Automóveis, paz e amizades
Dois anos depois
Reserva.
O estômago de Kaira se contraiu e nervosismo correu por suas veias quando Kismet segurou o volante da SUV. Ele estava tão confiante e sorridente que era assustador. Não quero morrer, sou tão jovem. Ela se segurou no banco e verificou o cinto que abraçava seu peito com força, estava segura.
— Cuidado para não vomitar aí atrás, gracinha.
— Cuidado você, vai vomitar uma bola de pelos no volante.
Eles trocaram um olhar divertido pelo retrovisor do carro.
Tim Oberto estava os ensinando a dirigir e era muito bom pilotar na estrada de terra da Reserva, rápido e sem se importar com mais nada além do som alto do rádio; poderia se sentir em qualquer lugar do mundo quando estavam fazendo aquilo, mas o homem estava muito ocupado ultimamente, salvando e protegendo Novas Espécies, ela o admirava muito por isso, apesar da personalidade dele ser detestável às vezes.
Entendia que ele só queria proteger todos, como um grande avô, pois era isso que ele era.
Kismet dirigiu por bastante tempo e depois foi a vez dela, claro, logo após ajeitar bem o banco e esticar suas pernas o máximo que conseguia. Aqueles carros eram ideais para pessoas grandes de verdade.
Ela era boa na direção, não deixava o carro morrer e tinha pegado com facilidade os movimentos do câmbio.
Não quero me gabar, pensou, mas sou ótima dirigindo!
— Estaciona perto do hotel, Kaira — Tim disse e ela seguiu sua instrução, depois desatou o cinto e sorriu, orgulhosa. — Vocês dois estão indo muito bem nas lições de direção.
— Mas eu sou melhor, não é? — Kismet se colocou entre os bancos da frente subitamente, assustando os dois. — Fala para ela, avô.
— Juro que vou te colocar sobre meus joelhos e te dar uns tapas, garoto — Tim disse, mas Kaira e amigo deram risadas, sabiam que era uma brincadeira pelo tom de voz do homem. — Os dois são bons, mas as mulheres sempre são mais inteligentes e teimosas do que os homens, Kismet, é bom que entenda isso.
— Não essa — ele empurrou o ombro dela, brincando.
— Você está com inveja porquê seu avô me prefere, eu entendo e o perdôo, pobre alma ciumenta.
— Cala a boca, garota!
Eles riram juntos enquanto saiam do carro e Kaira se despediu de Tim com um abraço apertado.
— Apareça mais, quero jogar pôquer com a Força Tarefa, gosto dos seus homens.
— Vamos marcar uma noite. Você ainda não conheceu Aaron, um membro que está conosco há alguns anos, aposto que ele ganharia.
Aquilo era interessante, ela queria conhecer esse tal soldado, principalmente porque sabia que ele era inteligente e conhecia a verdade sobre o segredo que guardava.
— É só trazê-lo, vou mostrar para ele o que é jogar — ela piscou, atrevida. Tim sorriu para o desafio dela. — Até mais!
Os dois se despediram e caminharam um pouco, indo em direção ao grande prédio onde os Novas Espécies treinavam. Quando entraram e fecharam a porta, foi atingida em cheio pelo bafo gelado do ar condicionado ligado. Havia muitos aparelhos de exercícios, como esteiras e bicicletas, também pesos para os músculos, muitos machos estavam por ali praticando.
Andaram mais e chegaram na frente do ringue, um espaço delimitado por cordas grossa, onde três Novas Espécies que ela conhecia muito lutavam com luvas de boxe.
— Vou ficar por aqui.
— É lógico que vai — ela revirou os olhos para Kismet e ficou olhando ele tirar a camisa, os sapatos e vestir as luvas. Com um único pulo ele estava na luta, partindo direto para cima de Noble.
Kaira os deixou e foi em direção a outra sala, o seu lugar preferido naquela prédio. Geralmente, se estivessem brincando, ela entraria no ringue e se juntaria a eles, mas muitos machos estavam ali hoje.
Sorriu ao constatar que as três paredes de escalada estavam praticamente vazias e nenhum macho Nova Espécie ou humano praticava na do meio. A grande parede de vinte metros era dividida entre três tipos; a primeira era coberta por pedras, a segunda suave e com lugares onde apoiar as mãos e os pés e a terceira parecia um penhasco de verdade, com apenas pequenas fissuras.
O chão logo abaixo era revestido, muito bem acolchoado e macio.
Ela estava pensando em subir quando alguém cutucou seu ombro, virou-se e sorriu sem graça, era quem menos esperava ver.
— Oi, Heaven.
— E ai, Kaira — o sorriso dele era lindo e charmoso, na verdade tudo nele era bonito, desde os músculos proporcionais a altura, os olhos de cores chamativas eram o que ela mais achava atraente nele, a cor azul salpicada por singelos pontos dourados. — Tudo bem?
— Tudo sim — ela não conseguiu conter um riso e ele a olhou confuso, precisava se explicar. — Desculpa, só que faz tanto tempo desde a última vez que eu te vi e você era bem menor, talvez assim? — mostrou uma altura que deveria ficar quase nos seus seios. —Agora está enorme e forte, a genética de vocês é realmente incrível, queria ser tão alta assim.
