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29 • Todas as coisas cooperam para o bem

Acordei desorientado com os braços para cima, como se estivesse lutando, com a respiração acelerada e a face suada. Meu walkman estava jogado ao chão, aberto, com a fita cassete sobre o carpete. Arremessei-o inconscientemente enquanto estava adormecido, batalhando para escapar de um pesadelo cruciante.

Meus pesadelos tem sempre a ver com a Mary. Vejo-a esfarelar-se por entre meus dedos, virar poeira diante de meus olhos, e nunca consigo dizer adeus para ela. Isso tem me destruído por dentro, ainda mais agora, que estamos adentrando o mês de maio, quase finalizando o terceiro ano do Ensino Médio.

O pastor Carl tem ligado uma vez ou outra para anunciar o estado de sua sobrinha. Usa de poucas e breves palavras para dizer que ela ainda está bem, embora não consiga falar ou mexer-se. Tentei dizer a ele se havia uma maneira de sua esposa permitir que víssemos a Mary, mas ao que parecia, a Sra. Ellie estava irredutível... por causa daquelas palavras tão ásperas que eu proferi no corredor do hospital para ela.

Eu e o meu grande talento em estragar tudo. Se por acaso eu não tivesse essa mania tão ridícula em explodir por nada.

Sento-me na beira da cama e retiro meus fones de ouvido que ainda estão sobre as minhas orelhas, repousando-os ao meu lado. Ainda sentado, curvo o meu corpo para a frente, ao ponto de conseguir apanhar o walkman e a fita cassete ao chão. Estou um verdadeiro bagaço, ainda sonolento, e com as pálpebras caindo sobre meus olhos, porém falta-me o sono e eu não conseguiria retornar a dormir mesmo se quisesse. Não para ter mais um pesadelo excruciante. 

Ouço batidas na porta. Era Robert que tinha uma expressão muito fatigada em seu rosto. 

— Escutei alguns barulhos no seu quarto, e vim ver se está tudo bem com você. Não caiu da cama, caiu?

Meneio a cabeça em negação. Eu estava tão profundamente agitado em meu sonho ruim que acordei a casa toda?

Vislumbro rapidamente as horas no despertador. O número um seguido pelo zero e pelo número cinco brilham na escuridão em sua intensidade avermelhada. Eram 1h05 da madrugada. 

— Desculpa por ter te acordado.

— Não faz mal. Cheguei há poucos minutos do hospital. Está uma correria, muitas crianças estão com sintomas de gripe... mas sei que você não quer me ouvir falar sobre isso.

— Não, não, por favor, continue falando.

— Você quer saber como está a sua amiga, não é mesmo?

Assinto para ele.

— Não sou da mesma ala médica onde Mary encontra-se, mas vou dizer-lhe fatos que não são nenhum pouco afagáveis — Robert suspira. — Posso sentar-me?

Confirmo e ele senta-se na minha cama, tomando o espaço ao meu lado. 

— Ela realmente não está bem, John. Vejo-a com a tia dela, sempre a ir para a ala de fisioterapia do hospital. Mary está na cadeira de rodas. Aquela pobre menina... — Robert coça os olhos, aproveitando a escuridão de meu quarto para não chorar. — Sei que estou em uma profissão da qual devemos mostrar o mínimo de apego possível ao paciente, mas essa garota carrega um brilho tão bonito dentro de si... algo inexplicável. Um brilho que todos nós carregamos, mas que um dia, acabamos por perdê-lo. 

— Acha que pode convencer a Sra. Ellie para que ela permita que eu visite a Mary?

— John, eu...

