Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

21 • Uma teoria chamada John

Sou teimosa e eu sei que esse é o meu maior defeito. E é por isso que forço-me à ir para a L. M. Alcott High. 

Lavei meus cabelos com meu xampu preferido (que tem cheiro de morango) e fiz questão de escová-los umas cinquenta vezes mas meu cabelo continua rebelde. Usei especialmente meu perfume de essência de baunilha que ganhei no meu último aniversário. Além do mais, nos meus lábios fiz questão de passar brilho labial. É um pouco grudento e às vezes tenho vontade de passar a ponta da língua no meu lábio inferior só para sentir o sabor. Havia uma menina que estudou comigo no segundo ano que simplesmente exagerava na maquiagem. Espero não ter errado na dose. Visto um suéter de lã vermelha por cima de uma camisa social com mangas compridas, para que assim possa esconder as marcas que o acesso deixou em meu braço. Uso calças jeans dessa vez, novamente, envergonhando-me dos hematomas em minhas pernas. Vistorio a minha bolsa de novo e de novo, pois não quero esquecer nada. 

Cadernos; checado. Estojo; checado. Agenda; checado. Livro sobre astronomia que preciso devolver para Jessica Louise; checado. Absorventes; checado. E uma caixinha de riluzol; checado.

 Lá na cozinha, posso escutar a minha tia me avisando de forma muito amável que teríamos que passar na fisioterapeuta logo pela tarde. Contudo, assim que ela me vê, pronta para sair para a escola, posso perceber a apreensão em seus olhos.

— Eu quero muito ir para a escola, tia. Logo estaremos no mês de abril, e eu não fiz absolutamente nada de relevante. Sei que está preocupada comigo, mas eu tenho amigos do meu lado, e, além do mais, Papai do Céu está olhando por mim.

E, foi com estas breves palavras que não convenci a minha tia Ellie, mas sim, tio Carl, que permitiu que eu fosse para a escola. Afinal, eu já havia ligado para o Jake me buscar, então, eu não queria que meu amigo fizesse uma viagem em vão.

Não demorou muito que a caminhonete de Jake, que ele apelidava carinhosamente de Cheyenne, aparecesse na porta da nossa casa. Buzinou duas vezes e eu entendi o seu recado.

— Tome cuidado, minha querida, e caso se sinta mal, por favor, não hesite em dizer para a coordenadora ligar para mim — e dizendo isso, tia Ellie beija a minha testa, enquanto tio Carl afaga-me com um abraço.

— Estou levando o remédio comigo, tia. Sou uma garota precavida — pisco para ela.

Conto meus passos da porta de minha casa até a caminhonete de Jake. Dou uma olhada para trás e vejo o resultado da restauração de John. A casa está quase que totalmente recuperada à sua glória original, só faltando o cercado que foi derrubado pelo carro do transgressor e as janelas que foram quebradas pelo mesmo. Tem trabalhado dia sim e dia não, conforme o acordo judicial.

— Está pronta, Mary? — Jake acena, esperançosamente.

Assinto para Jake, rascunhando um sorriso em meu rosto. 

— Que seja o que Deus quiser.

Assim que chegamos na escola, vejo olhares preocupados de alguns e sorrisos reconfortantes de outros. Lara não perde tempo, e corre para abraçar-me, mas diferente das outras vezes, abraça-me com exagerada cautela, pois acho que na cabeça dela, ela pense que eu vá me quebrar como um frágil cristal.

 Quem mais sentiu a minha falta foram os professores. A professora de L. Inglesa, Donna, vem falar comigo, com os olhos quase marejados.

— Ah, sentimos tantas saudades suas nesses dias em que ficou internada, minha querida. Não precisa fazer os deveres se não estiver se sentindo bem. Caso queira ficar em paz, pode ler seus livros na Sala dos Professores, pois a biblioteca ainda está em reforma. Creio que no começo do próximo mês, terminarão os reparos.

— Obrigada, professora, mas estou me sentindo bem no momento. Com toda a certeza vou querer assistir as aulas. Acima de tudo, sinto vontade de estar com meus amigos.

