ignorar tudo que lhe dava medo naquele cômodo.
Logo, ele começa a se remexer na cama, angustiado por não conseguir fazer algo tão simples quanto dormir, por ter medo de coisas tão "bobas". Odiava noites assim...
— Eiji?
Kirishima sentiu seu corpo inteiro estremecer ao ouvir a voz embargada de Tetsutetsu, seus pelos ficando ainda mais arrepiados e seu coração quase pulando para fora do peito com o susto que levou. Devagar, ele fechou os olhos frustrado por ter acordado seu namorado e respondeu:
— O quê?
— Você tá se mexendo demais. Dificuldades para dormir?
— Não se preocupe comigo, bro, pode voltar a dormir. — essa é sua resposta após um tempo em silêncio, onde ele pondera sobre dizer a verdade ou não. No fim, ele tentou desviar do assunto.
— Tem certeza? — o prateado questiona, seu tom de voz denunciando sua preocupação ao não ter uma resposta concreta. — Você parece mal... — seu comentário faz Kirishima ficar mais tenso.
— Tá tudo bem, Tetsu. Não se incomode comigo.
Tentou explicar, e essa frase fez o platinado despertar um pouco, reparando bem naquelas palavras, sabendo o que elas significavam quando vinham do ruivo.
Ele concorda, sua resposta quase saindo em um sussurro e volta a dormir... ou ao menos é isso que Eijirou pensa. Na realidade, o rapaz de fios prateados tomou a decisão de vigiar as ações de Kirishima para ter certeza absoluta de que ele conseguiria descansar.
Alguns minutos se passam e Kirishima não está mais tão agitado; isso porque ele se proibiu de fazer qualquer movimento que pudesse acordar os amados. Seu medo continuava o corroendo, principalmente quando ele olhava para cima e tinha a impressão de ver algo no teto que o encarava de volta.
Por Deus, esse medo o irritava tanto...
Estava quase chorando de agonia.
E ele com certeza não contaria isso a ninguém.
Frustrado, ele decide tomar um pouco de coragem e vagarosamente se senta na cama, evitando realizar movimentos bruscos e tentando visualizar alguma coisa em meio a escuridão. Puta merda, ele era um herói e tinha medo de escuro?!
Respirando fundo, ele se locomove para frente, tentando verificar se realmente havia algo ali – não que fosse de grande ajuda ter uma certeza dessas –, pretendendo ir até a cozinha para fazer um chá ou até mesmo usar alguns remédios. Não gostaria de ser um incômodo, queria dormir, e a única opção para conseguir ambos era utilizar algo para que o sono o tomasse.
Tetsu observa a ação do namorado – claro, sem enxergá-lo por completo, mas tendo noção de que ele se levantara –, com o cenho franzido, se perguntando onde ele iria. Talvez fosse só ao banheiro, então não quis se intrometer.
Kirishima já estava quase saindo da cama quando sentiu uma mão em seu ombro.
— Ei, cabelo de-
— AH! — um grito acaba por escapar, deixando aquele que lhe tocou com um semblante confuso. — Ah, S-Suki? É-é você? Desculpa, eu te acordei? — sua voz está trêmula e seu coração está disparado pelo susto.
"Fantasmas não existem, Eijirou, pare de ser idiota!" ele se repreende em sua mente e até visualiza Katsuki dizendo o mesmo caso soubesse de seu medo.
— Porra, não sabia que ficaria tão assustado. — o loiro resmunga, esfregando os olhos e questionando o ruivo. — Onde vai?
Bakugou não pretendia admitir isso tão cedo, mas ele não gostava quando um de seus dois amados saiam da cama, a falta de suas presenças o deixava incomodado.
— Cozinha. — ele diz rapidamente e olha novamente para sua frente, o escuro fazendo-o paralisar.
— Fazer o que?
— Chá.
— Não consegue dormir?
— Não.
O loiro fica em silêncio, ainda despertando do sono. Kirishima engole em seco ao encarar o escuro, tentando recuperar a coragem que teve há poucos segundos atrás. No entanto, o medo simplesmente faz com que ele trave.
— Vai ficar enrolando aí? — o loiro questionou ao ver o Eijirou não se mover mais. — Eijirou... — diz seu nome, colocando a mão em seu ombro novamente, vendo o ruivo estremecer diante de seu toque. — O que foi?
— N-nada.
Katsuki franze o cenho, irritado com aquela negação toda quando estava óbvio que ele tinha algum problema.
