46 - Não atente apenas para o que é seu, mas para o que é dos outros.
Ariane encontrou Alex na entrada da casa.
Distraído não a vira chegar.
- Seus pensamentos aceitam cartão de crédito? - Perguntou Ariane sorrindo.
- Você e Adriano ainda fazem essa brincadeira boba! - Disse ele puxando a irmã até o jardim.
Cruzou os braços, encarando-a.
Ela fez o mesmo.
- Argh! Fale logo! - Exasperou-se ele.
- Porquê? Eu te perguntei e você não me falou, você é meu irmão! E guardou segredo de mim. Me fez perguntar para ela. Sabia que foi difícil para ela? - Perguntou furiosa.
- Sim, eu sei que foi difícil para ela, quem manda você ser tão curiosa? - Perguntou ele também furioso.
Ele passou a mão na cabeça.
- Porque você acha que eu não te falei nada? E além disso o segredo não era só meu. - Disse frustrado.
Ariane sentou, e ficou admirando o jardim da mãe, ela e os irmãos quebraram muitas roseiras, nos jardins da mãe.
Em seus trinta e cinco anos de casada, sua mãe morara em três lugares.
Um apartamento quando casou; e quando engravidou de Alex, fez o marido vender o apartamento e comprar uma casa, detalhe, uma casa com jardim.
E quando mudaram para o Tocantins, foi a única exigência dela, queria uma casa com jardim. Nenhuma das filhas herdou dela o dom para o cultivo de flores.
Seu jardim no condomínio Flor de Laranjeiras, é bem cuidado, graças ao jardineiro do condomínio. E Adriana tem o dom para a beleza, mas nenhum dom para por a mão na terra.
Alex sentou ao seu lado.
- O que ela te falou? - Perguntou mais calmo.
- Tudo! Eu acho que ela precisava por isso para fora, por mais que tenha sido doloroso; eu sei, o quanto é difícil guardar segredos, principalmente segredos, que nos feriram, e as cicatrizes ainda sangram. - Disse pensativa.
Ariane refletiu, sobre o que Jemima lhe confidenciara e o que mais a incomodava era a atitude de Jemima com o marido. Não era correto, uma pessoa suportar o sofrimento, porque é incapaz de se perdoar.
- Você contou para a Valéria o que houve, entre vocês? Eu ouvi a versão dela, quero ouvir a sua agora. - Disse determinada.
- A Valéria sempre soube, sobre a Jemima éramos amigos confidentes. Eu namorava a Jemima escondido, a única pessoa que sabia era a Valéria que tinha um namorado em Lins. Às vezes a gente meio que se pegava. - Disse envergonhado.
- Ah, não! Vocês mantinham uma amizade colorida? - Perguntou enojada.
- Não exatamente. Juntos, decidimos fingir que éramos namorados, assim não precisávamos ficar nos defendendo dos outros, e namorados se abraçam se beijam...
- Me poupe dos detalhes sórdidos. - Disse indignada.
- Jamais passávamos disso. - Sussurrou.
- Sei e ela apareceu, grávida por obra do Espírito Santo! - Disse sarcástica.
- Por favor Ariane! Você e Jemima são as únicas pessoas, além de mim e Valéria que conhece a verdade sobre aquela gravidez. - Disse ofendido.
- Desculpa! Foi mal. Mas Cara, eu achava vocês um casal perfeito. Uau! - Exclamou desolada. - Mesmo com a bebedeira, e tudo...
- Mas nós formamos um bom casal, depois de casados. Quando ela descobriu que estava grávida, foi um choque, pensamos que iríamos enlouquecer, então eu tomei a única decisão possível. Eu não poderia apenas deixa-la, à própria sorte. - Disse triste.
Ariane deu um meio sorriso, mas seu coração estava destroçado.
- Você me disse, que jamais iria fazer com ela o mesmo que o Pedro havia feito comigo. Eu deveria ter percebido que havia algo de errado, ninguém que está prestes a casar com a mulher da sua vida, diz uma coisa dessas, e fica tão triste, como você estava.
Ele respirou profundamente.
- O difícil não foi aceitar que eu me casaria com ela. O difícil foi dizer para a Jemima, que eu tinha outros planos, que havia uma mulher grávida. - Ele ficou com o olhar distante. - Nunca imaginei, que um dia eu a magoaria daquele jeito, apesar de a química entre nós ser poderosa, e de gostarmos muito de uns bons amassos; havíamos combinado que esperaríamos até o casamento. Perdi a conta dos banhos gelados que eu tive que tomar...
Ele continuou com o olhar distante, perdido nas lembranças. Parecia ter esquecido que falava com a irmã mais nova. Ela pigarreou, chamando a atenção dele, que se virou para ela corado.
- Me desculpa, isso não coisa que eu deva dizer para a minha irmã. Me perdi nas lembranças. - Disse envergonhado.
