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O Leal e a Mentirosa

— Quando você sorri assim se parece com uma fêmea muito confiante — número dois comentou quando Kaira apareceu na cela dela, sorridente e de cabeça erguida. — Alguma coisa aconteceu? 

Kaira ergueu as sobrancelhas, impressionada pelo vocabulário e pela curiosidade da fêmea. 

O que algumas semanas juntas não fizeram.

— Coisas ótimas aconteceram, gata. 

Número dois procurou avidamente por algo dentro da caixa de figurinhas que Kaira deu a ela e tirou uma em específico.

A de um gato. 

— Acertei, não é? 

— Pode apostar que sim! — sentou-se ao lado dela. — Bebê? 

Número dois tocou o próprio abdômen inchado e sorriu. 

— Como se sente hoje? 

— Faminta! — ela tombou a cabeça sobre o ombro de Kaira e piscou os olhos. — Será que você pode me dar aquela fruta de novo? 

— Só se você disser o nome dela.

 Ela pensou um pouquinho. 

— Eu sei que começa com A, depois vem o B... 

— Se soletrar a palavra toda eu te dou um doce. 

A fêmea franziu o cenho e perguntou:

— Só se eu puder escolher. 

— Se acertar pode pedir qualquer coisa. 

— A-B-A-C... — número dois fechou os olhos. — A... X-I. Abacaxi! Acertei! 

Kaira bateu palmas e riu. 

— Acho que você não precisa mais de mim. 

Ela estava rindo até então, mas com a frase de Kaira ficou séria e de olhos arregalados. Havia uma umidade lá. 

— Você vai me deixar? Eu não quero ficar sozinha, Kaira!

Podia ver o desespero naquele rosto bonito e inocente, por isso se adiantou e passou um braço ao redor dos ombros dela, abraçando-a com delicadeza

— Eu nunca vou te deixar aqui sozinha. É uma promessa — murmurou. — Posso demorar, mas sempre vou vir vê-la como tenho feito. Você é... minha irmã. 

Não foi difícil para ela dizer aquilo, era apenas o que sentia sempre que olhava para a Espécie. Não era porquê se parecia muito com Aurora, mas pelo jeito como se aproximaram. 

Havia também a crescente necessidade de protegê-la, de cuidar dela e a ensinar. De fazê-la rir e sorrir, fazer um cafuné enquanto conversavam ou apenas ficarem se encarando em silêncio quando Kaira tinha um tempinho para descer até ela. 

Era como se já fizesse parte de Kaira. 

Por muito tempo, antes de conquistar a confiança de Helena, pensava que a médica seria seu porto seguro no subterrâneo, mas estava errada, sua âncora era aquela inteligente, delicada e sorridente Espécie.

— Eu quero um doce de abacaxi. 

— Quando eu voltar vou trazer e um livro novo também, okay? 

Número dois concordou e de repente deu um pulinho, rindo. 

— O que foi?! 

Ela não respondeu, apenas pegou a mão de Kaira e a colocou sobre o ventre dela. A bebê estava chutando. Kaira sentiu a emoção do momento e uma avalanche de hormônios a fizeram quase chorar. 

— Oi, lindinha — murmurou para a barriga dela. — Eu sou sua tia Kaira e estou muito animada para vê-la! 

— Como vamos chamar a bebê, Kaira? 

— Você é a mãe dela, você escolhe. 

— Número três? 

Kaira arregalou os olhos e a encarou com pena. 

— Nunca! 

— Mas é como o meu... 

— Nós temos que escolher um nome para você. E depois para ela. 

Ela pareceu pensativa. 

— O que seu nome tem algum significado? 

Kaira sorriu, poucas pessoas perguntaram aquilo a ela. 

— Tem vários significados em diferentes povos. Na Grécia significa governante, na língua hindi significa pacífica e única, pura... e centelha divina. Enfim, existem muitos significados, mas isso realmente importa? 

— Quero um bom nome, com um bom significado.

— Alguns Espécies escolheram nomes relacionados a personalidade ou a coisas que gostaram ao sair da prisão. Por exemplo: Justice escolheu seu nome porque era o que queria para o seu povo, justiça. Ele é um líder, um bom macho e honrado... Tem Valiant, que é muito corajoso. A Bela, porque é muito linda — Kaira riu. — A Breeze escolheu esse nome porque foi a primeira coisa que sentiu ao ficar livre, a brisa em seu rosto. Tem o Moon, que ama a lua. Vengeance...

Ela ficou em silêncio ao falar sobre ele, lembrando-se de toda a história e dor, então preferiu pular.

— Tiger... bom, o cabelo dele é da cor de um tigre — ela riu de novo.— Não faz muito sentindo, mas olha — fingiu que estava se abanando. — Ele é um macho gostoso.

— Eu gosto de abacaxi. 

Kaira gargalhou.

— Pineapple.

Número dois fez uma carinha de inocente e perguntou: 

— É muito estranho? 

— Um pouquinho, mas você é toda inovadora e única. E se você gosta — balançou os ombros.— Você é poderosa e pode recolher qualquer coisa, linda 

— Hmm... poderosa.

— Mighty? Por quê?

— Porquê eu quero ser poderosa, forte e incrível para a minha filhote. 

— Isso é muito legal... 

Ela concordou com um sorriso enorme.

— Eu gosto de com soa Mighty! — abraçou a Espécie novamente. — Mighty então, o nome da bebê você pode escolher depois que nascer, quem sabe quando olhar para ela não vem algo na sua mente. 

— Obrigada, Kaira. 

— Não precisa me agradecer por nada. 

Mighty segurou a mão dela com força. 

— Você é a única pessoa que eu tenho... Elias me odeia.

— Isso não é verdade. 

— É sim — a fêmea murmurou cheia de pesar. — Ele só me tocou porquê o encheram de agulhas — Kaira sabia que as agulhas que ela dizia significavam drogas. — Depois nem olhava para o meu rosto, nem tocava minha barriga, nem comia ao meu lado. Ele me odeia e odeia a minha bebê. 

Kaira mordeu os lábios.

— Não odeia. 

Mighty largou a mão dela e se deitou, bocejando. 

— Odeia sim... Kaira? 

— Hm? 

— Eu estava pensando em uma coisa. 

Kaira tombou o rosto para o lado e sorriu para ela. 

— O quê? 

— Na minha história você é a Liesel e eu o Max — Mighty cobriu os olhos com o braço. — Fico me perguntando se o abraço da morte vai ser gentil como diz no livro. 

Aquilo a surpreendeu e encheu seu coração de tristeza. Talvez ter lido A Menina que Roubava Livros não tenha sido uma boa opção. 

(...)

Kaira deixou Mighty sozinha para que pudesse descansar e foi em direção ao andar de Elias. Ele estava preso junto de outros homens e mulheres. Kaira se aproximou da cela dele e o encarou de cima. 

— Você está péssimo. 

Elias soltou uma risada amarga. 

— Não me diga. 

Ela se agachou e o fitou frente à frente. 

— Você poderia ter tratado a Espécie melhor, sabia? — ele revirou os olhos. — Ela pensa que você a odeia... e que odeia a filha que ela carrega. 

— Eu não as odeio.

— Então por que a tratou com tanto descaso? 

— Você quer a verdade? — Kaira concordou e ele suspirou fundo. — O que fizeram eu fazer com ela foi nojento, não consigo olhar para ela sem pensar que a abusei sexualmente. Me sinto horrível e não há nada que eu possar dizer a ela, porque ela não entende. 

— Se você explicar ela pode entender.

Ele negou. 

— Não quero ver ela, não quero ver aquela barriga. 

— É sua filha. 

— Se nascer, você quer dizer. É a terceira vez que tentam e eu espero que dê errado. 

Kaira desviou os olhos, tentando não sentir raiva dele. 

— Qual é? — ele riu de novo. — Não sou um monstro, só não quero ter uma filha para que seja abusada e escravizada. Prefiro que ela morra. 

Ela segurou a respiração. 

— Você não faz ideia do que está dizendo. 

Ele reagiu rápido depois da frase dela, socando a grade com força e a encarando como um maníaco. 

— Você que não faz ideia de merda nenhuma — cuspiu as palavras com ódio. — Você está do outro lado da grade, não tem nada que possa me dizer que vá mudar minha opinião. 

Kaira levantou, passou as mãos pelos joelhos e lançou a ele um último olhar. 

— Espero que mude de ideia quando ver a sua filha. 

Elias não respondeu e essa foi a deixa de Kaira, ela caminhou pelo salão e observou cada um dos rostos desconhecidos, depois pegou o elevador e voltou para a enfermaria, onde encontrou Helena sozinha.

— Onde estão os guardas que geralmente ficam na porta? 

Helena se virou para recebê-la e balançou os ombros. 

— Eu não faço ideia, foi Nate que me trouxe para cá mais cedo. 

— Que estranho — sentou sobre uma maca. — Mais cedo também não tinha ninguém lá embaixo com Mighty. 

— Mighty?

Kaira sorriu e inclinou o corpo para frente, balançando as pernas. 

— Foi o nome que a número dois escolheu, ela disse que é assim que quer se sentir. 

Helena levantou as sobrancelhas. 

— Uau... 

— Não é? Ela é incrível, quero tanto vê-la fora daqui, longe de todo esse estresse. Livre. 

— Sim, eu também. 

Helena agiu de forma estranha, voltando-se para se afazer sem estar animada com a novidade. 

— Qual o problema, Helena? 

Ainda de costas, a médica respondeu: 

— Meu irmão não vai ficar com a bebê quando tudo acabar, caso tudo de certo. Eu falei com ele.

Kaira se levantou e se aproximou dela. Não queria dizer que também havia escutado aquelas palavras de Elias.

— Ele pode mudar de ideia. 

Helena balançou a cabeça negativamente. 

— Eu sou mãe, Kaira — disse de forma firme. — E acredite em mim quando digo que um homem não vai ficar com a sua filha. Eu passei por isto. 

— Eu sinto muito... 

— O pai da Cassie pode até pagar pensão e dar presentes para ela, mas não é um pai de verdade. E é exatamente assim que o meu irmão vai ser. Eu conheço a situação... só preciso olhar para os olhos dele para saber que na primeira oportunidade vai dar no pé. 

— Talvez ele precise de tempo, talvez... talvez ele esteja tão amargurado com a situação que aja assim. Ele não tem culpa.

Helena riu e largou o que fazia. 

— Ele não quer, Kaira. Ele não sentiu o mesmo que eu ou Mighty, não sofreu quando não deu certo nas outras vezes. E sabe o que é pior? — tampou o rosto com as mãos. — Ela vai ficar sozinha, com medo o tempo todo, de tudo e todos, então o nome dela não vai significar nada no final das contas! 

Kaira ergueu a mão e tocou o ombro da médica. 

— Helena... 

— O quê?!

Passou a língua pelos lábios e disse o óbvio: 

— Está falando de si mesma.

🌡️

Noble respirou fundo, passou o antebraço pela testa suada e sorriu com a cara dos Espécies mais jovens, principalmente com a de desgosto de Leon, ao ver o que tinha preparado. 

Qual é, seria legal, ao menos para ele. 

— São cestas de basquete? Na... areia? 

Fez um joia para Luck.

— Sim, muito boa sua análise, Luck! 

O garoto lançou um olhar desacreditado para ele, assim como os outros adolescentes. Em sua maior parte eram garotos que Noble apenas costumava ver brincando para cima e para baixo juntos, alguns nem sequer eram da Reserva, adolescentes de Homeland. 

E eles eram... não usaria a palavra fracos, mas não chegavam aos pés dos adolescentes da Reserva e Zona Selvagem, que cresceram no meio da floresta.

Os jovens tinham força, mas não o suficiente, seus instintos ficaram adormecidos e não eram tão rápidos quanto se esperava que fossem. 

Noble pretendia mudar isso. 

— Vocês vão jogar hoje, separem grupos de cinco. 

A penelinha era tão óbvia no início que Noble tratou de cuidar da separação de equipes, juntando os adolescentes de forma melhor. Ele não queria um time forte contra um time fraco. 

— Ótimo — sorriu sarcasticamente. — Bem melhor. 

Com bem melhor, queria dizer que havia separado a dupla imbatível de Leon e Luck. Nada melhor do que uma boa competitividade amigável. Esperava que fosse amigável. 

— Eu nunca ouvi falar de basquete na areia — Leon comentou. — Da onde você tirou isso? 

— Eu pesquisei e achei artigos interessantes que falam sobre o aumento de força ao treinar basquete na areia, melhorando movimentos das pernas e quadris — todos olhavam para ele. — É o seguinte, como não podem quicar a bola, vocês precisam passar uns para os outros e correr. Mais de cinco passos com a bola na mão e é ponto para o outro time, passando assim a bola para eles — Noble olhou para o céu azul e o sol escaldante.— Vamos ter dois tempos de dez minutos — ergueu o celular onde contaria o tempo. — É apenas um teste, vamos ver como vocês funcionando trabalhando em equipe. 

Noble pegou a bola e caminhou até o meio da "quadra", posicionou-se e olhou para os dois garotos que disputariam a primeira bola. 

E era óbvio que eram Leon e Luck. 

— Vocês dois são um porre...

E jogou a bola para cima. 

Leon pulou primeiro, pegando-a e saindo correndo, correndo tanto que Noble balançou a cabeça e assoprou seu apito — sim, ele tinha um apito — todos pararam imediatamente. 

— Dois pontos para o outro time, passa a bola para o Luck, Leon. 

— Quê?! Por quê?! 

— Ele disse que não pode dar mais de cinco passos — o Espécie Ethos explicou antes de Noble. — Você fez a única coisa que ele disse para não fazer, gênio. 

Leon se voltou para o garoto novo. 

— Eu te conheço? 

— Ele está certo e você errado — decretou. — Agora chega, continuem o jogo ou vão ter que passar mais tempo embaixo do sol! 

Luck e Leon trocaram um olhar que Noble decidiu que era melhor ignorar. Será que Kismet e ele tinham sido tão insuportáveis quando eram mais jovens?

Eles jogaram por mais tempo de que Noble esperava, custando para se acostumarem na areia e mais tempo para acertarem os passes em equipes.  

Havia algo de errado com a maior parte dos adolescentes que ele não conhecia direito. 

Algo que estava bem na frente de seus olhos e ele não conseguia perceber. 

Ele puxou o apito e assoviu e, o som foi tão estridente, que machucou seu ouvido. Noble segurou aquela coisa e jogou longe. Não. Daquele jeito não tinha como dar certo, ele precisava de outra forma para chamar atenção deles. 

Mas, por enquanto, eles pararam e olharam para Noble. 

— Alinhem-se — os garotos correram para ficarem uns ao lado dos outros e Noble novamente franziu a testa e murmurou. — Qual o problema de vocês? 

Leon e Luck estavam no começo da fila; cabeças eretas, braços relaxados e ombros tranquilos, não caidos e inclinados para frente, numa respiração descompassada e sofrida como alguns dos outros. 

Olhou para Ethos, o garoto deveria ter quatorze ou quinze ano, não mais, com um cabelo claro que brilhava com suor. Ele era um espécime exótico, enquanto Noble tinha um cabelo loiro dourado, Ethos possuia fios quase brancos e olhos azuis como o céu. 

— Vamos começar de novo — disse em voz alta. — Primeiro, levantem esses ombros, pois mantê-los inclinados enquanto correm ou logo depois de correr restringe a respiração, permitindo que menos oxigênio chegue aos músculos. Então — levantou os ombros e cabeça em exemplo. — Ombros eretos e cabeças erguidas. 

Caminhou na frente da fila, corrigindo as posturas deles. 

No sexto adolescente, os lábios de Noble se repuxaram num sorriso gentil. 

— Como vai, Giannis? 

Fazia tempo que ele não colocava os olhos naquele jovem Espécie que, da fila, era o mais alto e mais robusto. 

— Bem melhor agora, Noble — o rapaz sorriu da mesma forma que ele. — Meu pai tem sido um pé no saco desde que minha mãe engravidou do meu irmão, estar longe dos dois novamente é um alívio. 

— Lash e Mary vão ter outro bebê?! 

Giannis bufou. 

— Pois é, leão o caralho, ele está mais para coelho. 

Noble gargalhou. 

— É bom ter irmãos. 

— É mesmo? — o garoto ergueu as sobrancelhas. — Tente ser o mais velho de quatro filhos e me diga isso. 

Deu uma leve palmada no ombro de Giannis, gostava do garoto, principalmente porquê seus pais eram muito parecidos. 

— Qualquer coisa venha passar um tempo comigo. 

— Sério? 

Foi a vez de Noble erguer as sobrancelhas cinicamente. 

— Tente viver com um bando de adolescentes por bastante tempo e ser o mais velho... eu me acostumei. Se precisar de ajuda, bom, estou de prontidão. 

— Obrigado, Noble. 

Deu de ombros e continuou sua avaliação. 

— Agora voltem para a areia e lembrem-se, ombros eretos. Não forcem seus pés ao tocarem o chão, afinal, uma boa corrida é leve e silenciosa. Seja qual for o seu peso, seus pés não devem bater ruidosamente ao atingir o chão, passos leves são mais eficientes e causam menos estresse ao corpo.

Jogou a bola nas mãos de Ethos. 

— Agora vão! 

Os garotos jogaram por bastante tempo, empatando e depois jogando de novo. O time de Leon e Ethos ganhou, enquanto Luck saiu resmungando, dizendo que Leon era um jogador ridículo. 

— Desculpa de perdedor! 

Os garotos riram, menos um. Ethos saiu da areia carrancudo e suado, mas sua respiração estava uniforme, não desesperada como antes. 

— Você está bem? 

— Sim. 

Monossílabo. 

— Se você me dizer o que o incomoda, podemos resolver. 

O garoto o olhou de forma arrogante. 

— Me ouviu reclamar? 

Noble imediatamente pensou em uma porção de respostas grosseiras, mas apenas sorriu e disse: 

— Espero vê-lo amanhã, você é um bom jogador. 

O olhar de Ethos vacilou por um instante e ele balançou a cabeça positivamente, depois deu as costas a Noble e se juntou a Giannis. As mães dos dois eram melhores amigas e os dois também. 

Desviou os olhos para os outros garotos e suspirou. 

Eles tinham muito para melhorar. 

(...)

— Você deve... mesmo gostar de crianças para passar tanto tempo com eles — Andrei disse de boca cheia, devorando um sanduíche. — Eu gosto de crianças — ele puxou a garrafa de água e tomou um longo gole, respirando fundo. — Eu quero ser pai um dia e você? 

Noble terminou seu lanche silenciosamente, tentando ignorar Andrei. 

— Uma menina... não, talvez duas — ele sorriu animado. — Vou fazê-las serem guerreiras. 

— Pelo bem delas espero que sejam mesmo, porquê para aturar você... 

Andrei gargalhou e empurrou o ombro dele. 

— Cala a boca — o homem se levantou num pulo. — Vamos continuar! 

E Noble se levantou, ele não negaria uma luta.

(...)

Noble tinha boas memórias da infância e não se lembrava de ter se machucado quando era criança. Ele só foi conhecer a dor física depois de se tornar um adolescente, nunca antes. Então, ver uma criança machucada não era uma das suas coisas favoritas. 

Na verdade, costumava se desesperar com a ideia de algo acontecer com seu irmão, por isso, quando Kismet entrou como um furacão pela porta da frente da casa, com uma Cassie chorando nós braços, bem, ele também se desesperou. 

— O que eu faço?! 

Noble se levantou, deixando seu livro de lado e se aproximou do amigo. 

— O que aconteceu? 

— Bravery empurrou Cassie de cima da porra de uma pedra! 

O garoto loiro estava logo atrás e, com as bochechas vermelhas, se defendeu: 

— Não empurrei ela, era uma brincadeira! — choramingou. — Eu fui antes e ela depois... eu pensei que ela ia cair em pé, eu juro, irmão! 

— Ela não é um felino que cai de pé sempre! — Kismet esbravejou e Cassie fungou nos braços dele. — Desculpa, bebê, nós vamos cuidar de você. 

— Deixa eu ver. 

Noble segurou o queixo dela com cuidado e inclinou o pequeno rosto delicado, observando o corte. 

— Hm... vamos levá-la para o Centro Médico, lá eles vão limpar o ferimento e... 

Kismet arregalou os olhos. 

— E? 

— Talvez ela tenha que tomar alguns pontos. 

Cassie murmurou uma pergunta: 

— Se eu deixar o médico me dar pontos, posso ganhar um doce? 

Noble tampou a boca, segurando uma risada e Kismet pareceu, pela primeira vez, relaxar, mesmo que minimamente. 

— Um monte de chocolate, querida — prometeu. — Você vem comigo?

— Eu nã— 

— Por favor — o amigo interrompeu com um olhar desconcertado. — Preciso de você agora. 

Bravery se aproximou pelo lado e pegou a mão de Noble. 

— Por favor, irmão, eu também quero ir. 

(...)

Bravery tombou a cabeça para o lado, apoiando-a na maca ao lado da perna de Cassie e perguntou: 

— Está doendo?

Ela balançou a cabeça negativamente. 

— Só sinto um incômodo. 

Noble deu um leve empurrão nele, chamando atenção e olhando para ela de olhos estreitos. Bravery revirou os olhos, entendendo. 

— Me desculpa, Cassie — disse. — Foi sem querer. 

— Tudo bem, Bravery — ela sorriu de forma corajosa. — Nem doeu. 

Forest balançou o cabelo dela carinhosamente.

— Você é forte e nem vai ficar marca. 

— Não? 

Forest negou com um aceno de cabeça. 

— Mas seria legal se ficasse! 

Kismet bufou. 

— Quem disse isso? 

— Andrei disse que cicatrizes são maneiras! 

E Bravery completou: 

— E que nos fazem parecer mais durões! 

— E idiotas — Noble empurrou a cabeça do irmão gentilmente, rindo daquela bobagem. — E vocês não devem ouvir sequer uma palavra de Andrei, ele é... — um filho da puta arrogante e sarcástico, pensou. — Boboca. 

Kismet e Forest trocaram um olhar, como se perguntassem silenciosamente de onde Noble havia tirado aquela palavra.

— Boboca — Forest soltou um riso nasal e se afastou de Cassie. — Você está prontinha para ir. 

Cassie pulou da maca hospitalar e Noble observou quando as duas crianças sairam do quarto lado a lado, mesmo que sob um olhar irritadiço da parte de Kismet. 

— Esse moleque não desgruda um segundo. 

— Olha como fala dele — alertou de forma protetora. — É meu irmão. 

— Isso deveria me deixar aliviado? — perguntou ironicamente. — Os machos da sua família tem uma péssima tendência a se apaixonar pela primeira fêmea em que colocam os olhos. 

Noble estreitou os olhos.

— Sem briga no hospital — resmungou Forest ao ir até a mesa e anotar algo em um papel. — Se querem sair no soco vão para a academia. 

— Ele que tá todo irritado — Kismet se defendeu. — Eu só disse a verdade. 

— Não é culpa do Noble se você é um cafajeste que se enfia entre qualquer par de pernas e não se apaixonou até hoje, Kismet — Forest disse e estendeu o papel para Kismet. — Eu anotei alguns passos de como tratar dos pontos e remédio, caso ela sinta algum incômodo. É melhor deixar a gaze por um dia e só depois começar a limpeza, colocando a gaze novamente depois, mas quando a ferida começar a criar uma crosta pode deixar de cobrir. Qualquer coisa pode me mandar mensagem, vou visualizar na hora. Agora vão, saiam os dois do meu hospit— 

Ele não pode terminar de falar, pois o som alto do alerta de incêndio começou a soar em seus ouvidos. 

Noble e Kismet trocaram apenas um olhar antes de sair correndo em direção as crianças e, ao chegar no corredor, Noble parou brutalmente e espalmou uma mão no rosto, bufando de ódio, enquanto Kismet gargalhava. 

— Bravery North — rugiu. — Tire agora mesmo a mão dessa alavanca! 

🌡️

Kaira não compreendia muito de clima organizacional mas, se pudesse dar uma nota de zero a dez de como iam os negócios dos Anti-Espécies e a satisfação de seus membros, daria zero. 

— Estão insatisfeitos com as missões que tem dado errado e Jason desconta sua raiva nos homens, o que aumenta o ressentimento — Helena disse baixinho, enviando uma piscadela acompanhada de um sorriso arrogante para Kaira.

A morte de Paul, pelas mãos de Nate, não havia alegrado os homens. Aparentemente, apesar de agora ser um traidor para eles, Paul era um "bom" homem. 

Kaira havia segurado a respiração ao ouvir aquilo.

Apenas ver não fora o suficiente, agora estava ouvindo que seus planos deram certo. No início queria apenas o fracasso de Jason, mas despertar nos outros mágoas também era incrível. Fodasticamente incrível.

Os homens queriam resultados, dinheiro, e com tudo indo abaixo, era óbvio que buscariam por soluções.

— Por que está sorrindo?

Ela soltou uma risadinha e tombou a cabeça para o lado, aproveitando-se do fato de que não havia soldado algum na enfermaria.

— Helena... — colocou a mão sobre o ombro da mulher. — Eu vou acabar — soprou a palavra —, destruir, foder totalmente Jason.

Esperança refletiu nos olhos de Helena e Kaira se sentiu melhor. 

Melhor, apesar de toda aquela sujeira que para sempre guardaria nas lembranças; melhor, apesar de tudo que ainda teriam de superar. 

Apenas melhor, porquê sentir esperança era bom demais. 

Fodasticamente bom! 

🌡️

Noble estava parado com as mãos na cintura, observando com os olhos estreitos os homens da empreiteira. Hunter estava ao lado dele, igualmente ou mais irritado do que ele. 

— Esses desgraçados não vão destruir minha floresta para fazer a porra de uma estrada — Hunter resmungou. — Eles podem muitos bem construir casas rio abaixo. 

Respirando fundo, Noble respondeu: 

— Justice acha que os recém chegados vão gostar de viver acima do rio, assim como você e seu pai. A mata densa, nenhum humano por perto... será interessante para eles. 

— Não haverá mais floresta densa se eles abrirem caminhos com suas máquinas! 

— É um caminho curto, Hunter. Apenas uma reta e pronto.

— Você já contou o número de árvores que vão derrubar por isso? 

— É para um bem maior, para o nosso povo — tentou contornar. — Você não quer que eles se sintam bem quando chegar? 

Hunter bufou, jogando as mãos para cima e Noble tinha certeza de que aquele era o máximo de emoção que conseguia arrancar daquele Espécie. 

— Vamos plantar mais árvores depois e cobrir a estrada, que tal? — sugeriu de bom humor. — Claro, elas vão demorar para crescer, mas um dia vão fazer sombra sobre a sua cabeça . Isto — apontou para as máquinas da empreiteira. — É apenas temporário. Eles fazem a estrada, as casas e vão embora, então nós plantamos novamente. 

O Espécie negro pareceu pensar. 

— Você me dá a sua palavra? 

— Juro que eu mesmo faço a plantação. 

Oras, aquilo fora um sinal de sorriso no rosto de Hunter? 

— Ótimo. Vou deixar que você lide com os humanos, mas vou estar por perto com os outros. Nós vamos vigiar vinte e quatro horas. 

Noble concordava com aquilo. 

— Bom. Não andem sozinhos, eu não confio neles também. 

Hunter se afastou depois daquela conversa e Noble pegou o celular no bolso, fazendo uma rápida ligação. 

— Noble — a voz forte soou interessada do outro lado. — Tudo certo com Hunter? 

— Sim, Justice. Não foi tão difícil o convencer na verdade. 

A ligação tremeu, como se Justice estivesse andando. 

— Ele confia em você. 

— Isto deveria me animar? 

A ideia de que muitas pessoas estavam colocando expectativas sobre si, não o deixavam animado. Na verdade, era estranho. Até pouco tempo ele era uma sombra, apenas alguém que estava vivendo por um pequeno motivo e então, com a saída de Kaira, tornou-se algo a mais. 

Era estranho. 

Muito estranho. 

Ele não se lembrava de ter sido um grande líder em qualquer momento de sua vida, embora parecesse que as pessoas achavam isso dele. 

— Anime-se, Noble — Justice riu do outro lado. — A responsável pelas construções está perto de você. Eu quero que fale com ela e veja todos os projetos, seja o tamanho ou local, materias, equipamentos, mão de obra, quero que esteja a par de tudo e espero um relatório do andamento das construções todos os dias a noite. 

— Claro, serei os seus olhos aqui. 

— É bom saber disso, rapaz. Até logo. 

Noble tinha certeza de que, não fosse a incrível idiotice de Heaven e Kismet, seria um dos dois ali, não ele. Parecia que Justice estava sem opções. 

— Olá — Noble se virou exatamente quando a voz suave o chamou. A moça parada em sua frente tinha cabelos dourados e delicados olhos verdes, levemente puxados. — Eu sou Lianna e sou uma das engenheiras responsáveis. Apertaria sua mão, mas como pode ver — ela tinha algumas pastas em mãos e sorriu para ele. — Estou meio ocupada. 

— Eu te ajudo. 

Aproximou-se da mulher baixinha e pegou algumas pastas. 

— São os projetos? 

— Alguns deles — respondeu. — Será que podemos ir para algum lugar com mesa para que eu possa lhe mostrar? 

Noble indicou a direção onde havia deixado o jeep. 

— Claro, vamos aproveitar que é cedo e as mesas do refeitório estão vazias. 

(...) 

Os dias passaram rapidamente após sua tarefa começar, ele praticamente acompanhava o trabalho dos homens durante a manhã e começo de tarde, sendo que no fim da tarde, quando todos os trabalhadores paravam o serviço, Noble lidava com os jovens Espécies. 

A noite ele lutava com Andrei e Kismet na academia e, ao deitar na cama, dormia rápida, mas nem sempre conseguia deitar a cabeça no travesseiro e pegar no sono.  

Ele quase não tinha tempo para pensar em outras coisas, mas ainda assim Kaira estava sempre em sua mente. 

Não importava onde estivesse, haviam memórias dela em todo lugar; uma pequena garotinha correndo atrás dele na floresta, reclamando sobre o fato de odiar matemática; uma adolescente de língua afiada que colocava os instintos dele em teste; uma mulher adulta de sorriso sedutor e... mentirosa. 

Às vezes ele só pensava sobre isso por horas e era o mantinha acordado de madrugada. 

Por que ela não disse a verdade? 

Por que ela não falou sobre tudo com ele? 

Ele não era confiável o suficiente? 

E então mais perguntas, não amarguradas, mas de preocupação. 

Kaira estava bem? Estava se alimentando e tomando seu remédio? Estava passando frio ou sentindo dor? 

E ele não conseguia sentir raiva pelo que a companheira estava fazendo, apenas se ressentia pelo fato de não ter sido o primeiro a saber de tudo. 

— Noble? — a voz baixinha e suave de sua mãe o chamou e ele virou a cabeça, observando-a por cima do ombro. — Vem para dentro, está tarde e você precisa acordar cedo. 

— Eu já vou. 

Noble girou a pequena lua de metal entre os dedos e soltou o pingente sobre o peito, alternando seus olhos entre as estrelas e a floresta silenciosa logo adiante. 

Passos lentos se aproximaram as suas costas e a mão quente de Tammy tocou o ombro dele. Ela sentou ao lado de Noble e apoiou a cabeça em seu ombro, fazendo com que ele deixasse um braço sobre os ombros dela. 

— Faz tempo que você não tem um tempo para a sua mãe — Tammy resmungou, mas havia um sorriso travesso em seus lábios. — Agora é um garotinho cheio de tarefas, hm? 

— Eu sempre vou ter tempo para a mulher mais importante da minha vida.

Tammy riu baixinho, escondendo o rosto em seu braço. 

— É assim que você conquista as moças? Com frases encantadores e esse olhar de gato abandonado? 

Noble sorriu de lado. 

— Talvez. 

— Pobres almas, deve ser tão difícil resistir. 

Ele ergueu as sobrancelhas louras. 

— Está me zoando? 

Diversão cintilou nos olhos azuis e ela revidou. 

— Talvez. 

Noble apertou a mão contra o braço dela, puxando-a para um abraço carinhoso. Deixou um beijo sobre os fios de cabelo e murmurou: 

— Me desculpe pela ausência, mãe. Eu... eu vou tentar passar mais tempo com vocês. 

Tammy tocou sua bochecha com delicadeza. 

— Eu só quero que você volte a sorrir como antes, baby — ela sorriu. — Não precisa passar mais tempo comigo e seu pai, na verdade — Noble revirou os olhos com a malícia na voz feminina. — Eu até gosto que seja assim, como eu amo a escola de Bravery e seus treinos a tarde... 

Noble balançou a cabeça, desacreditado. 

— Por favor, não fale mais nada. Eu realmente não quero saber o que os meus pais fazem quando estão sozinhos. 

— Ah, você também é um garotinho tímido?! 

(...) 

— O que acha? 

— Hm? 

Kismet bufou, irritado por Noble não dar muita atenção para ele enquanto carregava alguns materiais pesados. 

— O que acha de Lianna? 

Ele franziu a testa e largou os sacos pesados no devido lugar. 

— Ela é uma boa engenheira e lida bem com os Espécies que estão por perto, além de comandar seus homens com mãos de aço. Ela é durona — bebeu um gole de água da garrafinha. — Foi o que eu disse a Justice, aliás. 

— Ela é gata, não é? 

Noble olhou na direção da mulher e balançou a cabeça. 

— Ela é bonita. 

Kismet abriu um sorriso enorme. 

— Que tal um encontro? Ela e você, Mina e eu. 

— Por que eu sairia com ela? — começou a se distanciar para pegar mais coisas. — Eu não tenho interesse nisso e muito menos tempo, então não enche. 

Kismet acompanhou seus passos. 

— Qual é, você nem sabe se a Kaira vai voltar... não sabe se está... 

Ele se calou quando Noble parou de supetão e o encarou em choque. 

— Está? 

Kismet engoliu em seco e respondeu depois de alguns segundos. 

— Viva. 

Aquela palavra, junto da proposta do amigo, encheram o coração de Noble de escuridão e ele rosnou. 

— E você espera que eu saia com alguém? — deu um passo a frente, encarando-o de cima. — Você acha mesmo que eu vou sair com uma mulher que não seja ela? Acha que eu vou segurar outra mulher nos meus braços? Acha que vou amar... — respirou fundo e balançou a cabeva. — Esquece. Você é um desgraçado sem coração. 

Depois daquilo Kismet não fez mais nenhuma sugestão. 

Nem em brincadeira. 

🌡️

Hanna Arendt no seu livro "As origens do Totalitarismo", apresenta a teoria da banalidade do mal, trata-se de um comportamento caracterizado pelo desprezo que estimula os agressores a praticarem diversos tipos de violência completamente indiferentes ao sofrimento alheio. Corresponde ao fenômeno da recusa do caráter humano do homem, alicerçado na negativa da reflexão e na tendência em não assumir a iniciativa própria de seus atos. Logo, alguns dos nazistas poderiam até serem pessoas boas, digo alguns. Contudo, a violência contra os judeus, infelizmente, estava tão banalizada naquele período que os alemães praticavam diversos tipos de atrocidades que eles não executariam em situações comuns.

Talvez alguns daqueles homens fossem pessoas boas no final das contas, bom, se eram ou não, nunca saberia. 

Mas... havia uma parte dela, no fundo, que se permitia sentir pena até mesmo daqueles que estavam machucando Espécies. 

E, por acaso não tinha ela mesmo levantado a mão contra alguns deles? 

Com o passar dos meses, casos que para ela seriam óbvios para julgamento, tornaram-se difíceis. 

Não era nada fácil julgar pessoas que não conhecia, apesar de não perdoar nenhum dos pecados que cometiam naquele subterrâneo. 

Talvez aquela fosse ela divagando, meio perdida, meio que traumatizada por tudo que assistiu em silêncio, por tudo que precisou ver sem fazer absolutamente nada pelo bem maior. 

Bem maior... 

Depois de tudo, parecia muito bizarro pensar no bem.

Enquanto uns dias eram bons, outros eram ruins. 

Estava cheia de incertezas e ansiedade, e a melancolia parecia pesar em sua cabeça e a frustração em seus ombros. 

— Anda logo, Kaira. 

— Estou caminhando... 

— Então corra! 

Nate passou por ela e esbarrou em seu ombro, praticamente a empurrando contra a parede. Ela segurou a vontade de jogar os papéis em suas mãos nele e ergueu a cabeça, tentando parecer mais orgulhosa do que realmente era. 

Não iria correr atrás dele e nem de ninguém como se fosse um cachorrinho. 

Talvez de Jason, mas apenas para manter a aparência. 

Seguiu o caminho de Nate e entrou na sala de Jason. O primeiro estava em pé ao lado da porta e de braços cruzados, observando-a com escárnio, enquanto o segundo permanecia impassível atrás de sua mesa. 

A única novidade na sala era um homem esguio e com roupas largas. O cabelo dele era de um castanho claro e, quando seus olhares se encontraram, os olhos verdes e desconhecidos parecerem conter alguma surpresa. 

Ele a olhou de cima e baixo lentamente e por fim, sorriu. 

— Esta é Kaira, ela tem sido bem útil para nós nos últimos tempos — Jason piscou na direção dela. — Kaira salvou minha cabeça de uma bala. 

O desconhecido ergueu as sobrancelhas e Kaira se mexeu, estava se sentindo desconfortável sob aquele olhar. 

— E esse é— 

O homem deu um passo na direção dela e estendeu a mão. 

— Eu sou Lucis e é um prazer conhecê-la, Kaira. 

Ela apertou a mão dele brevemente e se adiantou, colocando os papéis de seus relatórios sobre a mesa. 

— Precisa de mais alguma coisa? — perguntou solícita. — A enfermaria está calma hoje. 

Era verdade, mas ela sabia que Helena lidaria com qualquer problema. 

— Você pode ir agora, Kaira — Nate disse. 

— Na verdade, fique — ela segurou um sorriso de deboche. Jason mandava, não Nate. — Você pode ir, Lucis. 

O homem saiu da sala e Kaira perguntou: 

— Ele é um guarda novo? 

— Ele vai substituir Paul. 

Paul... pobre Paul, uma vez ele tinha "ajudado" ela a encontrar o andar certo, mas já não importava mais também. 

— Entendo. 

Jason suspirou fundo e colocou as mãos sobre a mesa. 

— Sem mais delongas, devo dizer que a nossa situação está pior do que eu imaginava. Estamos com menos homens, menos planos e, infelizmente, com um número preocupante de mantimentos. Não batemos nem sequer a meta estabelecida. Alguns de nossos fornecedores deram para trás e eu estou trabalhando com muito menos do que o filho da puta do nosso político prometeu, mas o que eu deveria esperar? Todos eles são mentirosos. 

Kaira passou a língua pelos lábios lentamente. 

— Aquele roubo no outro dia, seguido pelo ataque, era um de seus fornecedores então? 

Jason concordou. 

— Aparentemente tem alguém pagando mais pelas armas, remédios e alimentos. Além de que está havendo alguma disputa por território e uma das boates onde as nossas mulheres trabalham foi atacada. 

— Elas estão bem? 

— Quatro estão mortas. 

— Merda... 

— Como eu disse, situação preocupante. 

Nate abriu a boca, mas Kaira perguntou antes: 

— O senhor precisa do quê? Com o que eu posso ajudar? 

— Preciso de planos, Kaira. Bons planos. 

E aquela era a oportunidade de ouro dela; uma chance que não iria desperdiçar.

🌡️

Noble girou o copo entre as mãos, observando o líquido âmbar. 

Ele nem sequer sabia o motivo de ter pedido uísque. 

Ele não bebia, ou melhor, não sabia beber bebidas alcoólicas. 

Mas que se foda, pensou, ele tinha tido um de merda e estava cansado e frustrado. 

Bebeu tudo num único gole e balançou a cabeça. 

— Que coisa horrível... 

— Você não é do tipo que bebe, não é? 

Lianna sentou no banco ao lado dele e apoiou o cotovelo no balcão, sorrindo para Noble. 

— Não.

Ela inclinou o rosto e, seus olhos, levemente puxados, quase se fecharam ao sorrir mais. 

— Jaqueta maneira. 

Eu deveria ter deixado um pouco de uísque no copo, pensou sombriamente, sem saber o que dizer para a mulher. 

— Você está sozinho? 

— Sim... e quanto a você? 

— Também — ela olhou ao redor e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Na verdade, eu pensei que podia encontrar alguém aqui, mas parece que me enganei. 

Noble estreitou os olhos, curioso. 

— Alguém que eu conheça? 

— Isso é meio vergonhoso, na verdade — ela riu sem graça. — Mas você o conhece sim, eu vejo vocês conversando com bastante frequência. 

Ele torceu para não ser Kismet. 

— Kismet? 

— Esse é o Espécie de cabelo escuro e longo? 

— Sim. 

Ela negou e Noble respirou aliviado. 

— Você parece feliz que não seja ele. 

Noble virou as pernas para o lado dela e fez um gesto de desdém com a mão. 

— Kismet é meu melhor amigo, mas pode ser um idiota com as mulheres. Estou feliz que você não esteja interessada nele. 

— Não, eu estou mesmo é de olho naquele outro... ele é todo sério e carrancudo — ela disse baixinho. — Pele escura, cabelo curto e olhos inteligentes. 

Nem fudendo

Noble segurou a vontade de gargalhar na cara de Lianna. Nem fudendo. Ela estava afim do Espécie mais durão que Noble já tinha conhecido. 

— Hunter é o nome dele. 

— Hunter — Lianna murmurou. — Combina com ele. 

— Ele odeia o fato de vocês estarem aqui. 

— Eu percebi — ela bufou. — Ele já me ignorou umas cem vezes. Será que ele já sorriu algum dia? 

— Ele é leal aos seus — explicou. — Mas teve uma educação rigorosa. Você sabe, nós temos passados conturbados. 

— Sim, eu sei... aliás, por que estão construindo casas depois de tanto tempo? Vocês não tem filhos e a tendência é que o seu povo diminua, não aumente. 

Noble esperava que nenhum traço de ansiedade passasse por seu rosto. Ele não era um bom mentiroso. Simplesmente balançou os ombros e respondeu: 

— Alguns de nós estão cansados demais de Homeland. 

— Entendi. Os que querem mudar devem ser mais velhos, então. 

— O que te faz pensar nisso? 

— Bom — ela riu como se fosse óbvio. — Você parece mais jovem do que Justice e Fury, então pensei que talvez fosse apenas um adolescente quando foram libertos, já que na época suas idades não foram declaradas e nem todos se mostraram ao público. 

— É... eu era mais jovem na época. 

Talvez a mentira tivesse se mascarado em mágoa, pois ela tocou seu ombro e sorriu amigavelmente. 

— Eu sei que já aconteceu há muito tempo, mas sinto muito. 

— Obrigado. 

Ela se afastou e Noble sorriu, puxando o celular do bolso. 

— Que tal uma dança com Hunter esta noite? 

(...) 

Noble entrou no refeitório acompanhado de Andrei e Kismet, pegou sua comida e sentou na mesa onde Salvation e Forest já estavam. 

— Cadê Aurora? — foi a primeira coisa que Kismet perguntou ao sentar. — Eu não suporto tanta testosterona. 

— Ela ficou de almoçar com os pais. 

— E por que você não está lá? 

— Virou fiscal agora, porra? — Sal resmungou. — Tá querendo saber mais da minha vida do que minha companheira. 

Noble e Forest riram juntos.

— Esse cara quer saber da vida de todo mundo — Noble brincou. — Fofoqueiro. 

Eles riram mais enquanto zoavam Kismet, as risadas só pararam quando Forest colocou os olhos em algo atrás de Noble e ficou sério.

— Você tem visita. 

Noble se virou e franziu o cenho. O homem parado atrás dele, vestindo terno, era levemente conhecido. Se levantou e o cumprimentou. 

— O senhor deve ser o pai da Layla — suas mãos se apertaram. — Stan, se não me engano. 

— Sou eu mesmo. 

Aquilo sim era intrigante. 

Trocou um breve olhar com Andrei, perguntando-se o motivo daquele homem querer falar com ele. 

— O senhor precisa de alguma coisa? 

Stan sorriu com todos os dentes brancos e apontou para uma mesa vazia. 

— Sim, mas será que nós podemos falar em particular? 

Noble concordou e, antes de acompanhar o homem, pegou sua lata de refrigerante. Acompanhou o homem e ambos se sentaram um de frente para o outro.

— Layla está bem? 

— Ah, sim, do mesmo jeito de sempre — Stan balançou os ombros. — Mais tempo longe de casa do que próxima. Nós dois não temos uma boa relação, não como deveria ser uma relação de pai e filha. 

— Eu sinto muito. 

— Tudo bem, tanto ela quanto eu já estamos acostumados. Sempre fomos assim e duvido que algum dia isto possa mudar. Tudo piorou quando a avó dela morreu. 

Noble se lembrava. Layla amava a avó mais do que tudo, como se fosse a única pessoa que ainda importasse para ela. Provavelmente o era. 

— Layla sofreu muito pela avó. 

— Sim... 

— Bom — Noble forçou a garganta sem graça com o rumo do assunto e perguntou. — O que o trás até aqui? Até mim? 

— Aos negócios, pois bem — Stan apoiou as mãos na mesa. — Devo dizer primeiramente que estava... — pensou na palavra. — Curioso para conhecer Noble North. 

Desconfiança imediatamente o deixou atento a cada palavra. 

Não confie em nenhum político.

Eram as palavras de Aaron e Noble o seguiria até o fim. 

— Por quê? 

— É interessante que, de uma hora para outra, seu valor tenha se elevado tanto entre o seu povo. Principalmente com Justice, seu líder. O homem admira você, rapaz. Confia em você. O que você fez para merecer tanto crédito? — perguntou. — Defendendo a honra de Justice na frente de todos, treinando Espécies, inspecionando o recente trabalho de construções... seus recentes feitos são comentados por Homeland. Até dizem que você é o futuro líder da Zona Selvagem. 

Aquela foi a deixa de Noble, com um longo suspiro — um tanto quanto exagerado — puxou a lata de refrigerante e lentamente bebeu um gole. 

Qual era a desse homem? 

Eles nem sequer se conheciam e ele dizia todas essas coisas. 

Como se fossem grandes feitos. 

Noble queria gargalhar na cara dele, mas foi educado, tão educado que sua mãe se orgulharia se estivesse olhando. Piscou, fingindo confusão. 

— Eu apenas fiz o de sempre, senhor. 

— E o que é? 

— Eu sou leal aos meus — amassou o lata lentamente, atraindo o olhar do político para sua mão. Noble sorriu. Ele não estava se sentindo estranho atoa. Cada palavra, cada frase daquele homem havia sido bem calculada. Sentia aquilo como um ataque. — E eu cuido dos meus. Sempre — espremeu o metal até o fim. — E eu vou acabar com qualquer um que tentar acabar com a nossa paz. 

Stan balançou a cabeça e abriu um sorriso calmo. 

— Entendo. 

Noble ergueu as sobrancelhas. 

— Mesmo? 

— Claro. Justice admira seu coração leal, sua garra mortal. Homens bons assim são raros, muito raros — murmurou a última parte e se levantou de repente. — Foi bom conversar com você, Noble. 

Levantou-se e estendeu a mão, sendo retribuido imediatamente. 

— Digo o mesmo. 

Stan saiu do salão mais rápido do que Noble esperava, com passadas rápidas e decididas e, quando cruzou a porta de saída, seu caminhou cruzou com o de Heaven. Ambos trocaram alguns palavras que ele não pode ouvir, as vozes lá dentro eram muitas e altas mas, seja lá o que o político disse, fez o Espécie curvar os ombros quase que de maneira imperceptível, embora Noble tenha percebido. 

O homem saiu e o ruivo levantou os olhos, olhando-o imediatamente; Heaven lançou um olhar estranho e pela primeira vez em sua vida, sentiu medo do outro. 

Não era um olhar de ódio. 

Era um olhar de desespero. 

🌡️

Kaira sabia que não podia mais contar com a ajuda de Nate, então havia sobrado apenas uma pessoa a qual poderia recorrer lá dentro. 

Jonathan.

Ele fora o seu primeiro contato na época em que havia entrado naquele esquema. 

Dificilmente ela subia até o andar que ele ficava, mas fora o caso desta vez. Estava desesperada por um aliso e ele seria sua única chance de conseguir ainda mais a confiança se Jason. 

Os mesmos homens estavam reunidos numa mesa próximos de uma TV que mostravam pequenas telas conectadas as câmeras do lado de fora da construção. Kaira observou algumas com interesse, depois procurou o homem que precisava. 

— Jonathan. 

Ele se virou para ela e ainda parecia a mesma pessoa, sério e intimidante. 

— Você por acaso foi despedida? 

— Não, eu estou bem com o serviço — aproximou-se dele. — Eu preciso da sua ajuda com... — olhou de lado para os outros e chegou mais perto de Jonathan, murmurando. — Uma coisa importante. 

Ele levantou, ficando uma cabeça mais do que ela e a puxando para longe dos homens. A maioria caçoou, dizendo que Jonathan havia se dado bem. 

Jonathan a puxou com agressividade e a soltou contra a parede. 

— Pelo amor — resmungou. — Eu não sou de pedra, homem. 

Ele a cortou, sem tempo para conversa fiada. 

— O que você quer? 

— Você deve estar a par da péssima situação que estamos passando, certo? — ele concordou. — Que bom... quero dizer, é péssimo, mas bom que saiba, assim fica mais fácil. 

Jonathan revirou os olhos e Kaira bufou. 

— Eu preciso que alguém cheque todos os danos que os nossos rivais vem causando — murmurou. — Quero que os conheça, que aprenda o modo deles de agir, quero que os estude. 

— Por quê? 

Ela sorriu. 

— Vamos roubar de volta o que levaram... e muito mais. Vamos deixar um recado para que nunca mais mexam conosco. 

(...) 

Alguém de confiança era uma pessoa com que sempre poderia contar. 

E era esse tipo de alguém que estava sendo para Jason, justamente quando ele mais precisava. 

Jonathan havia feito tudo como planejado, ele era inteligente e engenhoso, além de que muito traiçoeiro. Mas ela não confiava em nenhum deles mesmo. 

Primeiro ele aprendeu tudo o que podia sobre a concorrência; local de serviço, onde se estabeleciam depois de um longo dia, horários de quando chegavam e iam embora, meios de transporte, quanto faturava, seus clientes, tudo. 

Ele só não tinha feito tudo isso em tempo recorde, como também atacara a base deles. 

Enquanto caminhava para o refeitório, onde sabia que os homens a esperavam, tentava não pensar que muitos morreram. Morreram por uma ideia dela. 

A sensação era estranha. 

Porquê, apesar de nunca ter matado alguém com as próprias mãos, sentia que agora era uma assassina. 

Talvez fosse bobagem... talvez não, mas a sensação de que tinha sangue nas mãos não passava. 

As portas do elevador se abriram e ela se surpreendeu com o número de homens agrupados. Parecia que todos estavam ali para ver um espetáculo. Kaira se esgueirou pela lateral, querendo manter distância das atenções mas, um passo a mais, e um caminho se abriu para ela como se fosse alguém importante. 

Com o cenho franzido, estagnou. 

— Lá está ela — Jonathan disse, enviando a ela um olhar gelado de cima a baixo. 

— Kaira! — Jason a saudou com um aceno, chamando-a com um gesto. — Venha cá. 

Ela caminhou através das fileiras de homens e quando estava próxima o suficiente do centro, sentiu medo. Juntos e amarrados em cadeiras, estavam seis homens sentados. Amordaçados. Machucados. 

Havia sangue em suas roupas. 

Sangue em minhas mãos.

— Jonathan me contou sobre a sua ideia e eu não posso deixar de agradecê-la. Aproxime-se e veja tudo de perto. 

Ela parou de andar quando ficou ao lado de Jason, ele estendeu a mão, oferecendo algo a ela. 

— Segura para mim. 

Era um isqueiro prateado. Kaira não entendeu o porquê de dar o isqueiro para ela. 

— Gasolina, Nate. 

Nate e mais dois homens foram até os presos com galões vermelhos, abriram-os e jogaram o líquido sobre os reféns. Cheiro de álcool preencheu o ar, assim como suspiros e gritos daqueles desconhecidos. 

O estômago dela se embrulhou, mas sua atenção logo foi desviada; Jason tocou o queixo dela levemente e os lábios de Kaira se repuxaram num sorriso tenso. 

— Senhor? 

— Você é uma aliada formidável, Kaira — o nome dela saiu como uma canção pelos lábios dele.  — Então me diga, quando se limpa um jardim, por onde deve começar? 

Kaira engoliu em seco. 

— Pelas ervas daninhas. 

— Viu? — Jason olhou brevemente para Jonathan. — Kaira sempre diz o que eu espero — voltou a atenção para ela. — Sim, você lida primeiro com as ervas daninhas, com aquilo que está no caminho e atrapalhando — ele sorriu de maneira macabra. — É o que vamos fazer agora. Lidar com o inimigo. Lidar com o empecilho.

Ele soltou o rosto dela e deu um passo para trás, tirando um masso de cigarros do bolso. Jason pegou um deles e levou aos lábios. 

Então tudo fez sentido. 

Jason queria que ela desse início ao massacre. 

A mão dela tremeu quando apertou o isqueiro, de repente gelada e suada. 

Não. 

Não. 

Não. 

Se eu não o fizer, ele vai me matar, pensou e um calafrio subiu por sua espinha. 

Não tinha saída. 

Não havia escapatória. 

E o ar em seus pulmões pareceu findar, com o cheiro da gasolina ainda sobre seu olfato. 

Sua visão desfocou por um segundo e, lá atrás, próximo da porta e longe de tudo, estava Lucis. Ele olhava para ela fixamente, balançou a cabeça lentamente e os lábios se moveram silenciosamente em uma única palavra. 

Faça

Não. 

Não. 

Não. 

Ela não queria ser a culpada por tudo aquilo. 

Faça. 

Faça

— Kaira? 

— Ela não tem culhão para isso — Nate zombou. — Perdedora. 

Não. 

Não. 

Não. 

Por que sentia que a qualquer instante poderia desmaiar? 

Droga. 

Não havia chegado tão longe para ser uma medrosa. Não. Não depois de tantas situações horríveis, não depois de machucar pessoas inocentes e fazer o que sabia ser errado. Não depois de conhecer Helena e Mighty, não depois de prometer as duas que as salvaria. 

Droga. 

Ela queria pegar aquela futura bebê nos braços. 

Queria dar esperança de um futuro cheio de filhos a Aurora. 

Faça

Queria... queria voltar para casa e abraçar seus pais, seu irmão e Noble. 

Deus, como queria poder ver Noble de novo. 

Faça

Kaira ergueu o isqueiro, girou-o e acendeu o cigarro. 

Que seja, pensou perturbada, se estou no inferno que tudo queime então. 

Jason tragou profundamente enquanto os presos se contorciam em suas cadeiras, fazendo de tudo para se soltarem. Ela estava arrepiada. Jason afastou o cigarro dos lábios e sem hesitar, jogou-o sob os pés dos homens, sobre o rastro de gasolina.

A explosão de chamas aconteceu num rompante alto e quente, carregado pelo cheiro de queimado. 

Carne humana queimando. 

E havia gritos e urros de dor, desespero e morte.

Homens implorando. 

E como o cheiro era horrível... 

Kaira não desviou os olhos, chocada demais. Horrorizada demais. 

E estranhamente acostumada a ver e fazer coisas ruins. 

Estivera errada o tempo todo. Nenhuma daquelas pessoas estava ali por um motivo se não o ódio e o dinheiro. Não havia o bem e o mal.

Apenas o mal. 

E agora ela sentia parte dessa maldade, parte dessa escuridão em si mesma; sob sua pele, coração e mente. 

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