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Um novo ciclo

Parecia que fazia uma eternidade desde que ele aprendera a lutar; como era entediante caminhar pela floresta quando Kaira não estava e sob o silêncio de seu pai, que mostrava a ele como sobreviver. Lembrava-se vagamente de como Valiant era feroz enquanto o ensinava, de como fora decisivo em o ensinar a se defender e atacar, porquê entendia que uma hora ou outra Noble teria que lutar.

Por sua vida, pela vida de seus amigos e do seu povo.

Seu corpo crescera para aquilo, não importava se gostava ou não, e aqueles dias de infância e adolescência ficaram para trás.

Estava com seus vinte e cinco anos e precisava começar a agir como um guerreiro; agarrar aquela nova vida com unhas e dentes, com todo o seu orgulho, lealdade e força bruta.

Noble avançou abaixado pela lateral direita do prédio, encoberto pela nuvem de poeira que se erguera com a explosão, usando-a como um disfarce. Atrás dele estavam Aaron, Kismet e outros três soldados. Outros seis soldados seguiram pela lado esquerdo, com Trey na dianteira.

Não carregava nada consigo além de uma lâmina e uma pistola no coldre. Não queria, acidentalmente, disparar em um dos amigos, por isso deixara o rifle com Aaron. Seus dedos contornavam o cabo com firmeza e confiança, acostumado a manter a faca na mão. Ela é minha companheira de dança, pensou, manter o bom humor era essencial, principalmente com a tensão de todos ao seu redor o atingindo.

Vultos escuros se espreitavam na densa poeira e Noble parou.

— Tenho visão dos invasores — murmurou, perscrutando a parede e as janelas no alto. — Não posso dizer quantos são daqui, mas estão próximos da primeira janela e vã—

Ele se calou de repente, ao notar que o vidro pesado estava fechado e era impossível o abrir do lado de fora. Olhou para a segunda janela, agradecendo o fato da poeira não estar tão alta.

— As janelas foram fechadas pelo lado de dentro.

— Mesmo? — Aaron olhou por cima da cabeça de Noble e sorriu. — Sim, é verdade. Esses babacas se ferraram.

— Então vamos atacar — Kismet sugeriu animado. — Agora não temos com o que nos preocupar.

— Talvez devêssemos nos preocupar com as nossas próprias vidas? — Noble perguntou, sua voz soando séria. Ele não queria nenhum dos outros machucados. — Eu tenho um plano.

Kismet ergueu as sobrancelhas, irônico.

— Você tem um plano?

— Eu posso ter um!

— Claro — Kismet riu. — Vá em frente.

— Vai se fuder — rosnou impaciente e deu uma olhada nos homens que seguiam a fila atrás dele. — Nós, Espécies, vamos na frente e aproveitamos a oportunidade que a poeira nos deu. Devemos tomar as características do clima como nossa vantagem, nossa visão e olfato são melhores e podemos lutar melhor no mano a mano. Vai ser rápido, é uma questão de minutos até a poeira baixar e então vocês — apontou para Aaron e os três homens. — Vão ter uma visão limpa do caminho e atiram nos inimigos.

— Se é que algum deles ainda vai estar de pé — Kismet sorriu perigosamente, expondo suas presas. O amigo deixou o rifle nas mãos do humanos atrás dele e puxou a faca que carregava na perna, cujo coldre era feito exatamente para arma branca. — Uma lâmina de quinze centímetros nunca perde a viagem.

Noble concordou com um aceno e olhou para os vultos dentro da nuvem cinzenta.

— Pronto?

— Eu? — Kismet bufou. — Eu nasci pronto.

— Ótimo, vamos...

Ele realmente estava pronto para avançar quando se lembrou de um assunto estressante, ergueu a mão quando Kismet estava para passar na frente.

— Aaron?

— Sim, rapaz? — Aaron o olhou confuso. — O que foi?

— Estamos agindo legalmente, não é? Legítima defesa. Eles nos atacaram primeiro, as câmeras, a explosão e agora um cerco. Não existe forma alguma de nos acusarem por afligir uma lei caso alguns deles saíam... mortos, certo? Não quero causar problemas para o meu povo, não quando sei que logo, logo a mídia estará aqui. 

Aaron sorriu, balançando a cabeça.

— Não se preocupe, além do governo dever muitos aos Novas Espécies a legítima defesa determina que, em situações em que a agressão é atual ou iminente, o cidadão pode utilizar os meios necessários para defender a si mesmo ou outra pessoa, estando resguardado pela Lei. Vale para todos, Noble.

Noble sentiu que um peso foi tirado de seus ombros. De forma alguma ele queria levar mais infortúnios para o seu povo, levando em consideração que qualquer palavra ou ação dos Novas Espécies eram expostas para todo o mundo, então ficaria o mais longe possível de encrencas. Decepcionar seu pai ou até mesmo Justice não era uma opção.

Olhou para o amigo em seu lado e ambos trocaram um aceno.

Estavam prontos.

Caminhou na frente, com o corpo inclinado e com passos leves, mantendo-se o tempo todo no ponto cego dos invasores. Podia identificar dois corpos completamente, homens vestidos de escuro do pescoço para baixo, tudo o que podia ver deles eram suas nucas e cabeças. Estreitou os olhos, com suas pupilas contorcendo dentro das íris, adaptando-se em fendas a luz fraca do dia e ao pó.

Levantou a mão direita e apontou para o homem da esquerda. Kismet acompanhou seus movimentos e concordou. Depois Noble ergueu o dedo até lábios e o amigo apenas revirou os olhos.

Ele queria fazer aquilo o mais silenciosamente possível, mesmo que seus instintos implorasse para acabar com tudo de uma vez e caçar cada um daqueles desgraçados.

Segurando o cabo da lâmina, Noble se adiantou até o homem que apontara e a sua direita Kismet fazia o mesmo. O ataque de ambos foi certeiro, mas diferentes.

Ele se movera silenciosamente atrás do homem, erguendo-se apenas para tampar a boca do alvo com a mão esquerda e pressionar a lâmina contra sua jugular de uma vez só. Penetrou a faca verticalmente, cortando todo o tecido da pele até o fundo, molhando o fio prateado totalmente em vermelho. O líquido escorreu por sua mão e o corpo do indivíduo tremeu por alguns segundos, até parar completamente.

Ao sentir o cheiro de sangue o corpo de Noble ficou mais tenso, a adrenalina correndo em suas veias com intensidade, todos os sentidos gritando.

Corra. Cace. Mate.

Kismet passara a faca na horizontal, abrindo uma fenda horrível na garganta do homem, segurando-o com força e com um olhar gelado. Noble não se importou, era ótimo que um deles estivesse neutro o suficiente para fazê-lo se sentir do mesmo modo.

Ele sentiu naquele exato instante que havia mudado. Se tivesse continuado para trás e hesitado seria como se a vida nunca tivesse mudado, mas fora ao contrário. Tirara uma vida, pelo bem de outras. Cruzara uma linha importante e agora não poderia mais voltar, não que ele quisesse.

Poderia se ressentir com sua ação e lamentar, mas não o fez, apenas deslizou o corpo morto para o chão, passando para a próxima dupla.

Se aqueles homens queriam sangue, bom, ele daria, só não garantia que seria dos Novas Espécies.

🌡️

— Olha, eu não quero me gabar, mas...

Forest revirou os olhos.

— Você ama se gabar.

— Tá — ela resmungou enquanto ele limpava o machucado dela. — Eu amo me gabar. E eu estava certa.

— Sim, sim — Forest mergulhou o algodão no antisséptico e depois em sua pela, fazendo com que ela soltasse outro resmungou. — Nem dói tanto.

— "Nem dói tanto" — fez uma imitação horrível da voz dele. — Eu me arrependo das vezes que disse isso para os pacientes. Dói para um caralho.

Wise se aproximou dela.

— Precisa de algo, Kaira?

— De uma bebida bem forte, se possível.

— Hã... não temos.

— Humpf — murmurou. — Então não preciso de nada.

— Ela vai ficar bem — Forest disse a Wise. — Você pode voltar ao seu trabalho. Mantenha todos os soldados reunidos na porta da frente, ninguém sai ou entra.

Kaira riu baixinho.

— Queria eu ter toda essa credibilidade. Tudo o que digo parece ser uma babaquice, ao menos até que outra pessoa diga, só então faz sentido.

Forest pressionou mais o machucado e ela gemeu.

— Poupe seu fôlego para quando os outros voltarem.

— Vai se fuder.

Wise a encarou surpreso.

— Esse é o vocabulário da nossa dama — Forest brincou. — Tão encantadora.

— Ah, mil perdões se minhas rudes palavras afligiram suas orelhas tão delicadas, senhores.

— Como eu disse antes — Forest deixou o algodão de lado e começou a fazer o seu curativo. — Poupe seu fôlego.

— Okay, mas eu vou ficar quieta porque eu quero, não porque você mandou.

Wise a olhou de soslaio e se afastou para cumprir seus deveres. Kaira apenas deu de ombros e Forest riu.

Após ter seu ferimento coberto, Kaira e Forest começaram a ajudar outras pessoas e não pararam nem quando ouviram tiros. Depois daquele dia seria providenciado a locomoção de todos, seriam enviados para algum outro abrigo que Kaira não conhecia e os Novas Espécies voltariam para casa.

Ela estava ansiosa para voltar e dormir em sua cama macia.

Estava carregando um monte de cobertores quando a porta da frente, lacrada, se moveu ligeiramente. Kaira não foi a única a ficar tensa e o silêncio era tão excruciante que nem ao menos ouvia a respiração dos outros.

Houve outra batida e então sombras, até a voz conhecida chamar:

— Somos nós — Trey deu outra batida. — Tirem as coisas da frente da porta.

Kaira correu para ajudar os homens e abriram a porta. Ela olhou para todos avidamente, procurando por feridos e pelos conhecidos.

— Aqueles que se feriram podem ir para o lado direito, no fundo — disse em voz alta, sobrepondo todos os outros e chamando atenção. — Vamos cuidar de vocês. Aqueles que estão bem podem continuar a carregar a mudança para fora. Se for seguro, claro — Trey lançou um olhar atento para ela, que foi ignorado com sucesso. — Os carros de retirada não devem demorar depois dessa merda. Vamos tirar as pessoas daqui e voltar para casa, okay?

Alguns concordaram com a cabeça, enquanto poucos seguiram para o lado da enfermeira. Ela podia ver Noble, uma cabeça acima dos outros, no final da fila que fizeram para entrar no galpão.

— Ótimo — bateu palmas. — Vamos ao trabalho, senhores.

— Talvez ter você do nosso lado não seja tão ruim — Trey comentou ao se aproximar dela. — É boa em comandar.

Ela abriu um sorriso e piscou os olhos dissimuladamente.

— Você acha mesmo?

— Claro, Kai—

— Guarde a sua opinião para alguém que queira — sua expressão foi de sorridente a séria num instante. — Você não me ouviu antes. Não me ouve nunca — bufou. — Posso não ser uma montanha de músculos, Trey, mas o que eu tenho aqui — apontou para a própria cabeça. — É a minha melhor arma, e adivinha? É melhor do que a metade dos seus homens.

Pela cara dele, Trey não estava gostando nadinha do que ela dizia, mas ficou calado.

— Então, na próxima vez que cogitar zombar de mim por causa do meu sexo, pensa bem.

— O que tá rolando aqui? — Noble perguntou ao se aproximar. — O que é isso no seu rosto?

Ele a puxou e tocou seu rosto levemente, observando o curativo. Trey aproveitou a situação para escapar dela. 

— Só um ralado. Não é nada.

Noble segurou seu nariz, apertando-o e Kaira deu um tapa na mão dele. Ela odiava quando ele fazia aquilo.

— Me lembro bem de uma moça bonita, vestida de enfermeira, me dizendo que machucados na cabeça não devem ser tratados leviamente.

Kaira revirou os olhos.

— Impressionante que você tenha essa lembrança, quando sequer se lembra onde deixou as chaves do carro.

Noble sorriu.

— As dicas médicas da minha companheira são mais importantes do que simples objetos.

Ela o olhou atentamente, estreitando os olhos. Seu olhar foi retribuindo com intensidade e Kaira jogou as mãos para cima.

— Que se dane — ele riu. — Você conseguiu.

— Você me deve algo novo, moranguinho.

— Eu sei. Agora vai se trocar — deu uma breve olhada naquele sangue todo na roupa dele. — Depois conversamos.

— Okay!

Noble beijou a testa dela e se afastou com os outros.

🌡️

Mais tarde naquele mesmo dia, Kaira observou enquanto as pessoas eram levadas para fora e Salvation apareceu.

— Soube do que aconteceu aqui — ele cruzou os braços. — Pelo jeito vocês se divertiram mais do que eu.

— Desculpa, amigo — Noble disse. — Não guardamos nenhum humano de lanchinho para você.

Uma senhora que estava passando atrás deles acabou ouvindo e apressou o passo, o que fez Noble gargalhar. Ele passou o braço ao redor dos ombros dela.

— As pessoas aqui fora são tão agradáveis — a ironia na voz dele não passou despercebida. — Mal posso esperar pela próxima.

Kaira deu uma cotovelada nele.

— Cala a boca.

— Vem calar — ele murmurou em seu ouvido e ela ignorou. — Covarde!

— Vou te mostrar a covar—

— Ei, Kaira — Forest se aproximou correndo. — Trey e Aaron estavam conversando com aquele cara de antes, mas ele não disse nada de útil. Vai ser levado para responder pelo crime dele em Homeland.

— Bem feito — cantarolou feliz. Justiça seria feita. — Espero que ele passe o resto da vida preso.

— Quer ver ele antes de ir embora?

Aquilo a surpreendeu.

— Eu posso?

Forest fez uma careta.

— E daí? Você enfrentou o cara e depois o desarmou. Nada mais justo.

— O quê? — Noble perguntou. — Como assim?

Ela apenas fez um gesto para o companheiro.

— Depois explico — o olhar que recebeu dele queria dizer que SIM, ela explicaria. — Prometo.

Kaira seguiu Forest pelo galpão, naquele momento quase todo vazio, até uma das salas na lateral. Eles entraram em silêncio e encontraram o homem sentado e algemado. Ele tinha alguns hematomas, nada que realmente a preocupasse.

— Olá.

Ele ergueu os olhos para os dois e soltou um riso nasal.

— O casal do ano — provocou. — Você não sente nojo por saber que se deita com uma criatura que foi totalmente modificada? Física e mentalmente? Ou você gosta de ser tratada como uma cadela no cio? Gosta dele te foden—

O homem não terminou de falar, não com o punho de Kaira em sua boca. O socou com toda a sua força, lançando ele e a cadeira para trás. Ele começou a gargalhar.

Não duvidava nada de que aquilo era munição para ele continuar as ofensas. Socos. Palavras. Nada adiantaria. 

Afinal, havia algum modo de mudar pessoas como ele?

Foi com nojo que Kaira se afastou, segurando o punho dolorido.

— Desgraçado — resmungou e olhou os dedos avermelhados. — Isso dói.

Não era aquela a conduta de uma enfermeira e moça, ela sabia, mas não conseguia ouvir um idiota como aquele falar sem sentir uma vontade incontrolável de o machucar.

Como o odiava. Pessoas como ele eram nojentas.

— Dá para ver quem manda na casa — o desconhecido comentou. — Esperava mais do cachorro, mas pelo visto ele vai colocar o rabo entre as pernas.

Forest fez menção de caminhar até o homem, mas ela o impediu.

— Não vale a pena.

— Estão se divertindo e nem nos chamaram? — Kismet entrou na sala, seguido por Noble e Salvation. — Uau, ele já está no chão.

Noble parou ao lado da porta e se encostou na parede, enquanto Salvation e Kismet davam a volta no homem caido.

— Acho que o merda está no lugar dele — Kismet comentou. — No chão.  

Kaira revirou os olhos.

— Alguém levanta ele.

Mas nenhum deles se moveu, deixando o homem no chão.

— Caramba — reclamou. — Uma mulher tem que fazer tudo mesmo.

Ela se aproximou da cadeira e do homem, segurando-a pela beirada e a puxando para cima com todas as suas forças.

— Não preciso da sua ajuda, cadela! Tira as mãos! 

Ele cuspiu no rosto de Kaira e por um breve instante todos ficaram em silêncio.

Kismet rosnou impaciente e foi para cima do homem, para o atacar, no entanto Noble o segurou antes, deixando não somente o amigo descrente com sua falta de reação, mas os outros também.

— Você não vai fazer nada? — Kismet perguntou ainda irritado e Noble apenas o empurrou para o lado, afastando ele do homem.

— Eu não — respondeu simplesmente e fez um gesto presunçoso com a cabeça, erguendo o queixo e apontando para Kaira. — Ela lida com o problema.

Olhos se voltaram Kaira, que limpava o rosto com o dorso da mão.

— Desculpa, eu não prestei muita atenção no que disse — ela murmurou com uma voz doce, zombando do homem. — Mas olha, tô tão irritada.

— Se afasta!

— Relaxa — Kaira riu e de repente pressionou uma mão no pescoço dele, olhando-o de cima de maneira arrogante. — Acredite quando digo que vai preferir estas mãos quando chegar em Homeland.

🌡️

Kaira saiu do banheiro com uma toalha na cabeça e vestida apenas com uma camisa larga. Caminhou tranquilamente pelo quarto, secando os fios de cabelo e observando as costas nua de Noble, que estava em pé na frente da janela, olhando para o céu noturno.

— Eu não vi muita coisa, Bravery — ele respondeu o irmão pelo celular. Os dois estavam em ligação desde antes dela ir tomar banho. — Mas lá fora existem mais prédios do que aqui e não é tão verde. Eu não vi nenhum rio.

Passou alguns segundos e ele riu.

— Não tem cervos na cidade. Eles só vivem nas florestas, irmãozinho... sim, eu sei. Chato, não é?

Kaira deixou a toalha de lado e segurou a mão livre de Noble, puxando-o até a cama consigo. Desligou a luz do quarto e os dois se deitaram, ela embaixo do edredom e ele ainda por cima.

— Amanhã volto para casa e então nós dois vamos caçar, combinado? — o tom macio e gentil na voz dele a fez apoiar a cabeça em seu peito e deslizar os dedos pelo abdômen nu e forte. — Certo. Boa noite, irmãozinho. Também amo você.

Noble desligou o celular e o deixou sobre a mesinha do lado da cama, voltando-se para ela e a abraçando.

— Acho tão fofo o modo como trata o seu irmão — murmurou, traçando um caminho invisível e lento pela pele quente. — Ele quer ser como você de todas as formas.

— Todos querem ser como eu, até o seu irmão.

Kaira sorriu com a brincadeira, mesmo que houvesse um fundo de verdade. Leon, apesar de disfarçar com indiferença, gostava muito de Noble e o imitava em muitas coisas. Às vezes era irritante.

Seu irmãozinho — não tão pequeno naquela altura do campeonato — queria ser um caçador e lutador como Noble.

— Sou mais eu — retrucou. — Inteligente e linda.

— E nem um pouco humilde.

Ela não respondeu de imediato, pensativa entre tudo o que acontecera. Eles haviam voltado para a Reserva e, de certa maneira, estava tudo bem. Mas para ela era difícil ignorar aquele ataque. Era difícil ignorar o crescente aperto em seu peito. Difícil ignorar o peso de manter seus segredos.

— Noble?

— Hum?

Fechou os olhos, aproveitando-se do calor corporal. Ela pensou em tudo o que deveria dizer e não disse.

— Quando alguém estiver apontando uma arma para o seu peito... não reaja.

— Está me dizendo para não fazer o mesmo que você? — zombou. — Por quê?

— É uma idiotice — resmungou. — Não acredito que fiz aquilo, mas não pensei muito na hora. Só pensei em tirar Forest e os outros da mira daquele homem.

Noble apertou os braços ao redor dela, até que estivesse deitada sobre o seu peitoral. Apoiou o queixo nele e olhou para cima e, mesmo no escuro, podia ver o brilho dourado das íris dele. Esticou a mão e contornou a mandíbula firme, roçando os dedos nas bochechas e depois nas sobrancelhas.

— Você é corajosa — ele ronronou. — Minha companheira corajosa.

— Eu estava com medo, Noble.

— Todos têm medo, isso não tem nada a ver com coragem. Coragem é... agir, mesmo que com medo. Não é? Um instinto de sobrevivência.

Deslizou os dedos por entre as sobrancelhas dele e nariz, inclinou-se e o beijou.

— É... estou viva e é o que importa, eu acho — abraçou a cintura de Noble e bocejou. — Boa noite, chocolatinho.

Noble pressionou os lábios em sua testa e murmurou:

— Boa noite, moranguinho.

Você é corajosa... ficou um tempo acordada pensando em tal frase e no quanto ela era capaz de a influenciar.

🌡️

Kaira detestava botas de borracha.

Também detestava aquele frio que a fazia se encolher dentro do casaco e enfiar as mãos nos bolsos. Seus dedos estavam congelando. 

— Eu já disse que odeio o frio?

Noble balançou a cabeça positivamente, caminhando na frente dela.

— Sim. Algumas vezes.

— Pois é — reclamou. — Eu odeio o frio.

— Se quer saber — ele comentou, parando e a esperando. — Também não sou um grande fã.

Eles não tinham a neve branquinha de Lago Tahoe, mas o barro escuro e molhado, e dependendo de como os pássaros voavam, afastando-se das árvores, eles tomavam uma chuva de gotas gélidas que estavam até então nas folhas imóveis.

Ela o alcançou e agarrou a mão estendida no ar, então continuaram o caminho de mãos dadas.

Afinal, por que a casa de Kismet não podia ser mais próxima do Hotel? Não parecia que era tão longe antes, ou aquela era apenas ela reclamando novamente por conta do cansaço.

Só queria se enfiar embaixo de um cobertor e passar o dia todo no computador ou lendo.

— Bom dia! — Forest os saudou quando se encontraram no caminho. Ele usava apenas uma camisa folgada e calças jeans, o que a deixou horrorizada. Era de invejar o fato de Novas Espécies não sofrerem por causa do clima como humanos normais. O amigo a olhou e gargalhou. — Qual é a dessas botas?

Kaira ergueu o queixo, estalando a língua no céu da boca.

— Não quero sujar minha calça de lama.

A verdade — que Kaira esconderia até a morte — era que ela não queria cair de cara no chão como acontecera uns dias antes. Noble pressionou os lábios, segurando uma risada e ela o olhou feio.

Eles continuaram juntos até a casa de Kismet e ao chegarem, Kaira sentou no chão e ignorou Kismet a zuando enquanto, desesperadamente, jogava aquelas botas no canto da varanda.

— Tudo bem aí? — ele perguntou, estendendo as mãos para Kaira. — Ou precisa de ajuda, baixinha?

Kaira ignorou a ajuda e se levantou sozinha, andando pelo corredor da casa e o deixando para trás. Invadiu a cozinha como se aquela fosse a sua casa e pegou uma latinha de refrigerante da geladeira.

— Eu fiz café — Kismet disse. — Você não quer?

Ela o ignorou novamente, sentando-se na cadeira do balcão e bebendo.

— Vaca — ele resmungou e Kaira sorriu. — Ei, Noble, quer café?

— Quero!

— Óbvio que ele quer — respondeu irônica. — Acrescente também alguns pães para Noble — olhou de soslaio para o companheiro, o qual já a encarava com desconfiança. — Ele precisa.

Kismet a olhou com curiosidade.

— Por quê?

Seus lábios se repuxaram num sorriso malicioso.

— Digamos que eu dei uma canseira nele hoje cedo.

Noble gargalhou alto e tocou a perna dela, balançando a cabeça como quem não acreditava em suas palavras.

— Não fui eu quem implorou por cinco minutos, gata.

— É sempre bom vê-los juntos na minha cozinha — a voz que chamou atenção deles era a do pai de Kismet, Brawn. — Bom dia, Kaira. Bom dia, garotos.

— Bom dia!

— Embora — Brawn sorriu galanteador para ela e Kaira retribuiu, roubando um rolar de olhos de Kismet e uma risadinha de Forest. — Eu ache que vocês deviam arrumar uma cozinha para vocês e deixarem eu fazer amor em paz com a minha esposa logo de manhã.

Kaira tampou a boca com a mão, sentido uma quentura subir por seu pescoço e bochechas, enquanto Noble e Forest não pouparam seus fôlegos. Kismet ignorou o pai, servindo café para os amigos e também para o mais velho.

— Essa é minha deixa — Brawn virou a bebida de uma única vez. — Estou de saída. Tchau, crianças.

— Tchau, Brawn! — ela foi a única que acenou para ele. Quando o macho saiu pela porta da frente, Kaira se abanou. — Seu pai é um gato.

— Literalmente um felino — Noble brincou, não levando o comentário dela a sério e provocando Kismet. — Um gato.

O amigo os olhos com raiva, mas que logo desapareceu ao fitar Forest. O que veio a seguir fez Kaira chorar de rir. 

— E você, cachorrão, o que tem a nos dizer?

Depois de comerem, eles se sentaram no sofá da sala a espera de Salvation que estava voltando da Zona Selvagem. Ele não esperou um segundo quando chegaram, correndo para um carro para encontrar Aurora.

Kaira ainda achava as demonstrações de afeto entre os dois bem fofas.

Os amigos estavam conversando enquanto ela prestava atenção no jornal da manhã. A maioria das notícias faziam relação ao tempo ruim e ao desastre, até mesmo o ataque aos Novas Espécies foi citado e Kaira não duvidava nada de que logo, logo Justice daria uma nota para aqueles urubus da mídia.

Mostraram imagens dos estragos e também dos novos abrigos, para onde aqueles que foram mais afetados pela destruição foram mandando. Em geral pessoas sem família e moradores de rua.

Então as imagens mudaram, mostrando as pessoas desaparecidas e uma delas chamou muito a atenção de Kaira.

Cabelos castanhos, nariz arrebitado e bonito, olhos esverdeados e claros que poderiam ser confundidos até mesmo com um marrom bem fraco. Leu o nome da mulher: Helena Price; médica.

Sentiu o coração bater num ritmo mais rápido e segurou a mão de Noble.

— Aquela não é a mãe daquela garotinha do abrigo?

— Poxa — Noble olhou bem para a foto e concordou. — Parece que sim. Coitadinha.

— Tadinha — murmurou olhando para as outras pessoas desaparecidas, em geral mulheres. — Que horror.

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