No fim, o loiro decide parar de martelar aquilo em sua cabeça e, irritado, segura o pulso de Kirishima, trazendo-o de volta para a cama e fazendo com que ele permanecesse deitado.
— Suki...
— Pare de mentir, idiota. Me diz o que foi logo.
Silêncio.
Kirishima não consegue explicar aquilo, é ridículo demais ao seu ver e certamente essa seria a visão de seus namorados também. Seria humilhante se descobrissem.
— Eiji, pode ser que... — ele ouve a voz do platinado de repente e se assusta. Katsuki fica surpreso ao ver seu outro namorado acordado, mas se atenta às suas palavras. — Você tem medo de escuro?
Eijirou arregala os olhos, incrédulo com o palpite do outro. Ele fica em silêncio, remoendo aquilo consigo, sentindo o olhar de Katsuki queimar sobre ele, mesmo naquela escuridão.
— N-não. — negou, sua voz saindo baixa.
Era mentira.
Óbvio que era mentira. Como iria sair dessa agora?
— Você ʼtá mentindo, porra.
É claro que Katsuki perceberia, ele sempre percebe quando mente de forma tão descarada.
Kirishima leva um tempo para pensar, engolindo em seco e já se sentindo humilhado previamente. Finalmente, ele admite, envergonhado:
— Sim, mas não riam de mim, por favor.
Ambos, loiro e platinado, ficam incrédulos ao constatarem a verdade. Silenciosos, absorvendo a informação. Eijirou já sente as risadas alheias vindo, ele era um adulto com medo de escuro, afinal.
No entanto, segundos silenciosos depois, não foi exatamente isso que veio.
— Sério? — ele ouve uma risada suave do platinado, não é de zombaria, é mais como um riso de alívio. — Eiji, você poderia ter falado antes, teríamos deixado as coisas melhores pra você, bro!
— Mas é algo muito idiota, bro!
— Você quem é o idiota, cabelo de merda. — Bakugou resmunga, ele envolve um de seus braços no corpo ao seu lado. — Devia ter nos acordado, imbecil.
— Não queria incomodar.
— Você não incomoda, porra! — esbraveja — A partir de agora, se eu acordar e te ver angustiado assim eu explodo sua cara!
Sua declaração faz Tetsutetsu soltar uma risada leve que inunda o quarto, Kirishima também o acompanha e um sorriso logo perdura em seus lábios pelas intenções naquelas palavras agressivas de seu amado.
— Que tal me abraçar, Eiji? Vou te proteger de qualquer fantasma que vier te atacar, bro!
— Bro, eu não sou uma criança! — Eijirou protesta, mas logo sente o prateado se aproximando e deixando um beijo casto em seus lábios.
— Mas eu quero que você se sinta seguro, Eiji.
Uma vermelhidão se faz presente na face de Kirishima e ele se sente grato por aquelas palavras, rindo daquela situação.
— Me inclua nessa, ferroso de merda. — Bakugou se pronúncia e deixa um beijo carinhoso nos fios rubros, percebendo que Eijirou começara a rir por conta das cócegas que lhe faziam.
— Eu amo vocês dois, obrigado. — ele diz ao terminar de rir, um sorriso mais tranquilo perdurando em seu rosto. Estava aliviado.
Kirishima sequer se lembra de que há pouco estava morrendo de medo, se sentindo sozinho e vulnerável.
— Também te amamos, bro! — Tetsu responde, sua voz empolgada. Ele beija Kirishima uma vez mais para deixar mais que claro que o amava de forma intensa e o sorriso continua possuindo seus lábios.
Katsuki bufa, mas puxa a face de Kirishima para o lado, deixando claro tudo que não pôde dizer em palavras. O ósculo não perdura muito tempo, mas é doce e gentil, o que era estranho vindo de alguém como Bakugou. Logo depois, ele se levanta e segura a mão do ruivo.
— Agora vamos fazer essa merda de chá ou qualquer merda que te ajude a dormir. Nem fodendo que você vai ficar sem descansar hoje.
E Eijirou se sente grato por aquela expressão de gentileza feita pelo loiro, ainda mais de uma forma tão espontânea. Saber que seus namorados se preocupavam com ele e queriam cuidar de suas dificuldades o deixava contente demais.
Por fim, todos acabam indo até a cozinha – Tetsu queria fazer companhia para eles principalmente para Kirishima que estava tão tenso enquanto andava pelo corredor.
No fim, ao decorrer do tempo, até esqueceu daquele maldito medo do escuro.
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