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Noite de Halloween

I.

Encontro-me submersa, mas não há água ao meu redor, apenas o interminável breu. Estranhas sensações me tomam por completo, causam-me certo incômodo. Ainda não sei dizer o que é, porém deixam-me inquieta...

Aos poucos sinto alguns formigamentos em meu corpo, apesar de ainda o sentir como se estivesse flutuando. Outras sensações também me atingem em cheio: ouço barulhos, sinto algo rastejando sobre mim, escuto grunhidos, e uma canção...

Fico extremamente desconfortável com seus dizeres:  "e à noite quando vento frio sopra, ninguém se importa, ninguém sabe..." De maneira estranha e repentina, sinto o tal frio mencionado por ela. Apesar de que em nada me incomoda, apenas tornam as coisas... um pouco diferentes. Os sons ao meu redor tornam-se mais nítidos. É possível escutar diversos cães uivando em uníssono, o vento soprando de maneira fantasmagórica, e a brisa gélida convidando-me a segui-la.

Puxo o ar em total desespero, pois me sinto sufocada. E estranhamente, nada me acontece. Grito por ajuda, mas ninguém vem em meu auxílio. Aquela música torna-se um amontoado de sons, todos misturados e barulhentos demais. Reconheço-a: é rock and roll.

Abro meus olhos e está tudo escuro. Percebo que estou enclausurada, e não consigo mover meu corpo apropriadamente. Por que eu estou ali?

E a noite quando a lua brilha, alguém grita, algo não está certo... — novamente aquelas palavras ecoaram de algum lugar, cantando minha terrível experiência. Eu continuo a gritar, a socar algo tão duro quanto madeira.

Para a minha surpresa, após golpear aquela superfície sólida, e de maneira contínua, percebo que a dor não me aflige. Só está presente, junto com as demais sensações igualmente conhecidas, mas tão estranhas para mim.

Ouço um estalo. A madeira parece estar começando a ceder. Golpeio com mais afinco, com a certeza de que só tenho um único objetivo: sair dali. Um outro desejo me invade por completo, parecendo incendiar tudo dentro do meu peito.

Finalmente saio vitoriosa daquela provação. A madeira se rompeu.

Entretanto, uma cascata de terra começa a invadir o espaço onde me encontro, tornando a minha saída ainda mais difícil. Aquilo não me impede, já que continuo a cavar. Minhas pernas empurram-me como se eu estivesse nadando num rio, só que ao invés de água, tudo o que eu consigo lutar contra, é terra...

Fria, suja, com diversos vermes que rastejam em minha pele, todos em profusão, tão agitados quanto meu peito tempestuoso. Quanto mais luto, mais eu pareço descer. Apesar de saber que estou indo em direção daquela corrente de ar gélida, que foi a primeira a me dar as boas-vindas para essa nova aventura que me aguarda.

Não sei por quanto tempo lutei pela minha liberdade, porém consigo finalmente emergir da terra. A primeira coisa que vislumbro é a lua. Ela está cheia, brilhando com sua luz pálida e espectral, iluminando a terra por onde eu saio com dificuldade e ao mesmo tempo confusa.

Por que voltei?

Olho ao meu redor. Tudo está calmo, apesar dos cães continuarem uivando. Talvez estivessem sentindo o meu desespero. Os corvos grasnam, os ratos correm de um lado para o outro, tão enérgicos quanto aquela sensação inquietante dentro de mim. Encaro uma pedra atrás de mim, reconhecendo-a. E aquela constatação me deixa ainda mais assustada.

Na lápide está a figura de uma garota tão bela e tão jovem, com pele de chocolate. Reconheço aqueles olhos, tão grandes e que outrora estiveram tão cheios de vida; aqueles lábios, e sobretudo a mancha branca que lhe cobre a boca e o queixo.

Elizabeth Brown.

Identifico o nome incrustado na lápide. É a minha própria graça, que eu mesmo já tinha me esquecido. Como alguém é capaz de esquecer seu próprio nome?

Encaro meu nome e imagem gravados na placa de granito. A tristeza invade-me, junto de uma raiva incompreensível. Algo me chama para aquelas terras novamente, obrigando-me a sair do meu local de descanso final.

Esta é apenas a primeira das diversas descobertas, que ainda aconteceriam hoje à noite.

II.