— Você é alta para os padrões humanos com o qual estou acostumado, minha mãe é baixinha — olhou-a de cima a baixo. — Quanto tem de altura?
— Um metro e setenta e cinco, mas desde então não cresci mais.
— Uau, incrível!
— É, eu tenho meu charme — os dois sorriram e ele desviou os olhos para a escalada. — Eu vou ir, quer me acompanhar?
— Claro!
Kaira colocou luvas especiais e ficou com os sapatos, eles ajudavam na tração e assim ela não escorregaria. Heaven não tinha problemas quanto aquilo, o corpo dele era todo preparado para tal atividade.
— Vamos lá!
Ela foi na frente, agarrando um dos apoios de mãos. Era bastante sólido, com bordas para ajudar o alpinista a se manter firme. O espaço era levemente curvado e seus dedos cabiam perfeitamente neles. Não havia nenhum tipo de apoio até dois metros e foram as mãos de Heaven que a ajudaram a chegar no alto, onde podia firmar as solas dos pés.
— Obrigada — murmurou, focando os olhos no alto e subindo mais.
— Por nada.
Suor escorria por sua testa quando estava muito distante do chão, sorriu e parou um pouco, respirando fundo. Os músculos de seus braços queimavam pela força, mas era gostoso. Ela gostava daquele tipo de esporte e tinha praticado várias vezes com Noble e Kismet.
Salvation e Forest eram mestres em escalar e pular, lembrava-se de tê-los visto muitas vezes ali quando criança, ambos se jogando nos braços de seus pais lá embaixo sem medo.
— Quer descer? — Heaven estava alguns centímetros abaixo dela, talvez pensando que ela cairia. O cabelo dele era interessante, com mechas claras e outras vermelhas e totalmente predominantes. Balançou a cabeça, negando a pergunta. — Parece cansada.
— Não estou — respondeu e subiu mais, satisfeita por estar quase no topo. — É tão bom subir aqui e olhar para baixo.
— Pensei que humanos tivessem medo de altura, minha mãe não gosta disso.
Ela balançou os ombros.
— Aurora nunca subiria aqui e ela é Nova Espécie, ela tem medo de altura e odeia baratas. Posso ser humana, mas não sou fraca.
Heaven riu, alçando-a rapidamente.
— Nunca mais digo nada, senhorita língua afiada.
— Não quis ser grossa.
— Tudo bem — a mão dele tirou alguns fios suados da frente dos olhos dela. Kaira teve o instinto de recuar, mas não podia fazer nada ou cairia. Seu estômago gelou ao pensar na queda. Um humano normal se machucaria, mesmo com o estofado. — Gosto da sua sinceridade.
— Novas Espécies sempre me dizem isso — ela engoliu em seco, queria descer, não se sentia totalmente a vontade com ele. — Vamos voltar, certo?
— O que quiser, seu pedido é um ordem.
Descer não foi tão fácil, seus pernas vacilaram um pouco, mas se recuperou. Quando estava a cinco metros do chão, Heaven pulou e caiu de pé, afastando-se para dar espaço para ela. Ela só fez o mesmo quando faltava dois metros, se jogou e foi recebida pelo macio, riu quando seu corpo rolou para o lado.
— Toma!
— Obrigada, Heaven! — pegou a toalha e secou o rosto e pescoço, estava tão suada que queria tomar banho o mais rápido possível. Ela ergueu um braço, testando o cheiro embaixo. Não fedia, mas seu faro não era incrível como de um Nova Espécie. — Espero não estar fedendo.
Ele se aproximou, farejando o ar e sorriu com o canto dos lábios.
— Seu cheiro continua delicioso.
Uau, direto. Ela gargalhou alto, com direito a jogar a cabeça para trás. Ainda bem que não estava bebendo água, ou teria tossido tudo e não seria uma visão legal.
No entanto, Kaira parou de rir quando um corpo espetacular invadiu sua vista. Saboreou a visão da pele dourada de Noble, focando os olhos em seu peitoral perfeito e largo. Todo musculoso e sarado, quase atingindo a altura máxima e completamente maduro, pronto para ela. Não tinha como não olhar para o abdômen marcado e suado pelo tempo que lutava.
A fina linha de pelos dourados que marcava o caminho da felicidade para dentro da calça dele era espetacular, roubava todo o seu ar e levava todo o calor de seu corpo para um único ponto. Seu ventre doeu de prazer e desejo.
Os braços dele estavam mais fortes do que nunca, com músculos definidos. Ele bebeu água e sorriu quando Kismet disse algo. Como era perfeito para ela, amava o sorriso dele.
Calor.
Tão quente.
Ela suspirou fundo e apertou os dedos, queria juntar suas pernas e se encolher como um casulo, não podia tocá-lo como queria e nem beijar todo aquele corpo. Como era frustrante e doloroso, principalmente para a sua feminilidade.
— Você me acha atraente?
Ouvir a voz de Heaven tão próxima a levou ter a sensação de que alguém jogava um balde de água gelada em seu corpo. Ele estava muito próximo, quase colando nela e respirando fundo. Kaira o empurrou para trás quando ele investiu em sua direção, rosnando suavemente.
Droga, ele havia sentindo o cheiro de sua excitação e provavelmente qualquer macho que ficasse a meio metro dela também sentiria.
— Não! — se afastou, olhou para os lados e caminhou até o bebedouro vazio, mas ele não a deixou em paz tão facilmente. Veio atrás dela como uma cão de guarda, farejando e fazendo sons. — Se afasta, Heaven.
— Eu... não entendo, por que está excitada se não por mim?
Ela queria rir na cara dele e dizer que ele não era o único macho naquele lugar, aliás, havia muitos deles, poderia estar atraída por qualquer um e ele nunca saberia dizer qual. Entretanto, algo nela talvez a tenha traído, seus olhos, mesmo que por poucos segundos se voltaram para Noble e Heaven pareceu ter percebido.
O macho deu mais um passo em sua direção e ela foi para trás, querendo distância.
— Esqueça isto.
— O quê?
— Você e Noble não vão ficar juntos, se ele a quisesse ja teria te tomado, é o que machos fazem quando querem uma fêmea. Ele não te quer como eu, vocês são só amigos.
Aquilo doeu mais do que um soco, quase tão pior do que as presas quentes da Cascavel Diamante. Algo em seu corpo se tencionou e todo o prazer de olhar para aquele macho fenomenal se transformou em náusea.
Kaira não queria pensar naquilo, isso matava completamente suas esperanças de estar nos braços de Noble novamente. Eu prometi não forçar nada, pensou, prometi e ele é só meu amigo.
As palavras de Heaven a fizeram se lembrar de que ela e Noble não tinham mais um relacionamento. Doeu. Ele poderia apunhalar o estômago dela que não seria tão ruim. Olhou para os olhos azuis e resolveu ser sincera, exatamente como eles costumavam ser e ela esperava que doesse também.
Era um pouco vingativa.
— Olha, Heaven. Você é um macho atraente, mas você e eu — apontou para os dois, para deixar bem claro e um sentimento horrível tomou seu coração, ela queria que ele se sentisse exatamente da mesma forma— nunca vai rolar. Não estou interessada. Dê o fora. Me deixa em paz!
Heaven a olhou chocado, mas se foi. Ele virou os calcanhares e caminhou até a porta de saída, ainda com uma expressão assombrada no rosto, ela também estava assustada com o próprio comportamento.
Ficou parada próxima do bebedouro e conforme os minutos se passavam sua pele ficava mais gelada por causa do ar, mas não se moveu. Choraria se fizesse algo. A película protetora que a impedia de desmoronar em tristeza e ódio estava quase se rompendo e ela com certeza não queria ter outro ataque, não na frente dos outros machos.
Estou cansada dessa merda.
— Caramba, como você está gelada — era a voz de Kismet, ele gargalhou ao redor dela, provavelmente por algo que alguém dissera. Ela não se moveu ou respondeu, ainda imersa naquela nuvem cinzenta de sentimentos misturados. Queria tanto vomitar. — Kaira? Você está pálida, tá tudo bem?
— Me ajuda — pediu num murmuro. — Me leva até o banheiro.
— Kaira?
Droga, não podia olhar para ele ou seria o seu fim.
— Kismet, por favor.
— Tudo bem.
Um braço passou por baixo de suas pernas e o outro segurou suas costas, pegando-a como uma noiva. Ela encostou a bochecha na pele quente e tentou segurar as lágrimas, mas não teve como, o calor que subia por seu pescoço até às bochechas queimou e elas se desmancharam, seus olhos arderam. Precisou agarrar o pescoço do amigo, correu as mãos pelo couro cabeludo e segurou os fios negros com força.
Sentia que estava protegida com ele, a salvo, como se ele fosse uma âncora e a impedisse de simplesmente vagar perigosamente.
Ele correu rápido e eles chegaram no banheiro feminino, Kismet o invadiu sem se importar e entraram em uma cabine juntos.
— Está machucada? — ele limpou as lágrimas de seus olhos. — O cheiro da sua dor é tão intenso.
— Você não precisa ver isto — aproveitou que estava próxima do vaso e vomitou, enjoada. As mãos dele seguraram seu cabelo e ela precisou vomitar novamente depois de dar uma pausa para respirar. Se sentia melhor com o toque quente em suas costas.
— Não sinto cheiro de doença em você, mas podemos ir até o Centro Médico depois daqui. Talvez você precise de um pouco de insulina, não sei.
Ele estava falando sério e parecia preocupado de verdade, ela acharia fofo se não estivesse se sentindo um lixo. Kismet nunca agia de maneira tão adulta, era praticamente um milagre.
— Você é um bom amigo — ela limpou a boca e se levantou depois de dar descarga, foi até uma das pias e se lavou, fez bocejo e cuspiu. — Obrigada, Kismet... Só preciso comer um doce.
— O que aconteceu?
Ela olhou para o reflexo do espelho e Noble estava encostado na porta da cabine do lado, encarando-a com intensidade o suficiente para tirar qualquer coisa dela.
