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10 • Recordações vazias como em uma fotografia antiga

— Você precisa de uma foto para o anuário da escola, John Walker — a coordenadora da escola me informa. — Costumamos reunir os alunos para tirar fotos para o anuário no fim de setembro para o começo de outubro, e como você entrou na escola nas últimas semanas de outubro, sugiro que tire uma foto agora mesmo.  Só tem mais uma pessoa que também está mesma situação que a sua... — seus olhos percorrem a pasta azulada com a ficha escolar. — Mary Marshall. Ela também não tirou foto para o livro do ano, e vem fazendo isso há algum tempo. Por sorte, consegui contactar um fotógrafo. Ora, vocês precisam registrar suas lembranças escolares. É o seu último ano afinal de contas, e creio que almeja guardar memórias valiosas, não é mesmo?

Assim que a coordenadora encerra toda a sua falação, deparo-me com Mary com o corpo encostado na parede do corredor da escola. Parece muito nervosa, apertando a alça de sua bolsinha de crochê decorada com algumas flores artificiais. Vou até ela, e como quem nada quer, também encosto meu corpo contra a parede, ficando ao lado dela.

— Também foi chamada por causa do anuário?

Mary assente.

— E você?

Assinto de volta.

— É porque troquei de escola muito tarde — explico para ela.

— O meu caso é diferente... Só consegui retornar para a escola na segunda semana de outubro. Até fiquei com medo de nunca recuperar as aulas, e de não conseguir ficar no anuário de novo, e no lugar da minha foto, ter um espaço em branco, apenas com o meu nome embaixo da foto. Ser outra vez, um nome sem rosto.

Apesar de nos desentendermos às vezes, por mais incrível que pareça, fico mais à vontade conversando com ela. 

— Tia Ellie queria mandar uma foto antiga minha, para preencher o espaço do anuário. Mas eu não tenho uma única foto boa, e além do mais, fui chamada em cima da hora. Eu não sabia que a coordenadora havia chamado o fotógrafo justo hoje. Estou sentindo-me um tanto desarrumada. Muito provavelmente as outras garotas ficaram muito bonitas nas fotos. A Lara disse-me que no dia da foto, fez cachinhos que a deixaram muito parecida com a Shirley Temple¹⁰. Ela ficou toda orgulhosa por causa disso.

Vejo-a de canto de olho. Mary está com uma camisa branca de mangas longas, e por cima desta, um colete de lã azul, além da boina de lã, também azul, que carrega em sua cabeça, além da maquiagem modesta e das minúsculas argolas em ouro branco. Veste também uma saia plissada azul cobalto e meia-calça branca. Diria que ela esteja até bem mais arrumada do que eu, que na falta de roupas limpas, catou o primeiro moletom que viu pela frente e vestiu. É, acho que chegou o grande dia em que enfim terei de usar a máquina de lavar roupas.

— Vocês dois, acompanhem-me — diz o fotógrafo, um homem esguio e alto com um bigode volumoso.

Caminhamos até a quadra da escola. Lá está organizado um banner azul segurado por um tripé e uma cadeira alta, além de luzes montadas estrategicamente e a câmera. Mary é a primeira a ir. Senta-se na cadeira, com toda a elegância possível, e sorri para a câmera. Um sorriso genuíno e meigo. 

O flash da câmera emerge capturando o momento, aprisionando-o aquele instante em algo único. Em algo memorável. 

Sem demora, logo é a minha vez. Sento-me na cadeira, sendo bombardeado pelas luzes que obrigam-me a semicerrar os olhos.

— Não faça cara feia, meu rapaz. Você não vai querer ficar assim no livro do ano, vai? — o fotógrafo pergunta-me, e por trás das sombras causadas por tanta luz, vejo Mary esconder um sorrisinho.

— Eu não me importo muito com isso — respondo de volta.

Forço-me a repuxar o canto dos meus lábios, e o flash da câmera me cega por alguns minutos. Pisco os olhos rapidamente, em uma tentativa inútil para a minha visão retornar.

— Em todo o caso, assim que eu revelar as fotos, enviarei uma cópia para vocês, algumas tiras de foto em 3x4, caso queira enviar para a família ou amigos, por isso irei pedir o endereço de vocês ao diretor. Agora é só esperar sair o anuário — o fotógrafo informa. 

Mary parece muito satisfeita.

— Eu pensei que seria assustador, mas não foi. Na verdade, estou ansiosa para ver a minha foto no anuário. Eu prometo assinar o seu livro do ano, John.

— Não precisa fazer isso por pena. 

— Mas não estou fazendo isso por pena. É que eu quero guardar lembranças deste ano. Sinto que tudo está dando certo para mim, mas temo que seja apenas a calmaria antes da tempestade.

Mary coloca a mão na parede, caminhando lentamente desta vez, como se tivesse sido atingida em cheio por uma onda de tontura. Em um impulso, vou até ela, colocando minha mão em sua cintura, ajudando-a a andar. Ela está me escondendo algo, mas mesmo se eu perguntar, sei que jamais me dirá, afinal, o que sou para ela? Não sou digno de saber os seus segredos.

— Mary, você está bem?

— Você me disse uma vez, que não faz mal demonstrar fraquezas. Mas acontece que eu sou orgulhosa, John, esse é o meu maior pecado. Eu quero mostrar que sou forte, e eu não suporto ser fraca, e nem trazer preocupações para os outros com meus problemas.

Ela afasta-se de mim aos poucos, retornando a andar normalmente.

— Obrigada, e me desculpa por ter falado aquelas coisas noutro dia. Eu só acho que você não é uma má pessoa, não da forma como os boatos dizem. Quando suas fotos 3x4 chegarem, vou querer uma.

— E por quê?

— Porque sim. Não se preocupe, eu vou dar uma foto 3x4 minha para você, que tal?

Inicia sua caminhada lenta em direção ao corredor. Olho-a sumir mais uma vez de minha vista, e mesmo com seu andar lento, arrastado, quase pedante, é como se eu não pudesse alcançá-la mesmo se eu quisesse. Mary está muito além de mim.

• • •

— Cartas de amor para a Pastorinha? — Billy desconversa, enquanto estamos sentados na arquibancada, ele totalmente encharcado de suor, após minutos de treino no basquete.

Duas semanas ao certo se passaram, e o plano que eles colocaram em prática foi o de inventar um falso admirador secreto. 

— Ainda acho que a gente devia derramar um balde de sangue na Pastorinha, igualzinho como naquele filme que vimos ontem na TV — Karen está referindo-se ao filme "Carrie - A Estranha". Imediatamente ela muda de ideia quando todos olham desconfiados para ela. — Mas podemos trocar o sangue por alguma groselha avermelhada. O que foi? Eu não sou tão maluca para jogar sangue de porco nela. Credo!

— Ideia minha — Rachel se gaba, enquanto serra as unhas com uma lixa de unha. — Cartas são muito demodê, o que combina muito com a Mary. Ela deve adorar essas coisas bregas e sem graça como cartas, chocolates, flores, e serenatas ao luar.

Eu precisava dar os meus dois centavos a respeito daquela loucura:

— Eu acho esse plano uma tremenda bobagem — falo, opondo-me àquilo. — Mary não é idiota.

— Pode até ser. Mas a ideia da Rachel é perfeita. Mal vejo a hora da Pastorinha quebrar a cara — Karen fala, um tanto amarga. Está corroída de ciúmes porque ficou sabendo dias atrás que Billy tem interesse em Mary, embora sequer seja recíproco. — Ela precisa de uma lição.

— E se a gente fingir que é o "Jake" escrevendo as cartas? — Peter sugere.

— Não seja idiota — Karen desdenha. — Mary não tem nenhum interesse por Jake Benson. O garoto está na zona da amizade há tempos. E, também, colocar um nome específico nas cartas pode estragar tudo.