Adentro a sala de aula, e fico feliz por nada ter mudado. John está aqui, pois dividimos o mesmo horário. Assim que ele me vê, repuxa um sorrisinho de canto, embora eu não esteja nada feliz, pois ele está com minha lista, e sabe a respeito dos meus desejos. Vou cobrá-lo sobre isso assim que a aula terminar.

• • •

Misturo-me na maré de alunos que transita de um lado para o outro, rumo para suas devidas classes, e tomo todo o cuidado para não esbarrar em ninguém. Sigo John, que caminha em direção ao seu armário. Tento bancar a espiã tal como vi em um seriado antigo que assisti com o tio Carl, mas falho miseravelmente assim que ele se vira e se surpreende ao olhar-me atrás dele.

— Bancando a perseguidora, Marshall? — abre o cadeado calmamente. — Achei que essa fama era só minha.

Reprimo meus lábios diante de uma observação tão estrambótica. Observo a porta de seu armário diante de mim. Está riscada com marcadores em diversas cores com caligrafias variadas, e cada frase que eu leio, aterroriza a minha alma. São ofensas brutas e maldosas demais para serem proferidas.

Com muita tranquilidade, John retira de seu armário uma garrafinha de álcool e um pedaço de pano muito manchado. Fecha a porta do armário e começa a esfregar com ímpeto o pano embebido em álcool na porta do armário, fazendo todas as palavras gravadas ali, sumirem.

— Isso tem acontecido há quanto tempo, John?

— Estou acostumado. Só que eu vou ter que comprar uma nova garrafinha de álcool. Essas coisas custam quatro dólares. É um roubo! Pelo menos, me motiva a limpar o meu armário.

— Estou falando sério, John! Por que não procura o conselho da escola? A Sra. Susan, a professora Donna, o professor Irwin...

— Professor Irwin... — John solta uma risada dolorosa, enquanto devolve a garrafa de álcool e o pano para dentro do armário. — Ah, Mary, Mary... você é muito ingênua em achar que um professor como aquele cara tem a capacidade para acabar com o bullying na escola. Ele é só um papagaio de pirata que repete aquilo que está nos folhetos e nos livros que leu, sem importar-se com a situação real dos alunos.

Escuto seu desabafo, e através disso, compreendo que John pediu ajuda mas foi totalmente esnobado.

— Mas, diga-me, o que quer perseguindo-me? Não veio até aqui para ver a bela obra de arte que deixaram no meu armário, ou foi?

— Quero a minha lista de desejos de volta!

— Ah, aquele pedaço de papel era uma lista de desejos?

— Não se finja de tonto! 

— Calminha, não fique brava. Sua lista não está no meu armário.

Meus olhos focam em uma marca arroxeada, que encontra-se em pescoço, circulando-o. Tem forma de dedos e somente ao imaginar o que causou aquilo em sua pele, um arrepio corre em minha espinha. John percebe que eu estava olhando para aquilo, e como se o constrangimento lhe cobrisse, esconde a vistosa marca puxando a gola da sua camisa de flanela para cima. 

— Eu caí —  ele responde, de forma rápida e nada hesitante, sem ao menos eu ter lhe perguntado algo.

John deve estar com as pernas mais fracas que as minhas, pois esta já é a segunda vez que ele diz que caíra na escola. Não preciso ser uma investigadora particular para cogitar que John está mentindo.

O sinal toca alertando a todos nós que já deveríamos estar na sala de aula, e dessa forma, John esquece tudo o que conversamos há pouco.

— Te vejo na hora do almoço, Marshall. Não posso me atrasar para a aula de Física. E, você também não deveria se atrasar para as aulas, mocinha.

Mocinha? Eu sou um ano mais velha que ele!

— Espere, John! Você não devolveu a minha lista!

— É só me encontrar lá fora, perto dos balanços, na hora do almoço. 