— Eu quero comer no refeitório agora — sorriu para os dois, ignorando a pergunta do amigo e também culpado por ter fodido seu coração. — Vamos?
— Não — Noble rosnou. — O que aconteceu? Estava tudo bem e então... — ele balançou a cabeça, perplexo. — Você tá doente de novo?
— Não.
— Eu não te entendo, Kaira.
— Não entende mesmo! — seu corpo ardeu em fúria e Kaira jogou o pote de sabonete com toda sua força nele, surpreendendo a ambos, o objeto bateu contra o peitoral sólido e caiu no chão. Os dois tinham terminado por causa dele, o idiota sempre lamentando por toca-la. As palavras que dissera a ela um dia voltaram com força em sua mente. Aquilo a deixava imensamente triste, revoltada.
Houvera muita esperança em seu coração, esperava que ele a amasse como o amava, que a fizesse dele, mas não, era exatamente como Heaven falara.
Noble não a queria.
Kaira se rompeu em lágrimas de ódio. Estariam juntos, mas nunca de verdade e isso dilacerava o seu coração.
— Por favor — ela murmurou, fechando os olhos com força, tentando tirar algo bom de todo o desastre. — Vamos sair daqui.
— É, você tem razão, seria engraçado se nos encontrassem aqui. É o banheiro feminino!
Ela riu, concordando com Kismet e secou as lágrimas. Ergueu seu queixo, não deixando a dor de lado, mas a absorvendo o máximo possível, se fosse para sofrer que seja, mas ainda tinha seu orgulho e ele era bem grande.
— Vamos, quero tanto comer algo doce!
🌡️
Kaira tinha alguns costumes diários que alguns poderiam achar estranho, mas que ela adorava. Tomava vitamina de cenoura e maçã todas as manhãs, sempre acompanhada das suas barras energéticas. Ignorava o café americano tradicional, ovos com bacon a deixavam enjoada com facilidade e ela tinha deixado de tomar cafeína — ao não ser na bebida alcoólica — desde que seus seios começaram a doer por causa disso.
Na verdade ela também deveria parar de tomar refrigerante e comer chocolates, mas não conseguia e precisava deles mais do que os outros.
Era o dever dela cuidar de Leon durante a manhã, mesmo que ele já tivesse o corpo e mente de um adolescente, mas se contar em anos humanos ele tinha apenas dez aninhos e deveria ser uma criancinha.
Aurora não precisava mais da ajuda dela, era uma fêmea madura agora e Kaira nunca se esqueceria do dia que pegara ela e Salvation na banheira. Os dois pensaram que ninguém estaria na casa, mas ela tinha terminado seus exercícios físicos cedo e voltado para, justamente para tomar banho.
Fora um dia e tanto aquele.
Ainda achava a memória de ter visto a bunda de Salvation engraçada.
Gostava também de assistir um programa de saúde na televisão, algumas vezes pensando seriamente em se tornar enfermeira, mas então mudava para o canal de política e ficava fantasiando poder argumentar quando algum homem de terno dizia idiotices.
Ela pensava que daria uma ótima governadora.
Estar dentro dos muros da ONE era como estar em outro país, outro mundo, além disso ela entendia das regras e leis do lado exterior, poderia ser uma boa intermediadora.
Tinha um vício maluco em musicais históricos, amava especialmente o de Alexandre Hamilton e o quanto ele fora inteligente.
Gostava de maquiar e fazer a sobrancelhas das mulheres que conhecia, às vezes as ajudava com depilação.
Toda tarde assistia ao pôr do sol sozinha e à noite lia livros, estava lendo Papisa Joana e adorando aquela história, porém vivia magoada com a vida que as mulheres levavam antigamente.
Ouvia música tristes quando estava sozinha na beirada do rio, não porquê queria se sentir melancólica ou até mesmo raivosa, ela tinha superado aqueles sentimentos aterrorizantes. Assistira alguns vídeos e lera muitos artigos na internet, o suficiente para tentar resolver seus problemas. Ela não os via mais de forma tão ruim, entendia que todos passavam por momentos assim.
Cada problema refletia naquilo que ela estava deixando de ser.
Simplesmente deixou de chorar por pequenos detalhes, não permitia que sua raiva estivesse tão a superfície como antes, ao ponto de tacar coisas nas pessoas e as xingar. Pedira perdão a Heaven no bar uma noite, sua consciência estava pesada o suficiente para deitar a cabeça no travesseiro e pensar muito.
Agora ela tentava transbordar em atenção e amor, queria ajudar sua família e ser feliz, era o suficiente.
Se distraia com jogos de tabuleiro com os amigos e ainda corria pela floresta.
No entanto, sua vida virou de cabeça para baixo quando conheceu um novo macho na floresta. Talvez ela ainda cometesse o péssimo erro de achar que a Zona Selvagem era um lugar seguro, quando na verdade não o era.
Não totalmente.
🌡️
Kaira tinha mergulhado sozinha no rio aquele dia, estava um calor horrível. Não teve vontade de chamar os amigos e sua irmã estava num caso meloso com Salvation, não queria atrapalhar o romance adorável deles.
