𝖎𝖛. Hearing Damage
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─ Tem certeza que quer fazer isso, realeza?
Ursa ajeitou o cachecol verde-prata ao redor do pescoço, equilibrando-se nos saltos conforme caminhava pelo terreno irregular dos caminhos feitos para que conseguissem acessar o Campo de Quadribol na temporada de jogos, desviando-se dos cotovelos daqueles estudantes animados demais para a disputa que daria início à disputa entre Casas. A multidão, preenchendo o silêncio com cantos e conversas altas, dividia-se nas cores esmeraldas pertencentes à Sonserina e o azul-escuro da Corvinal, tornando difícil identificar quem pertence realmente às Casas.
─ Se não tivesse, ─ Fez uma pausa ao tropeçar. Seus olhos cinzentos adquiriam um tom raivoso ao fitar o rosto pintado nas cores da Corvinal pertencente ao menino que acabara de esbarrar nela, encarando-o até enxergar o brilho das lágrimas surgindo.─ não estaria ordenando, Avery.
─ Apenas perguntando, você sabe.─ Carmin ergueu as mãos em rendição.─ Falarei com Mulciber. Ele trouxe uns livros interessantes esse ano, seria bom dar uma olhada.
Ursa murmurou em concordância e ficou em silêncio, o que é muitíssimo preocupante, pois geralmente indicava pensamentos vagando sem controle por sua cabeça, planos não-ditos sendo traçados. Curioso, Carmin inclinou a cabeça, fitando o rosto congelado em indiferença, falou:
─ Mas, por que ela?
Em resposta, a garota puxou para baixo a aba da boina francesa, os cachos loiro-escuros acumularam-se ao redor dos ombros cobertos pelo sobretudo escuro e lançando um breve olhar para os rostos próximos, chegando-os.
─ Orion não aprendeu a esconder como nós, Carmin.─ Ela estalou a língua.─ O coração dele está na manga, à vista de todos.
Carmin não iria questioná-la sobre aquela certeza absoluta fixada em cada mísero letra. A dinâmica dos Black remanescentes nas paredes de Hogwarts é tão misteriosa quanto o poder mágico que corre por suas veias, é uma incógnita a construção dos laços familiares. Nem Ursa ou Regulus são considerados quando o assunto é quem conhece os nuances da máscara por trás do grifinório rebelde, mas nunca deixam a desejar ao distribuir palavras iguais aquelas como a mais pura das verdades.
E no final, sequer importava. Carmin sempre encontrava diversão nas propostas e ordens disfarçadas de sugestões vindas da garota, então, sorriu maliciosamente em antecipação.
─ Aí estão vocês dois!
Bessie acenou quando os viu na entrada das arquibancadas. Os fios curtos estavam livres do gel e a deixavam parecendo ser mais nova do que realmente é com uma aparência de menino travesso, junto a um sorriso nos lábios e as pinturas de cobra prateada movimentando-se nas bochechas coradas por conta do clima gélido.
─ Os outros foram guardar os lugares.─ Parkinson agarrou o braço de Avery, puxando-os para dentro, acompanhando o fluxo de alunos.
Ursa piscou os olhos, disfarçando uma careta ao ouvir um hino ser erguido com as vozes dos estudantes lá nas arquibancadas. Ela não enxergava qualquer traço atraente em quadribol, muito menos atribuía a mesma importância que aquelas pessoas. E o único motivo pelo qual arrastava-se para fora da cama mais cedo nos fim de semana é que possuía uma responsabilidade como uma figura de autoridade na Sonserina, além de prestigiar Regulus Black atuando como apanhador.
Um suspiro escapou esbranquiçado na baixa temperatura e notara a presença de Severus Snape com certa confusão.
─ Esperando por sua amiguinha, Prince?
Severus Snape revirou os olhos. Ele é um rapaz alto de suéter preto e jeans desbotados, os longos cabelos estão empurrados atrás das orelhas para que não ficassem atingindo o rosto toda vez que os ventos uivavam.
─ Estava esperando você.
Ursa teceu uma expressão falsamente surpresa e pôs a mão enluvada contra o peito. Severus não achara graça, mas ainda assim, viu-se sorrindo para a sonserina que exalava elegância com as roupas obviamente caras. Ela deu os últimos passos em sua direção, agarrando o braço oferecido e teria mergulhado na multidão se não fosse pelo assobio familiar que ecoou em suas costas.
Seu maxilar trincou e tinha uma careta terrível quando uma voz rouca alcançou seus ouvidos.
─ Deveria ter cuidado, ein, Ur. Seria uma pena se acabasse tropeçando por causa desse óleo todo!─ Sirius Black gesticulou com as mãos abertas para o cabelo de Severus, andando na direção deles na companhia de um James Potter que escondera o cabelo indomável por debaixo de uma máscara de corvo, a qual fora enfeitiçada para gracejar um sonoro e audível "Cobras valem nada!" a todo momento.
─ E aqui pensei que um idiota como você não ia aparecer por aqui hoje.─ Severus Snape sibilou, tão venenoso como sempre.
James assobiou e deu uma cotovelada de leve em Remus Lupin, que deu uma risada tentando afastar-se do amigo, a bandeira da Corvinal quase caiu dos ombros do garoto coberto por cicatrizes.
─ Olha só pra isso! ─ Ele exclamou. Algumas garotas riram por conta do tom.─ Fica perto da Ursinha e cria garrinhas, não é, ranhoso?
Severus trincou o maxilar, uma mão já mergulhando nos bolsos das calças, alcançando a varinha escondida.
─ Se não calar a boca, quem vai acabar com as garrinhas na garganta é você, Potter.─ Ursa cuspiu o sobrenome do garoto como se por si só fosse uma ofensa.
─ Por Merlin!─ Sirius Black virou a cabeça para James, batendo a costa da mão esquerda - a qual segurava uma corneta - no peito do garoto enquanto estica a outra.─ Olha pra isso, Pontas! Tô tremendo de medo!
Ninguém se preocupou em esconder as risadas zombeteiras, caindo nas graças dos marotos como sempre faziam sem hesitação, não importando que os tais grifinórios fossem um tipo de inconstância, onde um sonserino poderia ser alvo das piadinhas e pegadinhas hoje, mas amanhã, quem poderia assumir a posição é um grifinório igual a eles. Só que não realmente importa quando estão enfrentando uma das maiores megeras que já colocaram os pés em Hogwarts, certo?
Bando de estúpidos...
Olhar de Ursa mais amargo conforme fitava os rostos sorridentes, o jeito que encontravam-se entretidos o bastante para desacelerar os passos, sentia as pontas dos dedos formigando diante da vontade de alcançar a varinha no bolso do sobretudo e fazê-los pagar por zombar tão abertamente dela, alguém superior a eles em todos os nuances existentes. Mas, aquela raiva latente voltou-se bruscamente ao ouvir a risada familiar, rouca e pausada que ecoava como um latido.
Ela o mediu com o olhar.
Como sempre, Sirius parecia ter saído de um filme feito por trouxas, apesar de ter o sangue mais puro entre seus amigos. A camisa azul-escura apertada mal encostava na cintura alta da calça jeans e a jaqueta de couro preta era sua única proteção contra o frio. É notório que são as roupas compradas na Londres trouxa em vez das boutiques reservadas aos Black espalhadas por todo o mundo.
Parados em frente, ninguém sequer ousaria pensar que laços sanguíneos os ligam.
Ele é simplesmente uma vergonha, uma mancha no histórico impecável dos Black. É uma sombra perseguindo sua figura, assombrando-a com sua bravura grifinória estúpida e seus olhos cinzentos desafiadores, pondo as mãos nos seus ombros com tamanha força para empurrá-la num abismo moldado por possibilidades que são malditas em frente à uma figura como ela, mais besta do que mulher, um corpo seguindo tradições em vez de impulsos.