O plano deles era criar um garoto perfeito para Mary, que diria exatamente o que ela queria e como queria. Peter ficou responsável por escrever os bilhetes, enquanto Karen recitava o passo a passo do que deveria ser redigido na carta, e Rachel colocava o envelope repleto de ilusões dentro do armário de Mary. Enquanto ela se surpreendia por cada carta recebido por seu Romeu anônimo, nós cinco, permanecíamos escondidos a observá-la como se ela fosse um experimento de laboratório. As meninas sempre caíam na risada, enquanto a mim, vislumbrava uma verdadeira tragédia se aproximando.

Era de doer o coração vê-la sorrir para um pedaço de papel cor-de-rosa, perfumado e enfeitado. Chegava a ser patético como ela apertava a carta contra o peito, como se estivesse abraçando o seu admirador secreto. Mostrava a carta para Lara, e a amiga compartilhava do mesmo sentimento de felicidade da outra.

A tal brincadeira nunca teve a menor graça para mim, entretanto, eu não fazia nada. Eu me acovardava diante dos demais. Via os quatro elaborando mais e mais travessuras, rindo às custas da desgraça dela, e me omitia, escondendo-me em minha concha de covardia.

Foi então, para saber se tudo estava dando certo, que Karen pediu para que eu conversasse com Mary, pois eu era a única pessoa do grupo de Billy Carson que a Mary conversava normalmente. Ou no mínimo, Mary tolerava a minha presença.

— Ela nem vai desconfiar das suas perguntas, John — Karen disse.

O próximo passo do plano deles era arriscado. Mary deveria encontrar-se com o seu tal admirador secreto. Este era o ápice daquele plano maquiavélico. Comecei a me questionar se aquilo não era uma gigantesca crueldade. Se Billy e seus amigos estavam passando dos limites, e o que eles queriam provar com tudo aquilo, ao destruir o coração inocente de uma garota evidentemente apaixonada por um admirador que sequer existia?

— Mary, espera, Mary! — grito seu nome, no corredor do prédio F repleto de alunos.

O cabelo de Mary está tingindo com tinta guache verde. Certamente, uma pequena vingança de Karen por seu ciúme exacerbado por Billy. Karen é realmente imprevisível e obcecada por um cara que nem a considera como namorada.

— Seu cabelo... — refreio o que direi, temendo em minha obviedade, magoá-la.

— A aula de Artes é realmente encantadora. A Sra. Brown disse que cada aluno deveria soltar a imaginação na aula de hoje — Mary sorri forçadamente. — Uma pena da Karen desperdiçar seu talento para o mal. Mas até que essa cor combina comigo? Jake até tentou discutir com a Karen, mas disse para ele que era melhor não. 

Assim que ela suspira, de forma profunda e lenta, levanta os olhos castanhos para mim. Seu rosto é resplandecente, prendendo-me tal como pirilampos aprisionados em potes de vidro.

— O que deseja? — para uma pessoa que está com o cabelo sujo de tinta, até que ela é bem confiante. — Tomara que esteja pronto para entregar-me uma de suas fotos 3x4.

— Ah, claro. Eu já ia me esquecendo — empurro minha mão para o bolso da minha calça, alcançando a pequenina e esquecida foto. Entrego-a para Mary.

Nenhum sinal de Jake ou da Lara por perto. Estamos a sós, enfim. É a minha chance para conversar com ela. Uma conversa franca e amarga.

— Você está tão sorridente esses dias — digo, acanhado. O que eu estou dizendo? Ela está sempre sorridente.

— Acha mesmo? — ela ergue uma sobrancelha.

— Não pude deixar de notar que você olhava para um pedaço de papel, durante a aula de Lit. Inglesa. Não era um bilhete de loteria, era? — como eu sou cínico, estou sentindo vergonha de mim mesmo.

 — Bom, não sou o tipo de pessoa que adora falar de minhas pequenas conquistas, mas para você, talvez eu possa confessar. Lara já deve estar farta de tanto ouvir-me falar sobre o evento mágico que aconteceu comigo. 