Não de novo.
Levara sua bicicleta com ela e ficara até mais tarde em cima das pedras, tomando sol e era quase noite quando decidiu retornar para a sua casa. Vestiu-se apenas com um short e ficou descalça, caminhando ao lado do veículo.
Ela soltou um riso baixo quando sua música preferida começou a tocar nos fones de ouvido, balançou os quadris e pensou em subir na bicicleta quando algo não pareceu bem, talvez fosse um instinto ou os pelos arrepiados. Não estava frio, muito pelo contrário.
Suas pernas congeleram no meio do caminho e ela respirou profundamente, enquanto isso seus olhos vasculharam as árvores, plantas e trilhas ao seu redor. A leve brisa balançava algumas folhas e som do farfalhar delas não era o que chamava sua atenção. Tirou os fones de ouvido e observou a escuridão por uma última vez e olhou bem para o chão, com medo de ver alguma cobra.
Ela com certeza não queria ser mordida novamente.
Guardou o celular e o fone nos bolsos, voltando a segurar o guidão da bicicleta. Estava para subir quando ouviu um rosnado animal, parecia um cachorro, talvez fosse um dos lobos de Torrent. Não tinha medo deles, mas também não os substimava. Nunca poderia dar as costas para eles ou correr.
Sabia que fazer isso os deixaria malucos para a caçar.
Queria muito voltar para casa.
Kaira deu alguns passos quando ouviu outro rosnado, só que desta vez mais alto e próximo. Ela esperava realmente que não fosse um dos lobos ou talvez um daqueles cachorros que sua mãe resgatava. Eles eram ferozes e andavam sempre sozinhos.
O pior era que podia ser um Nova Espécie, mas nenhum deles era maluco de atacar ela. Seu pai o mataria.
— Olá? — chamou em voz alta, tentando soar firme. Demonstrar fraqueza não era uma boa. — Tem alguém aí?
Um movimento à direita chamou sua atenção e ela se virou com tudo, deixando a bicicleta de lado quando um Nova Espécie diferente de todos os outros surgiu logo atrás de uma árvore. Todo o seu corpo reagiu ao vê-lo, alto, atraente e com a pele negra. A sensação que tinha a observa-lo era a de que deveria correr do perigo.
Ele não tinha cabelo grande, mas pequeno e bem rente a cabeça.
Olhava-a de um jeito sombrio e ao mesmo tempo curioso, deslizou as orbes negras por todo o corpo dela lentamente e soltou um rugido suave, fazendo com que ela se afastasse. Ele deu um passo em direção a ela, de uma forma mais predatória do que como os outros, avançando em sua direção como se fosse a comer.
Literalmente.
O coração dela acelerou, sua respiração aumentou e ela só conseguia pensar em como ele parecia ser um macho alfa. Ele se moveu novamente, era sensual e bonito como suas roupas escuras e pele parecia se fundir à noite.
Um outro rosnado escapou dos lábios semiabertos. Ela queria correr agora, mas ficou firme lá, sabendo o que o DNA animal fizera com eles. Seria morte na certa. Kaira apenas abaixou os olhos e a cabeça, esperando que ele entendesse a mensagem rapidamente.
Não faria aquilo com nenhum outro macho, mas ele era diferente.
— Eu sou Kaira — conseguiu dizer sem gaguejar. — Tenho dezessete anos e meu pai é um Nova Espécie, minha mãe teve um bebê dele e nós somos uma família agora, também tenho uma irmã, Aurora, ela é uma felina. O nome do meu pai é Leo, você deve conhecê-lo.
— Não conheço — a voz dele era grossa e deliciosamente rouca, mas Kaira não queria pensar no quanto o perigo poderia ser sedutor. Não se lembrava de ter se sentindo tão atraída por um macho ao não ser Noble, mas este a deixava interessada, talvez fosse porque estava curiosa sobre ele. — Meu pai e eu nos mudados para cá faz alguns dias. Moramos rio acima, à esquerda.
— Tem casas lá? — perguntou curiosa, não sabia daquilo, só foi lá uma vez e fazia muito tempo, quando ainda era uma criança.
— Fizeram uma para nós.
Kaira franziu o cenho, estranhando o jeito como ele falava, havia um sotaque ali ou era impressão dela?
— Você é jovem — destacou esse fato, surpresa. — Quantos anos tem?
— Vinte.
— Você é mais velho do que Forest — caminhou ao redor dele, os olhos negros o tempo todo fixos nela, estava muito surpresa. — Disse que está com o seu pai... — ela ligou as peças rapidamente e arregalou os olhos. — É um Nova Espécie desta geração, não é?
Ele assentiu, ainda sério e recluso.
— Eu não entendo... Você nasceu em Homeland?
— Não, eu nasci na África.
— Impossível!
O macho soltou um suspiro profundo e fez menção de se afastar, mas Kaira agiu sem pensar e segurou o braço dele, fazendo com que ele voltasse até ela.
