Capítulo 24: O que será de nós?
A vejo ali, parada na minha frente, com os olhos fixos em mim e uma expressão de choque que parece me atravessar. A mistura de sentimentos que me consome é avassaladora—alívio, raiva, confusão. Tudo o que consigo pensar é que, finalmente, depois de tanto tempo, eu encontrei Lana. E a surpresa de vê-la grávida, com aquela barriga que grita tudo o que eu já deveria saber, faz meu coração apertar.
Respiro fundo, tentando me controlar. O que mais quero, nesse momento, é arrancar tudo de dentro de mim, desabafar, entender o que aconteceu. Mas, principalmente, saber se aquele filho que ela carrega é meu.
— Precisamos conversar sobre isso. — Minha voz sai mais grave do que eu imaginava, e eu aponto para sua barriga. — Esse bebê é meu, Lana?
Vejo a mudança na expressão dela na hora. Seus olhos brilham com uma mistura de raiva e surpresa, e antes que ela consiga dizer qualquer coisa, ela dá um passo atrás. O olhar de fúria que ela me dá me atinge como um soco.
— Como você pode ser tão insensível, Daniel? — Sua voz treme, mas a raiva está controlada. — Como se fosse tudo tão simples assim!
Eu sei que fui longe demais, mas não consigo mais me controlar. Preciso de uma resposta, preciso entender o que está acontecendo. O silêncio entre nós está pesado, e eu não sei mais como agir. Mas antes que ela possa dizer algo mais, ela fala, em um tom mais suave:
— Eu preciso pegar a Ana na creche. Você pode me acompanhar?
A surpresa é instantânea, mas não hesito. Não sei o que esperar, mas não vou deixar passar a oportunidade de estar perto dela, de tentar entender o que aconteceu entre nós. Seguimos em silêncio até chegarmos à creche, e então, finalmente, ela começa a falar.
— Eu não sei o que você quer de mim, Daniel. Mas não faz sentido você aparecer agora, depois de tanto tempo, e simplesmente... perguntar sobre o meu filho. — Ela fala, os olhos fixos à frente, como se quisesse não me ver, mas sabe que eu estou ali.
O que ela diz me faz ferver de raiva. Não consigo entender como ela pode ter ido embora sem me dar uma chance de entender tudo o que aconteceu. O peso daquela situação está me esmagando, e a raiva transborda.
— Nosso filho. — A corrijo. — Como você pôde ir embora, Lana? — Minha voz fica mais firme, quase acusatória. — Você me deixou sem nem ao menos uma chance de fazer parte da vida do nosso filho. Me impediu de acompanhar o crescimento dele. Você não tem ideia do quanto isso dói. Do quanto me dói saber que você teve que carregar isso sozinha.
Ela para por um momento, olhando para o chão, mas não diz nada. O silêncio entre nós se estende até chegarmos à creche.
Quando entramos na creche, Ana, ao me ver, se anima imediatamente. Seu sorriso ilumina o ambiente, e ela corre até mim, parecendo mais uma criança feliz do que qualquer outra coisa.
— Você vai ficar? — Ela pergunta, os olhos brilhando, com toda a inocência estampada no rosto.
Olho para Lana, esperando uma resposta dela. Ela parece tensa, mas responde por mim:
— Não, ele não vai ficar.
O peso da rejeição me atinge de imediato. Algo me diz que Lana não está disposta a abrir espaço para mim, mas não vou desistir. Não agora.
— Eu posso te dar uma carona, se quiser. — Sugiro, mais por impulso do que por real necessidade de saber se ela aceitaria.
Ela nega de imediato:
— Não, meu apartamento, o hotel e a creche são bem próximos. Eu gosto de caminhar, faz bem para a gravidez. — Responde, sem me olhar diretamente.
Eu queria insistir, mas sei que não adianta. Acompanho-a até o apartamento, e a sensação de estar tão perto dela, de ver a vida dela de perto, me deixa inquieto. Não sei o que esperar, mas algo dentro de mim me diz que a chance de reconquistar Lana ainda existe. Eu só preciso descobrir como.
Quando chegamos ao apartamento, Ana entra animada, deixando-nos a sós. Lana me olha com um ar de despedida.
— Então é isso, né? — Ela diz, tentando esconder a dor em suas palavras. — Adeus, Daniel.
Aquelas palavras são um golpe. Eu não quero que aquilo acabe assim, e não vou deixar que seja. Respiro fundo, me aproximando dela.
— Não, Lana. — Minha voz sai mais suave, mas com uma certeza inabalável. — Não é isso. Eu quero fazer parte da vida do meu filho, e quero que você volte para São Paulo. Precisamos conversar sobre tudo isso, mas eu não vou desistir de vocês.
Ela me olha com raiva nos olhos e responde, sem hesitar: — Não mande em mim, Daniel. Eu decido o que é melhor para a minha vida.
O ar entre nós fica pesado, e durante alguns segundos, nenhum de nós fala mais nada. Então, sem que eu espere, ela abaixa a guarda. Eu a olho mais uma vez, e peço, quase em um sussurro:
— Posso colocar a mão na sua barriga?
Ela hesita, e, após o que parece uma eternidade, consente. Coloco a mão suavemente em sua barriga, sentindo a conexão, como uma eletricidade no ar. A energia entre nós ainda está ali, e eu sei que ela também sente isso.
— Me dá seu número, Lana. — Peço, minha voz baixa, quase implorando para não a perder de novo.
Ela hesita, mas não tem como arranjar uma desculpa. Sem palavras, me passa o número. Eu não consigo evitar, e, num impulso, dou-lhe um beijo na bochecha, uma despedida suave, mas propositalmente próxima. Quando me afasto, toco seus lábios com os meus, de maneira leve, um sinal de que ainda há algo mais entre nós.
Ela não reage, mas algo me diz que ela também sente o que está no ar.
Eu saio de lá com a cabeça cheia de pensamentos, mas uma sensação de felicidade me envolve. Eu a reencontrei. Sei que será difícil, mas agora sei que serei pai. E isso, por mais complicado que seja, me dá forças para enfrentar o que estiver por vir.
Naquela noite, deito-me com uma promessa silenciosa: eu vou reconquistar Lana. E dessa vez, nada pode me impedir.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro