51 - Lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor.
Eram seis horas da manhã e Ariane se encarava no espelho, estava cansada e cheia de olheiras.
A única vez na vida, que ela se viu com aquela cara horrorosa, foi há quinze anos atrás quando se descobriu grávida.
Suspirou! E voltou a se jogar na cama.
- Ariane! - Chamou Alex da porta.
- Oi! - Respondeu ela, levantando.
- Tinha esperança que estivesse acordada! - Sussurrou o irmão, sentando ao seu lado.
- Nossa, a sua cara está pior que a minha! - Exclamou surpresa.
- Então realmente está horrível, porque a sua está péssima. - Ele tentou sorrir.
- Eu dormi mal; e quando eu dormia, eu sonhava que Pedro não aparecia no jantar; ou eu não conseguia chegar; ou ele dizia que só queria o filho dele, e era para eu sumir da vida dele. - Disse se jogando na cama.
- Sangue do Cordeiro! Isso foi uma tortura medieval em forma de pesadelo. - Disse deitando ao lado dela.
- E você porque não dormiu? - Perguntou ela, se virando para o irmão.
- Eu feri a Jemima ontem. - Disse triste.
- Feriu como? - Ela sentou assustada.
- Feri, literalmente! - Ele também levantou. - Eu fui ajudar o André com umas coisas para o jantar, e fui até a casa deles. Não sei como, mas quando eu abri o portão, eu a derrubei com bicicleta e tudo. E ela bateu com a cabeça.
- Meu Deus! E foi grave a batida na cabeça? Vocês a levaram ao hospital?
- Não foi grave. Foi um corte superficial.
Ele começou a andar pelo quarto.
- Se não foi grave, porque você está assim? - Perguntou desconfiada.
- Porque eu estava fazendo o curativo na testa dela, quando o marido dela chegou.
- Aí lascou tudo! - Exclamou aflita.
Ela puxou o irmão, e sentou ele na cama. E abaixou-se na frente dele.
- O que exatamente, ele viu?
- Sinceramente? Eu não sei! - Ele suspirou. - Ela estava deitada na poltrona, e eu limpava o ferimento dela, não falamos uma palavra!
Ela sorriu.
- Vocês não 'falaram' com a boca, mas com certeza, 'falaram' e muito, com o olhar.
- Eu sei lá Ariane! Passei anos reprimindo o que eu sentia por essa mulher; se você me perguntasse a dois anos e meio, se eu ainda sentia algo por ela, eu nem pensaria, para te responder um sonora NÃO.
Ele levantou suspirando.
- Até o dia em que ela te abraçou, no meio da rua. - Afirmou Ariane pesarosa.
- Aí meu Deus, o que eu estou fazendo com a minha vida. Eu não posso querer uma mulher casada... - Ele bateu a mão na testa. - Eis a minha preocupação, ele a machucou por minha causa. - Disse infeliz.
- Talvez não! Se ele se sente inseguro em relação a você, ele não vai querer dar a ela a chance de descobrir, que pode ter um homem melhor que ele.
- Sem chance disso acontecer. Ela nunca vai deixa-lo. E seja lá o tipo de influência que ele exerça sobre ela; ele faz com que ela se sinta culpada, ele dá a entender que ela provoca a situação. Ele deixou isso bem claro, na minha frente e na frente dos irmãos dela.
- Quais irmãos? - Perguntou aflita.
- O André e o Pedro. Mas eles não sabem do que acontece, você precisava ver a cara deles, quando eu insinuei, que ela sofria abusos.
- Então era por isso que o Pedro estava tão distante, quando eu liguei. - Refletiu sentando.
- E você passou a noite tendo pesadelos, porque pensou que ele estava estranho com você? Me desculpa maninha, mas não deu para eu falar contigo quando eu cheguei.
- Está tudo bem. O que eu faço agora?
- Não sei minha querida! Eu no lugar dele, eu iria querer saber de tudo, e eu só não falei ontem, porque estou emocionalmente envolvido, e ela não vai confirmar, então, eu iria apenas passar atestado de despeitado.
Ela sorriu frustrada.
- E eu, além de sua irmã, ela confiou em mim. Se eu trair essa confiança, ela não vai mais ter em quem se apoiar.