— Me conta sua história — os olhos dela deveriam estar brilhando pela curiosidade e excitação. Ele rosnou baixo, mostrando as presas entre os lábios grossos. — Por favor — murmurou. — Você me assustou, me deve algo em troca.
— Não devo nada a você, fêmea.
— É um modo de falar — brincou e soltou o braço dele ao receber um olhar mais sério. — Vamos, seja meu amigo.
Seja alguém na minha vida, não me deixe sozinha, pensou sombriamente, cansada da solidão que sentia lá no fundo do peito.
— Por quê?
— Porquê me sinto sozinha e não quero mais ficar assim — disse a verdade, impressionada com o quanto era fácil conversar com um estranho. Ele não poderia julgá-la de qualquer forma. — E só existe um motivo para você estar tão longe de casa à noite, sente o mesmo que eu.
Ele ergueu as sobrancelhas grossas.
— Estou certa, não é? — riu. — Costumam dizer que eu tenho uma língua afiada e que sou muito inteligente, além de que tenho a péssima mania de dizer tudo o que penso, como um Nova Espécie. Sinceridade acima de tudo, é o meu lema!
O peso do segredo pesa em minha alma quando digo isso, lamentou-se.
Kaira deu as costas para ele, confiando que não seria atacada e se abaixou, recolhendo a bicicleta. Era noite e ela tirou a lanterna de dentro da bolsa, assim como sua camiseta. Vestiu-a e tirou o sutiã molhado depois, com toda a gambiarra que uma mulher aprende. Depois usou a luz para iluminar o caminho de onde viera, a trilha do rio.
— Vem comigo? — indicou o caminho com a cabeça, sem se importar em voltar para casa naquela noite. — Vamos voltar para o rio, gosto do barulho forte que ele faz à noite.
— Espera — ela tinha começado a andar quando ele a chamou. Olhou-o interrogativa, esperando que o macho falasse algo. — Você não tem medo de mim?
— Por que teria?
— Posso te matar, morder... Caçá-la.
Ela olhou para o céu, encarando as estrelas e depois sorriu para ele.
— Torça meu pescoço e me livre da tortura de continuar vivendo de uma vez se este for o seu desejo — Kaira gargalhou com o espanto no rosto dele. — Caso o contrário me acompanhe e não questione minhas estranhas condutas.
Minutos mais tarde eles estavam de volta na beirada do rio, ela deixou a bicicleta encostada numa árvore e se sentou em uma pedra alta, encolheu-se e juntou os joelhos aos seios, observando a natureza em silêncio. Gostava dos vagalumes verdinhos que sobrevoavam do outro lado da água, entre alguns arbusto altos.
Quando era criança sempre queria pegar eles, agora entendia que a beleza de tudo era apenas olhar e apreciar de longe, deveria deixá-los em paz.
— Meu nome é Hunter — o macho disse ao se sentar ao lado dela. — Eu sou filho de uma humana africana, nasci em uma vila bem pobre e minha mãe morreu algum tempo depois, de uma doença muito estranha. Cacei, matei e sobrevive, esta é a minha história.
Kaira não diria que sentia muito, detestava quando as pessoas a olhavam com pena e não faria o mesmo com ele.
— Por que raios seu pai estava na África?
— Um homem muito rico o comprou, aparentemente ele era um dos monstros que patrocinava as Indústrias Mercile, mas na viagem daqui para lá aconteceu um acidente. Meu pai teve sorte e sobreviveu. Ele diz que viveu na floresta por um bom tempo, sozinho e totalmente selvagem, até sofrer com um machucado e acordar na cabana onde minha mãe vivia com sua família. Deram ela a ele como um presente um tempo depois, por coragem e força, algumas tribos realmente o viam como um grande guerreiro e ele viveu assim por bastante tempo.
— Cara, que loucura... Qual o nome dele?
— Ele usa o nome de Daren, que significa nascido na noite, por causa da nossa cor.
— Incrível — murmurou. — Você é canino, não é?
Ele assentiu e fungou, olhando-a em seguida. Os olhos dele pararam em um ponto de seu pescoço e Hunter rosnou.
— Você foi marcada, mas não cheira a macho ou a sexo.
Kaira tocou a cicatriz quando ele disse isso, lembrando-se da última vez que ganhara um beijo de verdade.
— Ele e eu não estamos juntos, não mais.
Aquilo pareceu ter horrorizado o macho, ela apenas gargalhou.
— Por que não? Eu nunca marcaria uma fêmea e depois a deixaria a disposição de outro e sozinha. Ele está morto?
— Não! — respondeu rápido. — Ele só não me quis mesmo, disse que tinha medo de me machucar... Nós dois éramos bem mais jovens quando aconteceu. Ele é meu melhor amigo.
— Então por que se sente sozinha?
Ela hesitou.
— Não estou realmente só — sussurrou. — O tempo todo me mantenho ocupada e sempre ajudo os outros, mas sinto falta de algo, uma parte minha que foi tirada quando ele se afastou. Nos vemos todos os dias e ele sempre me abraça, se preocupa comigo, mas quando algo pode acontecer se afasta. E eu o desejo tanto, meu corpo dói às vezes e preciso chegar lá sozinha.
