21 - Aniversário
O ano velho se foi e janeiro trouxe os meus dezoito anos. Particularmente, preferia uma comemoração simples, mas minha mãe fez questão de comemorar em grande estilo. Para quem achava que iria enterrar uma filha, ter a oportunidade de festejar outro aniversário era mais do que uma benção, era um milagre.
— O que é isso?! — Elisa segurava o cabide olhando o meu vestido com cara de nojo.
— No corpo não fica tão ruim. — me defendi, mas depois que vesti ela ficou histérica!
— Que coisa mais horrorosa! O seu gosto é péssimo! — Elisa ia puxando e cutucando a roupa, ressaltando tudo o que não tinha gostado. — E que cor é essa?! Parece que alguém vomitou sopa de couve em você!
— Eu gosto de verde! — cruzei os braços na defensiva.
— Verde?! — ela me encarou. — Me admira não ter nada dourado. Aí sim, ia ficar igualzinho aos olhos dele!
— Não é por causa disso! — senti as bochechas corando na mesma hora.
— É claro que não! Imagina!
A loura me arrastou para a loja, determinada a trocar a peça. A festa seria aquela noite então teríamos que encontrar alguma coisa que não precisasse de ajustes.
— Olha ess...
— Não. — Elisa dispensou.
— E ess...
— Não. — ela me cortou.
— Esse aqui é...
— Não.
— Mas você nem olhou! — reclamei.
— Não preciso. Se você gostou é porque é horrível.
Elisa me empurrou para dentro de um provador e daria para vestir metade da cidade com tudo aquilo! Me recusei a provar alguns! Me sentiria nua na frente das pessoas! Então Elisa achou o vestido perfeito... para ela!
— De jeito nenhum! — me olhei no reflexo. — O que nós combinamos sobre a roupa ter tecido?
A cortina foi aberta sem nenhum aviso prévio.
— Não seja ridícula! Olha quanto pano tem aí. Seus peitos estão cobertos e a sua bunda também.
Olhei as costas de novo. Um decote cavado até abaixo da cintura. O vestido se colava ao meu quadril como uma segunda pele. A minha bunda estava coberta sim, mas completamente à mostra.
— Olha a minha bunda, Elisa!
— É linda.
— Está muito exposta. — reclamei.
— Bobagem. O Gael vai adorar.
O calor e o rubor foram inevitáveis.
— Agora mesmo que eu não vou usar. — tentei fechar a cortina, mas ela não deixou.
— Alma, o meu nome não é Elisa se você não estiver usando esse vestido hoje à noite. — um sorriso de pura determinação. — Mas se o problema for a cor, fica tranquila. Vou te dar uma calcinha verde. E vai ser do tom de verde perfeito!
Fechei a cortina do provador e ela ficou rindo do lado de fora.
A noite chegou e a minha família toda estava lá, o pessoal da escola que eu não via desde a formatura, algumas pessoas do ballet e, para o azar do Natan, o Pedro. Infelizmente ele não poderia ser o par "sem segundas intenções" da Isabel.
Gael também estava lá. Mal tínhamos trocado algumas palavras depois do 'namoro'. Tudo nele estava mais contido. O que mais doía era o sorriso. Um sorriso contido. Ele estava distante. Parte disso me matava, parte me tranquilizava.
John me chamou para dançar. Aceitei, mas estava esperando que outra pessoa me tirasse para dançar. Mas essa pessoa se levantou e foi embora. Engoli o desgosto e pisei no pé do John várias vezes.
Encontrei o Natan sozinho à mesa, admirando certo alguém ao longe.
— Você sabe que o prêmio não será entregue à você, certo? — me sentei na cadeira ao lado. — Você tem que conquistá-lo.
O rapaz me analisou por um instante, ponderando sobre o que eu estava insinuando.
— E se o prêmio não for para mim?
Dei de ombros.
— Então roube-o.
Ele abriu um sorriso com o que ouviu e voltou a admirar o seu prêmio.