- Exatamente. Desculpa envolver você nisso. - Disse triste. - Como eu poderia imaginar que a única vez na vida em que eu bebi, resultaria nisso tudo?
Ariane abraçou o irmão.
- "Meu Deus nos ajude a fazermos o que é certo" - Pensou ela.
💮💮💮
André e João preparavam o café, quando Pedro se arrastou, até a cozinha.
- Nossa você também está horrível! - Disse João, olhando de um para o outro.
Pedro o ignorou, e foi fazer um chá; e André continuou com o que estava fazendo.
- Sério! Ou vocês me falam agora o que está acontecendo, ou eu chamo o papai.
Pedro e André se olharam.
- Pedro ele tem razão, você está horrível e você tem um jantar de noivado hoje. - Lembrou André.
- Não é só o Pedro quem está horrendo, você também. E nem adianta, me enrolar. - Disse João.
- Depois do jantar falaremos sobre isso nós três e o Felipe, mas por enquanto, vamos deixar as coisas como estão. - Disse André.
Pedro em silêncio, olhava a chaleira no fogo.
- Pedro, eu não sei se você sabe, mas ficar olhando a água não faz com que ela ferva mais rápido. - Retrucou João.
Pedro nem se mexeu.
- Nada de depois de jantar. - Pegou o celular, e ligou.
Pedro e André apenas se olharam, claro que eles sabiam, para quem ele estava ligando.
- Felipe.
....
- Que tal tomarmos café só os quatro irmãos?
....
Pedro revirou os olhos.
- Perfeito, estamos indo para aí.
- João, não tem necessidade de todos ficarmos tristes. - Disse André.
- E você acha mesmo, que o fato de não sabermos o que está acontecendo, vai fazer com que fiquemos melhores que vocês estão agora? - Esbravejou João.
- Eu sei que você tem razão, mas é complicado! - Disse André.
Pedro serviu chá para os três; os irmãos sentaram.
- Me desculpem, mas eu não me recordo da última vez, em que eu tive uma noite tão ruim. Bom dia para vocês. -Disse Pedro, sentando com os outros.
- Bom dia. - Resmungaram os dois.
- Vamos tomar café aonde? - Perguntou Pedro. - No supermercado?
- Sim, na panificadora. Felipe já está lá. - Respondeu João.
Os três tomaram o chá em silêncio, terminaram de preparar o café da manhã para a família.
André e João foram falar com as esposas, e Pedro ficou esperando na cozinha.
Distraído não ouviu Ben entrar na cozinha.
- Meu Deus do céu, que horas que vocês acordam? - Perguntou Ben sentando com ele.
- Ainda não acostumou? - Perguntou.
- O problema é esse, quando acabar essas férias, vocês todos vão embora. E a casa vai ficar silenciosa demais.
- Mas você não precisa, ficar escondido no quarto. Enquanto você estiver aqui, a casa é sua, traga vida para ela! E o Felipe e a Carol, e a Jemima...
Respirou fundo, pensar na irmã lhe doia na alma.
- Pedro! - Chamou Ben. - Você está bem?
- Sim, estou bem. - Sussurrou. - Como eu dizia eles estão aí, e você pode contar com eles. Você precisa entender, que você não está sozinho.
- Obrigado Pedro. Talvez eu continue, a preparar o café da manhã para os meus tios, quando vocês se forem.
- É uma boa ideia! - Concordou Pedro.
- Vamos! - Chamou João. - Bom dia Ben.
- Bom dia. Vocês estão estranhos hoje, eu vou é voltar para o meu quarto. Amanhã vocês me chamam cedo, eu quero aprender a preparar o café da manhã. - Disse saindo.
- Oi! - Exclamaram, João e André surpresos.
- O que você fez com ele? - Perguntou João para Pedro.
- Eu não fiz nada! Agora vamos, que daqui a pouco nossos pais começam a nos caçar. - Disse Pedro.
- Verdade! Mas a Renata e a Geovana, vão acalma-los até nós chegarmos. - Disse André.
💮💮💮
Sairam em silêncio, foram os três no carro do André.
Felipe veio ao encontro dos irmãos sorrindo, fechando a cara ao ver as feições dos irmãos.