Puxa o meu braço e arrasta-me para um dos bancos, obrigando-me a sentar. Mary suspira várias vezes, como se conspirasse um segredo. Ela morde os lábios, pisa várias vezes nos bicos encardidos dos tênis, olha para um lado e para o outro. Senta-se ao meu lado, e coloca o fichário nas pernas. Abre-o para mim, e mostra-me uma dezena de cartas, todas direcionadas para ela. Conheço-as de cor, afinal, sempre vi-as nas mãos de Rachel, avaliando-as, antes das mesmas serem enviadas. Mary permanece sorridente, enquanto confere as cartas, uma a uma, contando-me com ares de sonhadora a respeito do seu amor invisível.

— Ele é tão dócil com as palavras. Tão poético e sensível. Ele deve ser uma pessoa de carne e osso realmente maravilhosa. Acredita que ele quer me encontrar debaixo da velha ponte de madeira? — desenha um sorriso apaixonado no rosto. — Nunca pensei que alguém se interessasse por mim.

E quem não se interessaria por ela? Mary deve ser a quarta garota mais bonita da escola, além de ser simpática e tão alegre. Ainda não entendo o motivo dela se pôr para baixo.

— Vai se encontrar com ele? — pergunto, baixinho.

— Acho que sim. Não é todo dia que tenho a chance de conhecer meu admirador secreto. E ele quer me encontrar amanhã. Amanhã é sábado. É perfeito! Meu Deus, preciso comprar uma roupa bem bonita. Lembrei que todas as minhas roupas são sem graça.

Não, Mary, não vá conhecer seu "admirador secreto". Por favor, não vá!

— Não acha que está indo com muita pressa? Você nem o conhece.

— Por quê? Tem algo que deseja me dizer, John?

É oportunidade perfeita para livrá-la da humilhação, desta brincadeira maldosa elaborada por um coração cruel. É a brecha que eu precisava para dizer a verdade... Só preciso dizer a verdade... Somente a verdade... Minha língua trava, minha boca fica seca, meu coração acelera, a covardia, repetidamente, tomando conta de mim.

— Não. Nada.

O sorriso dela me machuca. Vê-la tão feliz somente para ser magoada, por conta de um plano estúpido, me faz me sentir o pior verme da face da Terra. Quero dizer à ela para não aceitar o convite do seu admirador secreto. Desejo revelar para ela que tudo isso é parte de um esquema feito por meus amigos, que tanto a detestam. Mas me acovardo. Não digo nenhuma palavra. Vejo-a recolher suas cartas, guardando-as com tanto carinho, como se as mesmas fossem joias preciosas. 

— Aqui, John. Uma foto minha como prometida. Cuide bem dela.

Encaro a foto 3x4 dela. O sorriso doce eternamente capturado pela fotografia. Aquela imagem gravada em minha mente.

Fecha o fichário, acena para mim, despedindo-se. 

— Até segunda-feira — ela diz. — Prometo te contar os detalhes do meu encontro. Só não fique com ciúmes.

Continuo sentado no banco, rememorando o que acabou de passar-se. Eu deveria ter contado a verdade para ela. E punindo-me mentalmente, sinto-me pior que um verme.

• • •

Robert havia voltado de viagem, e por mais incrível que pareça, Lucy não dissera nada. Nem sobre a festa e nem sobre a sua bebedeira acidental. Melhor assim. Susan estava toda alegre, nos mostrando as coisas que havia comprado para Lucy... e para mim. 

— Comprei para você porque achei estaria com saudades de casa — Susan diz, muito amigável.

Não vou mentir, ganhei um boné dos Los Angeles Lakers¹¹, e até que gostei. Era um boné roxo com o nome do time em amarelo. Sempre foi o meu time favorito. Eu tinha o sonho de jogar basquete nos Lakers... se eu não tivesse ferrado o meu braço direito.

— A casa está organizada. Tudo em seu lugar... Não tenho reclamações ao seu respeito, John — Robert premia-me com um sorriso.

Não demoro-me em passar muito tempo reunido a eles, e com uma desculpa qualquer, saio dali e vou encontrar a turma no Insane Dreams. Robert parece um tanto feliz por saber que finalmente eu fiz amizade por aqui, embora eu ache que estou andando em uma corda bamba. Dirigo o Lada rumo ao tal lugar.