Talvez eu esteja doida, porque é exatamente isso que eu faço. Na hora do almoço, digo para Jake e Lara tenho um outro compromisso, e por incrível que pareça, meus amigos acreditam em mim. Esgueiro-me pelo lado de fora da escola, pisando na grama recém molhada pela chuva fraca que acabou há pouco. 

Espero que John seja breve, pois ainda quero continuar a ler o outro livro das Crônicas de Nárnia, "Príncipe Caspian", na Sala dos Professores.

Nesta parte da escola, quase inabitada, ficava o antigo Jardim de Infância. Eles removeram o antigo escorregador e o playground, mas os balanços ainda permanecem aqui, a rangerem eternamente suspensos em correntes como sussurros fantasmagóricos. Sobre um dos assentos, está um pedaço de papel perfeitamente dobrado. Abro-o e deparo-me com letras familiares e sonhos que reconheço de cor. É a minha lista! 

— Achou — John diz, surgindo em meu campo de visão, quase me assustando. — Eu disse que devolveria a sua lista, não disse?

— Admito que o seu poder de persuasão é inspirador. Mas por que me chamou para cá? Acho que desde que desativaram esse prédio, ninguém vem para cá.

— Temos poucos minutos de almoço — John senta-se no balanço, apenas senta-se, e não se movimenta para frente ou para trás. — Eu não quero ter de reviver os 3 minutos de ódio²⁷ por todo o sempre. 

— É por causa do que estão fazendo com você? — sento-me no balanço, fazendo o mesmo que ele. — Tem almoçado sozinho esse tempo todo? Escondido dos olhos de seus valentões?

John não confirma mas também não nega para mim. Ele deve estar sendo perseguido a valer por toda a escola, e assumo que estou sentindo pena dele. Sobreviver ao Ensino Médio é uma tarefa árdua.

— Compraram uma cadeira de rodas para você, não foi? — John muda bruscamente de assunto.

Apenas confirmo com a cabeça. Só ter de pensar que a cadeira espera-me na sala de estar, faz um aperto surgir em meu coração.

— Os enfermeiros me contaram o que você tem — fico agitada, e imediatamente, John faz um sinal com as mãos, pedindo que eu fique calma. — Não vou contar para ninguém, mas eu andei pesquisando sobre essa doença. Li uns livros na livraria da cidade sobre isso, antes de ser afugentado porque "livraria não é biblioteca", mas fiquei pensativo a seu respeito...

Escuto o que ele tem a dizer, desta vez, com muito mais calma. Posso ver que John mudou muito a sua forma de ser, embora, eu o conheça tão pouco. 

— Se você fosse uma super-heroína, Marshall, que tipo de poder gostaria de ter? — ele não consegue manter-se em apenas um assunto?

— Isso foi tão repentino. Vejamos. — esforço à procura de uma resposta correta. — Eu poderia desejar ser a pessoa mais inteligente do mundo, ter o soco mais poderoso do Universo, ser a mais veloz, ou simplesmente, ter o poder de voar sem limites pelos céus. Mas, acredito piamente, que curar as pessoas seja de longe o poder mais belo. E quanto a você, Walker?

— Queria ter o poder de ser invisível. Assim ninguém na escola... — interrompe-se abruptamente. — Deixa pra lá — diz, em um risinho forçado.

— Então — prendo uma mecha atrás da minha orelha —, já que está tão cheio de questionamentos aleatórios, posso te perguntar algo?

— Faça a sua pergunta, Majestade.

— Por que você roubou a minha lista dos desejos?

— Eu a devolvi, não foi?

—  É... depois de ter lido-a, e certamente, rido maldosamente de cada um dos itens.

— Eu não zombei de seus desejos, Mary. E para não esquecer de nada, eu acabei por copiar a sua lista em outra folha.

— Ora, seu...

— Antes que me xingue até ficar roxa, já vou logo dizendo que foi por uma boa causa. 

Eu jamais deveria ter criado essa lista. Ou simplesmente, não ter escrito com letras coloridas coisas tão intrinsecamente pessoais em um mero papel amassado com adesivos de chiclete.