— Eu já sei o que vai dizer — aperto o tecido da minha calça em minhas mãos, tentando reprimir minhas emoções. — Que eu devo ficar em casa, que isso está fora de meu alcance, que eu não sei absolutamente nada do que ela está passando, ou como a família dela está sofrendo. Mas, pai, eu preciso ir vê-la. Mary é a minha amiga. Estou preocupado com ela e enquanto eu não for para aquele hospital, não ficarei calmo. Eu não quero ter de carregar em minha mente o peso de que eu poderia ter feito algo, e não fiz. Estou cansado de ser covarde. Eu sei que eu não posso curá-la, eu não tenho poder para isso, mas eu não quero deixá-la sozinha em um momento tão difícil. Eu prometi que cumpriria a lista dela.

— Que lista? — Robert pergunta.

Dou-me todo o trabalho de desvelar a lista de desejos da Mary a ele. À essa altura, creio que os sonhos dela já não seja mais segredos.

— Eu quero estar lá por ela, pai.

— Pai... — Robert sussurra. — Você não me chama de pai desde que pôs os pés nesta casa... Seja o que for que estiver pensando, não está em meus planos te impedir de ver esta moça. Mas peço que fique calmo, John. A aflição nunca ajuda nessas horas.

— Não é tão fácil quanto parece. Eu tenho tido esses sonhos horríveis com a Mary... Não sei o que fazer para não sonhar mais isso...

— Mary é mesmo especial para você, não é?

— Ah, pai, o senhor não entenderia — suspiro, deixando os meus ombros caírem. — Ela é minha amiga. E é por isso que eu quero estar ao lado dela.

— Você cresceu, John. Não há mais nenhum resquício do jovem rebelde e encrenqueiro que veio de Los Angeles. A Mary sabe de um segredo meu, e acho que ela não contou para você.

Um segredo de meu pai? E qual seria?

— Tenho sobre a mesa do meu consultório, ao lado do porta-retratos com a foto da Lucy e da Susan, uma ultrassonografia. Sua, na verdade. Parece algo incomum para se guardar em um porta-retrato, mas acontece que desde sempre aquela foto sempre esteve em minha mesa. É uma história longa e talvez você não queira ouvi-la, deixarei para outro dia.

— Por favor, conte-me agora. Estou sem sono.

E Robert tece sua história diante dos meus olhos. Fala a respeito de sua juventude, fala a respeito de sua paixão pela Regina, as consequências de seus atos impensados, fala sobre como tinha um medo infundado da paternidade. Não pisco um momento sequer até que ele termine a sua narração.

— Eu não queria ser pai, mas quando vi a sua ultrassom, algo mudou em mim.

Pego-me emocionado com o seu relato. Nunca havia parado para refletir em como nunca havíamos conversado de verdade até que aquele momento, e em como éramos parecidos, ambos temerosos e assustados demais para tomar qualquer atitude.

— Sempre penso que eu deveria ter sido um pai melhor para você. Isso teria evitado tanta dor... Acha que está tarde demais, filho, para eu agir como o seu pai?

— Ainda estamos aqui e ainda estamos vivos. Não está tarde, pai.

Sem jeito, Robert abraça-me. Posso escutá-lo a soluçar baixinho enquanto acalenta-me em um abraço. Eu não sabia que necessitava tanto assim do abraço de meu pai.

— Você é o meu milagre, John.

• • •

Assim que preparo-me para mais um dia de escola (com uma feição ainda sonolenta embora revigorante após a conversa que tive com o meu pai), deparo-me com Lucy, sentada no chão da sala de estar, coberta de glitter enquanto recorta uma cartolina cor-de-rosa. Está fazendo um grande cartaz com bordas enfeitadas por desenhos rabiscados por ela mesma, desejando melhoras para Mary.

— Lucy está desde as 6h00 da manhã fazendo esse cartaz — Susan explica para mim. — Tem estado preocupada com a Mary desde que soube de sua piora.

Lucy olha-me um tanto determinada. O cabelo escuro cintilando com os quilos de glitter que ela gastou para enfeitar o cartaz. É uma forma pura e totalmente válida que ela encontrou para se comunicar com uma amiga tão querida.

— Mary foi a melhor professora que eu já tive — Lucy diz. — Ela me deu aulas de reforço e era muito boazinha e era paciente comigo. Você entrega o cartaz pra ela, John? 

