28 • Déjà vu
PARTE III
JOHN
Eu não estava nada animado para ir para a L. M. Alcott High naquela segunda-feira, porém o barulho ressoante do despertador não me deixaria dormir mais cinco minutos. E se eu dormisse mais cinco minutos, não acordaria mais.
As confissões de meu passado para Mary, segredos que prometi jamais desnudar diante de mais ninguém, agora também pertenciam à ela. Era como se uma enorme pedra fosse removida de meu coração. Eu já não me sentia mais culpado pelos temores do passado.
Escovo os dentes, lambuzo meu cabelo com gel, e visto uma camisa branca, e por cima, uso um moletom azul com as palavras "New York 1962" estampadas em azul escuro bem na parte frontal.
Algo agita-se em meu peito. Não sou supersticioso e nem nunca o fui, mas tenho um péssimo pressentimento de que algo muito ruim vai acontecer.
Desço as escadas, e vou para a cozinha comer um pouco de cereal. Encontro-me com Lucy, já sentada na cadeira alta diante do balcão, comendo em sua tigela e prontamente vestida em seu uniforme escolar.
— Estava conversando com a Mary ontem?
— Isso mesmo — confirmo enquanto pego o galão de leite da geladeira e apanho a caixa de cereal de cima do balcão.
— E você não assistiu o resto do culto?
— Pois é — digo, submergindo a colher no leite com o cereal e empurrando para a minha boca.
— John, você e ela estão namorando?
Imediatamente, surpreso com a pergunta nada sutil de Lucy, cuspo o cereal para longe. Era impressionante como ela conseguiu fazer um questionamento tão sério e continuar tão tranquila, como se tivesse apenas perguntado "que horas são" ou "será se vai chover hoje?". A cada dia, ela agia como se fosse mesmo a minha irmãzinha.
— E isso é pergunta que se faça, Lucy?
Susan surge na cozinha com um envelope pardo em mãos. Ela foi o meu bastião durante algum tempo, permitindo que eu ficasse na sala dela, enquanto me escondia dos valentões da escola. Nunca contei ao meu pai o que eu passei nas mãos de Billy, e talvez, nunca o faça.
— Chegou para você, John — Susan anuncia enquanto entrega-me o envelope. — Veio de Los Angeles, Califórnia.
Minha mãe havia me enviado as fotos de sua viagem pela Europa, depois de ter me prometido que as enviaria há algum tempo. Rasgo o envelope ali mesmo diante de Susan e Lucy, e espalho as fotografias sobre o balcão. Minha mãe está em quase todas as fotos, sempre a esbanjar sorrisos e muitas poses.
— Sua mãe é muito bonita — Susan elogia a mulher na fotografia. — Vocês são parecidos demais.
E Susan tem razão. Mamãe tem cabelos loiros e olhos que de tão azuis, são cristalinos. Regina ainda é uma mulher jovem, esbanjando apenas trinta e três anos.
— Você passará o Feriado da Independência com a sua mãe? — Susan pergunta.
— Acho que sim... ainda não decidi.
Estou muito vacilante esses dias. O John de antes não teria perdido a oportunidade para dar uma resposta ácida e seca, e falado o quanto queria se livrar de Paradise. No entanto, no atual momento, não acho que possuo mais sentimentos contraditórios a respeito desta cidade.
Há uma foto com a vista da cidade de Luxemburgo, que eu tenho certeza que foi o meu padrasto que a tirou. Eu estou ansioso para mostrar as fotos à Mary também. Eu sei que ela gostaria de ver a cidadezinha nas fotografias que parece ter sido retirada diretamente de um conto de fadas. Posso até mesmo escutá-la a dizer "puxa, John, como você é parecido com a sua mãe!".
• • •
Parecia apenas ser mais um dia normal. Um dia como outro qualquer. Fecho a porta do meu carro, e caminho para o prédio A, rumo a primeira aula: Física. O horário em um piscar de olhos, e logo apresso-me para ir para a segunda aula do dia: L. Inglesa, a mesma aula que eu e Mary assistíamos. De imediato, encontro Jake e Lara, que haviam voltado de suas consecutivas viagens.
Meus olhos passeiam por cima de todas as cabeças na classe, mas não a encontro.
Havia um pequeno e mero detalhe: Mary não havia ido para a escola naquele dia.