Estou deitado na minha cama, e os lençóis estão todos bagunçados, revelando o que aconteceu há momentos atrás. Jessie ainda está no banheiro, faz pelo menos uns dez minutos desde que ela saiu da cama às pressas, indo até lá.

Olho meu celular, completamente entediado. Navego pelas últimas notícias no feed de uma das páginas locais. Há uma festa à fantasia, hoje à noite. Leio o anúncio com letras laranja, sobre o fundo negro e a imagem de um Jack O' Lantern, figura típica de nossas histórias de Halloween. No carrossel de imagens, há diversas fotos de vencedores das edições passadas, dentre eles, vejo a imagem dela... Um nó se forma em minha garganta.

— Argh! — Jessie adentra o quarto seu olho direito está vermelho. — Quase arranquei meu olho pra poder tirar aquela porcaria de cílio — complementa, agora engatinhando sobre a cama até parar ao meu lado.

Encaro-a desinteressado. O clima morreu por completo quando ela saiu correndo para o banheiro.

— O que quer fazer?

— Pensei em terminar o que começamos... — revela sapeca, mordendo o lábio carnudo.

— Perdi o tesão pra isso.

— Argh! — suspirou irritada enquanto se arrastava para a borda da cama. — Vou até o bar, me recuso ficar enfurnada nesse fim de mundo com você — disse enquanto pegava seu jeans rasgado.

Eu a assisti colocá-lo. Jessie ainda fez questão de subir a peça vagarosamente em sua cintura curvilínea, apenas para me provocar. A garota agora vestia seu top de cor creme, arrumando seus longos fios dourados, antes de jogá-los para trás.

— Vai ficar mesmo aí me encarando como um tarado? — ela me pergunta desgostosa com a situação.

— Não fale assim... — Saio da cama, indo em sua direção. Coloco minhas mãos sobre sua cintura e a beijo. — É impossível não assistir quando você fica provocando desse jeito.

Jessie abre um grande sorriso, parece sentir que cumpriu sua missão. Nos beijamos novamente, e desta vez, o desejo estava presente. Tateamos os nossos corpos, damos leves mordidas e mais beijos incandescentes incendeiam "nosso quarto".

Jessie para de repente. E grita...

— Acho que vi alguém espiando pela janela... — disse, interrompendo os beijos, se desfazendo do meu abraço para caminhar às pressas até a persiana semiaberta. Ela encosta o rosto no vidro, tentando enxergar alguma coisa na escuridão do parque em que meu trailer está estacionado.

— Deve ter sido apenas um mendigo — respondo tentando tranquilizá-la.

— Mais um motivo pra você averiguar. — Ela se senta e faz bico enquanto enrola-se nas cobertas. — Não sou exibicionista.

— Então o que foi aquilo momentos atrás?

— Aquilo... — Vejo suas bochechas ficarem coradas. — Aquilo foi diferente... Queria apenas ter certeza de que você estava certo sobre não estar mais com tesão... — Ela se remexe na cama enquanto tenta se convencer de suas próprias mentiras. — Vai expulsar o pervertido ou não?

Ando até a porta do trailer. Meus passos são lentos, afinal, eu sabia que não havia nada para me preocupar. Giro a chave que está na porta, depois olho para trás para conferir se Jessie está bem, e noto que ela aparenta estar muito mais tensa do que antes.

— Aaaah! — grito, assustando-a. Não consigo evitar, e me descontrolo de tanto rir.

— Você é um imbecil mesmo, Joey! — Ela me xinga enquanto joga um dos travesseiros em minhas costas.

— Está vendo?! — chamo-a até onde estou. Jessie dá alguns passos hesitantes, porém vem ao meu encontro. — Não tem nada aqui. Só um frio desgraçado e provavelmente pássaros... — digo ouvindo o pio de uma coruja em algum lugar do parque. Resolvo fechar a porta, pois começamos a tremer com a diferença de temperaturas, e uma corrente de ar fria passa a invadir o trailer.

— Eu juro que vi alguma coisa. Tá bom?! — Jessie revela fazendo bico. Ela mesma vai em direção a porta, abrindo-a um pouco para colocar a cabeça para fora. Acho que ela não está muito crente em minhas palavras.

III.

Reconheço o trailer cujo casal está se beijando, e imagens inundam minhas memórias. São todas de um casal alegre, trocando juras de amor sob o pôr-do-sol. Naquele mesmo parque, em frente àquele trailer. Meu peito arde, desta vez, com mais intensidade. Sinto o meu rosto se contorcer enquanto os dois trocam carícias.

— Jo-ey — chamo por seu nome em voz baixa.

Através da janela, recordo-me dos mesmos gestos de carinho, os mesmos beijos que eram capazes de incendiar a chuva. Me vejo outrora, como a protagonista daquela história de amor, e que agora, me torno a testemunha de que sequer o amor dura para sempre. Meus olhos ardem, pensei que sairiam lágrimas, mas nada saí.

Sem perceber, bato na janela, e a garota me avista espiando-os. Ela grita e os dois ficam alertas da presença de um terceiro indivíduo. Ando me arrastando às pressas para a traseira do trailer. Ainda sou capaz de escutar a conversa dos dois, e sinto ainda mais nojo em perceber que ambos divertem-se enquanto eu deveria estar apodrecendo à sete palmos. Escuto a porta do trailer abrir.

O vento gélido da noite, dá as boas-vindas ao corpo de Joey, que está vestindo a mesma regata branca das memórias que tenho com ele. Sorrio ao perceber, que ainda estou encarando seus braços expostos a brisa noturna.

— Está vendo?! — Joey aponta para fora, e a garota aproxima-se dele, ficando a poucos centímetros do seu corpo. Ele não percebe, mas a maldita morde o lábio ao receber o calor irradiado por ele.

Os dois se viram de costas para o parque, indicando que voltariam para o interior do trailer, abandonando o ar frígido da noite. Algo dentro de mim pulsa mais forte. Sinto como se meu peito pesasse, e de dentro dele, escorresse algo quente como lava. Minhas pernas avançam sem que eu dê a ordem, e antes mesmo de fecharem a porta. Tento impedi-los de me deixarem do lado de fora.

A garota ao me ver, grita assustada, e cai de bunda no chão bagunçado.

— Que merda é essa? — Joey me olha transtornado. Não digo nada, pois não consigo acreditar que ele não me reconhece. — Tá tentando me sacanear? — Ele me empurra, fazendo-me cair. Em seguida, olha ao redor certificando-se se mais alguém nos estaria observando. Fico em choque, querendo chorar.

No entanto, algo dentro de mim impede que eu assim o faça. Ele me olha uma vez mais, levando sua mão até o rosto enquanto estuda qual será meu próximo ato.

Novas imagens dominam minha mente por completo. Agora, eu o vejo sobre mim, e não há nenhum indício de que estejamos fazendo amor. Suas mãos estão em volta do meu pescoço. Noto uma segunda figura atrás dele, e para a minha surpresa, assim como ele, também encontra-se seminua.

— Vo-cê... — digo com dificuldade. Minha voz soa como algo ainda mais assustador do que o próprio fato de eu estar aqui, entre eles novamente.

— Victor... — Joey vocifera, mas nenhuma resposta que ele espera chega ao seu destino. — Ryan!!! Vocês devem estar se divertindo, não é mesmo?! — Ele continua gritando, desta vez, ameaçando me chutar.

Me levanto com dificuldade. Meus olhos estudam o rapaz a minha frente e a garota atrás dele.

— Joey... — A garota diz com a voz embargada. Finalmente a reconheço: é Jessie, ela estudava em minha sala. Jessie se aproxima e o segura pelo braço, parecendo estar assustada.

— Jo - ey — repito as palavras da garota. Ambos me olham confusos.

Me aproximo dos dois. Ergo minha mão na direção deles. Por sua vez, Jessie me encara, e seu semblante confuso se mistura com um de incredulidade e medo.

— Beth? — Ela me chama. Colocando-se entre Joey e eu.

— Por - quê?

— Vocês só podem estar tirando com a minha cara! — Joey grita ainda mais impaciente. Há algo diferente em seus olhos, talvez medo? — Essa pessoa não pode ser a Beth... — Ele pausa, provavelmente tentando absorver aquelas palavras. — Ela está morta! — Joey ri de forma maníaca, até mesmo algumas lágrimas saem de seus olhos. — É uma ótima fantasia! — Agora, elogia-me enquanto cutuca meu ombro de forma mais agressiva. No fundo, ele está tentando me intimidar. — Parabéns mesmo!!! Mas é uma piada de péssimo gosto! — Joey se vira para Jessie em completa ira.

— Por - que... vo - cê... me... ma-tou?

— O que? — Jessie pergunta confusa. — Amor, o que está acontecendo? —

Jessie se afasta de Joey assustada. O rapaz a encara incrédulo, não conseguindo acreditar no que a companheira lhe pergunta antes de abandoná-lo no parque.

— Victor! — Joey berra olhando de um lado para o outro. — Você tá morto, seu merdinha...

— As-sim... co-mo... vo-cê... me... ma-tou? — Sinto uma onda de tristeza invadir-me. Novamente quero tanto chorar, pois não consigo acreditar que a pessoa que mais amei em vida, fosse um monstro...

Joey arregala os olhos. Jessie corre para longe do trailer, distanciando-se da gente. Eu permaneço encarando-o.

— Eu... te... o-de-io... — Algo dentro de mim, me faz proferir aquelas palavras. E me obriga a avançar sobre o rapaz que ainda tenta entender o que está acontecendo.

Com minhas mãos, seguro o pescoço dele. O que nos leva direto ao chão.

Joey está assustado demais para reagir. Minhas mãos se fecham com mais força em seu pescoço. Depois, aproximo meu rosto do dele, e selo um beijo em seus lábios finos. Aumento a intensidade do beijo, enquanto aperto-o ainda mais, fazendo-o abrir a boca desesperadamente, para puxar mais ar. Recebo sua língua em minha boca, apenas para mordê-la.

Joey luta para que eu saia de cima dele. Minhas unhas agora se afundam dentro de sua pele, machucando-o ainda mais. Decido puxar sua língua com toda força que tenho. Já ele, notando o que está prestes a acontecer, murmura algo que não consigo compreender. Fito seus olhos castanhos, e eles estão marejados. Talvez, estivesse arrependido, ou assustado demais...

Isso agora pouco me importa. Mordo sua língua com mais força, sentindo o sangue invadir-me o paladar. Sinto seu gosto metálico descendo pela minha garganta, e vazando através de nossas bocas, que estão próximas uma da outra. Joey ainda esperneia embaixo de mim, tentando me desequilibrar. Também desfere socos em meu rosto.

Seus atos desesperados, não me impedem de continuar com o que estou fazendo, apenas tornam as coisas mais fáceis para mim. Ele grita ao perceber que nada do que ele faça, cesse com meu propósito. Desta vez, vejo o terror está estampado em seu rosto. Sinto satisfação nesta posição em que estou.

Vejo as cenas em que ele me estrangula, e que seus olhos que outrora achei tão belos, tornam-se cheios de ódio. Essas lembranças me impulsionam para que eu empurre meu corpo para trás e puxe sua língua, enquanto encerro-a dentro de minha boca, partindo-a ao meio. O sangue escorre pela boca dele, ensopando sua regata branca, tingindo-a em um tom de vermelho escarlate.

Eu o assisto sufocar, enquanto estou sobre ele. Deixo um rastro de beijos em seu pescoço, assim como ele deveria estar fazendo com Jessie momentos atrás. Joey começa a estrebuchar e eu assisto seu corpo emitir os últimos movimentos, antes que ele, assim como eu, receba o abraço gélido da morte.

— A-go-ra... es-ta-mos... qui-tes — digo olhando para seu corpo morno ainda embaixo do meu, momentos antes de me levantar.

IV.

— Não é justo! — Ouço a voz de Gage protestar, após seu pai injetar algo no pescoço do garotinho morto-vivo.

Assisto a cena em que a criança caminha cambaleando pelo corredor estreito, ao mesmo tempo, em que seu pai o testemunha de coração partido. A cena do clássico de Stephen King adaptado para as telonas, me faz recordar de minha irmã. Costumávamos quando crianças, virar a noite, depois de sairmos pela vizinhança pedindo "doces ou travessuras", assistindo filmes de terror. Essa era a nossa maneira de comemorarmos o Halloween.

A lembrança me traz um pesar em meu coração, o que me faz afundar ainda mais no sofá de casa, completamente coberto, enquanto como alguns punhados de pipoca e beberico do refrigerante que certamente já perdeu o gás, após ficar horas aberto.

Murmuro as palavras que Gage proferiu ao seu pai, sabendo que somente eu entendia o seu verdadeiro significado. Encarei por alguns segundos uma fotografia de família pregada na parede ao lado do aparelho televisor. Penso em como parecíamos muito mais felizes na época em que nem tínhamos entrado na puberdade ainda.

Suspiro amargurado. A presença dela me faz falta. Desejo todas as noites antes de adormecer em prantos, que fosse eu... que eu tivesse morrido em seu lugar. Talvez... talvez meus pais não teriam ficado tão arrasados quanto ficaram com a morte de sua preciosa filha.

— Ah, Beth... que falta que você faz... — cochicho enquanto encaro a televisão, mal prestando atenção nas cenas que sucedem ao clímax do filme.

Pego o celular, entro na página oficial da comunidade em que vivo. Muitas pessoas, entre elas, amigos e conhecidos, estão postando fotos fantasiados, para comemorar a noite de Halloween no bar local. Lembro-me da felicidade que Beth sentiu naquela noite... há um ano atrás...

Na ocasião, ela tinha sido a vencedora de melhor fantasia, e ironicamente, estava vestida de noiva cadáver. E naquela mesma noite, perdeu sua brilhante vida.

Tudo ao lado de Beth parecia ganhar um brilho quase tão mágico e divino. Era impossível as pessoas a odiarem, desejarem o seu mal. Me pergunto se eu tivesse sido mais corajoso, mais protetor, se as coisas teriam sido diferentes... Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, que agora está magro, quase tão cadavérico como ela deve estar neste momento ... apodrecendo à sete palmos, enquanto eu vivo minha vida miseravelmente.

Recebo uma notificação em meu celular. Vejo o nome de Joey Summers aparecendo na barra de notificação. Abro a mensagem e me deparo com uma foto dele deitado, com sua típica regata branca e cueca preta boxer. Ele parece ter abusado do sangue falso para aquela foto idiota. Me atento a expressão de horror em seu rosto. Abaixo da foto está escrito: Feliz Halloween, Vic!

Jogo o telefone do outro lado do sofá. Sinto raiva após ter lido sua mensagem.

— Não há nada de feliz no dia de hoje! — reclamo enquanto olho para meu telefone com o visor ainda brilhando contra o acolchoado do sofá. — Maldito bastardo... — sussurro com pesar no coração.

Tento voltar minha atenção ao filme que está quase no fim. A mensagem me vem à memória a todo momento, junto com a imagem de Beth em seu caixão. Meu coração aperta ao relembrar daquele fatídico Halloween. Também me recordo do rosto aterrorizado de Joey naquela foto estúpida. Tudo parece me aterrorizar ao mesmo tempo.

Sinto minha respiração pesar, olho para todos os cantos da sala vazia, e consigo até mesmo escutar a risada de Beth ecoar ali. Ouvi-la costumava me trazer conforto, só que agora, me traz um remorso indescritível, e uma saudade arrebatadora.

Ah, como eu gostaria que ela estivesse aqui agora!

Meu telefone vibra uma vez mais, espero que Joey tenha parado com suas brincadeiras idiotas. No entanto, minhas expectativas frustram-me. Vejo uma nova mensagem na minha barra de notificação, é ele novamente...

Clico em seu nome, e desta vez me deparo com uma imagem de carta de tarô. A carta contém a gravura de um coração em meio a uma tempestade. Espadas o atravessam, três em seu total. Joey escreve abaixo da publicação enviada: não existe traição maior, se não aquela vinda de onde menos esperamos... Não compreendo sobre o que ele fala, porém sua acusação me deixa ainda mais irado.

— Do que diabos você está falando? — vocifero como se ele estivesse diante de mim, escutando-me protestar, no mesmo momento em que digito furiosamente no teclado de meu telefone. — Como posso ter te traído se você não fala comigo desde a noite em que Beth morreu?! — Jogo o telefone, desta vez contra a parede.

Ouço um barulho do lado de fora de casa. Os cães aparentam estar agitados, já que latem freneticamente, ao mesmo tempo que outros juntam-se em um coro fúnebre, uivando.

Sinto uma corrente de ar invadir minha casa, trazendo junto de si algumas folhas secas nas cores marrom e amarelo. A casa ganha um aspecto sepulcral, deixando-me arrepiado, não só pela estranheza daqueles fatos, mas também pelo frio que invade meu refúgio. Percebo que a corrente vem da cozinha, portanto, decido ir até lá. No entanto, minhas pernas protestam, dando-me a impressão de que estão prestes a me derrubar em minha caminhada.

Meu coração bate desesperado, já que sinto a todo instante esta sensação de que algo não está certo. O suor escorre pelo meu rosto, e nem está calor para tal. Dou alguns passos tímidos em direção a cozinha, ao mesmo tempo em que chamo por minha mãe e meu pai. A casa permanece em silêncio, salvo pelo som da televisão, que agora transmite uma música que julguei ser "Pet Sematary" dos Ramones.

Chamo uma vez mais os meus pais, mas ninguém me responde. Chego na cozinha, e encontro a porta aberta. Por isso a casa tinha ficado mais fria tão de repente.

Atravesso o balcão e a geladeira com passos apressados, paro na porta e olho para o quintal. Buster me olha curioso, porém ele não late, ou sequer demonstra interesse algum em entrar. Ele parece estar tão tenso quanto eu.

— Vem, Buster! — Eu o chamo, mas o cachorro continua paralisado com sua cabeça virada para o lado. Bato em minhas coxas para chamar sua atenção ou talvez fazê-lo mudar de ideia, e tudo o que consigo é que ele dê a volta e se esconda em sua casinha, para depois me observar com seus olhos caramelados. — Você que sabe... — digo ao fechar a porta deixando-o do lado de fora.

Decido retornar para a sala, e me surpreendo com um estranho pacote sobre a pia.

— Isso já estava aí? — Me pergunto curioso enquanto caminho até a misteriosa caixa.

Pego o objeto e chacoalho, aparentemente tem alguma coisa ali dentro. Parece se mexer. Noto que minhas mãos estão úmidas e pegajosas, tem algo errado...

Deixo a caixa sobre a pia e olho para minhas mãos que estão manchadas de vermelho. Será que Joey está me pregando outra peça?

— Essa brincadeira já perdeu a graça! — grito para que Joey tenha certeza de que não estou gostando nada desta situação. E novamente sou respondido com um interminável silêncio. — Joey? — Eu o chamo novamente...

Estou curioso para saber o que há no interior da caixa. Eu a abro com muito cuidado. Meu coração continua batendo como pancadas fortes em tambores, minhas mãos tremem, já que sinto um misto de ansiedade e curiosidade. Finalmente abro a caixa revelando o seu interior.

— Joey?! Que porra é essa?!!! — vocifero, jogando-a com seu misterioso conteúdo no chão.

Me sinto enojado ao ver um coração ensanguentado rolando pelo piso fosco de minha cozinha. Olho para minhas mãos e noto que não se trata de tinta, e sim sangue. Recordo-me no mesmo instante da foto que Joey me enviou momentos atrás, antes da mensagem falando que eu o tinha traído.

De imediato, ligo a torneira da pia, esfrego minhas mãos umas nas outras para que o sangue saia mais rápido. Resmungo diversos palavrões que me vem à mente, e penso que se tudo isso fizer parte de alguma piada de mal gosto de Joey, eu mesmo o matarei por isso.

Só agora que eu noto o volume da televisão estar exageradamente alto. E "Pet Sematary" continua tocando depois de todo esse tempo.

"A lua está cheia e o ar está parado, de repente sinto um arrepio

Victor está sorrindo, a carne apodrecendo

Esqueletos dançam, eu amaldiçoo este dia

E de noite quando os lobos uivarem,

Escute atentamente, você pode me ouvir gritar"

Aquele verso soa assustador demais para mim. Percebo então, que uma sombra se ergue em minhas costas. Me viro imediatamente, e fico aterrorizado com o que me deparo. Diante de mim está uma garota vestida de noiva. Sua pele está em estado avançado de decomposição. Não sei se é algum tipo de pegadinha, porém ela conseguiu replicar até mesmo o cheiro característico de cadáver. Percebo que através de suas órbitas fundas que ela me observa, me estuda... Não trocamos palavra alguma, apenas observamos um ao outro, completamente paralisados.

— Jessie? Isso é alguma piada? — Pergunto quebrando o silêncio ao me aproximar da garota que sequer tira os olhos de mim.

Paro onde estou quando percebo que aqueles cabelos desgrenhados, são estranhamente tão familiares para mim. Percorro o corpo da pessoa fantasiada de zumbi com o meu olhar. Reparo no vestido que é igual ao que minha irmã Beth usava na noite em que nos deixou, porém está tão sujo de terra e sangue... Olho então para o coração que está caído no chão e ela parece acompanhar meu olhar com o dela.

Não pode ser ela... Beth, minha irmã, ela está morta!!! — pondero enquanto noto as diversas similaridades que ambas as figuras possuem.

— Olá... Vic... — a voz da garota soa rouca, apesar de apresentar um pouco de doçura na maneira em como fala. Eu não tenho dúvida alguma de que aquela é Beth, minha irmã que tanto chorei e desejei que estivesse com a gente...

Desatei a chorar naquele mesmo momento. Diante de mim está ela, como uma aparição fantasmagórica. Com olhos tão sem vida, o que é um grande contraste aos olhos doces e estrelados que sempre carreguei comigo em minhas mais íntimas memórias.

— Por... que... vo-cê... dei-xou... is-so... a-con-te-cer... co-mi-go?

Fico paralisado ao ouvir tais acusações. Beth caminha vagarosamente até mim. Depois, sinto seus dedos gélidos percorrerem o meu rosto, e o cheiro pungente de carne pútrida me atingir em cheio, embrulhando meu estômago no processo. Ela limpa com polegar esquelético, a lágrima que escorre em minha bochecha. Ainda tentando parecer amável, abrindo um sorriso com o pouco de lábio que ainda existe em seu rosto murcho e apodrecido.

— Es-tá... tu-do... bem... — ela diz enquanto beija minha testa, ao mesmo tempo em que me encara. Ela repousa agora a outra mão em minha face, acariciando minhas bochechas com ambos os polegares. — Es-tá... tu-do... bem... — ela repete, enquanto seus dedos sobem devagar até meus olhos.

— Eu senti tanto a sua falta... — digo rendendo-me ao sentimento de nostalgia e culpa que sempre me acompanharam desde a noite de Halloween do ano passado.

— Vo-cê...— diz em tom amável. — e ... Jo-ey... me-re-cem... fi-car... jun-tos!!!

Repentinamente toda a doçura presente em sua voz rouca, muda por completo. Agora, ela parece se enfurecer, enquanto vocifera as últimas palavras, e me ataca. Beth espeta as pontas de seus polegares em meus olhos, fazendo-me gritar de dor. Ao mesmo tempo, que o restante de seus dedos se fecham em minha cabeça, apertando-a com uma força que jamais imaginei que ela pudesse exibir. Meu coração volta a disparar com o súbito ataque. — Vo...cês... me... ma-ta-ram!!! — ela vocifera à sua maneira.

Tento me desvencilhar de seu aperto da morte, mas em vão. Ela consegue nos derrubar, fazendo-me machucar minha cabeça ainda mais durante a queda. Com seus dedos longe de meus olhos, sinto suas mãos sobre o meu peito. Ela o golpeia com força, enquanto repete as mesmas palavras.

Beth estava certa... Eu também tinha culpa... E isso nunca foi segredo para mim...

Naquela fatídica noite, eu me acovardei dentro do trailer de Joey. Eu o assisti asfixiando minha irmã, minha melhor companheira de vida...

Tudo porque ela tinha nos encontrado em um momento inadequado...

Tudo por medo de sermos descobertos...

Pelo medo de que as pessoas começassem a falar sobre Joey pela comunidade e ele perder sua fama de bad boy...

Da mesma forma que eu assisti covardemente e horrorizado, ele ceifar a vida de Beth, eu sentia a minha própria vida se desprendendo de meu corpo. Meus dedos pareciam ter ficado adormecidos, apesar de os sentirem formigarem. Segundos após segundos, minhas pernas iam perdendo a força e lentamente paravam de se mexer.

Não pude mais ver o rosto de minha irmã, e meu coração não aguentava mais tamanho medo e adrenalina.

Os cães de repente começam a uivar em uníssono. Era como se eles chorassem junto de minha irmã que estava arrasada e enfurecida. Naquela noite de Halloween, aquele som aterrorizador seria a última coisa que eu ouviria antes de partir daquele mundo assim como Beth o fez... há um ano atrás.

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