Ergue a cartolina, enquanto o glitter escorre, caindo sobre o carpete como se fosse pó de fada, e encaro a mensagem dela. Letras recortadas com diferentes cores de papel, rabiscadas com diferentes frases de apoio, além de um desenho charmoso da Mary. Lucy é uma boa menina e seu coração é feito de ouro.

Eu poderia dizer para Lucy que não tenho permissão para ver a Mary, pois aborreci a sua tia, mas não o digo. Eu deveria fazer o mesmo que ela e escrever uma carta em papel perfumado para a Sra. Ellie, explicando por que eu quero tanto ver Mary novamente. Cogitei não dizer a verdade para Lucy, indo por um caminho mais moderado da coisa, afinal, não quero destruir a esperança desta menina.

Dobro os meus joelhos e mantendo as pernas flexionadas, enquanto permaneço de pé com os calcanhares no chão. Toco o ombro dela, e falando de forma muito amigável com a garotinha do cartaz encantador.

— Olha, Lucy, seu cartaz está muito bonito. Mas sabe o que ficaria mais bonito? Se você conseguisse a assinatura de todas as suas colegas de escola, e quem sabe, até as suas amiguinhas da Igreja. Assim que a Mary visse que tantas pessoas estão torcendo pela melhora dela, tenho certeza de que a minha amiga ficaria muito feliz. Isso significaria muito para ela.

— Tem razão! Por que eu não pensei nisso? — Lucy havia gostado da minha ideia.

Susan olha para mim e lança um sorriso confidente. Fiz um bom trabalho.

— Obrigada, John — Susan sussurra para mim.

• • •

Na escola, as coisas tem caminhado horrivelmente. Desde a trágica e falha visita ao hospital, Jake tem evitado falar comigo, embora Lara seja mais receptiva quando me vê pelos corredores e sempre acena para mim, mas nunca paramos devidamente para conversar. 

Ainda estamos feridos como pássaros que tem as asas arrancadas. Eu quero dar o primeiro passo. Eu gostaria de poder falar com eles, tal como falei com o meu pai, mas dar grandes passos é realmente difícil. Ainda estou aprendendo a andar. 

A me perdoar.

Um pedaço de papel voa na minha carteira, durante a aula de Química. Acho que já passei por isso antes. Desdobro o papel que quase aparenta ser um origami, e dou de frente com um recado simples, em uma única linha, escrito em uma letra firme e muito charmosa.

"John, eu quero falar urgente com você!"

Lara Turner.

Olho para ela, que está a duas carteiras de distâncias de mim, e posso notar que há um brilho intenso de convicção em seu olhar. Encara-me, sisuda, embora não demonstre estar sentindo ódio por mim. Assinto com a cabeça para ela, que entende a minha mensagem. 

Pulamos o almoço, e vamos ao antigo Jardim de Infância, o prédio desativado da L. M. Alcott High. Lara aperta as mãos o tempo todo, certamente nervosa por estar tão afastada da civilização. Incomoda-se com o vento que insiste em levantar um pouco a bainha de seu vestido amarelo com flores laranjas, além de bagunçar a sua franja. 

Encosto no mastro do balanço de correntes enferrujadas e espero a Lara falar. 

— Eu sinto que você e o Jake desistiram da Mary e isso está me incomodando. Estão levando a vida como se nada tivesse acontecido. Meu Deus, eu não consigo dormir direito, porque eu quero saber como está a minha amiga. Eu sei que eu não sou médica, e eu nem consigo falar o nome da doença dela sem que minha língua trave nos dentes, mas eu quero ver a Mary. Eu não quero ter de carregar a culpa em ouvir que minha melhor amiga morreu e não passei os últimos momentos ao lado dela. Eu oro tanto por ela, mas parece que minhas preces não são ouvidas.

