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42 - Abismo


Elisa, Natan e Gael — três caçadores — John e eu — dois guardiões — Selva — a filha da lua — Ramon — o aprendiz — Vânia — botânica — Heitor e Hector — os gêmeos metalúrgicos. Esse era o grupo de voluntários para descer ao abismo.

Ficamos encarando aquilo com a água do mar sob nossos pés. Eu já tinha ouvido muitas vezes sobre aquele lugar, mas era a primeira que o olhava cara a cara. O oceano terminava em uma queda d'água infinita rumo ao breu. A água se perdia no ar, engolida pela noite. Seja dia, ou seja noite, lá em baixo é sempre escuridão.

— Vamos ter que atravessar essa tempestade? — Hector encarava as nuvens nada convidativas.

Mais um trovão ribombou. O clarão cortou o céu à nossa frente. Todos podíamos ser fulminados por um choque daquelas nuvens carregadas de eletricidade. 

Comecei a tremer e a ofegar. Pense em coisas bonitas, Alma Ferraz! Pense em coisas bonitas! Senti uma mão quente envolver a minha. Olhos reconfortantes de um perfeito tom de verde dourado fizeram o meu coração sossegar. Eles sempre prometiam: vai ficar tudo bem.

O canto doce das sereias começou ao longe. Um vislumbre de cauda dourada, outra rosa, outra violeta. Já começava a doer resistir à canção. Precisávamos sair da água.

Nos entreolhamos em silêncio e saltamos de uma só vez.

As nuvens de tempestade nos envolveram num abraço opressor. O mundo chacoalhou com a impetuosidade do relâmpago. Esperei sentir o impacto fumegante da morte com os olhos apertados até quase ás lágrimas... mas ele não veio. 

Os paraquedas começaram a se abrir, mas não consegui encontrar a alavanca do meu. Continuei caindo. O desespero tomou conta de mim. A velocidade da queda era pura violência. O ar me estapeava e tentava me sufocar. Os outros estavam ficando cada vez mais distantes de mim.

O clarão dos relâmpagos e a explosão doentia dos trovões me deixava desorientada, alternando claridade ofuscante com escuridão escarnecedora, silêncio absoluto e gritos de eletricidade.

Com as mãos tremulas, consegui finalmente abrir o meu paraquedas. O tecido tremulou para cima como o bruxulear de uma vela ao vento. A descida se tornou instantaneamente mais calma e controlada, no entanto... eu chegaria lá em baixo primeiro... e ficaria sozinha até que mais alguém pousar.

O coração palpitou de medo e ansiedade.

Ouvi um estalo. Um chiado de algo se rasgando. O meu corpo abraçou a aceleração e eu ganhei velocidade. Vi o meu paraquedas em retalhos. Estava caindo outra vez, rápido demais! Vou virar uma sopa gosmenta e ensanguentada contra aquele chão desconhecido!

A voz que irrompia da minha garganta era aguda, desesperada e estridente. O meu corpo inteiro se sacodiu com o chacoalhão brusco que levei. Mas eu parei de cair! Isso é ótimo!

Olhei para cima. Achei que tivesse ficado presa em algum lugar, mas aí... vi a sombra da silhueta contra a luz do relâmpago. Uma criatura negra e deformada estava segurando os trapos do paraquedas bem perto de mim. 

Bem vindos ao abismo!  ;)

Por hoje é só, nos vemos na próxima. Ótima semana a todos, bjos!


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