63 - Se alguém não cuida de sua própria família, negou a fé.
Pedro observava as crianças brincando, e se perguntava, em que momento a vida deixara de ser tão simples!
- Oi! - Disse Jemima ao seu lado. - Lembrando de quando éramos crianças? A vida era tão mais simples, não era? - Perguntou melancólica.
- Eu estava pensando, exatamente nisso! Quando começamos a complicar tudo, a pensarmos que temos controle, sobre alguém ou alguma coisa, ou até sobre nós mesmos? - Perguntou pensativo.
- Verdade, não temos controle sobre nada nessa vida, mas somos orgulhosos demais para acharmos que podemos controlar alguma coisa. - Sussurrou ela.
- Com licença! - Pediu Carol, assustando os dois. - Jem você me empresta seu irmão só um minutinho?
- Claro! Eu vou ver se a mãe precisa de ajuda na cozinha. - Disse saindo.
Carol puxou Pedro até aonde estavam os irmãos.
- Eu vou ajudar minha sogra, e espero que vocês tenham um pouco de bom senso. - Disse brava e saiu.
- O que foi isso? - Perguntou Pedro confuso.
- As três estão chateadas. Elas não acham uma boa ideia falarmos os quatro com a Jemima. - Disse João.
- E por quê? - Perguntou Pedro mais confuso ainda. - Não entendi, não eram elas, que queriam que fizéssemos alguma coisa? - Perguntou sentando.
- E elas querem que façamos alguma coisa, mas elas pensam que seria melhor que apenas um de nós falasse com ela primeiramente. Elas acreditam que será muito constrangedor para ela. Se sentir encurralada por todos nós. - Disse Felipe.
Pedro refletiu um pouco. A irmã sempre tão altiva, forte e determinada; nunca precisou dos irmãos para defende-la, de repente sendo pressionada por eles a admitir que sofre violência doméstica! Essa situação realmente era no mínimo humilhante.
- Nós pensamos melhor e conversamos, e achamos que você é o mais indicado, para falar com ela. - Sugeriu André.
- Porque eu? Sou o mais novo, o mais desmiolado, o que envergonhou a família, e etc e tal. Não sei como eu posso ajudar a nossa Jemima. - Disse exasperado.
- Porque será mais fácil, ela se abrir, com aquele de nós que ela já se abriu com a mulher. - Disse João.
- Não entendi! - Murmurou Pedro.
- A Geovana almoçou no mesmo restaurante, que elas almoçaram hoje. E pela reação das duas, Geovana acredita que nossa irmã desabafou com a sua noiva. - Disse João.
Pedro sabia que as duas haviam almoçado juntas, mas Ariane não entrou em detalhe sobre o que conversaram, disse apenas que elas tinham tido uma conversa difícil, e Jemima ficara muito abalada, e por isso ela a levou ao hospital.
Pedro olhou para André, que também o encarava. Podia ver a dúvida no olhar do irmão, se compartilhavam com os outros a suspeita dos dois, de que havia ou houve alguma coisa, entre a irmã e Alex. Sacudindo a cabeça André levantou.
- Então pronto, depois do jantar você fala com ela, e deixa bem claro para ela, que a amamos, e estamos aqui para ela, e para quando ela precisar. - Disse André. - Agora vamos ver se esse jantar está pronto, porque eu estou com fome.
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O casamento de Ariane foi o assunto, durante o jantar, e todos queriam dar a sua opinião. Eram tantas coisas ainda para decidir e fazer, que ela ficou tonto só de ouvir.
Local para a cerimônia e recepção, madrinhas, daminha, florista, porta aliança, porta bíblia, música para cada entrada, lista de convidados, fotógrafo, decoração da igreja e da recepção, bufê, vestido da noiva...
A cada novo item acrescentado à lista pela dona Andreia, Ariane pensava na proposta de Pedro de apenas irem ao cartório, afinal de contas, eles não eram mais jovenzinhos, para um casamento grande.
- O casamento é só em julho, temos tempo. - Disse Ariane apreensiva.
- Não temos não minha filha, quando você menos esperar já é julho, e precisamos fazer orçamento... - Disse a mãe e Ariane a interrompeu
- Não se preocupe mãe, eu tenho algumas economias..
- Nem ouse concluir essa frase! - Esbravejou o pai. - Casamento de filha minha quem faz sou eu.
- Mais pai...
- Não tem mais e nem menos pai. Eu quero e vou fazer o seu casamento, você só precisa escolher. - Disse o pai.
Ela preferiria, não ser a responsável pelas escolhas, mas já que não tinha alternativa, no dia seguinte ela começaria com isso, até porque estava aproximando a sua volta para casa.
Ela estava ajudando a mãe, a arrumar a cozinha, quando recebeu uma notificação de mensagem.
Jemima.
"Você conversou com o meu irmão, sobre os meus problemas em casa?"
Ariane.
"Não! Aliás eu gostaria que você conversasse com ele, assim não me deixava nessa saia justa o tempo todo.