Continuo em silêncio e ao que parece, isso a aborrece. Talvez ela esteja a espera de uma confirmação, um milagre, qualquer coisa.

— Fale, John, por favor, só fale. Seu silêncio é perturbador. Não me deixe falando sozinha. Diga que tudo vai ficar bem. Que tudo isso não passa de um sonho, e quando eu acordar, a Mary estará bem como sempre.

— Eu gostaria de poder dizer essas coisas, Lara, mas seriam mentiras adocicadas que somente prejudicariam a sua alma. 

Lara vem em minha direção com os punhos fechados e os olhos tão marejados ao ponto de estarem cintilantes. 

— Então, não diga nada. Não fale coisas tão cruéis. Eu estou com tanta raiva, John.

Lara esmurra o meu peito, mas sequer faz cócegas. Permito que ela desfira seus golpes em mim, porque talvez só assim ela se sentirá bem consigo mesma. Fica sem fôlego, a voz sufocada pelo choro.

— Eu queria ser forte. Eu queria parar de ser uma chorona. Eu não quero ser mais uma inútil.

— Você é forte, Lara, muito mais do que você pensa.

Ela levanta o rosto para mim, as lágrimas ainda correndo pela lateral de sua face, tornando-se trilhas prateadas. Retira os óculos, embaçados, e planta o rosto em meu peito, ainda a chorar, fazendo o som de sua voz ficar abafado. Dou alguns tapinhas em suas costas, como se ela fosse um bebê, em uma vã tentativa para acalmá-la. Eu não sou um bom consolador.

 Chore o quanto precisar. Ponha tudo para fora. Deixe as lágrimas lavarem sua angústia.

— O que você fez à ela, John? 

Espantados, nós dois olhamos na direção do rapaz que tem um olhar acusador no rosto. Jake nos seguiu até aqui? Lara, rapidamente, tenta enxugar o rosto, enquanto recoloca os óculos de forma muito atrapalhada.

— Não é o que você está pensando, Jake — Lara explica-se. — John e eu estamos apenas conversando.

— E você conversou ao ponto de chorar? Engane outro, não a mim — Jake ainda olha-me furioso.

Ele deve estar pensando que eu dei um fora na Lara e que estava consolando-a por tê-la dispensado... Se isso fizer qualquer sentido. Que Jake pense o que bem entender. Estou cansado em tentar ilustrar alguma coisa a ele, logo esse cara que me odeia sem motivo.

— Estávamos falando sobre a Mary, e em como devemos tentar visitá-la outra vez no hospital — Lara diz, inocentemente.

— Ainda estão nisso? — Jake está amargurado. — Nós não melhoraríamos a situação, somente a deixaríamos pior! 

— Grande amigo que você é, hein? Até pensei que um dia, você se importava com a Mary — digo, mais uma vez, sem pensar.

— Não se meta, John. Você também não é amigo da Mary. Se fosse, não teria feito tudo o que fez...

Jake acusa-me, apesar da própria Mary já ter explicado aos seus amigos que eu não depredei a casa do pastor Carl, mas ao que parece, a raiva dele por mim o cegou.

— Por que você me detesta, Jake? É por que a Mary sentiu pena de uma ovelha desgarrada como eu e quis ser a minha amiga? Pensei que você fosse mais compreensivo, ou talvez... — levo um tempo para completar a frase. — Você a ame.

Jake empalidece diante do que eu disse. Até a Lara ficou vermelha com o que eu falei, uma espectadora emudecida diante de revelações tão agridoces. Eu desconfiava que Jake alimentasse um sentimento mais forte do que amizade por Mary.

— Então é isso? Você a ama? Se a ama, então por que não faz alguma coisa para que a visitemos? É um amigo tão imprestável assim?!

— Não fale aquilo que você não sabe, Walker! Eu não quero ter de testemunhar a Mary em seu estado de fragilidade. Eu me odiaria por contemplá-la sendo flagelada por sua doença, sem poder falar ou se mexer.