— Roubar. — saboreou a palavra, divertido e animado. — O que é um pecado a mais numa lista tão grande?
Nós trocamos olhares de cumplicidade e ele me deixou sozinha. Adorei quando ela aceitou o convite para a próxima dança. Ele ficava simplesmente hipnotizado por ela. Isabel. Tinha um misto de cobiça e adoração nos olhos dele. Era esse tipo de coisa que eu desejava para a minha quase irmã. Não uma coisa comum e mediana, como o Pedro. Uma coisa arrebatadora.
Tentei me desconectar da ausência naquele salão, mas não estava dando muito certo. Aos fundos do salão tinha um espaço verde. Decidi tomar um ar fresco.
Sapatos idiotas! Tirei aquilo do pé, a grama me fez cócegas. O vestido estava me apertando, mal dava para respirar! O que eu não daria pelas minhas calças jeans?! Fiz um lembrete mental: nunca mais deixar Elisa escolher as minhas roupas.
— Fugindo da própria festa?
— Que susto! — dei um pulo. Quase não o vi, engolido pelas sombras. — Achei que tivesse ido embora.
Gael saiu de onde estava, calma e vagarosamente.
— Voltou a usar. — pegou o meu pulso para analisar a joia branco e preta.
— Foi... dado de coração.
A mão livre se apoiou sobre a base da minha coluna, pressionando com leveza, obrigando o meu corpo a ocupar o pouco espaço que sobrava entre nós.
— Está deslumbrante nesse vestido. — falou.
Adorava essa voz, e esses olhos, e esse cheiro.
— Esse é outro jeito de dizer que não gosta dos meus jeans?
— Também. — um riso torto. — A festa só acaba depois da última dança, certo?
— Mas não tem música aqui. — eu estava completamente absorta naquele verde tão intenso.
— Tem música em tudo. Você só precisa aprender a ouvir.
Me perdi. No embalo suave por onde ele me conduzia. No calor daquela nuca. Na sensação das mãos dele beijando a minha pele, mimando a minha espinha. Lembrete mental: deixar Elisa escolher todas as minhas próximas roupas.
O afago daquela voz deslizou pelo meu rosto, sussurrando ao meu ouvido:
— Esse não é o seu presente, é o meu.
Um beijo que era ao mesmo tempo delicioso e tóxico.
Enlacei os dedos naquele cabelo curto, apertando-o cada mais contra mim. Um gosto de lembrança e de saudade. Algo estranho e desconhecido, mas com gosto de lar. Uma enxurrada de sentimentos me sacudia por dentro enquanto a boca dele me consumia com vigor.
— Alma? — ouvi o John me chamar.
Os meus olhos estavam presos dentro do magnetismo daquele olhar. Os meus lábios vibravam reclamando a ausência daquela boca.
— Alma? Onde você está?
Gael voltou a cochichar no meu ouvido:
— Você continua sendo o meu pecado, doce e proibido.
— Alma? — John continuava procurando por mim.
Aquele olhar de florestas selvagens ao nascer do sol tinha um tom agridoce de implicância e reprovação.
— O seu namorado está chamando por você.
Palavras ditas pela boca que eu tinha acabado de beijar.
— Alma? Onde você está?!
E antes que John o flagrasse ali, Gael me deu as costas e desapareceu como se fosse um ser místico em meio ao meu silêncio. Ele se perdeu no negro da noite.
— Achei você. — John observou o nada onde eu me perdia fixamente. — O que está olhando?
— Tudo.
— Tudo? Não tem nada ali. É só escuro e uma árvore.
Era mais do que isso. Era o escuro com que ele me engolia e a árvore de emoções que fincava raízes no meu coração, se alimentando do meu sangue, tornando-se parte do que eu sou. Ele era tudo o que eu temia e tudo o que eu queria.
Olá a todos! Finalmente bjoooo!!!
E menos um ponto para o John que eu sei que vocês adoram cultivar um desprezo por ele! kkkkkkkk
Se gostou deixa uma estrelinha, bjos!
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