— Eu quero lhe fazer uma proposta.

— E que proposta seria essa?

John olha para longe. Está estático, como se tivesse acabado de ver um fantasma em sua frente. A respiração dele está rápida e os olhos, arregalados.

— Ah, não! Essa não! — de repente John silencia-se.

Sigo a linha de seu olhar e perco meu fôlego. Deveríamos ser as únicas pessoas nesta parte desabitada do terreno da escola, então por qual motivo Billy e este outro cara, que com toda certeza não é o Peter, estão aqui? Pareciam nos observar há um bocado de tempo. Senti um arrepio quando o capitão do time chamado Carson me encarou.

— Ora, ora — Billy empurra a garrafa que tinha nas mãos, goela abaixo, bebendo o líquido em questão de segundos. — O que faz aqui, Jaw?

John levanta-se do balanço e põe-se em minha frente. Estou tremendo. Billy me horroriza há muito tempo. Todos sabem que ele é imparável e usa a vantagem de seu pai em ser o delegado da cidade ao seu favor. Ele e seu companheiro parecem ébrios, e não apenas isso, mas fumam um cigarro estranho que exala uma fumaça muito diferente de um cigarro comum. E tudo isso em pleno ambiente escolar. Billy não teme autoridades. É um garoto sem escrúpulos e sem caráter, que usa o mero fato de ser parte do time do escola para matar aula.

— Quando seu mestre fala, Jaw, você deve responder imediatamente — Billy aproxima-se de nós, seguido por seu comparsa. — Trouxe a Pastorinha para nós? Que gentil de sua parte.

— SE AFASTA! — John braveja.

Estou com medo, Deus. Temo por John.

— Caraca, Billy — o comparsa dele, que descobri minutos depois que se chama Troy, gargalha, lambuzando-se com a garrafa com esse estranho e fétido líquido —, vai deixar seu brinquedinho falar assim com você?

— Brinquedinho? — minha voz morre na garganta diante do olhar triste que John lança para mim. É autoexplicativo até demais o que está havendo aqui. O hematoma que eu vi em seu braço noutro dia, a estranha circunferência arroxeada que está em seu pescoço... Tudo faz sentido!

— Ele não contou, Pastorinha? — Billy cospe no chão. — John é o brinquedinho, meu passatempo favorito. Ele tem que ser obediente a mim, afinal, ele é um cão sarnento. Mas, não se preocupe, porque o belo rosto dele não sofre com nossas brincadeirinhas. Mostre para ela, Jaw, a minha obra-prima.

John está trêmulo. Obedecendo a ordem do outro, ainda de costas para mim, levanta sua camisa para mim, e eu vislumbro horrorizada o que Billy fez em suas costas. Há queimaduras de cigarros sobre sua pele. Marcas recentes, cicatrizes cruéis. Como se não suportasse mais me mostrá-las, John abaixa sua camisa.

Criminoso! Billly Carson é um criminoso!

— A melhor parte é que ninguém acreditará nele. Estou sentindo sua falta, Jaw. Tem se escondido de mim? Tem vindo para cá na hora do almoço? Passar o tempo na sala da psicóloga pode ser entediante, não é?

Billy lambe os lábios, mirando um John acuado, para o meu completo enojo.

— Quem você pensa que é? — minha voz ganha forma diante daquele enunciado cretino, levanto-me do balanço, furiosa, mas ainda assim, John continua em minha frente. — Não tem o direito de fazer isso, Billy! É desumano! Como pode tratar as pessoas de forma tão cruel?!

John olha-me sobre o ombro. É como se em seu olhar, dissesse para eu ficar fora disto. Mas não posso. Não depois de descobrir que John sofre nas mãos de um valentão de quinta categoria.

— A família Marshall tem mania de meter-se nos assuntos alheios. Por isso seu tio pagou caro — Billy sorri para mim. Odiei ter visto esse sorriso. — Ele aprendeu que não pode me enfrentar.

— Foi você... — meus olhos marejam — que fez aquilo com a minha casa?