— Que coisa ridícula de se pensar! Isso não é coisa que um amigo diga. Você só está poupando a si mesmo. O que ela pensaria se o ouvisse dizer uma coisa dessas? É egoísta!

— E você, John? Por que quer tanto vê-la? É por que deseja afagar o seu ego? Ter um objetivo na sua vida medíocre?

— Cala a boca, Jake!

— Ah, talvez, você também goste dela.

— Já mandei calar a boca!

Explodimos ali mesmo, partindo para os finalmentes. Rolamos no chão, entre socos, cotoveladas e gritos de raiva. Lara implora para que nos separemos, extremamente nervosa e chorosa. Minha visão fica em vermelho, enquanto sinto o gosto do meu sangue. Nossos temperamentos são iguais, e como galáxias, nós colidimos.

• • •

— Nós caímos — Jake e eu dizemos em uníssono. 

— Caíram se engalfinhando no gramado? Sei... Que queda mais estranha! — a enfermeira da escola tem um tom de voz para lá de desconfiado.

Estamos na enfermaria, que fica no prédio E, enquanto a enfermeira faz alguns curativos na gente. O professor de Educação Física viu a nossa luta e a gritaria de Lara e conseguiu nos separar antes que uma desgraça acontecesse. Lara está na porta, nos olhando furiosa. Ela ficou boa parte do tempo gritando e implorando para que parássemos de agir como crianças e fôssemos mais maduros. Mas a carne venceu. Deixei-me levar por minhas emoções à flor da pele. A caminhada para mudar é realmente difícil.

— Que isso sirva de lição, seus bobões! Se a Mary visse uma coisa tão feia dessas... E de dois amigos ainda por cima! — Lara vira-se, irritada demais para nos encarar.

— Espere, Lara — Jake suplica.

— Estou indo para casa — Lara dá um passo para fora da enfermaria. — Vocês tem muita sorte por não terem sido suspensos.

A enfermeira passa um chumaço de algodão sobre o cotovelo de Jake, limpando a ferida ensanguentada. Pior do que os socos dele foi ter de rolar sobre as pedrinhas. Acho que ainda tenho algumas cravadas em minhas costas. Ela entrega-me um band-aid e eu o coloco sobre a minha sobrancelha que está com um rasgo. Jake tem um punho forte, admito. Nós dois saímos na pior. 

Todavia, por incrível que pareça, Jake sorri para mim, um sorriso de lado, um sorriso de cumplicidade, e eu, em meu estado de pura imprudência, sorrio de volta para ele. Ninguém entenderia o que se passou ali entre nós, mas extravasamos toda a mágoa o que estava presa em nossos corações juvenis. E não havia mais motivos para ele me odiar e vice-versa. Não recomendo a ninguém tal tratamento extremo.

Só acho que agora a Lara vai demorar a nos perdoar.

Fomos liberados da enfermaria, quebrados e machucados. Não fazia ideia de como explicaria a Robert o meu olho roxo e o meu lábio cortado. Eu poderia dizer que sofri um acidente com o Lada e capotei pela estrada, porém seria uma mentira muito boba e nada crível.

— A gente se vê, John — Jake diz a mim, enquanto anda pelo corredor, mancando um pouco a perna esquerda. 

• • •

Dirijo de volta para casa, ainda com dores nas costelas, e reparo na Igreja que está com as portas abertas. As luzes estão acesas fazendo com que o vitral colorido torne-se uma visão celestial. São cenas de Jesus dividindo o pão e fazendo milagres. Vitrais que contam as histórias mais fantásticas da Bíblia. Estaciono o meu carro e como se uma força maior me puxasse, entro na Igreja.

Está vazia. Ando pelo corredor, notando os bancos bem lustrados. O púlpito está com uma Bíblia aberta sobre ele. Atrás do púlpito, um vitral em vidro com todos os tons de azul com a figura central que era a imagem de uma pomba em vidro branco. 