─ Sorte pra sua amiguinha, Orion. Ela vai precisar.
E realmente queria dizer cada palavra com desdém. Anastasia Hillary estaria enfrentando Regulus Black no campo, competindo pelo pomo de ouro. Parte da animação correndo entre os estudantes é por conta deles, já que são inimigos declarados pelos corredores de Hogwarts e geralmente incentivava as animosidades entre as casas que eram conhecidas por se apoiarem.
─ Anastasia não precisa de sorte para enfrentar Regulus, Ursa.─ Sirius soltou naquele tom petulante que já lhe rendeu inúmeros tapas no rosto após os jantares familiares em frente aos olhos dos crianças Black mais nova para que o tomassem como exemplo do que não deveriam ser ou tornar-se.
Um dia, Ursa Black mataria Sirius Black. E daria risadas ao livrar-se daquela maldição em forma de homem.
Por enquanto, Ursa só reservou um sorriso, os caninos beliscando a pele do lábio inferior quando puxou o braço de Severus.
─ É o que veremos.
─ Você está bem?─ Ursa perguntou pelo que parecia ser a milésima vez num curto intervalo de tempo. Ela está sentada na ponta da cama, uma mão pairando sobre a perna de Regulus Black, hesitando como se o mísero toque pudesse piorar ainda mais os hematomas surgindo ali.
─ Ele acabou de tomar as poções.─ Comentou Severus Snape, de pé atrás da garota.─ Daqui a pouco, vão fazer efeito.
Ela o ignorou, lançando um olhar insistente para Regulus, esperando por uma resposta que veio acompanhada por um sorriso leve.
─ Estou bem, Ursa.─ Ele esticou os dedos, capturando a palma da prima e apertando-a.─ É como Sev disse, as poções ainda vão fazer efeito.
Ursa abaixou os ombros. É claro nos olhos tempestuosos que as palavras sopradas não haviam sido capazes de acalmá-la, mas, novamente, nada o faria quando observou Regulus cair de sua vassoura poucos metros do chão após envolver-se numa disputa aérea de chutes com Anastasia Hillary durante a perseguição ao pomo de ouro. No jantar no Salão Principal, muitos iriam comentar que viram Ursa escorregar nos degraus das arquibancadas na pressa de alcançar o primo mais novo, tendo seus seguidores fiéis incentivando as vozes altas e revoltadas da Sonserina com a punição posta em seu apanhador. Severus Snape foi o único que a seguiu, ouvindo-a resmungar ofensas num francês arcaico, perseguindo as figuras de Anastasia e Regulus que estavam sendo acompanhadas por Slughorn e Flitwick.
─ É tudo culpa daquela traidora de sangue.─ Resmungou, desfazendo o enlace entre seus dedos e os de Regulus, afastando-se da cama hospitalar.
Sem a boina preta e o sobretudo, Ursa é uma força na camisa de mangas longas verde-claro e calças pretas de alfaiataria, equilibrando-se em botas com salto alto. Os cachos loiro-escuros estão amassados próximos da raiz, porém, pareciam-se ainda mais com os de Bellatrix em certo ângulo.
─ A culpa foi minha, ─ Ela parou e girou os tornozelos. Regulus encarava sua mão enfaixada, recusando-se a fitar o rosto da prima.─ não deveria ter pressionado.
Ele estava tentando...
Ursa soltou uma risada incrédula.
─ Você está brincando, certo?─ Se virou para Severus, a quem também tinha uma expressão confusa com a confissão do sonserino mais novo.─ Por favor, fale que ele está brincando.
─ É a verdade, Ursa.─ Reg encolheu os ombros.
Ele ainda estava com o uniforme sujo de lama nas costas, já que Madame Pomfrey se recusou deixá-lo colocar até mesmo o dedo mindinho para fora da enfermaria. Segundo a bruxa, Regulus teve sorte de não ter fraturado alguma costela ao se arriscar amortecendo a queda de Anastasia, a quem ficara sem nenhuma sequela muito grave, além de hematomas tratados com um aceno rápido de varinha e uma poção.
─ A verdade?─ Ela guinchou e disparou. Severus não a impediu.
As unhas vermelhas fincaram-se no tecido verde fazendo-o chiar ao senti-las contra sua pele, não deixando sem muitas escolhas, além de encarar o rosto belíssimo e pincelado em fúria. Quando separou os lábios, as palavras que escaparam não estavam mais carregadas de um sotaque escocês, haviam adquirido uma pronúncia rápida e arcaica de um francês formulado pela família Black, a qual somente seus membros tem a permissão de proferir.
─ É você que quer ouvir a verdade, Regulus Arcturus?─ Ela soprou tão mortal quanto o veneno. Aos olhos de Regulus, não é mais Ursa, é Druella em todos os trejeitos.─ Ótimo, então a direi. Em vez de estar ouvindo você dizer asneiras, deveria estar escrevendo uma carta para sua mãe, avisando-a sobre isso tudo. Não sobre você, é claro. Sobre mestiços e sangue-ruins estarem rindo de nós nessa maldita escola, porque seu maldito irmão não consegue parar de ser um problema e, pelo que estou vendo, você também quer ser um, não é?
─ Você está errada.─ Ele respondeu no mesmo idioma. A voz não estava tão firme quanto deveria, os olhos cinzas estavam voltados para baixo e um princípio de inquietação começava arrastar-se em torno de suas feições.
Tal percepção fez o olhar de Ursa ficar ainda mais afiado, o aperto intensificando-se. Regulus mordeu os lábios e inclinou-se para trás.
─ Isso ─ Gesticulou para Regulus com um dedo.─ é fraqueza, Arcturus. É atitude de uma presa, de alguém fraco. E nós, Black, não somos presas e muito menos fracos, está me ouvindo?
Ele balança a cabeça, sentindo o rosto ficar pálido e o suor frio.
Regulus está apavorado com as implicações nas palavras de Ursa, pois, com Sirius negando-se assumir a responsabilidade, quem possui a autoridade dos assuntos em torno das famílias puro-sangue nos terrenos de Hogwarts é Ursa Black, mesmo que pelas sombras ou até Pollux considerá-lo, o que o tornava uma ameaça constante aos olhos de sua prima.
Ursa pode defendê-lo, acolhê-lo e apoiá-lo, mas são gestos com um curto prazo de validade. Pois Regulus é um homem e isto já o posiciona numa posição muito mais vantajosa no tabuleiro que é as relações da família Black, empurrando-a ainda mais para um espaço de insignificância após sua inevitável formatura, simplesmente por não ter nascido um menino igual a ele ou Sirius.
Se por um momento, a moça encontrar uma forma de permanecer com aquele poder em mãos e acreditar que o rapaz está em seu caminho, ela não hesitará.
Ela o abandonaria nas mãos nas chamas para ser condenado.
─ Ótimo.
Ursa afastou-se.
Por um momento, Regulus viu-se preso na dúvida se poderia afastar os olhos de sua figura sem correr o risco de ser atacado, mas com certa hesitação, o fez, lançando um olhar para Severus que apenas acenou, fora um ato de conforto, um gesto para que não se preocupasse com as palavras furiosas mas o efeito não o atingira, não quando a moça estava em silêncio.
Ela sentou-se na concha e cutucou os cantos das unhas até que sangue escorresse. Quando ergueu a cabeça novamente, havia retornado a ser Ursa.
Os lábios expandiram-se num sorriso, reunindo as mãos nos joelhos e mantendo a postura impecável como sempre.
─ Aliás, mal posso esperar pelo Halloween.
Lembrando que essa fanfiction é uma collab, então,
se querem saber mais sobre essa partida caótica, vão lá em
Runaway no perfil da Ana! ( anacarolinarac )!
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