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52 - Selva



— Por favor, Elisa! Não vou deixar você para trás! 

Uma luz forte inundou o ambiente e o chão tremeu. Já vi essa luz antes! O cajado do eremita! As bestas fugiram assustadas.

— As duas estão bem?! — Gael nos olhava com puro horror, temendo que fosse só um truque nos ver vivas.

— Vânia está morta. — disparei, tremendo. — A coisa estava comendo ela. — a adrenalina cedeu. Senti nas bochechas um molhado escorrer que me lembrou a baba no meu ombro. — Aí depois...

Gael me abraçou apertado e o choro aumentou. Quero ir para casa.

— Acho que temos companhia. — John sussurrou. — Outra vez!

As bestas começaram a formar um círculo à nossa volta, grasnando entre si suavemente. 

— Afastem-se! — Selva rugiu o cajado.

O chão tremeu e a luz brilhou, só que dessa vez... os bichos deram um passo à frente.

— Mas que merda é essa?! — Natan cuspiu.

— Essa droga de cajado não está mais funcionando! — Ramon resmungou.

O nosso grupo começou a se apertar. Notei que eu sempre era colocada no centro, assim como o John, os objetivos máximos a serem protegidos. Não gostei de saber que a nossa vida valia mais do que a deles.

Não sei quem atirou primeiro, mas o barulho ficou ensurdecedor. Bestas atacando e morrendo. Nós, presos e encurralados ao centro.

De repente, as criaturas pararam. Gemendo de cabeça baixa, encolhendo-se assustadas, recuando sem aviso. A figura de capuz apareceu. O riso na voz era audível.

— Nos encontramos outra vez. — o eremita anunciou.

— Você! — Elisa acusou. — É de você que eles têm medo, não do cajado!

— Devo parabenizá-la pelo raciocínio óbvio? — caçoou.

— O que quer de nós? — Natan perguntou.

— Por que acha que eu quero algo?

— Por que se era para virarmos comida, poderia ter nos deixado morrer na campina. — Selva segurava firmemente o cajado. — O que você quer?

— Um pouquinho de diversão?! Não temos muita por aqui. Gosto de aproveitar as oportunidades.

— Se não impedirmos a noite de acordar ela vai consumir tudo. — Selva falou. — Até o seu pequeno parque de diversões aqui em baixo. Tem que nos deixar ir.

— Eu não ligo. — o eremita deu de ombros, divertido. — Todo mundo tem que morrer um dia. Por que não hoje?

— P-por que não amanhã? — Ramon sugeriu.

Ao invés de responder ele passou a fitar Selva, com seu cajado na mão.

— Por que está resistindo, criatura bela? Sei que pode sentir o meu sangue correndo em você.

Ela apertou com mais força o cajado. A luz pulsou e ficou mais intensa.

— Nunca transformei uma criatura tão poderosa quanto você. Quanto mais resistir, mais poder estará lhe dando quando nascer. Será a minha obra prima.

— Do que ele está falando? — Natan olhou feio para a raposa.

Selva o ignorou.

— Estou ansioso para que se junte a mim! — Zain escarneceu. — Nunca pensei em criar uma adjutora. Especialmente uma tão bela! Mal pude acreditar nos meus olhos quando a vi.

— Miserável insolente. — a ruiva rugiu entredentes num ódio calmo e gélido.

— Mestra, do que ele está falando? — Ramon estava aflito e confuso.

— Como controla as bestas? — Selva perguntou e teve a perspicácia de ver o lampejo fugaz que foi lançado sobre a esfera brilhante. — Com isso?! — o semblante dela se iluminou. — Pergunto-me o que aconteceria se a esfera de poder se partisse?

— É só um objeto bonito. — o eremita estava inabalado. — Sou apreciador da beleza.

Não conseguiu enganá-la.

— Então não teria problema se...

— Não! — urgência e desespero.

A estrela cintilante parou a centímetros de se chocar com toda a força no chão.

— Não? — a voz da raposa escarnecia. — Talvez eu ache mais bonito desfeito em um milhão de partes!

— Dê para mim! — Zain exigiu.

— Ora, isso aqui? — ela quase o partiu de novo. Zain quase desfaleceu. — O que acontece se a obra prima decidir assumir o controle? — o cabelo dela começou a ondular, laranja e selvagem, como o próprio fogo indomado.

— Dê-me a luz!

— Eu fico com você. — Selva propôs. — Eles vão.

O semblante dela não era de derrota. Ela estava se voluntariando para ficar? Sozinha?! Selva fazia aquela cara de serpente prestes a dar o bote.

— Sabe que não pode resistir por muito mais tempo. — ele já tinha aceitado a barganha.

— Sei.

— Então eles podem ir.

Mais essa agora! Fomos enganados com esse cajado!

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