Sento em um dos bancos, e unindo as minhas mãos, fecho os meus olhos e abaixo a minha cabeça.

— Por favor, Deus, estou fazendo tudo que posso para mudar. Tudo o que eu quero é apenas ser um homem melhor, mas sinto que estou caindo nas entranhas do Inferno. Sinto que nunca terei o coração bom. Ajude-me, Senhor.

Sinto um toque cálido em meu ombro direito, e isso não faz com que eu o repele ou me afaste de modo brusco. Abro os olhos e deparo-me com o pastor Carl. A presença dele enche-me de felicidade. Era ele quem eu mais precisava ver neste momento.

— Menino John...? — O pastor Carl olha desconfiado para as marcas no meu rosto. — É aquele rapaz do bullying outra vez?

Mary, em algum momento, deve ter falado ao tio dela que eu sofri bullying na escola.

— Não, não... — tento explicar-me rapidamente. — Eu causei estas marcas em mim, pastor. Eu as mereci.

— Perdoe-me se eu quebrei a sua concentração.

— Na verdade, eu queria conversar com o senhor.

Conversamos durante um bom tempo. Uma conversa boa e amigável, que me faz querer perguntar mais e mais a respeito da fé dele. Quero saber o que ele sabe, ver o que ele viu. Eu quero conhecer o Amigo dele. Carl tem uma voz mansa e ensina de uma forma que acalma até o mais tempestuoso dos corações. 

Eu gostaria de ter essa mesma mansidão em meu ser.

 — "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.⁴¹" — Carl recita a Bíblia. — Assim está escrito na Epístola aos Romanos. 

— Os romanos liam a Bíblia?

O pastor Carl reprime um sorriso diante de minha absurda ignorância. 

— Não exatamente, menino John.

Ele explica-me outra vez. Revela-me os segredos na Bíblia, e com muito afeto, elucida aquilo que eu não sei.

 — John, apenas sei que Deus o ama demais. No momento em que eu o vi, eu senti isso em meu coração. Antes mesmo de você ser formado no ventre materno, Ele te escolheu; antes que viesse ao mundo, Ele te separou⁴². Porque Ele é quem conhece os planos que tem para você⁴³.

Uma espécie de energia percorre por todo o meu corpo, enquanto sinto um calor emergir em meu peito. Nada era por acaso. Tudo havia um propósito. 

— Pastor, seria se eu poderia...

Carl escuta atentamente o que eu queria sugerir para ele.

— Eu sei que não serei perfeito daqui para frente, porque ainda tenho uma jornada árdua, e uma promessa a cumprir para uma amiga querida. Mas não posso deixar tudo em minhas mãos. Quero deixar nas mãos d'Ele. O senhor me ajudaria?

Ele assente para mim com um sorriso caloroso em rosto. 

Estou com os pés dentro d'água. Fomos para o tanque de batismo que fica do lado de fora da Igreja. Apenas eu, o pastor, e Deus por testemunha do meu ato. Contemplo o céu estrelado acima de mim.

— Está pronto, John?

— Sim.

— Aceita Jesus como o seu Senhor e Salvador?

— Sim.

Meu corpo submerge com a ajuda de Carl, que segura-me pelas costas, enquanto afunda-me gentilmente pelo peito. A água lavando meus erros. Nascerei de novo, como uma nova criatura. Ressurjo, as vestes molhadas e lavadas por Aquele que deu a Sua vida por mim. Como eu demorei tanto para enxergar esse Amor tão belo e Infinito? Como eu pude ser tão ignorante? Oh, agora eu vejo, eu finalmente posso ver.

Obrigado, Deus.

Eu estou de pé.

E obrigado por me fazer continuar de pé.

Adeus, velho John.



˚ . ˚ . * ✧🌌🌠✧˚ . ˚ . *

💫Nota 41: Versículo retirado da Epístola de Romanos 8:28.

💫 Nota 42: Referência a Jeremias 1:5.

💫Nota 43: Referência a Jeremias 29:11

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