CAPÍTULO 1
Acordo surpreso com o meu telefone fazendo uma verdadeira revolução contra a minha ressaca. O gosto alcoólico ainda permeia minha língua, com notas sutis de tabaco. Minha avó choraria de orgulho nesse instante, eu tenho certeza.
Encaro a luz da lua, fazendo um clarão interessante e entrando pela minha janela, mas ainda mais impressionante é o horário.
6h da manhã.
A segunda-feira mal se iniciou, e sequer é hora de acordar, mas aparentemente meu avô achou que seria uma ideia genial. Nossa relação não é exatamente afetiva, mas me parece beirar ao ódio nesse exato segundo.
Ok. Talvez eu tenha certa culpa nisso, pois desapareci por todo o final de semana, escapando de um compromisso na Itália ao qual eu não queria comparecer. A filha de um Italiano a quem eu quero muito manter relações negociais fez aniversário e suspeito que fui oferecido em casamento.
Bem, suspeito, mas a certeza entra e invade a porta com força, quando ouço vozes na minha sala.
Que porra.
Tento me levantar, mas a cabeça gira e não me recordo bem quando o final de semana acabou e eu o trouxe para meu apartamento. Encaro ao meu redor e reconheço as paredes de um dos quartos e, aninhadas em uma sonolenta orgia, três mulheres que eu não faço a menor ideia de quem sejam.
Encaro-as e puxo na memória algum evento esportivo, álcool e... branco. Bem, nem tanto, já que eu me recordo bem da loira apoiada no meu braço, tenho uma vaga lembrança da mulher negra de cabelos cacheados que tem um cheiro cítrico bom e... eu não tenho a menor ideia de onde saiu a terceira.
Encaro ao redor e vejo as embalagens das camisinhas rasgadas, suspirando em alívio de que fiz meia merda.
— Dominic! — Ou uma merda bem completa, considerando que o despertador ambulante que me brada é meu avô.
— Será que aconteceu algo? Ele não manda notícias há dois dias!
— Aconteceu que você criou um irresponsável, Stella! Olha isso! — As vozes se aproximas e me levanto de súbito, como se um tridente tivesse espetado a minha alma. Olhar o quê?
Stella!
Minha avó é uma santa e tudo o que ela não precisa ver... é isso. Encaro meu redor em busca de qualquer peça de roupa e não há nenhuma. Onde nos despimos?
— Fica mais um pouco... — A loira ronrona ao mesmo tempo em que a raposa ladra.
— Dominic!
Levanto-me às pressas, nu, em busca do lençol salvador, mas tarde demais sou flagrado tal como vim ao mundo por um Bernard furioso, uma Stella chocada e três mulheres soltando gritinhos assustados.
Almofada!
Vejo uma almofada e uso-a como proteção, sorrindo com a cara mais lavada possível.
— Bom dia!
Eu nunca serei capaz de repetir o discurso do meu avô, pois não o ouvi, meus olhos travados na notícia de capa de um tabloide famoso de fofocas. Eu, três mulheres seminuas em um conversível arrastando a reputação da Fuchs Enterprises e da família que lhe dá o nome, por Los Angeles. Sigo concentrado, ansioso por um café, pensando que agora eu estou de parabéns. Eu tinha uma missão muito simples: Manter minha postura até fechar negócio com os italianos.
Desde que me entendo por gente, Bernard Fuchs questiona a habilidade de qualquer pessoa que não seja ele nos negócios. Eu, particularmente, movimento a economia automobilística e gerei mais lucro nesses dois anos do que meu avô já viu.
Mas para ele isso nunca basta. Ele quer a família tradicional, perfeita e que é ostentada como símbolo da perfeição nas colunas sociais. Bem, podemos interpretar, já que nunca tivemos a habilidade de sermos uma. Literalmente, se aplica a nós o ditado: sorte no jogo, azar no amor. Faça o que tem que fazer, como ele sempre me doutrinou.
É justamente isso que eu tenho tentado com os italianos, apesar de serem absolutamente difíceis de lidar, pois são extremamente conservadores e o meu avô sabe disso.
A questão é: preciso convencê-los a fechar o negócio conosco, pois a Fórmula 1 é o auge no qual podemos chegar. É ir além dos carros esportivos e modelos multimilionários que fabricamos. Faremos história.
Bem, para não precisar ser de família, me bastava ser um solteiro sério. A fotografia e as três mulheres que saem nada discretamente do apartamento me acusam de fracasso.
— Hoje é o dia que os Italianos virão para conhecer a nossa proposta. Você esqueceu a sua função na empresa, rapaz? Como pôde fazer isso? — Ele brada e minha alma urra, pois ferrei tudo.
— Lembro-me muito bem que eu sou o CEO único e absoluto desde a última vez em que o verifiquei. Não é necessário que me ensine meu trabalho. A visita dos investidores será no horário da tarde, pois o voo deles sequer pousou em solo americano.
— Eu disse que ele estava em uma farra! Me aposentei cedo demais. — Resmunga. — Foi uma tremenda falta de educação faltarmos ao aniversário da filha de Giordano e, já aviso, ela sabe que está solteiro. Se bem que a essa altura ele deve ter desistido... — Parece que dispensamos o velho "bom dia" por hoje.
