Capítulo 9: Território Perigoso
No dia seguinte, o sol brilha alto e a brisa fresca do mar traz uma sensação renovadora. O ar parece limpo, fresco, mas, ao mesmo tempo, algo em mim está turvo. Caminho pela área da piscina, onde vejo Daniel conversando com Lucas e Caroline. Ela se aproxima com aquele sorriso fácil, colocando-se ao lado dele de forma casual, mas excessivamente próxima. Cada risada dela é acompanhada de um toque no braço de Daniel ou um sorriso provocador - gestos que deixam claro o que ela está tentando fazer.
O que aconteceu na noite anterior ainda está martelando em minha cabeça. Só de pensar no toque de Daniel, uma onda de calor se espalha pelo meu corpo, seguida de vergonha. Tento ignorar a sensação estranha que cresce dentro de mim, mas a irritação começa a se intensificar. O que estou fazendo aqui? Não é para eu sentir nada, mas a maneira como Caroline monopoliza a atenção de Daniel me incomoda profundamente. Respiro fundo, tentando me lembrar do porquê de estar ali: é um trabalho, um contrato, uma encenação. Não faz sentido me apaixonar por ele. Afinal, ele me contratou para esse teatro de luxo.
Dando meia-volta, decido me afastar e encontrar um canto mais tranquilo. Preciso de um tempo para clarear a mente. É quando Clara se aproxima com um sorriso acolhedor.
— Ei, Lana, tudo bem? Parece que você precisava de um respiro. — diz ela, estendendo-me um copo de margarita.
Aceito o copo com um sorriso agradecido.
— Ah, sim. Obrigada, Clara. A família de vocês é maravilhosa, mas ainda estou me acostumando com o ritmo... tão intenso. — respondo, tentando parecer mais relaxada do que realmente estou.
Clara solta uma risada suave e, com um gesto acolhedor, me puxa em direção à sauna. Lá, nos envolvemos em uma conversa tranquila sobre a família e o casamento que se aproxima. A sinceridade dela é reconfortante, e pela primeira vez, me sinto à vontade para ser eu mesma. Parece que encontrei alguém com quem posso falar, longe da tensão que me rodeia.
Após algum tempo, me despeço de Clara e subo para a suíte, o coração mais leve. No entanto, mal abro a porta e sou recebida por uma voz ríspida de Daniel.
— Onde você estava? — Ele está parado, com os braços cruzados, o olhar frio. - Achei que tínhamos combinado que você ficaria ao meu lado. Não é pra você sair por aí como se fosse uma convidada comum.
As palavras dele atingem-me como um soco no estômago. A leveza que eu sentira há pouco desaparece, e o que resta é uma pontada de raiva.
— Eu só queria um tempo, longe de você e Caroline. Não parecia que você estava percebendo minha presença de qualquer forma. — resmungo, tentando manter a calma.
Daniel solta uma risada seca.
— Não estou te pagando pra ficar com ciúmes, Lana. Isso é um trabalho, e você precisa se lembrar disso. O que você tem que fazer é estar comigo, onde eu estiver. Entendeu?
A dor se mistura com a frustração, e as palavras saem entre lágrimas que já ameaçam cair.
— A noite passada não significou nada para você? Por que está me tratando assim? - Minha voz falha, e eu sinto meu orgulho se desmoronar. — Eu entendi. Você me vê como uma acompanhante. Eu não sou nada além disso para você, não é?
Tento manter a postura, mas a frieza dele me desarma. Ele está distante, como se eu fosse uma peça descartável em um jogo que ele já decidiu. Isso me corta profundamente.
— E, a propósito, eu não sou sua propriedade. Você me contratou, mas isso não dá o direito de me tratar assim. — respondo, mais firme do que sinto, tentando não me perder nas palavras que preciso dizer. Ele não pode simplesmente me tratar como algo sem importância.
Daniel me avalia por um momento, como se estivesse decidindo o que fazer com minha atitude. Seu rosto expressa desdém, mas ele se aproxima de mim, e o ar entre nós fica denso.
— Lana, para de falar e me escuta. Lembra do que você pediu? Eu foquei em Caroline, e o objetivo é que eu saia daqui com ela. — diz ele, sua voz calma e impessoal, como se me lembrasse do contrato que assinei a todo momento.
As palavras dele me deixam sem reação. Será que ele nunca se importou comigo de verdade? Ou tudo isso era só uma estratégia para chegar a Caroline? Me sinto perdida, e uma sensação de vazio toma conta de mim.
— Então, o que você quer de mim agora? — A pergunta sai sem que eu possa impedir. Não sei mais o que pensar, mas preciso de uma resposta. Algo que explique tudo isso.
