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Los Angeles | 21:35PM
Era um dos mais fatídicos dias em Los Angeles. A temporada de jogos havia sido cancelada devido ao temporal iminente. As pessoas estavam desesperadas para manter os estoques em suas dispensas, de fato, a nevasca barraria metade da cidade.
Todos os noticiários diziam a mesma coisa. E bom, eu já estava cansado de todos os dias estar na mesmice. Os mesmos anúncios, as mesmas medidas de precaução, o clima sendo noticiado a cada cinco segundos em todos os meios de comunicação.
Los Angeles estava em alerta. Eu também estava, mas, digamos que não entrava em desespero como a maior parte dos meus vizinhos.
Cassandra era a vizinha mais espalhafatosa. Amanhecia o dia gritando aos quatro ventos, para que todos tomassem cuidado. Eu fiquei feliz, com todo o cuidado dela diante de uma nevasca. Contudo, se ela fosse de fato assim todos os dias, mesmo sem anúncios de nevascas, eu até relevaria.
Entretanto, Cassandra é a típica vizinha fofoqueira que inventa a famosa desculpa da xícara de açúcar, para aproveitar e checar se a sua casa não tem itens novos ou até mesmo, pessoas novas.
Então, sua preocupação de momento, não me comovia.
Tampouco comovia Yoongi, que sempre aparecia na janela, mandando-a calar a boca e cuidar da própria vida. Era quase um mantra, diria que era até engraçado.
A minha vida até seria muito bem narrada por mim, se esses acontecimentos não me fizessem falta hoje.
Estou basicamente, relatando acontecimentos de anos atrás. Onde uma nevasca acontecia, não que agora não esteja prestes a acontecer uma nevasca, e todos estejam em alerta.
Porém, o que os noticiários dizem, não é mais sobre o clima; nem mesmo sobre as precauções que devemos tomar ou até mesmo sobre os possíveis jogos que foram adiados.
Eles exibem o meu rosto.
Porque é o meu rosto que eu vejo agora, passando diante de uma pequena televisão fajuta, de um mini-supermercado de beira de estrada.
Fazem três anos da minha fuga, três anos em que fugi das garras da polícia.
Os telejornais informavam das mortes e das várias vítimas que eu vinha fazendo ao longo do tempo. Porém, só eu sabia que não havia cometido aqueles crimes horrendos, mas, as autoridades me tratariam como criminoso até que se provasse ao contrário.
Eu pegaria dias na cadeia. Não seriam meses, ou anos, ou semanas. Dias.
Eles não tinham qualquer outro tipo de suspeito, as investigações foram feitas muito pouco tempo depois. E por incrível que pareça, as únicas provas que tinham, apontavam para mim.
Não que eu me fizesse de cínico, e informasse que não tive contato com a vítima. Porém, ela era minha melhor amiga.
Kim Songmi era minha melhor amiga e eu jamais teria feito qualquer tipo de mal a ela. Entretanto, explicar isso para a polícia, com tantas provas apontando para mim.. seria tanto quanto difícil.
Principalmente para caras como eu. Gay assumido, que mantém um relacionamento homoafetivo. Os policiais não costumam ter certa tolerância, principalmente policiais de cidades pequenas. Que é você fechar os olhos, a corrupção e o roubo rolam solta.
Não me impressionei totalmente quando meu nome foi um estouro nos noticiários, entretanto, o que me deixou chocado é que eles não fizeram absolutamente nada para investigar a fundo o crime.
Como se Songmi fosse apenas mais uma, em meio a tantas que morrem nas mãos de caras que amam matar mulheres. Mais uma, no índice do feminicídio, mais uma, que não teria seu caso resolvido, mais uma para as estatísticas.
Eu fui culpado pela morte dela. A minha cara, em menos de 24 horas, foi exposta para todos os veículos de comunicação. E eu só soube, quando Yoongi entrou aos prantos dentro de nossa casa, com os papéis que estampavam bem o meu rosto.
Pessoas inocentes todos os dias pagam pelos crimes de pessoas, que de fato, são realmente culpadas. O governo, a mídia e a polícia somente oculta um fato. E eu, fiz parte dessa estatística.
Era minha palavra contra todo um governo, era a minha palavra e de um álibi que eu não tinha. O que piorava o meu lado.
Fugir não era uma boa opção, mas, era a única coisa que eu tinha. Eu não podia, de maneira alguma, deixar esse crime sair em pune. Deixar que a morte da minha melhor amiga passasse em branco e que os criminosos ficassem à solta. Então, eu simplesmente fugi.
Só que a vida nunca ficou satisfeita o suficiente para me colocar ainda mais na merda. Os acontecimentos daquela sexta-feira, eu me lembro tão bem, que a cada lágrima que eu derramo, é uma pequena dor que meu peito ainda sofre.
Pude observar as televisões pequenas, mudarem as programações, dando início a músicas. Apenas me cobri com a touca, enquanto seguia caminho a fora.
Sentindo a brisa gelada do ar bater sobre as minhas costas, que mesmo cobertas pelo moletom grosso, insistiam em me alertar sobre o possível resfriado que eu pegaria.
Não me importava, afinal, a morte era uma das poucas coisas que eu não me importava. Já passei por isso, quando me levaram pela primeira vez para a cadeia.
Digamos que eu vi o sol nascer quadrado por apenas um dia. Seria até cômico, contar as experiências de um dia na cadeia. Entretanto, foi mais assustador do que eu pude pensar.
Entrei na pequena casa de campo, afastado da cidade. Consegui esse campo, fora de circulação e completamente apagado para os policiais, com Taehyung.
Ele foi o único que se compadeceu do meu desespero, e me ajudou até os últimos minutos. Porém, ele se afastou, já que as coisas para si ficaram cada vez mais perigosas. Não o julguei, mas, o agradeci imensamente.
Já que tenho tudo o que preciso, para seguir em frente e concluir com maestria os meus principais objetivos.
Se ao fim das contas eu for preso, será por tudo, menos por assassinato. Não que isso seja digno o suficiente para bater no peito. É errado, porém, preso por matar minha melhor amiga, eu não serei.
Me sentei em frente ao estofado velho, que apenas tinha o meu cheiro e o cheiro aparente do mofo. Observei a tela do notebook, com a sagrada imagem de Min Yoongi.
Por inconveniência, sequei a pequena lágrima que caiu por meus olhos.
Por inconveniência, meu peito doía como o inferno. O sentimento de traição jamais sairia da minha mente, as lembranças boas e principalmente as ruins.
Elas não seriam apagadas da minha mente, nem mesmo todo o complô de dor e ódio que senti ao ter sido traído da maneira que fui.
Em meio a juras de amor, carícias na calada da noite e um sexo inesquecível.
Precisamos, às vezes, checar se nosso parceiro, talvez, não seja Judas.
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