Desperdiço meu sábado em outra coisa. Não que tenha esquecido de Mary a esperar seu admirador secreto debaixo da velha ponte de madeira. Fazia parte do plano de Rachel, Karen, Peter e Billy. Eu poderia encontrar Mary outro dia e lhe explicar tudo, contar toda a façanha armada por nós. Ou continuar a farrear com meus amigos e esquecer-me de vez da existência da garota maluca de meias listradas.

Na Insane Dreams, sou recepcionado por um Peter muito histérico por finalmente ter ultrapassado a minha pontuação no Galaga.

— Jaw, meu amigo — Billy se aproxima. — Tem algum dinheiro? Eu queria tanto um milk-shake mas estou sem grana.

— Sempre duro, hein, Billy? — Rachel zomba dele.

— Ah, cala a boca, mocreia — Billy grita para Rachel.

Sem outra alternativa, abro a carteira e passo uma nota de dez dólares para Billy. É como se eu tivesse acabado de ter sido assaltado, mas ao invés de arma, foi com um sorriso malandro.

Nos reunimos em uma mesa, e assim que Peter termina de jogar Galaga, senta-se conosco, devorando um pacote de Cheetos®. Os milk-shakes são distribuídos entre eles, mas dou por falta do meu.

— Você queria também, Jaw? Foi mal, cara. Esqueci de você — Billy suga o milk-shake pelo canudinho, como se debochasse da minha situação. —  A gente devia voltar ao chalé de Sam Hudson qualquer dias desses — ele recomenda.

— Acho que não vai dar para mim — falo, rapidamente. — Meu pai voltou de viagem. Não quero que ele tenha motivos para desconfiar de mim.

— Uh, Jaw, virou o filhinho do papai? — Billy caçoa de mim, mas o ignoro.

— Ei, pessoal, acham que a Pastorinha foi se encontrar com seu namorado feito de vento? — Rachel ri, mordendo os lábios.

— Ela teria de ser muita burra para fazer isso. — Karen atira a cabeça para trás.

— Ou desesperada — Billy completa, rindo aos montes.

Estávamos rindo de Mary, imaginando todo o tipo de situação. De uma coisa eu tinha certeza, seu coração se partiria, e assim que a verdade viesse à luz, ela nos odiaria ainda mais. Após um tempo na Insane Dreams, mesmo cercado por pessoas e pelos fliperamas, sinto o tédio dominar cada parte de meu ser.

— Acho que vou comprar cigarros. — digo.

— Agora? Fica mais um pouco, John. — Rachel protesta.

— Só vou comprar uns cigarros para mim — dissimulo. — Volto depois.

Olho para Billy, distraído com seu milk-shake e com as bajulações da Karen, e olho de relance para Peter com os dedos sujos de farelos de salgadinhos, que mexe a cabeça como aqueles cachorrinhos de brinquedo com o pescoço de mola. Antes de sair, ainda os escuto falar.

— A imbecil da Pastorinha deve estar esperando seu admirador invisível debaixo da ponte. — Rachel gargalha. — Ela acreditou que alguém iria sair em um encontro com ela? Que alguém perderia tempo em escrever mensagens de amor para ela? Que garota patética.

Suspiro, assentindo, derrotado.

— Ela deve ter virado um picolé. — Peter gargalha, com a boca cheia de farelos.

Assim que saio do estabelecimento, escuto as risadas de todos, o que somente contribui para que o peso em minha consciência aumente ainda mais e eu me sinta asqueroso por não ter impedido isso. Por ter participado deste plano infame, por ter rido da situação toda, por tê-la enganado e principalmente, por ser um mentiroso desprezível de merda. 

• • •

Não compro os cigarros como prometi, e nem mesmo, pretendo voltar para estar junto de Billy e dos outros. Ao invés disso, dirijo em destino à velha ponte. Desço do carro, completamente descompassado. Apresso meus passos, arrependido por ter impedido tamanha besteira que fizeram para ela. Que Mary não esteja lá. Que ela tenha esquecido o compromisso. São quase sete da noite, e está frio o suficiente para tremer o queixo.