E eu tenho escondido um segredo que mudou minha vida, suspirou.
— Ele parece um macho problemático.
— Eu morri há dois anos na frente dele, sangrando e machucada, depois de uma briga e uma picada de cobra. Me arrependo tanto de ter corrido para dentro da floresta. Acho que isto o deixou ainda mais assustado, ele quer meu bem e eu vivo me metendo em encrenca. Desde aquele dia não tento mais nada.
— Se eu sentisse algo semelhante por alguém nunca a deixaria — ele disse e Kaira virou o rosto para Hunter, ele observava as estrelas fascinado. — Faria de tudo por ela, mataria e morreria. E nunca, nunca mesmo deixaria que ela se afastasse. A prenderia.
Kaira balançou a cabeça, divertida.
— Isso é bem selvagem.
— Nós somos selvagens, Kaira. Alguns escondem e lidam, mas o animal está na superfície, pronto para sair e acabar com tudo. Acho que por um lado entendo o medo do seu macho, eu não iria querer machucar minha fêmea de modo algum.
— Ah, você também não!
Ele riu pela primeira vez, baixo e rouco, mas extremamente adorável.
— Sabe de uma coisa?
— O quê?
— Você deveria agarrá-lo — Hunter mostrou as presas. — O pegue para você, foda-se. Ele é seu e você é dele. O marque da mesma forma, aposto que ele vai te comer depois disso.
— Caramba — ela deu um leve soco no braço dele, arrancando um sorriso de dentes brancos do macho. — Não é coisa que se diga a uma dama. Aliás, você deveria sorrir mais, fica muito bonito.
— Não diga isso — ele rosnou e ela sentiu o hálito quente contra sua pele. — Agora que conheço sua história não tenho mais vontade de tomá-la para mim, mesmo que seja empolgante pensar no seu corpo embaixo do meu.
Ela fechou os olhos, não acreditando naquilo.
— Você pensou em ficar comigo?
— É uma fêmea atrante e inteligente, adoraria sentir a sua língua afiada na minha.
— Não vai rolar, cachorrinho.
Hunter rosnou mais agressivamente, fazendo-a se encolher.
— É apenas uma brincadeira, calma — tocou o peito dele, afastando-o — Me leva até a minha casa? Está tarde e não quero voltar sozinha.
— Levo.
— Aliás — Kaira de inclinou na direção dele, beijando a bochecha proeminente. — Obrigada por me acompanhar, me sinto bem melhor e também valeu pelo conselho.
— Você vai partir para o ataque então?
— Pode acreditar que sim!
🌡️
Os dias se passaram e Kaira, depois de passar uma noite inteira pensando e sonhando acordada com tudo o que poderia acontecer, resolveu que precisava de alguém para ajudá-la com suas dúvidas. A internet não parecia o suficiente, não era, as informações estavam todas lá, mas não era o mesmo que conversa cara a cara com alguém que passara pela experiência.
Logo pela manhã pensou em conversa com sua mãe e pai, os vira envolvidos na cozinha, conversando e sorrindo; Leo abraçava Stella com carinho, sussurrando algo em sua orelha e a fazendo rir descontroladamente, era uma cena fofa e engraçada.
Kaira definitivamente não conseguia olhar para eles e perguntar o que queria, seria tão vergonhoso, até mesmo para ela.
Não podia falar com Aurora também, a irmã gaguejaria mais do que o normal.
Pensou em falar com qualquer uma das outras mulheres, desde Tammy a Becca, Kat talvez, ela com certeza falaria tudo o que precisava saber. No entanto, a opção pela qual optou era a mais segura e confortável, ao menos para ela.
Sim, apelara para Tim Oberto e Trey Roberts. Primeiro, porque Tim a ensinara a usar uma arma anos atrás, além de diversas outras coisas importantes — sim, pôquer era extremamente importante e necessário em sua vida — e Trey, bem, ele tinha um senso de humor maravilhoso. Não eram mulheres, obviamente, mas Kaira queria o cru de tudo, não o mastigado e romântico que ela tinha certeza de que ganharia de sua mãe, o anatômico de Trisha ou maternal de Tammy.
E, definitivamente, não queria nenhuma delas influenciando em suas escolhas.
Era estranho conversa sobre isso com elas, enquanto parecia super normal com os homens, talvez fosse porquê por toda a sua vida estivera cercada por amigos e nenhuma amiga.
Foi com um suspiro profundo que ela entrou na sala onde estavam reunidos alguns dos membros da Força Tarefa. Mike, Bob, Jimmy e Shane estavam sentados ao redor de uma mesa redonda e cheia de cartas, os rapazes faziam apostar e ela sorriu, sentindo-se nostálgica, apenas os vendo daquela forma conseguia entender que sentia saudades de jogar com todos eles.
— Kaira! — o grito masculino chamou sua atenção e Kaira caminhou até Trey, ele sorria abertamente e a tirou do chão quando se abraçaram. — Aqui está a minha campeã, trouxe suas cartas da sorte, danadinha?
— Eu já disse, Trey — o empurrou para trás e continuou, sarcástica. — Pôquer é mais do que sorte e foi comprovado, precisa de habilidade e inteligência.
