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38 - Lua




Ramon se juntou a nós no caminho para a cabana antiga, no meio da mata, onde o Sr. M estava vivendo.

— Ai! — o garoto esfregou a nuca depois de ganhar um pesteleco que até eu fiquei com dó.

— Sempre trapaceiro! — ela fulminou o garoto que se defendeu de mais alguns tapas. — Tinha que ter uma trapaça escondida por trás daquele doce! — ela fez referência à recuperação das minhas lembranças, afinal, não era um presente para mim. Tinha um interesse por trás disso.

— Mas Srta. Elisa! — ele estava no purgatório com a raiva dela. — Alma é a nossa única esperança. Ela precisava se lembrar!

Os adolescentes crescem tão rápido, principalmente os meninos. Embora Elisa fosse um ano mais velha, teve que olhar para cima quando encarou o garoto. Uh! Ramon disse alguma coisa que não devia, porque Elisa vai pôr fogo nele!

Ela agarrou o garoto pelo pescoço e o derrubou no chão sem nenhum esforço.

— E essa é uma boa razão para mentir para mim?! — ela tinha desistido de bater nele e agora tentava matá-lo. — Você devia ter me contado!

— Ele não está respirando. — Gael avisou. — Você sabe disso, certo?

— Essa foi a segunda vez, seu trapaceiro. Da terceira te arrebento inteirinho! — Elisa saiu de cima dele e o garoto tossiu copiosamente em busca de ar.

O aprendiz logo se recompôs e sacudiu as folhas secas da roupa, apressando o passo para acompanhar a loura raivosa. Ela olhou para ele de cima a baixo com incredulidade e deu-lhe mais um peteleco na cabeça.

— Inacreditável! — a raiva dela explodiu.

— O que eu fiz agora?!

— Você está perto de mim! — cuspiu. — Vá andar perto lá da sua mentora! — Elisa empurrou o aprendiz. — Ela é sua amiga, não eu! Porque você vive de segredos com ela, e esconde as coisas de mim! Então não ande perto de mim! Xô!

Ramon suspirou, contrariado, mas atravessou o grupo e foi andar na direção ordenada, do lado mais longe possível da loira. 

Seria possível... que Elisa estivesse com ciúmes da ruiva?!

— Você podia ter dito não. — a ruiva parecia achar graça naquilo. — Eu escolhi mandar você armar para a guardiã. Mas você escolheu obedecer.

O aprendiz ficou um segundo encarando a jovem.

— Sério isso?! — ele olhou em volta como se esperasse que fosse uma brincadeira. — Até você vai ficar contra mim?!

— Eu armei para você. Eu sou uma raposa, esse é o meu trabalho. — Selva estava mesmo gostando de ver o moleque se ferrar. — Mas quanto à fada e ao doce, eu só observei, quem colocou em prática foi você. Desculpe, criança, você também é um trapaceiro.

— Ótimo! — ele bufou. — Estou sozinho aqui!

— Bem-feito! — e só ouvi a gargalhada maléfica da Elisa antes da porta da cabana se abrir.

Sr. M colocou os olhos em mim e jogou os braços para cima com um gritinho de felicidade:

— A lembrança voltou! Voltou!

— Também estava morrendo de saudade, Sr. M. — dei-lhe um abraço apertado.

— Você menina corajosa.

O meu sorriso ficou amarelo sentindo o peso do medo e das incertezas. Não quero salvar o mundo, quero ser uma pessoa normal. Eu sou uma bailarina! Não uma guerreira. Quantas vezes vou ter que repetir isso?!

— Muito bem, Sr. M. — Gael falou e todos nós nos sentamos à mesa da cabana, estranhamente aconchegante e arrumada. Parece que alguém além da Elisa andava cuidando dele. Meus olhos correram para a ruiva e me perguntei se seria ela. — Fale-nos sobre a noite. — pediu.

— Eu disse seu caminho muito longo ainda! Mas agora... já no fim. — Sr. M respondeu.

— Tenho medo de perguntar que fim é esse. — Elisa olhou séria para o irmão. — Existem infinitas possibilidades, nem todas são agradáveis.

— A sua lembrança está aí. — Selva falou um pouco impaciente. — Agora pode nos dizer o que fazer?

— Sim! Como queira. — e ficou em silêncio.

Olhamos uns para a cara dos outros. Ok. Já que ele queria falar comigo talvez eu devesse assumir.

— Por que precisava de mim? Disse que eu precisava me lembrar. Por quê? — perguntei.

— Porque você tem — apontou o meu peito — no coração, magia do portal.

— Mas eu... sou só híbrida. Como vou mandar aquela coisa para outra dimensão? Não sei abrir um portal. — senti um medo profundo. De tudo. De fracassar, de morrer, de perder quem eu amava, de destruir o mundo.

— Mas é claro que consegue! Está aí dentro. Deixe fluir. Não deve controlá-la, deixe que ela controle você.

Abrir mão do controle?! Jura?! Sobre mim mesma?! Nossa! Como eu adorei ouvir isso!

— Como vamos enfrentar a criatura? — Ramon perguntou visivelmente nervoso, retorcendo as mãos uma na outra.

— A noite os espera. — o homem, que estava mais para um oráculo do que para um guardião, respondeu.

— Quer que a gente d-desça até l-lá? — o aprendiz gaguejou. — Ninguém voltou v-vivo daquele lugar!

— Um risco. Se a criatura desperta completamente... ui, ui, ui... invulnerável!

A fantasia tem um hábito irritantemente desagradável de tentar me matar. Primeiro o Gael, depois a Selva e agora aquela coisa lá embaixo?! Posso ir para casa e fazer de conta que eu não sei de nada disso e só fingir que este mundo não existe?

— Quanto tempo nós ainda temos? — Elisa perguntou.

— Até a lua ser um sol. — mais um enigma, suspirei.

— Até a próxima lua cheia. — Selva explicou.

Traduzindo: a gente ia viver por mais duas semanas.

Olá amores! Como vocês estão?

A aventura está quase quase chegando. E será a nossa última vez. 

Não esquece da estrelinha e vamos ao próximo de hoje.

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