Jemima
"Meus irmãos estão muito estranhos, e minhas cunhadas também."
Ariane.
"Claro que estão, pelo que eu soube, seu esposo não foi muito discreto no jantar de sábado, e nem na sexta na casa de seus pais."
Jemima.
"Verdade! E faz tempo que minhas cunhadas tem me feito perguntas bem suspeitas!"
Ariane.
"E você deveria ter confiado nelas. E bom ter com quem desabafar."
Jemima.
"Pior que você está certa. É bom mesmo. Obrigada p8!"
Ariane.
"É um prazer ajuda-la. Sei que é terrível, mas seja essa mulher de fibra que Deus fez, e reúna seus irmãos, ou apenas um deles para começar, e abra o seu coração. Eles te amam, e irão te ajudar. Deus te ajude! Estarei aqui orando por você. Beijos."
Jemima.
"Que Deus me ajude! E obrigada, pelas orações. Beijos."
Ariane ficou por alguns segundos olhando para o aparelho, assustou com a mãe tocando seu ombro.
- Algum problema? Você parece preocupada. - Percebeu a mãe.
- Nada mãe. É só uma amiga, que está passando por alguns problemas. Espero em Deus que ela busque ajuda. - Disse triste, e voltou a ajudar a mãe.
- Mãe a senhora se importa, se eu for para meu quarto agora? Gostaria de orar por aquela minha amiga. - Pediu alguns minutos depois.
- Claro filha. Boa noite minha querida.
- Boa noite mãe. - Disse beijando o rosto da mãe.
💮💮💮
- Mãe a senhora se importa se eu dormir aqui hoje? - Perguntou Jemima, tirando a mesa com as cunhadas.
- Claro que não filha! Que pergunta tola, você pode dormir aqui quando quiser. - Respondeu a mãe.
- Por mim voltava era de vez pra cá. - Resmungou o pai mal humorado levantando da mesa.
- A senhora pode ir com o meu pai, nós arrumamos a cozinha. - Disse Jemima.
- Tudo bem para vocês? - Perguntou dona Ana indecisa.
- Tudo tranquilo minha sogra. - Responderam unânimes.
As crianças foram com os avós, e todos os outros ajudaram na limpeza da cozinha e logo terminaram.
- Boa noite para vocês, pois eu sei que vocês querem conversar. - Disse Ben, abraçando a prima e falando algo em seu ouvido, ela sorriu corando.
- Se você quiser... - Começou Renata.
- Eu gostaria que todos vocês sentassem, inclusive você Ben. Eu quero esclarecer algumas das dúvidas de vocês, e quero que saibam que quero ser sincera com todos vocês, mas tem coisas, que ainda não estou pronta para falar. E também quero pedir por favor, que vocês não falem nada, para o papai e a mamãe. - Pediu ela nervosa.
Todos sentaram.
- Você sabe que não é obrigada, a nos falar nada, no entanto, amamos você e queremos te ajudar. Todos nós estamos aqui por você. Você só precisa nos dizer como podemos te ajudar, e ajudaremos. - Disse Geovana.
- E não falaremos nada, nem para o papai e nem para a mamãe. - Disse André.
Então ela abriu o coração para a família, falou de quando conheceu Bruno, do quanto ele a ajudou em um momento difícil, de quando se reencontraram tempos depois, do tempo de namoro, do pedido de casamento, até a noite de núpcias. Até aquele momento Bruno foi um príncipe.
Mas depois daquela noite, ele mudou. Ele não foi sempre agressivo, mas ele fazia coisas que a magoavam, e que ela não quis entrar em detalhes, a primeira vez que ele a agredira fisicamente, foi a dois anos atrás.
- Dois anos atrás exatamente, dois anos e pouco, quase três anos? Quanto tempo exatamente? - Perguntou Pedro, lembrando de algo que Bruno havia dito.
- Qual a importância disso Pedro? - Perguntou João incrédulo. E jemima o olhou assustada.
- Nada! Só estou curioso. Pode continuar... - Disse suspirando.
- Dois anos e alguns meses. Mas a culpa foi minha, tudo o que tem acontecido é minha culpa. Eu só estou colhendo o que eu plantei...
- Não faço ideia do que você está falando, e sinceramente não me interessa. Mas de uma coisa eu sei, não importa o que você fez, você não merece isso. - Disse Renata se aproximando dela.
Renata abaixou perto dela, e pegou suas mãos.
- Jem, olha pra mim. Você conhece o meu passado, a minha história. Eu era o tipo de pessoa que acreditava, que merecia tudo de ruim que acontecia na minha vida, até conhecer o seu irmão. - Ela olhou para o marido, com o olhar cheio de amor.
- Das suas cunhadas, eu sou a única com um passado duvidoso, mas seu irmão nunca olhou pra mim, diferente do modo como o Felipe ou o João olham para as suas esposas, ou o Pedro olha para a sua noiva. E toda mulher merece olhar para o seu esposo e pensar, 'só Deus é mais importante para este homem do que eu. O meu passado, os meus erros, nada disso importa, porque neste plano terreno, este homem cuida de mim.'
