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26 - Shakespeare


Elisa e eu pegamos a estrada bem cedo no domingo e chegamos em BH no meio da manhã. Isabel estava atrás de um exemplar original de Romeu e Julieta. Ela já tinha procurado em todos os sebos da cidade, mas não encontrou. Então nós fomos tentar a sorte em um bazar literário anunciado na internet.

— Foi só um beijo. — Isabel não tirou os olhos dos exemplares na banca improvisada.

— Deve ter sido um beijo muito bom para você se recusar a admitir. — provoquei. — Aposto que pensa nele todos os dias. Ai!

Esfreguei o braço onde ela me acertou com um livro de capa dura.

— Eu estou tentando esquecer! — ela cuspiu com raiva.

Esquecer.

— Acredite em mim — falei —, esquecer dói mais ainda. — eu daria tudo para me lembrar do que tinha perdido.

Isabel suspirou, frustrada, tanto pela conversa como por não encontrar o livro.

— Vocês ganharam. Eu vou contar tudo e depois não quero mais ouvir um pio sobre isso.

Isabel não conseguia ficar quieta quando falava de um assunto que a deixava nervosa, então fomos tomar sorvete no parque.

Sorvete. Gael adorava sorvete. Isso me fez sorrir, embora o coração doesse. Tudo me lembrava dele. Eu podia contar um dia quantas vezes ele cruzava a minha mente. Talvez me surpreendesse o resultado.

— Estava chovendo horrores! — Isabel começou. — O trânsito estava um caos então eu preferi esperar e ver se diminuía antes de ir para casa.

Eu já sabia que ela vinha se esbarrando com Natan de vez em quando e que eles trocavam algumas mensagens, por vezes, até tarde da noite.

— Topei com ele quando eu já estava saindo. — ela prosseguiu. — Acabamos ficando no estacionamento do shopping, observando o céu desabar lá fora. Conversamos sobre coisas aleatórias até a chuva se tornar uma garoa fina. Ele disse que não seria daquela vez que o mundo acabaria em afogamento. Então eu perguntei: "O que você faria se o mundo estivesse mesmo acabando? O que você precisa fazer antes de morrer?"

Nos largamos em um banco.

— Estávamos só brincando, mas... ele olhou para mim de um jeito que me desestabilizou por completo. — Isabel suspirou com a lembrança, recriminando-se por gostar tanto dela. — Simplesmente não consegui me afastar quando ele se aproximou.

— E porque você odiou tanto gostar disso? — Elisa ficou curiosa.

— Porque eu amo o Pedro! Natan me pegou de surpresa, mas foi só um beijo. Não significou nada.

— Nada?! — protestei. — Você não está sabendo lidar e ele disse que era você o que ele precisava! Acho que significou alguma coisa!

— Não vou falar com ele até as coisas voltarem ao normal. — Isabel cruzou os braços. — Estou feliz com o Pedro, então não alimentem fantasias.

O assunto estava encerrado e Isabel proibiu a palavra Natan de ser repetida novamente aquele dia. Mas falando no diabo... ainda estávamos lá quando ele apareceu. Vou começar a falar 'Gael' em voz alta quando chegar em casa, vai que funciona.

— Olha só quem está aqui. — o priminho chegou por trás do banco e Elisa ganhou um beijo na bochecha. — Oi, Alma.

— Oi. — sorri, aquilo ia ser interessante.

— E... — ele ficou alguns segundos olhando a morena ao meu lado. — Oi garota linda que não está falando comigo.

— Eu não estou... — Isabel procurou as palavras. — não falando com você, eu só... estou te evitando.

— Que consolo! — Natan deu uma risada e se sentou ao lado dela. — Se estava tentando me animar, não funcionou!

As bochechas dela estavam coradas, mas o que chamava realmente a atenção era o sorriso. Aquele sorriso que era feito exclusivo à presença de alguém.

— Sabe, é realmente uma pena que esteja me evitando. — Natan colocou um livro de capa gasta sobre o colo — Encontrei isso alguns dias atrás e...

— Romeu e Julieta! — ela deu um gritinho de animação.

— Agora não sei o que fazer com ele. — um sorriso desafiador. — Se estivesse falando comigo poderia me dizer se conhece alguém interessado.

— Você está oficialmente perdoado! — as mãos dela envolveram o exemplar com a mais pura cobiça. Todos nós caímos na risada.

— Fiquei curioso para saber porque você queria tanto isso. — ele completou.

— Você leu? — ela alisou o livro e pela olhada que o rapaz lançou ao objeto tive certeza que ele ficou com inveja daquele carinho.

— Claro. Ainda não sei porque você gosta tanto.

Isabel ficou de boca aberta.

— É Shakespeare! — indignada!

— É deprimente! — ele teve coragem de dizer na cara dela.

— O que?! — indignada nível máster!

— Todo mundo morre! — Natan disparou. — Qual é o problema dos romances com a felicidade?!

Aquele foi realmente um bom domingo, e ousaria dizer que se tivesse um pouco de verde e dourado teria sido perfeito.

Olá, olá! Como estão vocês?

Agora já sabem como foi a bitoca. Gostaram?

Se gostou não esquece da estrelinha e vamos ao próximo!

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