IV
Não tardou muito a que aparecessem os paramédicos e a polícia.
Ao ver as luzes a aproximar-se, Angus caiu de joelhos no chão e chorou, proferindo rezas de agradecimento aos espíritos que ainda habitavam Ruby e que Quinn não quisera perturbar. As duas mulheres que o acompanhavam riram, mas acabaram por murmurar também as suas preces. Nunca se sabia quando é que a entidade a quem era devida a ajuda poderia estar a ouvir.
Os paramédicos avaliaram a situação da negra e, depois de aplicar os primeiros socorros possíveis, declararam que tinham urgência em chegar ao hospital. Era indispensável a execução de uma cirurgia para minimizar os danos causados pela bala no ombro de Quinn e quanto mais depressa esta fosse efetuada, melhor.
Skylar e Angus, uma vez que já tinham sido avaliados pela equipa médica e já tinham prestado as primeiras declarações necessárias à polícia, subiram para o jipe afim de seguir a ambulância.
— O Josh que venha visitar isto sozinho, se quiser — resmungou Angus no banco do pendura, enquanto Skylar fazia as manobras para dar a volta ao veículo. — Eu não venho com ele e a minha irmã e os meus sobrinhos só vêm por cima do meu cadáver!
Sky reprimiu o riso involuntário. A excitação e o interesse que Angus tinha nos homicídios duplos daquela cidade fantasma tinham desaparecido.
— Acho que já chega de sangue por uma temporada. — Skylar olhou para as mãos em torno do volante. Mesmo depois de tanto esfregar, os resquícios de sangue da amiga ainda lhe manchavam a pele, aglomerando-se em maior quantidade nos limites das suas unhas. — Ou mesmo por duas.
O jipe passou o portão. Pelos retrovisores, Skylar não pôde deixar de reparar que o suposto vigia tinha desaparecido. Porém, Angus viu outra coisa.
— É a Myrtle! — Os seus olhos arregalados quase lhe saíram das órbitas. — Cinco dentes de ouro. É a Myrtle!
Angus contorceu-se no banco para olhar para trás. Sky olhou pelo retrovisor central em busca da figura que tinha deixado o amigo naquele estado de pânico.
— Quem?
— A Myrtle! Uma das vítimas! — Angus caiu no banco e gesticulou para a estrada de terra batida à sua frente, onde a ambulância quase se fundia com o horizonte. — Vamos embora! Depressa!
Skylar fez o que ele, debilitado pelo pavor, pediu.
Alguns quilómetros depois, visivelmente mais calmo do choque, Angus ganhou coragem para explicar a Skylar a história de Myrtle, uma das 6 vítimas dos homicídios de Ruby e que ele jurava a pés juntos ter visto à distância. Contudo, mal Quinn saiu do recobro, o fantasma com quase 100 anos, as emoções e os mistérios daquela noite, as conclusões da polícia sobre o caso e a identidade da consciência pesada, que tinha chamado a ambulância e que ficaria para sempre anónima, foram todos esquecidos.
Tinha acabado tudo em bem e nada mais importava.
O melhor que aqueles três biólogos tinham a fazer era esquecer o que aconteceu e seguir em frente. Afinal, nem mesmo para o seu trabalho iriam voltar a precisar de colocar os pés na cidade fantasma de Ruby, Arizona.
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