— O mundo sabe que eu estou solteiro, desde que nasci. — Zombo impaciente. — Claro que faltamos, seria uma idiotice ir até a Itália para parabenizar uma desconhecida. — Dou ênfase à última palavra para lembrá-lo que estar solteiro não faz a menor diferença.
De repente, o século passado nunca pareceu tão próximo.
— Menino tolo! Donatela Giordano é uma socialite valiosa e solteira. E pareceu disposta quando mencionamos você.
— Vô, eu vou fingir que você não está orquestrando um relacionamento arranjado para mim.
— Sabe que as empresas Reed irão conseguir esse contrato, e despontar como os melhores do país, se você fizer besteira. Os Fuchs são tradicionais nesse mercado e não podem perder para os iniciantes dos Reed. Não enquanto eu ainda estou vivo.
— Impossível. Nosso produto é superior ao deles e, me desculpe, mas acho que esqueceu que estou no comando agora.
— Brandon Reed está noivo. Isso fará diferença, e você sabe! Enquanto isso traz orgias para dentro da sua casa!
— Eu vou conseguir esse contrato e meu estado civil é irrelevante. A quantidade de fodas que eu arrumo nunca alteraram nossos números!
— Dominic! — Stella, até agora silenciosa, reclama.
— Faça o que tiver que fazer.
— Como sempre! Agora pare de me oferecer em casamentos e deixe-me resolver ao meu modo!
— Comece limpando essa sujeira. Esse é o jornal menos comprometedor.
Uma coisa sobre os Fuchs é que somos implacáveis nos negócios. Meus pais quase se divorciaram por isso e minha avó, Stella Fuchs, sempre discutia com Bernard pelo mesmo motivo. Seu dia de paz, foi quando ele finalmente se aposentou e me deixou como CEO.
Mas ele segue se metendo e parece me desafiar agora a não perder esse contrato. Faça o que tem que fazer, significa faça tudo, não importam os meios. Essa sempre foi a abordagem dele e não chegamos aqui à toa.
— Querido, fiquei preocupada. Não deveria... céus, olha a situação que o encontramos! Você pode pegar uma doença... três filhos! Já pensou um filho de cada? Pelo menos ganho bisnetos! — Minha avó se aproxima.
— Não posso pedir desculpas por escolher como viver a minha vida, e não se preocupe, sem filhos. Peço perdão apenas por não ter avisado que sumiria. — Respondo.
— E esse é o melhor jeito de viver?
— E qual seria o ideal? O dos Fuchs? Casando, procriando e sendo infelizes para sempre? Não, dona Stella. Dispenso. Vou tomar banho, pois Rocco Giordano estará na empresa hoje e, adivinhem, ele não é o meu único cliente. — Levanto-me ignorando a cara emburrada de Bernard e deposito um beijo na cabeça de Stella. — Ah! Bernard, limparei o precioso furo como sempre. Eu sempre faço o que tenho que fazer e, dessa vez, em sua homenagem. — Faço uma reverência como se ele fosse um rei.
Tranco-me no quarto e decido pedir ajuda a única pessoa capaz de resolver todos os meus problemas, meu melhor amigo James. O seu celular é como uma extensão da sua vida, um segundo coração, e dele provém todas as soluções. Não sei como ele faz, mas já fui salvo algumas vezes pelo seu talento em ser uma espécie de milagreiro.
— James, preciso que você...
— Contatei Hannah e lindas matérias sairão sobre você ao longo da semana. Algum bilionário russo estava na cidade e fez mais merda que você. Hoje à tarde os méritos serão dele e amanhã ninguém mais lembrará do Dom e suas mosqueteiras.
— Que porra é essa?
— Os jornalistas não são muito criativos, mas Hannah é. Você deve um cheque bem gordo para ela.
— Sem problemas. A questão é que agora preciso limpar a barra com Giordano.
— Você precisa é parar de beber. Que merda tinha na cabeça?
— O de sempre.
— Seu avô é um imbecil, sabemos, mas precisa parar de querer lutar contra ele desnecessariamente.
— Esse maldito contrato está me tirando o sono. Não é como se fossemos ficar pobres sem ele...
— Mas, perderíamos para os Reed e você sabe que isso é...
— Inadmissível. Esse contrato virou uma guerra e, pelo que vejo, Bernard e Brandon farão de tudo para vencê-la, custe o que custar. Mesmo que isso me obrigue a casar com Donatela.
— Apenas te sobrou essa opção no segundo em que você se exibiu por aí.
— E me casar com Donatela me tornaria um homem de família? É sério? Apenas sendo um idiota para se convencer disso.
— Você precisa aparentar ser um homem de família. Basicamente, você está atrasado, irmão. Atrasou no segundo em que os Reed deram tudo o que ele queria: um projeto ruim, essa parte não vem ao caso, e toda a pompa de uma família perfeita.
— Não consigo acreditar que Brandon Reed conseguiu queimar a largada por colocar um anel no dedo de alguma azarada. Ele sequer estava com alguém!
— Sermos melhores não importa para Rocco Giordano. Simplesmente não importa. Você entende isso e não quer aceitar e, por isso, está atrasado. Mas, nenhuma regra diz que a família precisa ser a dele.
— O que sugere, então?
— Você não vai gostar...
Realmente odiei.
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