- Eu percebi que você viajou longe. E você não só, não esperou pelo casamento, como ainda engravidou uma outra mulher.
Ariane compreendia, Pedro ter se envolvido sexualmente com a Tina, mas ela se perguntava qual seria sua reação, se eles tivessem tido um filho. Ridículo claro, afinal para fazer um filho, eles não iriam fazer nada que já não estavam fazendo!
- É eu sei. Eu fui um idiota. Mas vocês mulheres são complicadas não? Quando eu disse que havia bebido, e transado com uma amiga, ela não ficou furiosa, ficou insegura; afinal eu conseguia me controlar nos braços dela, mas não consegui me controlar nos braços da outra. Mas quando eu disse da gravidez, aí o bicho pegou.
- Óbvio né Alex! Se põe no lugar dela! - Ela respirou fundo. - E o que aconteceu antes do casamento a Valéria soube?
- Sim. Eu não poderia me casar com ela, omitindo algo desse tipo. - Disse sério.
- E como ela reagiu? - Perguntou curiosa.
- Ela me pediu, que eu só comparecesse na cerimônia, se eu estivesse seguro, de que seria capaz de ser fiel a ela, e de respeita-la. E principalmente se eu seria capaz de resistir a Jemima.
- E como vocês poderiam ter tanta certeza disso, vocês trairam seus respectivos namorados, e você transou com a sua ex às vésperas do seu casamento. - Disse Ariane indignada.
- Da minha parte era muito simples, a única mulher com quem eu poderia trai-la seria a Jemima, e depois daquele dia, eu tinha certeza que eu não voltaria a ve-la, como realmente não a vi. E quanto a Valéria, apesar de termos sido irresponsáveis, ela era uma das pessoas mais íntegras que eu já conheci. Não fique julgando ela mal mana, ambos fomos tolos e irresponsáveis, e magoamos pessoas que amávamos.
- Não estou julgando ninguém, estou constatando um fato. Ela também amava o namorado? - Perguntou triste.
- Sim. E ele a ela. Durante os dez anos que fomos casados, ele nunca arrumou ninguém. Quando descobrimos a doença, ela o procurou, mas ela não quis me falar o que eles conversaram. Ela me disse apenas, que precisava liberta-lo, assim como precisava me libertar. - Novamente ficou distante.
- A Jemima se senti culpada pela morte da Valéria, mas ela não falou nada da perca do bebê.
- Quando o bebê morreu, eu me senti a pior criatura da face da terra. Você lembra nós estávamos na casa da vovó, você lembra como ficou minha cabeça. Eu não queria que ela ficasse assim também. E o único meio dela descobrir, seria se Adriano dissesse para o Felipe, então foi simples.
- E o Adriano não achou estranho, você pedir, especialmente que ele não comentasse esse assunto com o Felipe?
- Achou. Mas ao contrário de você, ele aceita respostas simples, como por exemplo, que eu não queria aquela cidadezinha, especulando sobre a minha vida.
- Meu irmãozinho é mesmo muito inocente.
Ela fitou o irmão, seu olhar triste e cansado!
- Você ainda a ama. Caramba!
- Eu amava a minha esposa, para de ficar fantasiando as coisas.
- Você me disse: "Tudo o que eu queria era o calor do abraço 'dela', o conforto das palavras 'dela'."
Ariane ria sem parar.
- Eu não disse nada disso. - Disse sorrindo.
- Ah, disse sim.
- Não acredito, que de tudo o que eu disse, naquele dia, você só se recorda disso. - Disse sorrindo.
- Claro que não. - Ela ficou séria. - A situação dela é muito mais crítica do que você imagina. - Disse pesarosa.
- Como assim? - Ele perguntou preocupado.
- Ela acredita, que Deus pôs aquele idiota na vida dela, por causa do que ela fez. Que ela merece, o que está acontecendo com ela.
- Brincadeira!
Ariane negou.
- Mas ela não fez nada sozinha. Será que ela... - Ele começou a andar de um lado para o outro. - Talvez eu devesse falar com ela.
- De jeito nenhum. Quer ajudar ore! E no jantar por favor, você mantenha a distância dela. É sério Alex, não sabemos o que ele faz quando eles estão sozinhos.
Ele sentou fungando.
- Por falar neste jantar, sabe aquelas mães, pois é, a mais fraca vai acabar sendo assada e servida.
- Está tão grave assim? - Perguntou se afundando no banco.
- Grave? Eu acho que você vai ter que tomar uma atitude, ou esse jantar não sairá.
- E você por um acaso sabe delas? - Perguntou erguendo a sobrancelha.
- Claro! Estão bem aí dentro, porque você acha que eu te trouxe para cá?
- Pensei que fosse pelas belas roseiras da mamãe.
Os dois sorriram.
E ela respirou fundo.