Oh, Deus. E John assumiu a culpa por tudo. E eu o odiei por dias e noites a fio. A verdade viera com o Cavaleiro do Apocalipse.

— Uma grande ideia, né? — Troy dá mais um gole na garrafa. — Nem mesmo o John seria capaz de uma coisa tão genial.

— Troy, cala essa maldita boca! — Billy grita, lançando a garrafa no poste. — Passa a Pastorinha para cá, Jaw. E aí eu te perdoo por você ser um menino tão mau que foge de seu dono.

Que relação doentia é esta que Billy mantém com John? Trata-o como se fosse seu cão, pior, trata-o como lixo. Estou enojada, enraivecida.

— Você não é dono dele! — digo, o mais alto que posso, mesmo sabendo que a qualquer momento, minha voz pode falhar e as palavras poderão ficar travadas em minha garganta.

John não move um músculo. Seu queixo se aperta tanto que observo as veias de seu rosto se contraindo, tornando-se grossas linhas. Não sei o que é esse repentino interesse que Billy tem em mim, mas toda a vez que ele me olha, meus ossos congelam, petrificados pelo mais genuíno medo.

— Deixa a gente em paz, Billy — John anuncia em um timbre fraco, doloroso de ouvir-se.

— Judas — Billy continua a falar. Odeio ouvi-lo. — Você é um Judas, Jaw!

— Meu nome não é Jaw. — John permanece firme, mas posso sentir o quanto a imagem sarcástica de Billy o abalou.

— É um cachorrinho desobediente. Deve ter puxado para a cadela da sua mãe!

E em como um pesadelo da qual não posso lutar ou correr, John avança sobre Billy, se saindo na pior. É agredido de todas as formas possíveis tanto por Billy quanto por Troy. Como se fosse pisoteado por búfalos. Grito horrorizada vendo a força escapulir-me por entre os dedos. Grito, tentando fazer com quê Billy solte John. Continuo a gritar, mesmo sabendo que ninguém nos ouvirá, vide a distância dos prédios, e porque estamos longe da civilização. Imploro a Troy, em um olhar de súplica ridiculamente maculado por infinitas lágrimas, para que separe seu bruto líder de cima de John.

Dez minutos.

Esse foi o tempo necessário que presenciei para que Billy e Troy destruíssem John. 

O sinal já tocou e ainda assim eles não pararam.

— Por favor! Parem! Agora mesmo, ou vão se arrepender pelo resto de suas vidas — Grito com toda a força que me resta, o soluço rasgando a minha garganta.

 As lágrimas continuam a escorrer e por algum motivo, machucam-me. Arrasto minhas pernas que insistem em não me obedecer, ao menos quero permanecer firme, de pé, diante desses canalhas. Por fim, Troy consegue apartar o irado Billy para longe de John. Billy não machucou o rosto dele, como havia dito, mas chutou-o no abdômen e socou suas costelas. O garoto no chão se contorce, em posição fetal.

— Se vocês não forem embora, eu irei para a autoridade máxima desta cidade — engasgo-me no meu choro. 

— É mesmo, Pastorinha? Quem? — Billy debocha.

— A prefeita Irene Benson! Ela é a mãe do Jake, e ele é o meu melhor amigo. Se continuarem a espancar o John, eu juro por Deus, que o próximo lugar em que vocês irão passar a noite será na penitenciária.

Troy e Billy entreolham-se. Não sei se acreditaram no que eu dizia, nem eu mesmo acreditava no que cuspia no momento, mas depois de alguns minutos, decidem ir embora.

— Vamos embora daqui — Troy deposita a mão no ombro de Billy. — Eu não quero passar a noite na cadeia.

— É, ficou chato bater em cachorro morto — Billy escarnece.

Assim que eles somem, ando até John, ficando do lado dele. Ele continua deitado com as mãos sobre a barriga. Tento controlar as minhas lágrimas, mas não consigo.

— Por que fez isso? — minha voz é apenas um sussurro, é lamentável ouvi-la.