Aquilo soou como um alarme para mim. A preocupação borbulhava dentro de mim. Eu sabia que havia acontecido algo muito errado à ela. A aula tão logo terminou mas eu sequer havia prestado a devida atenção. Só havia uma pessoa no mundo que poderia me responder o motivo de Mary não ter ido para a escola, e aquela pessoa era Ellie Marshall, mas ela me odiava demais para responder alguma pergunta minha. Eu poderia perguntar ao Sr. Carl, sendo que certamente ele nem estaria em casa.
Caminho novamente até o meu armário, minha mente deslocada o suficiente para não saber qual será o meu próximo horário.
Mary deve ter piorado. Meu Deus! O pior deve ter acontecido!
Meus pensamentos viram poeira quando escuto uma voz irritante perto de mim, a discutir com um dos veteranos do terceiro ano.
— Idiota, o baile está chegando! As flores do corsage³⁹ tem que ser rosas brancas e não peônias amarelas — escuto Rachel gritar com um garoto qualquer, um garoto que a convidou para o baile de formatura. Sempre a achei burra demais para diferenciar uma flor da outra. — Se não me trazer o corsage certo, pode se considerar dispensado, panaca! — esmurra contra o peito do rapaz, uma pequenina caixa de plástico, contendo flores de pulso amarelas. Que garota estúpida, tão estúpida quanto o irmão dela.
A data do baile de formatura ainda era longínqua, e ainda assim, todos estão com uma maldita pressa. Pressa para entrar em universidades, pressa para estar em trabalhos de meio período e pressa para a tão sonhada liberdade, e eu estava com meus pensamentos focados em Mary Marshall e em seu repentino sumiço.
Guardo o meu caderno e o livro didático de L. Inglesa. No meio de uma multidão de rostos disformes, reconheço o rosto de Lara. Soube que ela passou a Páscoa com seus parentes em uma fazendinha. Quando ela veio me abordar no corredor da escola com uma expressão muito preocupada, eu podia sentir que ela também pensava o mesmo que eu. Que Mary estava em apuros.
— Precisamos ir atrás da Mary, John. Já falei ao Jake que precisamos ir para a casa dela, e perguntar aos tios dela o que houve com a nossa amiga. Não posso ficar quieta sem saber o que aconteceu com a Mary.
— Já ligou para ela?
— Já, mas ninguém nunca atende o telefone e isso está me preocupando demais. Mary nunca deixa o telefone ter mais de três toques.
E eu não poderia concordar mais com a Lara. Algo estava errado.
— Sugiro que escapemos no horário do almoço.
— Escapar? — ela olha-me assustada.
— Tudo bem se não quiser fazer isso — acho que exigi muito dela. — Eu vou ver a Mary, sozinho.
— Nada disso — Lara infla as bochechas, ficando sisuda. — Eu vou também. Mary é minha amiga também, John.
Seguimos o meu plano, e juntos, nós dois nos deslocamos pela chuva fina até o estacionamento da L. M. Alcott High, rumo ao meu carro. Nos esgueiramos, fugindo do olhar de qualquer professor estraga-prazeres. Tenho quase a absoluta certeza de que fugir da escola, em pleno horário do almoço, foi o ápice da rebeldia para Lara.
— E para onde os dois fugitivos pensam que vão?
Jake nos aborda, como se fosse alguma espécie de monitor de corredor, neste caso, monitor de estacionamento. Não me surpreenderia se ele tivesse essa função, afinal, ele faz parte do grêmio estudantil, e sabe-se lá quantos cargos criativos eles poderiam criar.
— Nem tente nos impedir, Jake! — Lara está uma pilha de determinação. Pisa duro no chão de cimento com seus tênis cor-de-rosa. — Iremos até a casa da Mary para saber o que aconteceu com ela!
— Eu não ia impedi-los de forma alguma — Jake diz.
— Não? — Lara e eu falamos em uníssono.
— Eu também estava querendo ver como a Mary está. Apenas ia sugerir para irmos no meu carro, porque de forma alguma eu permitirei que John nos dê carona naquela lata velha — Jake fala, girando a chave da caminhonete em seus dedos. — Então, vamos?
Passamos por Jake, caminhando em direção ao carro dele.
— Para a sua informação, meu carro é um clássico — digo, um tanto orgulhoso.
— Disponha — ele retruca.
• • •
Não demoramos em chegar na porta da casa da Mary. Quem nos recepciona é o pastor Carl que está com os olhos muito inchados e vermelhos, como se estivesse chorando muito ou dormido mal, ou os dois.
— Vocês não deveriam estar na escola, crianças? — mesmo com sua feição sofrida, o Sr. Carl ainda nos trata com muita brandura.
— Por favor, pastor Carl, pode nos dizer se a Mary está em casa? — Lara é a primeira a falar.
Ainda bem que Lara tomou a iniciativa de falar, porque se não fosse por ela, nem eu ou Jake falaríamos. Ao deparar-nos com o estado do Sr. Carl já sabemos o que aconteceu. Ele abre a porta para nós, permitindo que adentremos o seu lar e nos convida a sentar no sofá. Nós três nos sentamos, enquanto esperamos o homem de feição abatida, que ainda está em pé, começar a falar.
— Mary não está em casa, meus queridos. Ela está internada no hospital.
Aquele péssimo pressentimento que eu senti pela manhã, voltara. Infelizmente eu estava certo.
— E temo que desta vez, ela não retorne para casa — Carl complementa, com sua voz pacífica. — Ela sofreu um acidente ontem à noite, enquanto fazia o dever de casa. Quando a encontramos no quarto, ela estava caída ao chão, de olhos fechados. Havia perdido a consciência. Isso aconteceu às 21h15. Ellie está a acompanhando no hospital desde ontem.
Ao ouvir aquilo, meu coração apertou-se em meu peito. A imagem de Mary, caída no chão da cozinha sobre a poça de seu próprio sangue veem em minha mente, preenchendo cada lacuna de minha memória.
É um Déjà vu. Um maldito Déjà vu⁴⁰!
Não posso acreditar que isso esteja acontecendo... Não, Deus! Não pode estar acontecendo! Devo estar sonhando, dopado em algum sonho ruim, preso no corredor da minha mente com várias portas trancadas. O medo nunca foi real como está sendo agora.
— Por favor, Sr. Carl, precisamos ver a Mary agora — minha voz se sobrepõe tornando-se alta e desesperada demais. — Por favor!
— Sim, pastor Carl, precisamos vê-la! Ela é nossa amiga — Lara está com as mãos unidas como se estivesse a orar. — E pensar que enquanto eu me divertia na fazendinha, e estava contente com meus primos ouvindo histórias e cantando canções, Mary estava em um quarto de hospital. Isso não é justo!
— Eu estava indo para lá, para trocar de lugar com a Ellie. Ela precisa descansar, acima de tudo — Carl caminha até a porta. O pastor está cansado, o fardo tornando-se demasiado pesado para um senhor como ele.
— Darei carona a você, pastor — Jake oferece-se. — Assim, economizamos tempo e vamos todos ao mesmo destino.
— De acordo — eu digo.
— Vamos logo, então — Lara agita-se. — Não vamos mais perder tempo!
• • •
O pastor aceita a carona oferecida por Jake. Ele corta caminho direto para a rua que é um atalho para o hospital. Agoniado, não tiro os olhos da estrada. Uma blitz policial rotineira faz com quê Jake pare o carro, e mostre os documentos do mesmo. Nesse momento, agradeço a Deus por não estar dirigindo o meu carro, pois além de não ter ideia de onde estão os documentos dele, minha carteira de motorista ficou em Los Angeles.
— Tá de sacanagem — digo, tocando a testa com a palma da minha mão.
— Acalme-se, meu jovem — Carl se mantém todo o tempo, calmo. — Garanto que Mary está sendo bem atendida. Deixemos nas mãos de Deus.
— Boa tarde, Sr. Policial — Jake enfia o braço para fora da janela, mostrando a carteira de motorista ao policial.
— Ei, vocês não deveriam estar na escola? — o policial pergunta.
— Surgiu uma emergência, Sr. Policial. A minha sobrinha... — Carl tenta explicar-se.
— Pastor Carl? Grande pastor Carl! Ora, não precisa desse alvoroço todo. Podem passar — o policial permite a nossa passagem e vejo-o acenar pelo retrovisor.
Assim que somos liberados, retornamos à rua. As batidas do meu coração conforme nos aproximamos do hospital, aumentam de forma brusca.
Jake estaciona o carro, e sem esperar mais nenhum segundo, salto do carro, quase arranhando a porta, e disparo pela porta giratória de vidro adentrando o hospital. Na recepção, o pastor Carl, Jake, Lara, e eu assinamos alguns documentos, umas folhas avulsas, até que por fim é dada a permissão para que possamos andar até a ala em que Mary se encontra. Colaram um adesivo estúpido no meu moletom. Tudo isso para que nós pudéssemos entrar no quarto onde estava ela.
Minhas mãos estão suadas, meu peito está doendo, minha cabeça está girando infinitamente.
Paramos diante da porta do quarto, contudo não entramos. A tia da Mary nos recebe — ao menos, recepciona o marido —, com um forte abraço e vários soluços. Olha-nos e nada diz. Ouço o pastor Carl dizer baixinho algo sobre Ellie ir para casa, mas ela é realmente obstinada.
— Como está a Mary, tia? — Lara pergunta. Chamá-la de "tia" deve ser alguma forma de educação, pois as duas não possuem laços consanguíneos.
— Mary está dormindo — Ellie repousa a mão sobre o broche no xale. — Ainda não sei o que acontecerá a ela, e estou tão nervosa... Carl, por que esses meninos estão aqui? Não deveriam estar na escola? Oh, eu não quero que as mães de vocês fiquem enfurecidas por estarem matando aula. Por favor, vão para a casa de vocês. É uma ordem!
— Querida, eles também tem o direito de saber sobre a Mary. Eles se arriscaram tanto por terem fugido da escola — Carl tenta convencê-la. — Além do mais, são os amigos da nossa Mary. Estão tão apreensivos quanto nós que somos os tios.
— Podemos vê-la, Sra. Marshall? — Jake indaga. — Assinamos os documentos na recepção do hospital, somos visitantes, e ainda estamos no horário das visitas — mostra o nada decoroso adesivo de "visitante" na camisa.
— Não quero que vocês a vejam definhar dia após dia! Não quero que a vejam morrer! Por favor, vão embora.
— E-ela está morrendo, tia? — Lara gagueja. — Mary está morrendo?
Mal consigo capturar as palavras que saíram da boca de Lara.
— Não foi isso que eu quis dizer! — Ellie disse, um tanto magoada.
— Acabou de dizer que ela está morrendo — Jake foi muito mais incisivo.
— Estão distorcendo o que eu disse — Ellie Marshall parecia tentar desvencilhar-se daquelas verdades inconvenientes. — Se respeitam a Mary, quero que voltem para a casa de vocês. Essa visita repentina só iria atrapalhar. Coloquem em suas cabeças que ela nunca teve a mesma vitalidade que vocês. Tudo o que ela mais precisa nesse momento é ficar longe de qualquer tipo de agitação.
— A gente fica bem quietinho, tia, não daremos nenhum pio — Lara tenta negociar.
— Não vou abandoná-la — digo, muito determinado. — Não deixarei a minha amiga sozinha. Não mesmo!
— Falando dessa forma, rapaz, até parece que estava fazendo uma nobre causa. O que um rebelde sem causa, como você, sabe sobre "amizade"? Você é o moleque que destruiu a minha casa.
— Oh, Ellie querida, mas ele também a restaurou — Carl tentava atenuar a situação.
— Mas só restaurou porque ele a destruiu primeiro — Ellie diz, exaltada.
Talvez, aquele tenha sido o momento mais perto em que considerei perder as estribeiras e a razão. Uma enfermeira passa pelo corredor e pede que para façamos silêncio.
— Querida — tio Carl intervém —, acalme-se, por favor.
— Meus nervos, Carl, sabe que sofro dos nervos — é uma maneira incomum que ela achou para referir-se à sua pressão alta. — Detesto ter que discutir. Eu fico me tremendo toda como uma vara verde. E tudo isso é por culpa desse moleque ultrajante. Aposto que foi ele quem deu a ideia para que visitassem a minha sobrinha querida. Não possui respeito pela Mary.
Aponta para mim, seu dedo tornando-se uma sombra tirânica que me cobre. Sinto-me diminuído perante ela e suas acusações.
— Não fale assim comigo! — defendo-me. — Você sequer me conhece e acha que pode me julgar!
— Garotinho vulgar que não sabe respeitar os mais velhos!
— Se você ao menos deixasse a gente ver a Mary. Por favor, Sra. Ellie — insisto. — Não por mim, mas pelos outros.
— Acreditem, essa chance não virá. Não quero que a vejam e nem que voltem para o hospital. Preservem na mente de vocês, a imagem da Mary de antes. Vocês são jovens e estou lhes poupando do sofrimento. Mary não consegue se mover ou falar. Ela respira por meio da traqueostomia e alimenta-se por meio da gastrostomia. O único membro de seu corpo que ela ainda consegue mexer é o braço direito. Não posso permitir que a vejam neste estado. Eu não me perdoaria.
— Não pode fazer isso com a gente! — Lara está quase chorando. — Somos amigos dela, tia!
— Por favor, nos deixe ver a Mary! Só desta vez. — Jake implora.
— Não está nos poupando de sofrimento algum. Esse é o seu pedido e não o pedido da Mary — falo sem pensar.
— Eu não darei ouvidos a um garoto estúpido, que não sabe nada a respeito da doença da Mary — diz, a voz da Sra. Ellie ganhando uma forma estridente e elevada. Dói os meus ouvidos ter de escutá-la. — Não quero vê-los mais! Vão para a casa!
— Você não é a mãe dela! — esbravejo.
Inflei meus pulmões, enchendo-os com a mais pura raiva que sentia da Sra. Ellie Marshall. Minha garganta doía ressecada pela amargura aprisionada. Nunca senti raiva de uma pessoa em minha vida, mas naquele momento, vendo-a podar a vida da sobrinha do marido como uma muda de planta, necessitei mostrar à ela o quanto estava errada, e que não podia agir daquela forma, nos afastando de Mary, nos impedindo de ficar ao lado dela em um momento tão complicado.
Ficamos trancafiados em nossos próprios ressentimentos, vendo-os crescer perante nossos olhos, e ganhar ares monstruosos. Naquele instante em que abrir a minha boca para dizer aquela frase tão revoltante, que feriu a tia da Mary, eu sabia que havia liberado o pior que havia em mim.
Eu não estava pronto para pedir perdão. E tampouco ela.
Carl acaba por nos convencer a ir embora, enquanto consola a esposa. Lara, Jake e eu somos recebidos pela chuva fina que ainda cai sobre o hospital. A derrota pesando sobre nós.
— Bruxa! — exprimo, furioso, enquanto chuto uma lixeira de lata que estava do lado de fora do hospital.
— O que a Mary vai pensar? — Lara está com a voz embargada. — Vai pensar que somos péssimos amigos que não a visitaram em um momento tão difícil. Vai achar que nós a abandonamos.
— Talvez, a Sra. Marshall tenha razão, pessoal — Jake diz. — Nossa presença só iria atrapalhar.
— Jacob Benson, você não disse isso! — Lara estava arfante. — Eu não acredito nisso — ela tem os olhos marejados.
— Você entende alguma coisa de Esclerose Lateral Amiotrófica, Lara, entende? Sabe cuidar de uma pessoa que tem essa doença? O tipo de medicamento que deve ser tomado? — Jake tem a feição distorcida pela raiva. — Caramba, você nem mesmo consegue falar o nome dessa doença!
— Ei, a Lara não tem culpa de nada — intrometo-me.
— Tem razão. Você é o culpado por ter dado essa ideia estúpida... visitar a Mary... como se a nossa visita fosse curá-la — uma risada amarga preenche a garganta dele. — Vocês escutaram o que a Sra. Ellie disse, Mary não pode falar e nem se mover — Jake retorna a andar.
— Jake, por favor... Não podemos desistir da nossa amiga — a voz de Lara não pode o alcançar.
— Estou indo para casa — ele avisa. — Vir para cá foi um tremendo desperdício de tempo.
— John... — Lara suplica em seu olhar para que eu não permita que nossa frágil amizade, se rompa.
Nada faço.
Lara o segue, cabisbaixa, pois não queria perder a carona. Eu, por outro lado, nego-me a segui-los. Não queria dividir o mesmo espaço que Jake. Nossos temperamentos eram iguais e naquele instante precisávamos de distância. Ainda precisava retornar à L. M. Alcott para recuperar o meu carro que ficou no estacionamento da escola.
Pela vidraça do hospital, observo o meu pai. Ele estava olhando diretamente para mim. Seu olhar já dizia tudo. Corro através da chuva fina em direção à parada de ônibus.
˚ . ˚ . * ✧🌌🌠✧˚ . ˚ . *
💫Nota 39: Corsage é um pequeno arranjo floral que, geralmente, é usado no pulso esquerdo. Mas, em alguns casos, ele também pode ser usado na roupa da cerimônia, como na lapela de paletós. Mais conhecido por ser usado por madrinhas de casamento.
💫Nota 40: Déjà vu é uma expressão de origem francesa que se refere à sensação de já ter experimentado ou presenciado uma situação, evento ou conversa, mesmo que isso pareça impossível, já que o momento atual é percebido como novo ou inédito.
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