- Vamos lá, você vai me dar apoio moral.
- Quero só ver.
Pegou na mão da irmã e entraram em casa.
💮💮💮
Logo ouviram as duas.
- Japonês/Italiano.
- Será que é o cardápio? - Sussurrou Ariane.
- Com certeza. Até parece que é a primeira vez que elas passam por isso.
Entraram na cozinha.
Estavam as duas mães se encarando furiosamente.
- Tudo bem por aqui? - Perguntou Ariane cautelosa.
- Sua mãe/Sua sogra. - Gritaram juntas ainda se encarando.
- Uau! Começamos bem, vocês estão em boa sincronia. - Disse Ariane nervosa.
Enfim as duas se voltaram para Ariane.
- A sua mãe, quer servir comida italiana...
- E a sua sogra quer japonesa...
- Claro, que japonesa é mais chique...
- Não queremos chiquês, queremos sabor...
- Que sabor, criatura... - Começou dona Ana.
- Acalme-se senhoras! - Pediu Alex. - Nada contra macarrão ou peixe cru, mas que tal perguntarem para os maiores interessados? - Perguntou mostrando Ariane. - Na falta de Pedro, Ariane?
- Eu? - Perguntou sobressaltada, olhando feio para o irmão.
- Isso minha filha o que você acha? - Perguntou a mãe sorrindo.
- Também não tenho nada contra, ou o italiano ou o japonês, podemos até misturar os pratos, afinal, quem vai comer somos nós, que importa a mistura que faremos, não é mesmo? No entanto...
Ela pegou nas mãos de ambas, e sentou as duas, ficando em pé.
- Pensem comigo. Para servirmos um jantar assim, precisaremos contratar um bufê. E o que vocês me dizem da boa cozinha brasileira? Churrasco, mandioca, feijoada...
As mães se olharam.
- E ainda podemos juntar todo mundo e fazermos juntos; não é um jantar em família? Então vamos trabalhar em família, alugamos o espaço da Drica, e juntamos as duas famílias, e decidiremos juntos quem compra o quê e quem faz o quê, e então o que vocês acham?
- Talvez seja uma boa ideia. - Disse dona Ana.
- E nos conheceremos melhor, porque ficaremos mais tempo juntos. - Opinou ainda Ariane.
- Eu acho que pode dar certo. - Disse dona Andreia. - Mas fazemos o quê?
- Ainda não decidiram o cardápio? - Perguntou Adriana, entrando na cozinha.
- Cadê minhas filhas? - Perguntou Alex.
- Foram à sorveteria com o Luciano. - Ela olhava para Ariane. - E aí, vai ou não vai ter jantar? - Perguntou erguendo a sobrancelha.
- Estávamos pensando em fazer um jantar familiar, aonde todo mundo põe a mão na massa. - Disse Ariane.
- E seria o que exatamente? - Perguntou Adriana assustada.
- Vamos juntar todo mundo e resolver. Quanto custa o aluguel do seu espaço? - Perguntou Ariane.
- Para o jantar? Claro que nada! Vai ser minha contribuição, a não ser que descascar mandioca, lavar tomate, sirva como contribuição.
- Lembrando, que seja realmente descascar as mandiocas, nada de deixar ela coloca-las para cozinhar. - Disse Alex sorrindo.
Adriana mostrou a língua para o irmão.
Dona Ana olhava de boca aberta para Adriana.
- É serio, eu não sei mesmo cozinhar, lá em casa é o Luciano quem cozinha. Mas a senhora não precisa se preocupar, a Ariane cozinha que é uma maravilha.
- E é claro que eu vou ajudar nos preparativos. - Disse Ariane prestativa.
- Claro que não. Temos que cuidar dessa sua juba, arrumar unhas, e não esquece que ainda temos que comprar um vestido.
- Drica é só um jantar. E eu não vou passar o dia em um salão de beleza com você.
- Maninha, é o seu primeiro jantar oficial, as suas primeiras fotos, serão nesse jantar, você não vai querer está de qualquer jeito, vai por mim.
Ariane olhou para cada rosto, voltado para ela.
As mães estavam cedendo no jantar, ela também poderia ceder um pouco.
- Certo, eu ajudo um pouco pela manhã e fico a tarde à sua disposição, e sim vamos às compras no momento em que você tiver um tempo, melhor assim?
Adriana bateu palmas, empolgada.
Ariane revirou os olhos.
Luciano chegou com as crianças, e o assunto voltou para o jantar.
Até as crianças, queriam colaborar com o jantar.
- Ariane, você falou sério sobre a feijoada? - Perguntou dona Andreia.
- Verdade, feijoada é muito pesado para a noite. - Concordou dona Ana.
- E não é que as duas concordam! - Disse Alex sarcástico.
Ariane beliscou o irmão séria.
- Feijoada está fora, do cardápio.
Continua...
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