- Tem um lugar reservado, aonde podemos conversar? - Perguntou João.
- Claro, venham comigo!
Seguiram Felipe até seu escritório.
- Por favor sentem. - Pediu sentando também. - E eu acreditei que vocês queriam mesmo tomar café da manhã comigo! Eu deveria ter desconfiado. O que houve?
João cruzou os braços, encarando os outros dois, que apenas olhavam um para o outro.
- O que aconteceu com a Jemima? - Perguntou Felipe, engolindo em seco.
- Com a Jemima? - Perguntou João, confuso. E começou a somar dois mais dois.
- Sim com a Jemima, só está faltando ela aqui. E além disso o Asafe, sonhou com ela ontem a noite. Vocês me esperam só um minutinho, eu preciso buscar uma coisa em casa. Volto já.
- Por isso vocês disseram, que falariam comigo e o Felipe, como eu não me toquei que era alguma coisa com ela? - Perguntou indignado.
- Porque você estava preocupado demais com a gente, para ficar imaginando o que, estaria nos deixando daquele jeito. - Disse André tentando acalmar, o irmão.
Felipe voltou com uma pasta na mão.
Abriu-a e tirou alguns papeis, e passou para os irmãos.
- Asafe desenha tudo o que sonha. Esses desenhos, ele fez nessa madrugada. Depois de acordar gritando pela tia.
André e João, olharam os desenhos horrorizados, e passaram para Pedro.
- Eu não quero ver. Eu tenho um jantar para ir, não quero correr o risco, de ser preso e pior ainda, de descer de tobogã para o inferno, por ter matado um desgraçado. - Retrucou Pedro furioso.
- Pedro, Asafe só desenhou ela, não sabemos quem faz isso com ela. - Disse Felipe.
- Tem certeza, que não sabemos? Por favor, foram vocês que me disseram que o casamento dela, não parecia bem! - Desdenhou Pedro.
- Não é bem assim, não é porque não gostamos dele, que vamos começar a pensar que ele abusa da nossa irmã. - Refletiu João.
- Pela cara de vocês, ao olhar esses desenhos eu diria, que a parte do abuso, já ultrapassou o limite, acho que agora está no estágio da violência, da agressão física mesmo. - Exasperou Pedro.
André e Pedro se olharam.
- O que vocês dois estão sabendo? - Perguntaram os outros dois ao mesmo tempo.
- O Alex me pediu, para impedir o Bruno de leva- la para casa, e disse que deveríamos prestar mais atenção nela.
Ele insinuou que ela sofre violência doméstica. - Concluiu André.
- E o que o Alex, tem haver com isso? - Perguntou João.
- Com certeza nada, mas se ele insinuou alguma coisa, é porque ele sabe bem mais que do disse. - Disse Felipe.
Os três olharam para ele.
Ele revirou os olhos sentando, e explicou.
- O Alex não é do tipo, que insinua entenderam? Se ele insinuou alguma coisa, na realidade o que ele queria mesmo era falar. O que eu estou achando estranho, foi porque ele não falou exatamente o que ele queria falar. Aquela família não é de mandar recado.
- Por causa dela! - Disse Pedro de repente. - A maneira como eles conversaram, e como o Bruno olhava para o Alex...
Ele começou a andar pela sala
- Eles já passaram por uma situação daquelas, ou semelhante! - Concluiu André. - Ela disse para ele ficar fora disso. Fora de algo que já está sabendo.
- E ele deixou claro que ela disse que não era da conta dele. Mas ontem ela não disse isso. - Lembrou Pedro.
- Com certeza. - Disse André levantando. - Vejam bem, vocês ficam aqui. Nós vamos na casa de Jemima, com certeza não vamos demorar.
Ele saiu puxando o braço do irmão.
- O que vocês vão fazer? - Perguntou João.
- Espere por nós aqui. - Gritou André já da porta.
- E o que é mesmo que nós vamos fazer? - Perguntou Pedro curioso.
- Vamos encurralar, um ogro. - Disse André entrando no carro. - Vamos mostrar para ele, que sabemos o que está acontecendo.
E Pedro entrou no carro, se perguntando o que o irmão pretendia. Pois a vontade dele, era quebrar a cara daquele idiota.
Continua...
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