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CAPÍTULO 4

Percorro o trajeto até o local da entrega na minha bicicleta, com meu vestido florido nada discreto e arranjo de flores. Eu devo parecer um personagem de filme de baixo custo, mas a cidade quente não me permite fruir do glamour que eu não tenho.

— Boa tarde. — Cumprimento a recepcionista.

— A área de serviço é por trás. — Na minha mente, eu pulei o balcão e mostrei o serviço. Mania dessa gente achar que imigrantes ou seus descendentes são apenas serviçais.

— Que gracinha você. — Ironizo. — Vim entregar essas flores para Dominic Fuchs.

— Você pode deixar aqui. — Diz com desdém.

— A avó dele pediu que entregasse pessoalmente. — Afirmo inventando. Mas não serei despachada.

— A avó? — Questiona, arregalando os olhos, e por pouco me assustando. — Um momento. — Mariana, dona Stella mandou flores para o Dr. Fuchs. — Ela parece não entender o que a tal Mariana fala. — O quê? Sua responsabilidade, então, pois ele ainda está com o figurão. — Reclama, desliga e logo me encara. — Pode subir. Seja discreta e use o último elevador.

— Discreta. — Sorrio, tentando entender que hospício é esse. — Com licença.

O elevador toca aquelas musiquinhas irritantes e, quando chego na cobertura, encaro o corredor chique diante de mim.

Então, vamos aplaudir essa gente doida e preconceituosa. Entregar, sair e fugir dessa selva de pedra.

Se bem me lembro, a minha vida está uma verdadeira confusão, todavia, até mesmo as confusões devem ter limites bem determinados que as diferenciam do verdadeiro caos e, nesse dia, eu definitivamente descobri que, quando tracei limites, Deus riu.

Meu primeiro passo me leva diretamente a um par de olhos desconhecidos que me encara aliviado, em meio a um esbarrão, dizendo o maior absurdo que eu já ouvi, enquanto sua mão aperta a minha cintura.

Tipo, feliz por me ver. Eu, a florista metade americana, metade colombiana, talvez com alguns resquícios de terra do meu jardim, um vaso de cacto-coração na mão e minha absoluta cara de espanto.

É aí então, que meu cérebro parece reconhecer a muralha. Dominic Fuchs, que me apoia e me ajuda a equilibrar, salvando o arranjo de flores dizendo o maior absurdo que eu já ouvi, enquanto sua mão aperta a minha cintura.

— Essa é minha noiva, senhor Girodano. Querida, achei que não viria.

É o que?

— Noiva? Senhor, eu... — Ele me interrompe com um aperto leve em minha cintura e os olhos quase implorando para que eu não o desminta. — Mas...

Não sei exatamente o momento em que tudo se tornou confusão, e meu corpo uma massinha modelável. Pode ter sido quando aquela enormidade de homem se aproximou de mim ou quando a minha pele teve ciência da quentura da sua mão sobre o tecido do vestido.

Porém, se eu tinha dúvidas, elas caíram por terra quando o homem colou sua boca na minha, como se fossemos um casal que há muito não se via e morria de saudades. Sinto o meu rosto esquentar, enquanto a sua boca começa a se afastar, deixando-me com o suave aroma de café que ele, provavelmente acabara de beber.

Bem, se a finalidade era me deixar em silêncio, ele conseguiu, pois acho que desaprendi a falar nesse segundo. Céus! Há quanto tempo eu não beijava alguém?!

E por que raios esse homem acha que pode beijar alguém assim, do nada? Estou pronta para chamá-lo de doido, dar tapa na cara ou apenas fugir dali, mas o outro que nos assiste sorri com pouca vontade, como se duvidasse que a menina de vestido de flores fosse, de fato, noiva do homem.

Bem, já me chamaram de serviçal e cheguei aqui aguentando ser destratada pela loira que encomendou as benditas flores que eu não trouxe. Se a vida me deu a chance de desmontar a cara de um esnobe, eu uso.

— Pois é, resolvi vir assim, de última hora. — Sorrio, e o suposto noivo devolve em alívio.