— Eu estou cansado desse cara. Dessa escola. Dessa cidade. Cansado de mim mesmo.

Sinto que Billy conseguira arrancar todo o espírito de lutador de John. É como um caçador de aves, que prende os mais bonitos espécimes em gaiolas e deixa-os para morrer às mínguas, tirando-o deles toda a sua alegria e liberdade. John está na mesma situação. É um pássaro de asas arrancadas e alma pisoteada. Ficamos algum tempo naquele chão frio. Ele deitado a encarar o céu, e eu, sentada ao seu lado. 

— Eu não me perdoaria — John tosse, repousa a mão sobre o estômago — se ele a machucasse.

— Você foi valente. Mas por favor, nunca mais enfrente uma pessoa mais forte que você.

— Billy não é mais forte que eu — diz, orgulhoso. — Ele é covarde, por isso anda em bando. Ele jamais teria chance sozinho.

— Tem razão, John — concordo com ele, apenas para não ferir ainda mais seu ego. — Billy Carson nunca será mais forte que você.

Aproximo-me dele, e o que ocorreu após seus olhos encontrarem os meus, eliminou totalmente a linha tênue e invisível que me mantinha afastada de John. De modo terno, de jeito frágil, seus lábios emitem um sonido quase inaudível, que se mistura ao vento que nos acolhe.

— Tenho algo a te propor, Mary.

— De novo com essa história? Seja um rapaz sério ao menos uma vez na sua vida, e vamos para a enfermaria da escola agora mesmo! Não percebe que está muito machucado? E se Troy e Billy quebraram alguma costela sua? E, também, estamos gravemente atrasados para qualquer aula!

— Escute-me ao menos, Mary. É uma boa proposta que quero dizer!

Posso sentir uma certa confiança que emana dele. John sequer parece que acabou de levar uma surra agora há pouco.

— Tipo o quê? Um jogo ou algo assim?

— Mais ou menos.

— Não tenho tempo e nem maturidade para isso.

— Ah, qual é? Vai me dizer que daqui a quarenta anos, quando você tiver seus filhos e netos, dirá a eles que recusou a proposta de um garoto irresistível?

Penso em revidar o seu comentário otimista, o mesmo tipo de frase que eu havia falado para ele quando nos conhecemos pela primeira vez, mas evito de retrucá-lo.

— Pois então diga.

— Alguns de seus pedidos são realmente absurdos, quase impossíveis de serem cumpridos.

— Viu? São desejos impossíveis. Fim de papo!

— Eu disse "quase" e é isso os torna fascinante, pois me dá vontade em querer realizá-los. É um desafio e tanto.

— Está sugerindo o quê? — cruzo os braços. — Que você, John Walker, será uma boa fada madrinha e com uma varinha de condão, tornará meus sonhos realidade?

— Sim. Você leu meus pensamentos.

— Isso é alguma piada?! — rio de forma sarcástica.

John senta-se no chão, olhando-me seriamente. Não estou em vantagem no momento, não quando o olhar desse garoto invade meus pensamentos, desestabilizando o meu coração. Ainda encarando-me de forma sutil, seus lábios entreabrem-se, girando meu mundo como um caleidoscópio maluco.

— É uma caçadora de milagres, certo? Então serei o vínculo que realiza teus desejos.

Tenho uma teoria acerca de John Walker que eu mesma inventei. John é um ponto caótico que acha que colocará o Universo em absoluta ordem quando atender cada um de meus desejos.

Eu mal posso esperar por isso.



˚ . ˚ . * ✧🌌🌠✧˚ . ˚ . *

💫Nota 27: Os "3 minutos de ódio" é um conceito apresentado no livro "1984" de George Orwell. No livro, os "3 minutos de ódio" são um evento diário em que os cidadãos são reunidos para expressar sua raiva e ódio contra inimigos do Estado, principalmente através de um vídeo. Essa prática é usada pelo governo totalitário para controlar as emoções da população e consolidar seu poder sobre eles.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro