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Não sou um monstro

Noble estava deitado de conchinha com sua fêmea, segurando Kaira em frente ao seu corpo com força e garantindo que ela estava quente e confortável. Dormira muito bem, na verdade nunca tinha se sentindo tão bem e de bom humor numa manhã, nem o barulho do despertador do celular foi capaz de fazê-lo se irritar.

Afastou-se dela e desligou o alarme, voltando para acolher o pequeno corpo entre os braços.

— Esquenta os meus pés...

Kaira se encolheu toda contra ele, gemendo baixinho e esfregando a bochecha em seu peito. Ela era linda, poderia acordar todos os dias assim, segurando-a contra sua pele. Entrelaçou suas pernas contra as dela e esfregou seus pés, como ela queria.

Ele sentiu o coração se apertar dolorosamente dentro do peito ao observar o rosto alvo e relaxado, ela parecia muito bem enquanto dormia profundamente, mas precisava acordá-la de vez. Seu turno começava em duas horas, precisava de um banho e de comida antes de ir. Tocou a pele quentinha e macia da bochecha dela, deslizando os dedos levemente pela superfície, até afastar os fios castanhos da frente dos olhos fechados.

Inclinou-se em direção ao rosto feminino e pressionou os lábios em sua testa, descendo e beijando toda a face delicada e bonita. Ela murmurou algumas palavras sem sentido e os cílios escuros se moveram conforme ela piscava lentamente, deixando-o finalmente ver o azul de seus olhos.

Pensou em como ela era linda e perfeita, em como seus corpos se encaixavam facilmente, no tom doce e provocante da voz dela, nos dentes branquinhos que costumavam mordiscar as unhas quando estava entediada e nas covinhas fofas nas bochechas.

O cheiro dela era a única coisa que sentia, forte e doce, deliciosamente bom e viciante, sempre que estava com ela em seus braços se sentia em casa, acolhido, como se aquele fosse seu lugar e que nunca deveria se afastar.

Ela é minha.

Poderia seu coração bater tão rápido dentro do peito?

Era normal que se sentisse mais quente do que o sempre, tão aquecido por dentro e por fora, tudo por que ela estava com ele?

Sentia-se completo.

— Eu amo você — sussurrou as palavras próximas dos lábios dela, capturando-os num beijo lento e macio, sem segundas intenções. Manteve a testa colocada a dela quando se afastou. — Amo muito…

— Eu amo você, Noble — Kaira disse com a voz baixinha e se espreguiçou, abrindo os braços e quase o atingindo com o punho. Ele se afastou mais e sorriu, observando-a atenciosamente. Gostava do modo como ela se torcia como uma gata, estralando os ossos e flexionando os músculos. — Caramba, parece que um caminhão passou por cima de mim.

Alarmou-se.

— Te machuquei?

— Me fazer gozar tantas vezes que nem consegui contar está mais para presente de aniversário, eu diria.

Ele se deitou ao lado de Kaira e pressionou o rosto contra o dela, esfregando-se por um bom tempo contra o corpo menor e ronronando, vibrando sobre a pele macia.

— Precisamos voltar.

— Por quê? — Kaira perguntou, tocando seu rosto e o fazendo olhar diretamente para ela.

— Eu tenho um turno daqui duas horas.

— Hmm… Quase me esqueço de que agora não somos mais crianças e que vamos trabalhar — ela deslizou os dedos pelas sobrancelhas dele, apertando-o brevemente. — Que a vida adulta seja bem-vinda.

— Crianças não fazem o que nós fizemos — disse divertido e se levantou, procurando a bermuda com os olhos. Encontrou-a caida no chão ao lado da caminhonete, vestiu-se e capturou o sutiã e a calcinha de Kaira, escondendo as duas peças em seus bolsos. — Ei, gata, tudo bem se você passar o dia na minha casa?

Escondeu uma risada quando ela se ergueu, nua e sem se envergonhar em ser vista por ele, para procurar pelas roupas íntimas. Desceu da traseira, ignorando os braços estendidos dele e caminhou nas pontas dos pés ao redor do carro, ela se inclinou para olhar embaixo do automóvel e Noble soltou um rosnar intenso ao fitar o traseiro dela.

— Você viu minhas roupas?

— Sua camisa e calça estão dentro da caminhonete, as coloquei lá de madrugada. O resto não sei — mentiu, desviando os olhos para longe dos dela. Kaira soltou um riso suave e ele grunhiu, irritado consigo próprio. Era um péssimo mentiroso. — Vamos? Se enrole nas cobertas, não precisa de roupa alguma.

Ela abriu a boca para retrucar, mas em seguida mordeu os lábios com os dentes e abriu um sorriso astucioso, seus olhos azuis tinham um brilho acentuado e sexy quando raios solares os tocavam.

— Tudo bem — Kaira puxou os tecidos e se enrolou toda, deixando os ombros e clavículas nus. — Vamos, estou faminta!

— Quando não está?

— Preciso de energia, caso contrário este corpinho não seria tão escultural.

Olhou-a de cima a baixo, dizendo:

— Vamos providenciar uma refeição gostosa para você, gata.


Algum tempo depois.


Uma águia grande e de bico dourado sobrevôo num ponto acima da árvore onde o corpo masculino descansava, o som agudo e prolongado que a mortal ave do céu fez deixou os instintos dele em alerta. Abriu, lentamente, os olhos dourados e flexionou os músculos tensos pela posição estranha que estava antes, relaxando.

Muitos pontinhos gelados e transparentes cairam dos galhos acima até sua cabeça quando se mexeu novamente, agitando levemente a copa molhada. Enquanto as folhas das outras árvores caiam quando o clima ficava frio, os pinheiros permaneciam com as suas, ele achava isso magnífico. E na primavera e verão, quando pequenas novas folhas brotavam na maioria das árvores e cresciam como uma folhagem verde, o pinheiro e suas folhas aparentemente não mudavam.

O macho capturou uma das folhas do pinheiro e com força a retirou do galho, pois era firme e compacta, e a virou em direção a boca. A água fria que a folha guardava para sobreviver escorregou e ele bebeu até o último pingo.

Satisfeito, ele deslizou com agilidade pelo galho e se equilibrou em outro com facilidade; sua pele das palmas das mãos, grossa e acostumada aos movimentos, agarraram-se em um galho forte e com o peso se impulsionou para frente, caindo com os pés num nível mais abaixo no pinheiro ao lado, silencioso como a maioria dos felinos. Repetiu o mesmo movimento algumas vezes, descendo até o nível da árvore mais baixa e flexionou os joelhos, agachando-se e fitando o lago próximo, o qual servia como fonte para alguns cervos e outros animais da Zona Selvagem, e ele esperava que ainda pudesse caçar um.

Arriscou-se a descer mais e esperou até que o sol estivesse no topo do céu, sabia que precisava ser paciente igual a água parada. Sentia o vento contra suas madeixas e amarrou os fios para trás, num rabo e se sentou confortavelmente, mantendo seus olhos sempre atentos a vegetação e em quaisquer fossem os movimentos.

Um sorriso pequeno surgiu nos lábios de Noble quando galhos magníficos surgiram e deixaram a proteção das árvores, havia algumas fêmeas com o macho. Noble esperou que ele se aproximasse da água, assim teria uma visão limpa do pescoço quando ele fosse beber água. Poderia cair sobre ele num único ataque vertical e quebrar o pescoço dele.

O animal fez o que ele esperava, no entanto, vozes altas e passos rápidos espantaram todos eles. Noble até pulou sobre a grama, em um reflexo rápido e tentou pegar o veado com suas garras, mas falhou. O veado e seu grupo fugiram rapidamente floresta adentro.

Uma praga escapou de seus lábios, pois sabia quem o havia interrompido.

Noble revirou os olhos quando Leon entrou em seu território. O irritava um pouco a forma como o pequeno o tratava, frio e distante, sempre o encarando como se fosse um inimigo. O filhote o olhou com indiferença e parou de correr, logo em seguida Bravery apareceu, desviando de Leon por pouco e correndo até a água. Seu irmão entrou no lago em único pulo, jogando água para todos os lados.

Era engraçado como o nome dele condizia com a própria personalidade, mesmo sendo um pequeno filhote Bravery era corajoso e muito inteligente, provavelmente mais do que ele quando tinha aquela idade.

Luck apareceu logo após, correndo até a água também.

— Por que estão aqui?

— Meu pai disse que precisava ficar sozinho com a minha mãe  — Leon deu de ombros, cruzando os braços. — Então minhas irmãs, Luck e eu fomos até a sua casa. Valiant disse que meu pai era um gênio e também colocou Bravery para fora. Agora estamos todos aqui. Fim.

Noble olhou para a floresta atrás de Leon, sentindo que seu coração começava a bater um pouco mais rápido.

— Kaira estava com vocês?

— Sim — Leon rosnou e ele apenas sorriu, era engraçado que o irmãozinho dela tentasse ser tão protetor. — Ela e Aurora disseram algo sobre ficar no sol. Aliás, Noble… — havia curiosidade nos olhos dele. — O que meu pai e minha mãe vão fazer?

Noble precisou se conter, segurando uma tosse.

— O mesmo que os meus.

— E o que seria isso?

Leon insistiu e Noble ficou momentaneamente calado, sem saber o que dizer. Deveria ir em frente e contar a verdade? Passou uma mão pela nuca e sorriu sem graça, desviando os olhos do pequeno macho.

— Estão apenas descansando, Leon. Um dia você também vai fazer isso.

— Mentira!

A voz alta e feminina, até meio risonha, se intrometeu quando Leon estava para abrir a boca. Os dois olharam para Kaira que, ao lado de Aurora, se parecia com uma daquelas garotas malvadas de filmes, com um sorriso malicioso, como se fosse aprontar algo.

— Verdade!

Os dois trocaram um breve olhar e ele suspirou, preenchendo seus pulmões com o delicioso cheiro que ela emanava. Kaira se aproximou, meio que sorrateiramente e abriu os braços, passando-os ao redor da cintura dele. Ela apoiou o queixo em seu peitoral e Noble olhou para baixo, encarando intensamente sua garota.

— Vai contar ao meu irmãozinho o que nossos pais estão fazendo agora?

— Cala a boca — ele rosnou baixo e segurou um monte de cabelo castanho de Kaira, enrolando os fios macios entre os dedos.

— É excitante ouvir você falando assim — observou fixamente os lábios femininos quando Kaira os mordeu. — Principalmente quando me segura com força.

— Kaira — grunhiu e se esforçou para desviar os olhos dela, Leon os perscrutava, ainda esperando pela conclusão de sua pergunta. — Por que não conversa com o seu irmão?

— Claro — ela revirou os olhos. — Mas sem tabus, detesto a história da cegonha. Ainda não acredito que minha mãe teve a pachorra de nos contar uma coisa tão idiota, sorte que nós tivemos Valiant para contar toda a verdade. Humanos são estranhos.

— Você é humana.

— Mas eu sempre digo a verdade — Kaira apertou o seu nariz e Noble recuou, ela sabia que ele odiava aquilo. — Okay, crianças! — ela gritou, chamando atenção de Bravery, Luck e Aurora, Leon já estava ao lado dela. — Aproximem-se, tem algo de extrema importância que vocês devem saber. Ao não ser você, Aurora, sua danadinha!

As bochechas da fêmea Presente coraram.

— O que eu fiz?

— Oras, vai se fazer de desentendida? — Kaira perguntou, sorrindo maliciosamente. — Estamos cientes de que você não é nenhuma santinha, ou é, a santinha do pau oco.

Deus, Noble suspiro e pressionou os lábios para não rir. Como Kaira conseguia falar tantas bobagens em períodos tão curtos de tempo?

— Você entendeu? — ela deu uma cutucada nele. — Santinha do pau oco!

Os dois trocaram um olhar divertido e começaram a rir, deixando os mais jovens confusos.

— Cara, como você é irritante.

— Que seja — Kaira se sentou no chão de pernas cruzadas e todos a seguiram, logo estavam formando uma roda. — Pode repetir sua pergunta, irmãozinho?

Leon olhou para ele e depois para Kaira.

— Perguntei a Noble o que nossos pais estão fazendo, ué.

— Ótimo, chegamos no ponto crucial! — Kaira juntou as mãos, teatralmente, e Noble revirou os olhos, por que mesmo era apaixonado por ela? — Você sabe que nossos pais se amam muito, não é? — Leon assentiu. — Então, pequenos — ela olhou para Luck, depois para Bravery e prosseguiu. — Quando duas pessoas se gostam de verdade, como nossos pais, eles ficam juntos. Entendem que os machos são diferentes das fêmeas, certo?

— Sim! — eles responderam juntos, com os olhos concentrados nela, embora Bravery não fosse entender nada.

— Quando vocês crescerem vão conhecer alguém legal o suficiente para querer se encaixar nela, como metades, por isso as fêmeas são diferentes dos machos. Então, quando estiverem juntos vão, hã… Compartilhar momentos especiais, como nossos pais estão fazendo agora.

Leon ergueu as sobrancelhas.

— Eles estão se encaixando?

— Sim, como se estivessem conectados!

— Como o carregador na tomada?

Noble e Kaira olharam para Luck após a pergunta. Ele tampou a boca com a mão, achando engraçada a expressão no rosto da amiga.

— É, isso, é basicamente assim. O macho é o carregador e a fêmea a tomada… Cara — Kaira deu um tapa na própria testa e Noble não aguentou, precisou gargalhar. — Esta é a conversa mais estanha que eu já tive. Enfim, o termo é parecido, Luck. Mas, vamos deixar bem claro que você só vai colocar o seu pa— ela tossiu, disfarçando. — Pênis, vocês sabem que é esse o nome, lembra? Eu te ensinei isso quando estavamos olhando o livro de biologia, Leon. Todos os garotos tem e é isso que os torna diferentes das garotas.

— Eu lembro!

— Legal… Vocês só devem usar o seu pênis com uma pessoa especial, de confiança, que te ame e cuide de vocês. Precisam ter cuidado e segurança, é essencial, porquê quando adultos ficam juntos dessa forma bebês nascem, e vocês dois sabem que os nenéns são barulhentos!

Os dois concordaram e Kaira suspirou.

— Os bebês não vem das sementes da melancia, irmão? — Bravery perguntou, confuso.

— Quem te disse isso, Very? — perguntou de volta, achando graça.

— Luck!

Todos os olhos se voltaram para o filho de Jericho.

— Foi Trust quem me disse, a mãe dele que contou tudo!

— Típico da Vanni — Kaira riu. — Ela constantemente cora quando eu digo alguma besteira no meio das mulheres. Parece que a família dela sempre foi muito... preservada nesses assuntos — ela o cutucou. — E você sabe que Smiley e Vanni são fofos, aposto que o sex—

— Por favor, não termina — colocou o dedo sobre os lábios dela. — Aurora não tem que ouvir isso.

E era verdade, a pobre fêmea estava rubra. Keira balançou os ombros.

— Bem, nós acabamos por aqui, para mais detalhes vocês devem estudar e fazer as tarefas da Anna, não conte o que eu disse para a sua mãe, Luck! Agora vão brincar, fica de olhos neles, Aurora — ela se levantou e estendeu a mão para ele, Noble foi logo atrás. — Noble e eu já voltamos.

Kaira o puxou com força pela mão, arrastando-o consigo para dentro da vegetação mais densa. Eles andaram por alguns minutos em completo silêncio, enquanto ele se manteve atento a natureza ao redor de ambos, o episódio com a cobra ainda o assustava e, apesar do terreno sempre ser verificado, não podia deixar de se preocupar. Os animais que conhecia eram previsíveis na maior parte do tempo, mas não podia confiar e baixar a guarda, e uma cobra podia facilmente se esconder entre os arbustos ou nos galhos altos.

Noble, definitivamente, odiava répteis.

Assistira documentários o suficiente sobre eles e outros animais que nunca vira, graças ao fato da Stella ser uma veterinária.

Em um ponto distante do lago Kaira soltou a mão dele e começou a caminhar de um lado para o outro, deixando-o confuso.

— O que foi?

— Não era assim que eu tinha planejado aquela conversa com meu irmão!

— Eu achei muito boa — era verdade, ele mesmo não tinha pensado em nada melhor e não podiam ser tão diretos. — Você explicou o básico e eles ficaram satisfeitos — ele brincou. — Não precisava mostrar o passo a passo.

— Sério? — o olhar dela era mordaz. — Carregador e tomada?

— Poxa, gata — aproximou-se dela, puxando-a para um abraço apertado. — Quer ver meu carregador agora?

— Vai se foder, Noble.

🌡️

Kaira estava surpresa com a quantidade de suturas que existiam, para cada caso havia um modo, dependendo de quem o fazia. Além de que havia várias normas básicas para começar os pontos, e mais outras para quando não o fazer. Os materiais a deixaram confusa no começo, mas usou o seu caderno de desenho para registrar cada um dos equipamentos com traços de lápis, os desenhou e escreveu ao lado de cada um o motivo de usá-lo.

Haviam pinças de dissecção, porta agulhas — usados para a condução da agulha curva —, também tinha as agulhas retas;  traumáticas, quando o fio não vem montado e há um orifício para sua colocação ou atraumáticas, quando já estão montadas com o fio.

Era confuso.

Ela gostava especialmente de decorar as diferenças entre os fios cirúrgicos, tinham os absorvíveis e os não absorvíveis, todos podendo ser de origem animal, vegetal ou sintética.

— Fale-me novamente sobre os tipos de suturas.

Layla estava sentada em uma poltrona ao lado do leito de sua avó, uma velha senhora que estava com câncer no pâncreas. Infelizmente, a doença foi detectada tardiamente, se espalhara muito rápido e prognóstico da senhora era ruim.

A nova amiga de Kaira era linda, ao menos era o que ela pensava sempre que olhava para Layla.

A pele dela era negra e perfeita, os fios de cabelo eram escuros e totalmente cacheados, caiam um pouco abaixou dos ombros, quase alcançando os seios; o rosto era todo delicado, com olhos inteligentes e lábios grossos.

O que mais gostava em Layla era a paciência dela, poucas pessoas ficavam quietas enquanto Kaira falava sem parar. Fazia três semanas que estavam conversando todos os dias, sentia que ela já fazia parte de sua vida. Era sua primeira amiga mulher — que não fazia parte dos Novas Espécies e que não era companheira de ninguém — estava feliz com isso.

Layla era filha única de um deputado que apoiava muito a causa dos Novas Espécies, aliado de Justice. Ela morava com a avó até a mesma ficar doente e nos hospitais humanos, do lado de fora dos muros. As duas andaram passando por alguns perigos, então Homeland ou a Reserva eram o lugar ideal para que elas pudessem ter paz em um momento tão crítico de suas vidas.

Elas vieram para a Reserva, onde a senhora poderia ficar mais próxima da natureza.

— Na sutura descontínua os fios são fixados separadamente, podendo variar a tensão de acordo com a necessidade em cada ponto. É considerada mais segura, já que o rompimento de um ponto não inviabiliza a sutura toda.

Layla leu rapidamente as informações que estavam no caderno em sua mão e concordou, fazendo com que Kaira sorrisse orgulhosa.

— E a sutura contínua?

— Na sutura contínua, o fio é passado do início ao fim sem interrupções. É uma sutura de execução mais rápida que a descontínua. É mais hemostática, tendo a mesma tensão em todo percurso da sutura — Kaira respirou, continuando sem hesitar, as respostas estavam vindo com facilidade em sua mente depois de ler bastante. — Mas o rompimento de um ponto pode comprometer toda a sutura.

— Ótimo — Layla sorriu e Kaira se agitou, satisfeita consigo mesma. — Mais perguntas ou quer parar por hoje e ir almoçar?

— Vamos almoçar, estou faminta!

— Quando não está?

Kaira encolheu os ombros, rindo baixinho.

— Você e Noble tem uma péssima mania de sempre falar isso.

— Todos que te conhecem falam isso, Kaira.

Layla brincou e se virou para a senhora que dormia tranquilamente. A morena apertou a mão da avó e Kaira se sentiu abalada pelo olhar triste da amiga, aproximou-se das duas e apertou o ombro de Layla.

— Ela está bem assim, não sente dor alguma.

— Me dói o coração saber que quando acordar a dor vai voltar.

— Vou aplicar os remédios nela assim que abrir os olhos, depois vamos conversar tanto que ela vai me implorar para calar a boca.

Layla sorriu, virando-se para ela.

— Obrigada, Kaira. Você tem sido a melhor companhia que tive em anos.

— Que bom! — abraçou-a sem se importar em estar sendo invasiva demais, estava fazendo tudo por instinto, tudo porque se importava com aquela garota. — Agora vamos comer, eu tô mesmo morta de fome, mais um pouco e você vai ouvir meu estômago roncar!

As duas sairam do Centro Médico e Kaira rodou a chave da caminhonete entre os dedos, aquele carro agora era definitivamente dela, Jericho mesmo dissera quando fora entregar. Ela particularmente tinha achado bem engraçada a carranca na cara dele ao descobrir o que tinha acontecido na traseira do automóvel. Ligou o carro e dirigiu até alguns quarteirões de distância de onde trabalhava e estudava, até o hotel. Havia um monte de jipes e carrinhos de golfe estacionados nas laterais da rua, além de outros no estacionamento.

Estava lotado, levando em consideração que todos almoçavam juntos.

Ela e Layla entraram no prédio, passaram pela entrada principal e depois foram até um pátio interior do tamanho de um ginásio, abriram as portas duplas juntas e lá estavam todos. As mesas eram cumpridas e largas, estrategicamente posicionadas e alinhadas as lixeiras. Havia quatro filas e um balcão de aço longo do outro lado do saguão.

Entraram na fila e seguiram plenas pela esquerda, onde as carnes eram totalmente cozidas, enquanto do lado direito eram feitas do modo como Novas Espécies gostavam, pareciam cozidas, mas ao morder qualquer um saberia que estava crua. No entanto, muitos deles comiam carnes cozidas também, haviam vários deles na frente das duas.

A variedade de comida do buffet era grande, havia praticamente de tudo.

Kaira pegou filés de frango, duas panquecas e batatas fritas, depois pegou um pedaço grande de bolo frapê. Ao invés de refrigerante pegou um suco de laranja e por último os talheres.

Sentaram-se na mesa que Kaira sempre dividia com os amigos, mas eles ainda não estavam ali.

Ela cortou um pedaço do frango e se deliciou com o gosto do limão em sua boca, misturou com o molho das panquecas e se sentiu muito melhor. A hipoglicemia era um problema que ainda a incomodava, ficar mais de três horas sem comer era horrível. Os amigos brincavam sobre o apetite dela, mas a verdade era que ficar sem se alimentar poderia se tornar um inferno.

Estava com os olhos fechados apreciando o sabor da sua comida e, quando os abriu, pode ver o seu quarteto preferido entrar pela porta do refeitório. Noble caminhava na frente, todo vestido nas cores escuras do uniforme dos oficiais que, por obra do destino, moldava com perfeição cada um daqueles músculos que ele conseguia em treinamentos; a feição dele era séria e intensa, com os fios loiros e alaranjados amarrados para trás ele parecia ainda mais perigoso.

Atrás dele vinham Kismet, com o longo cabelo negro caindo pelas costas, Salvation e Forest, este última não usava o uniforme ONE, mas roupas claras e parecidas com as dela. O macho seguira o caminho da mãe.

De repente os seus olhos se encontraram com os de Noble e ela se sentiu derreter com o sorriso reconfortante que ganhou dele. Sorriu de volta e acenou, indicando a cadeira ao lado e ele assentiu.

— Quando Noble aparece você fica radiante, como se ele fosse tudo o que importa — Layla disse, suspirando. — Eu queria uma paixão assim.

— Não estou apaixonada por ele, eu o amo.

— Tá vendo? — a morena apontou o garfo e Kaira riu, achando graça, no entanto seu sorriso se desfez ao ver os olhos da amiga brilharem em fúria. — Enquanto muitos jovens vivem uma vida normal, descobrindo o amor e fazendo amizades, eu continuo vivendo o inferno que é fugir dos inimigos do meu pai e ainda vou perder a única pessoa que me ama de verdade.

Layla bateu as mãos contra a mesa, olhou para ela uma última vez e saiu praticamente correndo do refeitório, sem nem ao menos terminar sua refeição. Kaira ficou congelada no lugar, deveria ir atrás dela ou deixá-la ter seu momento sozinha? Tinha certeza de que Layla se arrependeria de dizer aquelas coisas, ela era tão doce e pacífica.

Ela com certeza precisava de alguns instantes em paz.

— O que houve? — Forest perguntou ao aproximar com a bandeja de comida. — Pude sentir o cheiro de raiva e dor em sua amiga, ela está bem?

Kaira negou, balançando a cabeça.

— O que ela tem? — Kismet perguntou ao se sentar ao lado esquerdo dela. — Você a irritou? Chata do jeito que é, não duvido muito.

— Cala a boca — Noble se sentou à direita dela e rosnou para o outro, mas voltou sua atenção docemente para ela. — O que foi, Kaira?

— Ela só está passando por um momento difícil e não tem ninguém ao lado dela, eu estou lá, mas só a conheço há algumas semanas. Layla ficou triste porque não tem ninguém.

— Forest podia fazer companhia para ela — Kismet sugeriu. — Ele é tão mansinho, como uma fêmea.

Forest fez menção de levantar, mas Noble o fez antes, erguendo-se acima de todos.

— Chega! — ele praticamente rugiu, chamando atenção dos outros pelo refeitório. — Vocês não a conhecem e não vão encher a paciência dela, agora comam suas comidas e vamos voltar ao trabalho.

Kaira se surpreendeu com a inesperada liderança do felino entre os amigos. Kismet se calou e Forest voltou a cadeira, enquanto Salvation apenas devorava a própria comida. Ela encontrou o olhar sério do amigo e sorriu, Noble se sentou novamente e Kaira colocou uma mão sobre a coxa dele.

— Como foi o trabalho hoje?

— Horrível — ele declarou com a voz rouca, os olhos dourados mostrando a visível irritação, era estranho para ela vê-lo assim, geralmente ele era gentil e calmo. — Hoje cedo havia um grupo de idiotas no portão, nos ofendendo, eu… não entendo o motivo de nos odiarem.

— Humanos, em sua maior parte, são um bando de idiotas que apenas destroem o mundo — Salvation resmungou, sua expressão se tornou praticamente como a de Fury ao se sentir bravo. — Mas nós precisamos ignorar eles, mesmo que seja difícil.

— O que ele diz é verdade, você só precisa os ignorar, como se fossem aqueles valentões de filmes. Eles vão causar sua própria discórdia.

— Espero que seja logo — Noble resmungou. — Eu não sou um monstro.

— Claro que não é!

Kaira não fazia ideia do que eles ouviram nos muros da Reserva, mas fora o suficiente para os abalar.

— Uh, uh — atraiu a atenção de Noble quando a unha dele cortou um pedaço de carne vermelha e sangue escorreu pelo prato branco. Ela encarou bem o corte e sorriu. — Eu faria uma sutura intradérmica na sua carne, daria um ótimo resultado estético!

— Okay, sabichona — ele riu. — Faça isso com o seu frango, minha carne não é seu brinquedinho.

🌡️

Não entendia o motivo de sentir tão magoado e frustrado com as palavras que foram dirigidas a si mesmo o dia todo, por pessoas tão insignificantes quanto insetos mas, que de alguma forma, o machucaram. Estava ciente de que poderia encontrar qualquer coisa do outro lado do muro, só não esperava tanto ódio gratuito, como se ele realmente tivesse feito algo horrível ao mundo.

A culpa não era dele que seu progenitor tivesse sido criado como um animal de laboratório.

Aquelas palavras não eram só de rancor, mas de humilhação e maldade.

Noble perscrutou o próprio reflexo no espelho como nunca fizera antes. Sabia que era diferente, até mesmo mais animal e selvagem do que seus amigos, olhar-se daquele modo era como ver a pintura nítida de seu pai. Eles eram iguais em aparência, mas não em personalidade, ou talvez fossem. Ele suspirou, incapaz de esquecer as palavras e frases malditas que lhe disseram o dia todo.