— Acho que é por isso que ele nunca ganha — Tim provocou e estendeu uma garrafa de cerveja para Kaira, que aceitou imediatamente. Ela não gostava muito do sabor, preferia outras bebidas alcoólicas e com certeza não tinha a idade apropriada para beber, mas o fazia ainda assim, casualmente. — Vamos nos sentar e esperar a rodada acabar.
Kaira se sentou ao sofá, entre os dois homens e tomou um gole da cerveja.
— Humpf, olha para isso — Tim ironizou quando ela colocou os pés em cima da mesinha. — Ela já se sente em casa.
— Talvez devesse fazer parte da Força Tarefa — Trey brincou.
Ela queria responder, mas o vovô foi mais rápido:
— E repetir o mesmo que Jessie? — Tim balançou a cabeça. — Não, muito obrigado, estamos bem sem uma mulher para proteger.
Kaira não pode evitar a careta ao ouvir aquilo, às vezes era difícil gostar de Tim, principalmente quando ele fazia comentários como aquele.
— É apenas o que sou então, uma mulher? — ela estralou a língua. — Isto deveria me ofender? — não esperou uma resposta. — Jessie é corajosa e forte, ela não precisa de ninguém para protegê-la. Se me lembro bem, corrija-me se estiver errada, ela ajudou todos vocês, trouxe de volta muitos Novas Espécies e ainda manteve a bunda de Justice à salvo, isso faz dela fraca?
Ela riu, mandando mais um pouco de cerveja para dentro.
— Ah, me lembrei, para vocês só homens tem valor o suficiente para brincarem de soldados — ironizou. — Que patético, vocês têm é medo de boceta.
Trey soltou uma risada alta, contagiante e divertida.
— Ai está a garota que sempre me faz lembrar o motivo de não irritar uma mulher durona.
— As fêmeas me ensinaram bem — piscou para ele, deixando a garrafa sobre a mesinha de onde acabara de tirar os pés. Virou-se para Tim e segurou uma risada, ele não estava satisfeito com a afronta dela. — Enfim, senhores, não estou para discutir sobre gêneros, não hoje, embora vocês precisem urgentemente abrirem suas mentes. Estou aqui para conversar sobre algo importante.
— Diga.
— Hã — ela coçou o cabelo e sorriu, um pouquinho sem graça. — Como foi a primeira vez de vocês?
— Primeira vez na Força Tarefa? — Tim perguntou inocentemente, sem dar muita confiança para o que ela dizia.
— Primeira vez fazendo sexo, dã!
Tim tossiu, meio que engasgado com a própria cerveja e Trey gargalhou novamente, ele com certeza estava adorando aquilo, principalmente as bochechas vermelhas do chefe.
— Eu já disse que amo você, Kaira? — Trey passou um dos braços atrás do pescoço dela, fazendo-a rir. — Fez o velho corar e pela primeira vez não é de raiva!
— Te incomoda falar sobre isso, vovô?
— Não me chama de vovô como de estivesse sendo maldosa, garota — Tim a repreendeu e Kaira riu. — E não, não me incomoda, vamos lá... hm, o que você quer saber?
— Como foi para vocês estar com uma mulher?
— Gostoso — Trey pensou mais. — Maravilhoso, excelente. É diferente de tudo, principalmente quando está lá dentro, mandando ver.
Kaira assentiu, muito séria.
— E para você, Tim?
— Qual é? — ele resmungou. — Por que parece que eu sou o único aqui está se sentindo desconfortável falando sobre isso com uma garota que tem a idade do meu neto?
— Relaxa — ela deu umas palmadinhas no ombro dele. — Estamos sendo honestos aqui, sem vergonha, okay?
— Humpf, até parece que preciso ouvir isso de você.
Kaira cruzou as pernas e sorriu, esperando uma resposta honesta do homem mais velho.
— Bom, Kaira... você vai perceber que é bem instintivo.
— Só isso que tem a me dizer?
— Hum, acho que a primeira vez é mais preciosa para as mulheres, quer que eu diga o quê?
— Não quero nada especial, sem contos de fada!
— Se você vai dar um passo à frente é bom que seja legal para ambos — Trey tomou a fala. — Não se preocupe, se vocês dois se gostam é impossível que seja ruim. Vai ser só mais uma etapa importante na vida, como todas as outras, mas esta é muito boa!
Ela concordou, um pouco mais aliviada.
— E, levando em consideração que seu parceiro é Noble — os dois riram da cara que ela fez, bom, não era como se fosse um segredo que os dois se gostavam, mas não saia contanto por todos os lados que o amava. — Vocês se gostam antes mesmo de se sentirem atraídos um pelo outro, é amizade, companheirismo e ele é um Nova Espécie, eles sempre tratam as mulheres bem, digo isto porque tenho uma filha acasalada com um deles — Tim deu um peteleco na testa dela. — Vai ser bom, acredite.
Kaira assentiu, sorridente. Sim, seria bom, ótimo.
Estava confiante, sabia que era uma boa opção ouvir aquele velhinho.
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