Ele me olha com uma expressão de exasperação, mas há algo ali, um vestígio de compreensão ou talvez apenas resignação. Ou talvez seja só cansaço.
— O que eu quero, Lana, é que você faça sua parte. Só isso. O que precisamos fazer é seguir o plano. No final, todo mundo sai ganhando. Se você quiser complicar as coisas, se quiser tornar isso pessoal, vai ser difícil para todos nós. — ele dá de ombros, como se fosse a solução mais óbvia. Mas seu olhar permanece fixo em mim, esperando que eu finalmente entenda.
— Então é isso? Eu sou só uma peça no seu plano? — Minha voz sai embargada, ainda tentando controlar a dor que sinto.
Daniel suspira, e por um segundo, vejo algo parecido com arrependimento em seus olhos. Mas ele logo se esconde atrás de sua expressão fechada.
— Não é isso. Você não é só uma ferramenta, Lana. Você foi uma escolha. E se você não consegue entender o seu lugar aqui, talvez seja mais difícil do que eu imaginava. — ele diz, o tom agora mais suave, mas a distância entre nós ainda permanece. — Eu sei o que estou fazendo, e o que isso significa.
Fico em silêncio, a angústia apertando meu peito. Ele tem razão, talvez. Mas, ao mesmo tempo, isso não justifica o modo como ele me trata. Mesmo que tenha aceitado as regras desse jogo, isso não significa que devo ser descartada como se minhas emoções não importassem.
Sem mais palavras, viro as costas e saio do quarto, a frustração e a humilhação me consumindo por dentro. No corredor, quase esbarro em Caroline, que me observa com um sorriso vitorioso, como se estivesse esperando por este momento.
— As coisas não vão bem no Paraíso, "Lena"? — Caroline provoca, errando propositalmente meu nome, o sorriso dela afiado como uma lâmina. Seus olhos percorrem meu rosto, analisando cada detalhe, em busca de qualquer sinal de fraqueza.
Respiro fundo, mantendo o semblante sereno, mesmo sentindo o peso do nervosismo. Meu sorriso permanece firme enquanto corrijo.
— Lana, na verdade — respondo em tom leve, sem desviar o olhar. — E eu sabia bem no que estava me envolvendo, Caroline. Daniel pode ser complicado, mas acho que é isso que torna tudo... interessante.
Ela estreita os olhos, avaliando minhas palavras, e dá um passo à frente, a expressão desafiadora.
— Interessante? Vamos ver até quando você acha isso. Daniel nunca foi do tipo que se entrega de verdade. — A voz dela soa calma, mas carregada de ironia. — Se eu fosse você, tomaria cuidado com as expectativas. Esse conto de fadas talvez não dure tanto.
Seguro o impulso de responder. Em vez disso, cruzo os braços e, com o máximo de autossuficiência que consigo reunir, sigo em frente. O corredor do resort se abre à minha frente como uma rota de fuga, e, sem olhar para trás, vou em direção ao bar, desejando algo que me ajude a processar toda a confusão que Daniel trouxe para a minha vida.
A brisa fresca da noite havaiana parece me envolver, oferecendo um consolo silencioso. Preciso desesperadamente de uma pausa, algo para esfriar a cabeça e afogar temporariamente essa mistura de emoções. Peço uma margarita, depois outra, e em seguida uma tequila, sem dar muita importância às consequências. As lembranças do beijo de Daniel e do jeito que ele me olhava continuam a me assombrar, mas a bebida começa a turvar esses pensamentos, deixando-os mais distantes.
Com o tempo, o mundo ao meu redor começa a girar suavemente, e uma leveza inesperada me invade. Sorrio sozinha, sem motivo aparente. A liberdade momentânea me faz esquecer, ainda que brevemente, toda a complexidade que me cerca.
Com um impulso, levanto-me e vou até a praia. A lua reflete na água, formando uma trilha prateada sobre as ondas calmas, e fecho os olhos, permitindo que a serenidade da noite me envolva. O tempo passa sem que eu perceba, e, quando finalmente abro os olhos, o sol já desponta no horizonte, aquecendo a areia sob meu corpo. A luz me cega momentaneamente, e uma sensação de desorientação preenche minha mente.
Levanto-me devagar, o corpo pesado e a mente ainda enevoada pela ressaca. A praia está tranquila, e o único som que ouço é o das ondas quebrando suavemente. Sem pressa, sigo de volta ao resort, cada passo refletindo o turbilhão que carrego por dentro.
Ao chegar à suíte, abro a porta com cuidado e paro, sentindo o coração disparar. O que vejo corta o ar à minha volta.
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