Detenho os meus passos, observando a figura da garota, que usa cores extravagantes como se houvesse escolhido toda a palheta de cores que haviam em seu armário. É um arco-íris vivo no meio deste clima tão cinzento. E mesmo estando agasalhada o suficiente, ainda tremula com a brisa fria que lhe beija a face.

Aproximo-me de Mary, as lágrimas formando-se nos olhos castanhos, cristalinas, brilhantes como diamantes. Ela ficou por horas a fio estática nesta mesma posição, tendo fé de que seu admirador secreto, apareceria.

— Ele não vem. — falo, quase sem folego.

— Como você sabe? — ela desata a chorar, o que só faz a minha vontade de querer morrer, aumentar.

— Porque... porque... — minha voz falha, sou um maldito covarde que não consegue dizer a verdade para ela.

— O que você sabe, John? — encara-me, as lágrimas ainda trilhando seu rosto.

— Você se apaixonou por uma mentira. O garoto das cartas, seu admirador secreto, ele não existe. Foi tudo ideia de Rachel, Karen, Peter e Billy. Eles queriam dar uma lição em você... — não consigo mais prosseguir em minha fala, pois mais tolo me sinto. 

— E você sabia disso o tempo todo? E mesmo assim nunca me contou?

— Não pensei que isso sairia de controle.

— Claro. Não pensou que me encher de esperanças e logo quebrar meu coração, não seria danoso. — diz, sarcástica. — Eu esperava isso de qualquer pessoa, menos de você. 

— Mary, eu...

— Eu esperei o meu admirador secreto, como uma idiota. — Mary diz, sem sequer olhar para mim. — Esperei, mesmo quando o céu ameaçou derramar-se em chuva. Mesmo quando meu corpo fraquejou e tentou-me a desistir de vir até aqui. Esperei, mesmo sabendo que era tudo uma armadilha da parte de seus amigos.  

Sinto uma coisa esquisita em meu peito, uma sensação tão ruim que parece que há espinhos sangrando em meu coração.

— Satisfeito, John, por me ter feito de trouxa? Aposto que seus amiguinhos estão rindo às minhas custas. Mas não se preocupe, eu sou forte o suficiente para aguentar as chacotas que farão comigo. Já passei por muita coisa pior.

 — Desculpa, Mary.

— Eu fui uma idiota. — Mary esfrega a mão nos olhos, inutilmente, enxugando as lágrimas.

— Desculpa — é tudo que consigo dizer.

— Você é um paspalho, John! Ridículo, rude e repugnante.

Anda até mim, com os olhos lampejando em fúria, e em um impulso que eu não esperava, lança no meu rosto todas as cartas que recebeu. 

— Eu não queria... — fecho meus punhos. — te magoar. 

Escapa de meus dedos, outra vez, correndo da forma como pode, entre as gotas de chuva fina que dançam na ventania.

Após aquele evento catastrófico, Mary não apareceu pelo resto de novembro na escola. A história das cartas do falso admirador secreto espalhou-se como uma praga na escola. Jake me encarava como se quisesse me matar, e Lara, evitava me olhar, extremamente magoada.

E logo o mês de dezembro deu as caras, e ainda assim, Mary não viera para a escola. As festas de fim de ano finalmente chegariam, e o ano de 1985 estava logo à porta. As pessoas esperavam por um ano que fosse bom, entre promessas desgastadas e pedidos vazios. Enquanto a mim, eu mal podia esperar pelo pior que estava por vir.


˚ . ˚ . * ✧🌌🌠✧˚ . ˚ . *

💫Nota 10: Shirley Temple foi uma estrela-mirim da década de 1930.

💫Nota 11: Los Angeles Lakers é uma equipe de basquetebol da NBA com sede em Los Angeles, Califórnia. A equipe foi fundada em 1947, em Minneapolis.

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