— Que jovem mais adorável! Dominic, você me surpreendeu. Fico feliz em saber que os jornalistas não sabem do que falam. Muito bom, muito bom. — O senhor me encara diretamente, ainda incrédulo, e reconheço o sotaque italiano gritante. — Prazer, sou Rocco Giordano. A senhorita é...?

— Quem eu sou? — Minha mente derreteu. Encaro o homem que se diz meu noivo, totalmente sem ação. Ele arregala os olhos, de novo desesperado e eu arrisco dizer que desmaiei no elevador e isso é um sonho. Ou pesadelo.

— Está cansada, meu amor?

— Amor? Marisol. Meu nome é Marisol. — Digo, olhando para ele, mas logo sorrindo ao senhor pouco simpático. Por que estou fazendo isso? Lembra da massinha de modelar? Então...

— Desculpe-me o meu espanto, Marisol, mas Dominic conseguiu ser muito discreto sobre você.

— Não tem ideia. — Afirmo, sem entender nada.

— Irá conosco para as Maldivas?

— Maldivas? — Eu devo parecer uma criança que apenas aprendeu a falar, pois não consigo coordenar nenhum pensamento e me agarro às insanidades dos homens diante de mim

— Ainda falarei com ela, Giordano. Não se preocupe que em breve nos reuniremos.

— Perfeito. — O homem encara o arranjo em minhas mãos, e me lembro do recado de dona Stella. — Linda planta.

— Lindas, não é? — Pronto, a pessoa ouve falar do tema que ama e esquece da loucura que está acontecendo. — Sua avó enviou senhor..., amor! — Viro abruptamente para Dominic, quebrando o contato entre nós, quando ouso chamá-lo intimamente, mantendo o seu teatro. — Sua vó me pediu que te entregasse. — Digo, quase jogando o vaso em cima dele.

— Minha avó?

— Isso. Dona Stella falou algo sobre o escritório precisar de cor. — Eu realmente me sinto como se estivesse aprendendo a falar.

— Espero encontrá-los todos juntos essa semana. Senhorita, muito prazer em conhecê-la. Agora preciso me adiantar, pois minhas meninas devem estar impacientes me esperando lá embaixo. — Sorrio, com um riso congelado.

Ele se dirige ao elevador, mas, quando a porta se abre, a samambaia loira que encomendou a orquídea surge, olhando em choque às mãos do senhor Dominic em mim. Se ela está em choque, ficaria passada com o que eu estou sentindo agora.

— Dominic, querido. Recebeu as flores que mandei? Aliás, não foram essas que escolhi. — Ela encara o vaso, a mim e, por fim, o CEO.

— Flores? — Somente agora ele parece perceber o vaso em suas mãos, e noto quando pressiona os lábios, pensando sobre a melhor desculpa para explicar receber flores da samambaia enquanto é noivo.

— Querido. — Digo irônica, mas decidida a salvar o homem até que ele explique o que está acontecendo. Faço isso apenas porque é o neto da senhora mais doce que já conheci. — Ela queria te agradecer pelo favor que você fez e lhe mandou flores, mas sua avó também solicitou e acabei esquecendo o outro arranjo.

— Como? Que espécie de floricultura é essa que... — ela diz, de mau humor, sem nada entender. Bem-vinda ao clube!

— Rachel, que surpresa! — Um outro homem com cachinhos um pouco teimosos pairando em sua cabeça surge e me cumprimenta como se me conhecesse, tomando a loira pelo braço. — Venha, vamos tomar um café.

— Eu preciso voltar aos negócios. Marisol, me acompanha? — Todos na missão incrível de fechar a boca da loira.

— Mas... — ela ainda tenta.

— Nos vemos na casa dos meus avós, senhor Giordano.— Dominic indica o elevador e o senhor se vai.

Não tenho tempo de pensar quando o meu suposto noivo parece fugir como o diabo da cruz e me arrasta corredor adentro até uma porta imensa. Assim que estamos seguros, ele fecha a porta.

Eu congelo no azul dos seus olhos e tenho a ligeira impressão de que ele sequer me vê. Parece que está em transe. Sabe aquela torpeza após uma sensação de alívio avassaladora? Ele claramente vivencia uma.

— Acho que é um bom momento para o senhor me explicar o que está acontecendo, não?


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