Até mesmo Novas Espécies tinham medo de Valiant, sentiam o mesmo por ele? Se sim, então o que ele deveria esperar daqueles pessoas lá fora além de medo ao olharem para o rosto dele?

Quantos mal entendidos seriam resolvidos se os humanos apenas tivéssemos coragem de dialogar pacificamente com o seu povo?

Ele tocou as bochechas altas do rosto com as pontas dos dedos e depois encarou as próprias unhas, estavam curtas e ainda assim eram capazes de rasgar a carne com facilidade. Haviam calos nas pontas de seus dedos e na parte superior das palmas, tudo por ser Espécie.

Nunca tinha se importado tanto com o que era até então, até ouvir aqueles humanos nojentos.

Noble recuou o punho direito e com força golpeou a quina de mármore do balcão do vestiário masculino, uma dor excruciante e quente se alastrou por sua mão e subiu por todo o braço e ele segurou o próprio punho, irritado.

— Nossa, eu entrei aqui para me drogar e o que encontro é um macho puto da vida — uma voz irônica soou atrás dele, fazendo-o se virar automaticamente. Não ouvira aquele homem humano, nem ao menos sentira o cheiro dele, estava tão distraído. — A doutora Trisha vai odiar se eu entrar em outra confusão, mas pode vir se você quiser, gosto de irritá-la.

— Ela tem um companheiro.

— E daí?

Noble rosnou, dando um passo em direção ao humano. Ele deveria ter um metro e oitenta e cinco, com ombros largos e de aparência forte, saudável. O cabelo era curto, castanho e os olhos também, as expressões mostravam que ele costumava sorrir com frequência, assim como fazia naquele momento.

Parecia não ter medo.

— Fique longe da doutora.

O humano fitou o rosto dele e o avaliou, por fim fez um gesto de desdém com a mão e se sentou em um dos bancos, largando uma mochila no chão.

— Que seja, você é um dos preciosos filhotes, não quero papo com você, bebezinho da mamãe.

— Você…

— Estou aqui há anos — o homem revirou os olhos, ainda com um sorriso sarcástico entre os lábios. — Aliás, sou Aaron Morgan e faço parte da Força Tarefa — ele estendeu a mão, Noble não se moveu para o cumprimentar. — Sem aperto? Tudo bem, para falar a verdade gosto da sinceridade de todos vocês, então vamos ficar numa boa.

Noble ficou parado, em completo silêncio, apenas observando Aaron mexer na mochila escura. O homem tirou uma seringa de dentro de uma caixinha e ele se surpreendeu, sabia o que era aquele líquido dentro do recipiente. Aaron tirou a camisa e depois a tampa da injeção, deu alguns petelecos na agulha e mediu um espaço de três dedos do umbigo até a lateral da barriga, onde aplicou o líquido.

Ele sorriu e ergueu os olhos para Noble.

— Isto é ins—

— Eu sei o que é — o cortou. — Insulina. Kaira, minha melhor amiga, também usa.

— Então ela deve me entender bem! — Aaron enfiou a seringa em uma sacola e a devolveu para a bolsa. — Acho que já ouvi esse nome em algum lugar.

— Provavelmente, ela costuma jogar com alguns homens da Força Tarefa e Tim Oberto a ensinou dirigir.

— Ah, me lembrei, disseram que ela pode me derrotar no pôquer.

Noble sorriu pela primeira vez, orgulhoso.

— Ela com certeza pode.

— Gostaria de vê-la tentar — Aaron colocou a camisa, levantou-se e jogou a mochila sobre o ombro. — Você é um rapaz legal, hã…

— Noble é meu nome.

— Noble é um bom nome — ele estendeu a mão e dessa vez a apertou. — Viu? Eu não o mordi, nem todos os humanos são uns babacas, embora a doutora ainda me trate como um. Aparece no bar do hotel esta semana e leve sua amiga, quem sabe ela e eu não jogamos um pouco, estou animado para essa batalha de titãs.

— Nós estaremos lá!

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