Geovana ficou do lado de Renata, e passou a mão no rosto dela.
- E não pense você, que somos melhores que a Renata, porque não fizemos as mesmas coisas que ela, não somos, mas somos privilegiadas, todas nós somos filhas do Deus altíssimo, e você também é, então não aceite menos do que o melhor que Deus tem para você. E nós três aprendemos isso com os seus irmãos, e o mínimo que você merece, é alguém parecido com eles. Não se deixe levar pela culpa de sei lá o que, e por causa disso permitir que alguém destrua você.
Carol pegou na mão do esposo.
- Jemima! - Chamou Carol de onde estava. - Todas nós já fizemos coisas, que deixaram nossos esposos furiosos, e eles também já nos deixaram furiosas, mas nós sabíamos que seria assim, casamento perfeito não existe, por o diabo não quer que as famílias sejam prósperas, e ele não vai fazer como o lobo mal, e simplesmente assoprar a casa; não, ele vai mandar é um terremoto, que é para abalar as estruturas. E decidimos juntos quê, enquanto ele tenta abalar as nossas estruturas, Deus vai fortalecer os nossos laços. Mas isso só é possível, porque somos uma só carne no Senhor.
Jemima chorava compulsivamente, Carol olhou assustada para o marido, ela levantou mas Felipe a segurou para que ela ficasse aonde estava.
Ben pegou papel toalha, e levou para Jemima, ficou abaixado ao lado dela, como as cunhadas dela ficaram antes. Quando ela se acalmou, deu um meio sorriso para ele.
- Eu posso te falar uma coisa? - Perguntou ele tímido, ela assentiu. - Eu não sei se eu entendi direito o que a Carol quis dizer, eu ainda sou meio lento para certas coisas, mas eu acho que você e o Bruno, não é uma só carne, ou ele não ama a Deus, e se tem uma coisa que eu aprendi com o seu sobrinho, é que ele não amar a Deus é o pior de tudo, não tem solução, lamento mas ele não é bom pra você.
'Meu pai, nunca foi violento em casa. Mas nos mantinha em cárcere privado, e minha mãe nunca disse isso a ninguém e nem permitia que falassemos. Eu acho que esse é o primeiro erro da mulher esconder a verdade, eu sei os motivos pelo qual a minha mãe escondeu, e imagino os seus motivos, mas não é você que deve se envergonhar, é ele. Eu sei que finalmente, quando a história da minha família veio a tona, as nossas vidas virou um inferno, e mesmo ele não sendo violento, com nenhum de nós, as coisas nunca mais foram as mesmas, minha mãe poderia ter embora com o tio Gilberto a primeira vez que ele foi nos buscar, mas ela acreditava que as coisas poderiam mudar.
Ele chorava enquanto falava, e os primos também.
- As coisas realmente mudaram jem, mas foi para pior. Meu pai deixou de ser um pai carinhoso, deixou de levar flores para a mamãe, começou a chegar em casa tarde da noite, até o dia em que ele a empurrou sobre a mesa de vidro, claramente ele não queria machuca-la, pois me lembro do desespero que ele ficou quando a viu, no chão ensanguentada, mas ele não amava a Deus, porque as pessoas só buscam mudanças verdadeiras, quando compreendem que são incapazes de mudar sozinhas, que só Deus pode mudar as suas vidas, só Deus pode mudar seu olhar, seu comportamento, seu jeito de ser e de agir.
'Seu sobrinho me fez compreender, que na cabeça do meu pai, ele acreditava mesmo que ficaríamos todos juntos, porque é isso que o inimigo faz com a cabeça das pessoas, e você está deixando o inimigo dominar a sua cabeça, porque seja lá o que você fez para que ele te agredisse a primeira vez, não é razão para que ele continue a fazer. A não ser que seu sobrinho, tenha me ensinado errado, Jesus morreu para que fôssemos perdoados, então quem é o seu marido, para querer ser o seu carrasco?
Ele pegou um papel toalha e secou o rosto. A família estava assim tipo: 'o que aconteceu com este garoto, cadê o garoto traumatizado e infeliz?'
- Além disso, duvido que o que você fez, seja pior do que o que ele faz. - Disse voltando para seu lugar.
Pedro sacudiu a cabeça, do que ele estava falando agora?
- Do que você está falando Ben? O que você sabe sobre o Bruno? - Perguntou ele alarmado, Ben o olhou assustado.
- Eu? Nada! Ninguém mais percebeu, que o cunhado da Ariane conhece um podre dele? E não é um podrizinho qualquer, é um podre urububástico.
- URUBUBÁSTICO! - Disseram rindo apesar da situação, apenas Jemima ficou séria.
- Ele tem razão! - Disse ela, trazendo os outros à realidade. - Nem o papai, conseguiu coloca-lo no lugar dele dessa vez, mas o Luciano conseguiu. - Concluiu ela esperançosa.
Continua...
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